terça-feira, 31 de maio de 2011

ZABÉ DA LOCA- ZABÉ DO PIFE

Zabé da Loca, rainha do pife

by Rebêlo




Paulo Rebêlo*
Revista Carta Capital
Ed. 454 – 25.julho.2007
Aos olhos de um Brasil que desconhece o Brasil, a descrição de Isabel Marques da Silva se parece com a descrição de uma típica mulher do sertão nordestino. Aos 84 anos, é alcoólatra, fumante compulsiva, tem as marcas do trabalho pesado nos pés, carrega no rosto os profundos vincos formados por anos de exposição ao sol forte, criou-se e formou-se com a enxada na mão. Seus dias parecem se resumir a apreciar, à soleira da porta, a mesma paisagem seca que a acompanha há décadas, olhar as mesmas pessoas que passam por aquele distante pedaço de terra quase perdido na fazenda Santa Catarina, uma região permeada de rochas gigantes a 20 quilômetros de Monteiro, sudoeste da Paraíba.

Isabel, a Zabé da Loca, é sem dúvida uma sertaneja, mas de comum tem apenas a aparência. Porque para um Brasil que desconhece o Brasil, pouco adianta dizer que ela é a rainha do pife, esse instrumento rústico de som agudo, uma flauta com nove orifícios que se assemelha ao oboé italiano, feito a partir de vários materiais. Entre os pifes utilizados por Zabé em quase oito décadas de dedicação, é possível encontrar até um instrumento de PVC.
E é com os pifes e uma pequena banda formada por amigos e familiares que Zabé da Loca roda o Brasil, quase sempre em festivais de música popular. Ao menos “enquanto tiver força para viajar por esse Brasil que é bom todo”, como ela mesma diz, entre uma tragada e outra de fumo-de-rolo, amassado num pedaço de papel tirado do bloquinho de anotações. Haja força e resistência para quem passou quase 30 anos em uma loca (gruta) entre duas grandes pedras, no alto da Serra do Delmiro, nome do marido já falecido, também conhecida como Serra da Matarina.
Foi da loca que nasceu o apelido e depois nome artístico pelo qual é conhecida não apenas no Cariri paraibano, mas em todas as cidades por onde passou e mostrou seu trabalho. O ofício de tocar pífano, ou “pife”, como é mais conhecido por essas bandas, ela aprendeu aos 7 anos com o irmão Aristides, de quem não sabe o paradeiro. Nascida em Buíque, no agreste pernambucano, logo criança veio com a família e outros retirantes para o sertão paraibano, de onde não saiu mais. Trabalhou sozinha com a enxada e conseguiu construir uma casa de taipa na serra, longe de tudo e de todos. “Para ninguém me incomodar”, completa. Dos 15 irmãos, Zabé viu morrer oito: de fome, de doença, de sede, de cansaço.
Zabé conta como foi morar, por necessidade, dentro de uma gruta, no meio de uma fenda entre duas rochas. Após um acidente que destruiu a casa de taipa, sem dinheiro e viúva (o marido morreu de infarto, na mesma serra, enquanto procurava por água estocada nas rochas), foi na pequena gruta que criou os três filhos, que hoje nem sequer a visitam. Ao sair para trabalhar com a enxada, ela cavava buracos nas sombras das árvores e os deixava lá, protegidos por trapos, enquanto ia cultivar a pouca comida que a natureza permitia tirar da terra. Quando o sol se punha por trás das rochas e caía a noite, era o som do pife que minimizava a dor da fome e espantava os fantasmas, dando força para enfrentar o implacável frio noturno do Cariri.
Encontrar Zabé em casa é fácil. Quando não está Brasil afora em apresentações, passa o dia à beira da porta, de olho na rua. Difícil é encontrar a casa. Na estrada que sai de Monteiro em direção ao município de Sumé, é preciso entrar no meio das terras da fazenda Santa Catarina, pegar um trecho de 15 quilômetros de barro e pedregulhos. Várias entradas à frente, chega-se finalmente ao sítio Tungão, onde Zabé mora sozinha em uma pequena casa de quarto e sala, praticamente sem móveis. A surdez se agrava com o passar dos anos. Ela não entende muito bem a saudação, mas abre um sorriso maroto e quase juvenil quando pergunto se é mesmo a famosa Zabé da Loca, a Rainha do Pife.
Não demora e os amigos se reúnem ao redor da casa, que em uma linha imaginária fica a uns 30 minutos abaixo da sua antiga gruta, abandonada há cerca de dois anos, mas que ainda mantém as mesmas características de quando Zabé morava lá.
Conhecer a loca de Zabé é um pouco mais complicado. Ela não tem mais a força de antigamente e, suspeita-se, talvez nem vontade de voltar para revisitar um passado de triste lembrança. Talento reconhecido regionalmente, Zabé foi agraciada pelo governo da Paraíba com dois salários mínimos todo mês (ela ganha um salário do INSS, de aposentadoria como trabalhadora rural) por meio de um programa que premia os mestres da cultura popular. No sertão, com três salários mínimos é considerada “rica”, a ponto de atiçar a inveja alheia, que precisa ser gerenciada pela amiga, vizinha e companheira de banda Josivane Caiano da Silva, tocadora de prato. É ela quem cuida dos remédios e da agenda.
Um dos melhores amigos de Zabé nos leva para um tour pela região ao redor da gruta. Antônio Soares da Silva, o Pitó, mostra o caminho das pedras (literalmente) serra acima, até chegar à loca. São quase 40 minutos de caminhada. Há dois anos, a gruta virou cenário de um luau em comemoração ao lançamento do segundo CD, parte da coletânea Cânticos do Semi-Árido. Foi a última vez que Zabé se aproximou da antiga casa. Pitó mostra como ela usava as pedras para fazer o xerém (canjiquinha, para os paulistas) com o milho e os buracos nas rochas para armazenar água da chuva, procedimento utilizado por quase todos na região. O sol começa a se pôr. Zabé nos espera com touca, manto, um pife improvisado, um fumo-de-rolo e um bule cheio de café passado na hora, no velho fogão a lenha, um dos seus xodós. “É bom todo”, responde, enquanto ajeita o resto de lenha.

