domingo, 27 de março de 2016

CHAPADA DO ARARIPE 1923 CORONEL TIBÚRCIO E O VAQUEIRO CASCA DE BALA

CRÔNICAS DO SERTÃO NORDESTINO
Idcerval Reginaldo Tenório





CHAPADA DO ARARIPE 1923
CORONEL TIBÚRCIO E O VAQUEIRO CASCA DE BALA

No avarandado alpendre que circunda o velho casarão nos seus 360 graus, castelo da tradicional família do Coronel Tibúrcio de Brito, com as suas paredes grossas, janelas e portas inteiriças,  pequenas,  emolduradas com o mais puro mogno , tabuas de 06 Cms de espessura, travada por trás  por duas tramelas da mesma madeira , com  a bitola da espessura  dobrada,  12X12 cms  , casa baixa, telhas vermelhas e sem parapeitos, estrategicamente nos quatro cantos da casa , um batente com dois degraus e logo acima da grossa parede a um metro e meio de altura , um buraco afunilado para a escora dos rifles,  dos bacamartes e para a visão certeira dos potenciais inimigos , os coiteiros e os cangaceiros que amasiavam-se naquelas plagas , dos bandos do Sinhô Pereira e mais tarde do Virgolino Ferreira Lampião, o sanguinário Rei do Cangaço.

Terreiro largo , de barro vermelho esturricado pelo incandescente  sol, vento quente e empoeirado devido os freqüentes redemoinhos , calor escaldante e seco, miragem à distancia , caatinga acinzentada, estalidos de galhos ressecados a contorcer-se, aqui e ali um calango, um mugir de uma vaca magra, o grito estridente de um rasga mortalha anunciando mais uma morte, o canto triste de anum preto chorando o sofrimento impiedoso, o grunhido  de um  cachorro pé duro,  que descansa  na única sobra do umbuzeiro  a se coçar, e uma nuvem de moscas, mutucas e mosquitos a escapar  nos ferimentos presentes   no maltratado couro do esquelético cão , além  do som de um pequeno chocalho colocado no pescoço do único caprino que escapara naquele arrebol.

___É Coroné Tibúrcio, com este céu azul e sem nuvem num vai ter inverno este ano, será mais um ano de seca e sofrimento para os bichim da terra.

___Larga de besteira cabra, bota esta boca porca pru lado de lá, ainda ontem eu avistei uma Asa Branca lá pelas bandas do carrasco, fazia mais de dois anos que ninguém não ouvia falar nelas, tem mais Casca de Bala, eu nunca vi uma seca tão terríve, faz mais de três dias que num passa uma alma penada no meu terreiro, nem um animá perdido, um cachorro sem dono.

___É Coroné, os povo todo anda dizendo que lá prus lado do Cariri a coisa anda mió, tá tudim descendo pru Juazeiro,  dixero que o Padim Ciço e o Dr Fuloro Bartolomeu tá acuiendo  os povo, de fome Coroné, lá ninguém morre, pru mode o governo tá mandando mantimento duas veis nu méis, agora tem que se alistá, tem que si fichá, dispois entra numa frente de selviço im abertura de instrada, recebe o nome de cassaco  Coroné, cassaco,  cuma si fosse bicho, só pru mode num morrê a míngua Coroné.

___Eu num vou mi umilhar por causa deste sofrimento, só dexo minha terra por último, inquanto tiver giquiri, mandacaru, muncunâ, raiz de imbuzeiro, batata de tiú, calango, arubú e xique xique este Coroné num deixa a sua terra, tombém sou filho de Deus, num vou invergonhar meu pai, home forte e de palavra im todos os lajedos deste sertão.

___Coroné, num é por ser fie de Deus qui o sinhô tem que morrê  pur  estas bandas, si o sinhô quisé eu vou inté o Cariri e dispois vorto pra contá o que  si assuscede pur lá.

___Casca de Bala, tô vendo que você tombem quer arribá deste pedaço do mundo , arribe  se quiser, pode se avexar, quando chuver pras bandas de cá pode vortar que vou precisar do seu trabaio.

___Coroné Tibúrcio, eu trabaio cum o sinhô derne os 15 ano, derne o tempo de pai e do véio Coroné  Tiburcio Brito, o sinhô seu pai, já entrei nos 40 ano , nunca vi um tempo tão ruim Cuma esse, si o gunverno num ajudá Coroné, o sertão e toda a serra vai si acabá, arribo amenhã di menhãzinha, eu, a mué e os dois fiim, os dois minino, levo uma cuia de farinha, umas muncunã, dois gavião sargado, três batatas de imbuzeiro, duas batatas de tiú, um taco de bode seco, três cabaças d´agua barrenta, uma meia banda de rapadura e mêi lite de mé, com uma sumana chego no Juazeiro do meu padim, são e vivo, peço logo a sua benção e vou a percura do qui fazê, di fome nós num morre Coroné, di fome nós num ai de morrê.

No oitão da casa, de viva alma  , apenas três viventes, o Coronel Tibúrcio Tributino Cavalcanti de Brito Filho,  a sinhá Zizinha, sua sofrida mulher,  e o velho e esquálido cachorro Leão, sem contar com um exército de moscas azuis esverdeadas, mosquitos pretos , meia dúzia de mutucas e uma meia dúzia de anuns agourentos,  estes são desprovidos de alma.

Durante o dia um sol escaldante, um calor infernal, um clima satânico e um céu azul celeste cristalino;  durante a noite ,  o mesmo céu  azul salpicado por milhões e milhões de pulsantes estrelas, céu límpido , transparente, sem uma única nuvem e muito frio, a lua parecia mais próxima, parecia abaixo das nuvens , tal era a sua claridade, a visibilidade chegava ao extremo, parecia a continuidade do dia. 

O Coronel olha para o céu, vira para velha companheira e humildemente, como um grande pecador,   resmunga quase que gutural.

___É Zizinha, a minha esperança está quaje no fim, me apego naquela Asa Branca que vi na sumana passada, me dixeram que lá prus lado do ôio d’agua avistaram um rebanho delas , inté o vigaro celebrou uma missa de agradecimento, isto me anima Zizinha, isto me anima.

Os dias passam , o coronel e dona Zizinha reiniciam a sofrida , incerta e cambaleante vida, esperam pela morte, pedem por Deus , seja o que for melhor, afinal  deve ser castigo, deve ser um corretivo do Senhor.

Em menos de trinta dias , o mundo tomou outro rumo, o céu não tinha mais tantas estrelas, a lua subira para o seu lugar, os redemoinhos deram uma trégua, os vaga-lumes apareceram, a vasilha das pedras de  sal começou a marejar , nos cedros do  terreiro cantou o sabiá, surgiu um juriti, voou   uma  arribaçã, duas Asa Brancas e um rebanho de Rolinhas caldo de feijão, no horizonte surgiu a barra, de madrugada o galo cantou, a noite ficou menos  fria, o suor chegou, o cachorro mesmo assombrado, de vez em quando apresentava um latido, a terra serenou, um vento frio soprava do leste durante as manhãs, das folhas dos umbuzeiros caiam algumas gotas de orvalho no nascer do sol, logo ao raiar do dia. 

Numa noite escura, 19 de março, sem o brilho das estrelas e sem o clarão da lua, Deus ouviu o lamento sofrido do Coronel , Deus ouviu o choro solitário da Sinhá Zizinha, os latidos roucos do velho cão e os pedidos da passarada , Deus  abriu as torneiras do céu, rasgou o bucho das nuvens e despejando água por cima da ressecada terra Deus resgatou toda a alegria do sertão.

  O Coronel abraçado e em prantos misturava-se com a Sinhá Zizinha, a babuja babujou, os pássaros voltaram, o cão latiu , as borboletas chegaram , o cinza sumiu, os sapos coaxaram e aos poucos  a vida foi voltando ao normal em todos os esquecidos rincões daquela abençoada chapada nordestina. 

As folhas ficaram verdes, os capins, os sapos, os besouros, os beijas flores e os sanhaçús resolveram encher as capoeiras antes habitadas pelos calangos e pelas cascavéis.

Não se sabe de onde veio tanta força e tanta vida , mas em menos de trinta dias estava lá o coronel Tiburcio, alegre, radiante, inebriante e  altivo   no alpendre do velho casarão a  comandar os seus colaboradores, a velha serra sorria diante de tanta beleza .

___Casca de Bala , ajunta os homens, os meninos e as mulheres  e vamos plantar, quero todo mundo cantando e de bucho cheio, veja cumo  é rica e sábia  a natureza, os barreiros cheios, a terra moiada, os matos verde e crescendo,  os animá afoito e correndo, chei de vida e todos os filhos de Deus alegre, vamos Casca de Bala, vamos agradecer ao Criador.

___É Coroné Tiburcio , pelo jeito e pela contidade de casamento qui tô veno, neste pé de serra este ano vai nascer é  munto barrigudim, incrusive tá cum cara,  qui vai nascê inté um coronezim, um Tiburcim.

___Casca de Bala  dexa de liutria cabra, Sinhá Zizinha anda sirrindo demais estes dias e dixe que num vai dexá pur menos, já me dixe que quer é gemes, quer logo é dois.

Foi assim o final de uma das maiores secas da minha querida , sofrida, rica e aconchegante Serra do Araripe, no Estado de Pernambuco divisa com o meu Ceará, hoje , um dos maiores celeiros fóssil da humanidade .

Quando chove tudo dá.

Em 1924 aconteceu o maior contraste, a maior cheia de todos os tempos, levando o baiano Gordurinha a compor a obra prima _SÚPLICA CEARENSE, eternizada na voz do Rei do Baião, LUIZ LUA GONZAGA  o Pernambucano do Século. 

Salvador, 23 de Março de 1989

Iderval Reginaldo Tenório.


Súplica Cearense - Luiz Gonzaga - Part: Fagner - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=CuAmQp9c6Qc
4 de abr de 2013 - Vídeo enviado por Vinny Reis
A seca está acabando com nossos irmãos nordestinos. DEUS ajude essas pessoas!



Grandes secas são comuns de acontecerem no Brasil,
 ainda mais na região conhecida como Polígono das Secas, que abrange
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia e parte de Minas Gerais. Além do imenso
e vasto território que permite diferentes tipos de clima, essa
condição climática
 é agravada pelo aquecimento global e o El Niño.

 Esses fenômenos aumentam as áreas de seca por todo 
o mundo.

O ano de 2014 está sendo um dos piores nesse quesito. 
A capital de São Paulo, bem como alguns municípios paulistas,
 enfrentam o pior período de seca desde 1964.
 Os habitantes da região Nordeste já estão no segundo
 ano de uma seca intermitente, que afeta 
1.400 municípios, sendo a pior em 50 anos. Contudo,
 já houve secas piores que a deste ano.

Conheça os dez maiores períodos 
de seca do Brasil.

1) 
Entre os anos de 1723 e 1727 aconteceu umas 
das primeiras grandes secas já registradas,
 atingindo a região nordeste, onde ficava 
localizada a Capitania de Pernambuco. 
E, além da seca, uma peste assolou a localidade, 
o que causou uma enorme mortalidade entre 
os habitantes, principalmente os escravos.

2)
 A segunda maior seca foi registrada entre
 1776 e 1778 e, como a anterior, ocorreu uma combinação
 entre período forte de estiagem e doença, neste caso,
 a varíola. Nesse período, a mistura entre seca e doença
 registrou um altíssimo índice de mortalidade, não 
só entre pessoas, mas também entre os animais.
 Para enfrentar a crise, a Coroa Portuguesa 
repartiu as terras adjacentes aos rios entre
 os povos flagelados.

3) 
Quase 100 anos depois, outra forte seca atingiu o 
Nordeste. Entre os anos de 1877 e 1879, 500 mil
 pessoas morreram por conta do longo período 
de estiagem. Por conta disso, 168 mil nordestinos migraram
 para outras regiões do país: 120 mil foram
 para a Amazônia e 68 mil para outros estados 
brasileiros. Na época, o então Imperador Pedro II
 visitou a região e prometeu vender até a última
 jóia da Coroa para combater a seca, o que nunca aconteceu.

4) 
O sertão de Pernambuco foi o mais atingido com
 a seca de 1919 a 1921. Os dois anos com falta 
d’água ocasionou um enorme êxodo rural.
 Essa situação fez com que imprensa e opinião pública
 pressionassem o
 governo para resolver o drama 
das famílias atingidas. Em resposta, o governo criou, em 1920,
a Caixa Especial de Obras de Irrigação
 de Terras Cultiváveis do Nordeste Brasileiro. 
Ela seria financiada com 2% da receita tributária 
anual da União, porém nada foi feito efetivamente 
para resolver o problema.

5) 
Nos anos de 1934 e 1936, ocorreu uma das maiores
 secas já registradas no país. Dessa vez, a seca 
atingiu não só o Nordeste, onde nove estados sofreram com
 a estiagem,
 mas cidades em Minas Gerais 
e São Paulo. O problema da seca no sertão nordestino,
depois dessa seca,
 passou a ser encarada como 
problema nacional.
6)
 Outra seca gravíssima aconteceu em 1963/1964.
 Nesse ano, estados como Rio de Janeiro, 
São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Distrito 
Federal sofreram com a forte estiagem. Até a 
Floresta Amazônica ficou sem chuvas. 
Para completar, uma forte onda de calor atingiu 
o país nessa época.

7) 
Uma das secas mais prolongadas do Nordeste 
durou sete anos. Entre1979 e 1985, 3,5 milhões 
de pessoas morreram, sendo a maioria crianças
 vítimas de desnutrição. Durante esse período,
 lavouras foram perdidas, animais morreram, 
e ocorreram saques a feiras e armazéns e 
deixando um rastro de miséria e fome. 
O auge do problema foi em 1981, quando 
o presidente João Figueiredo declarou que
 só restava rezar para chover.

8 ) 
A década de 90 (1997 a 1999) chegou ao fim 
com uma forte seca. Agravada pelo El Niño –
 fenômeno metereológico que aumenta a temperatura da
 água do Oceano Pacífico – a seca vitimou
 5 milhões de pessoas. Em Recife, os cidadãos
 só recebiam água encanada uma vez por semana.

9) 
A seca de 2001 foi o prolongamento da de
 1997/1999. Nesse ano, o rio São Francisco
 teve o pior período sem chuvas da história, 
o que casou uma drástica diminuição de seu volume.
 Essa falta de chuvas ocasionou o racionamento 
de energia que afetou todo o país.

10)
 O último grande período de seca no país 
foi em 2007 e 2008, quando o norte de Minas
 Gerais sofreu com a falta d’água. Entre março e
 novembro de 2007 não choveu na região 
e as precipitações abaixo da média continuaram 
no ano seguinte. Durante os 15 meses de seca, 
54 mil focos de incêndio e mais de 190 mil 
mortes 
de gado foram registrados.

https://www.youtube.com/watch?v=r-8rsqTJi-0
25 de jun de 2009 - Vídeo enviado por senhorincrivel
Um retrato da alma nordestina. Música de Luiz Gonzaga
 e Poema de Patativa do Assaré.
https://www.youtube.com/watch?v=Yu0bvuK8s_k
13 de dez de 2012 - Vídeo enviado por Ellis Stoffel
2012 - 100 anos O Rei do Baião, cantou a vida
e o sofrimento do Nordestino, ficando imortalizado na ...
https://www.youtube.com/watch?v=DS6fRsfnzIw
18 de dez de 2014 - Vídeo enviado por wallysson ricardo
Musica encenada pelos alunos do
 EJAI da Escola municipal Letícia de Campos Goés.

https://www.youtube.com/watch?v=8n2bIOESPRQ
25 de abr de 2013 - Vídeo enviado por rochajose 
Duca Rocha

A Triste Partida, Luiz Gonzaga. Participação
de Dominguinhos ao chôro, simplesmente emocionante

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