* fotos: João Carlos Mazella

domingo, 29 de maio de 2011

Apos entrevistar mais de PESSOAS de todos os níveis sociais e econômicos apenas 20 % teceram comentários sobre o assunto, muitos desconheciam o tema  e outros entendiam como brincadeira.Como um ser que prega pela natureza achei prudente mergulhar no assuntoe mostrar neste blog alguns ítens. Que a leitura seja proveitosa.Outros temas virão.

AquíferoS

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Um aquífero é uma formação ou grupo de formações geológicas que pode armazenar água subterrânea[1]. São rochas porosas e permeáveis, capazes de reter água e de cedê-la. Esses reservatórios móveis aos poucos abastecem rios e poços artesianos. Podem ser utilizadas pelo homem como fonte de água para consumo. Tal como ocorre com as águas superficiais, demandam cuidados para evitar a sua contaminação. O uso crescente pela indústria, agricultura e consumo humano ameaça os aquíferos e coloca esse assunto na agenda ambiental global.

[editar] Tipos de aquíferos

Podemos dizer que existem essencialmente três tipos de aquíferos[1]:
  • Porosos - a água circula através de poros. As formações geológicas podem ser detríticas (ex. areias limpas), por vezes consolidadas por um cimento (ex. arenitos, conglomerados, etc.)
  • Cársticos - a água circula em condutas que resultaram do alargamento de diaclases por dissolução. As formações são os diversos tipos de calcários.

[editar] Confinado

É um reservatório natural em que a água preenche por completo o volume de vazios do mesmo, solo saturado. É limitado superior e inferiormente por materiais impermeáveis, em que a água é sujeita a uma pressão hidrostática superior à pressão atmosférica.

Aquífero Guarani

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Área de abrangência do aquífero
O Aquífero Guarani é a segunda maior reserva subterrânea de água doce do mundo. A maior reserva atualmente é o Aquífero Alter do Chão.[1]
A maior parte (70% ou 840 mil km²) da área ocupada pelo aquífero — cerca de 1,2 milhão de km² — está no subsolo do centro-sudoeste do Brasil. O restante se distribui entre o nordeste da Argentina (255 mil km²), noroeste do Uruguai (58 500 km²) e sudeste do Paraguai (58 500 km²), nas bacias do rio Paraná e do Chaco-Paraná. A população atual do domínio de ocorrência do aquífero é estimada em quinze milhões de habitantes.
Localização detalhada
Nomeado em homenagem à tribo Guarani, possui um volume de aproximadamente 55 mil km³ e profundidade máxima por volta de 1 800 metros, com uma capacidade de recarregamento de aproximadamente 166 km³ ao ano por precipitação. É dito que esta vasta reserva subterrânea pode fornecer água potável ao mundo por duzentos anos. Devido a uma possível falta de água potável no planeta, que começaria em vinte anos, este recurso natural está rapidamente sendo politizado, tornando-se o controle do Aquífero Guarani cada vez mais controverso.

Índice


[editar] Geologia do aquífero

O Aquífero Guarani consiste primariamente de sedimentos arenosos que, depositados por processos eólicos durante o período Triássico (há aproximadamente 220 milhões de anos), foram retrabalhados pela ação química da água, pela temperatura e pela pressão e se tranformaram em uma rocha sedimentar chamada arenito. Essa rocha é muito permeável e assim permite a acumulação de água no seu interior. Mais de 90% da área total do aquífero é recoberta por extrusões de basalto, rocha ígnea e de baixa permeabilidade, depositada durante o período Cretácio na fase do vulcanismo fissural. O basalto age sobre o Aquífero Guarani como um aquitardo, diminuindo sua a infiltração de água e dificultando seu subsequente recarregamento, mas também o isola da zona mais superficial e porosa do solo, evitando a evaporação e evapotranspiração da água nele contida.
A pesquisa e o monitoramento do aquífero para melhor gerenciá-lo como recurso são considerados importantes, uma vez que o crescimento da população em seu território é relativamente alta, aumentando riscos relacionados ao consumo e a poluição.

[editar] Ver também




Aquífero Alter do Chão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O Aquífero Alter do Chão é uma reserva de água subterrânea localizada sob os estados do Pará, Amapá e Amazônia.[1] Abastece a totalidade de Santarém e quase a totalidade de Manaus através de poços profundos.[1] Dados iniciais revelam que sua área é de 437,5 mil km2 com espessura de 545 m.[1]Pesquisadores da Universidade Federal do Pará desenvolvem estudos que podem revelar que o aquífero pode ser maior que o calculado inicialmente, passando inclusive a ser maior que o Aquifero Guarani.[2]. Com 86 mil quilômetros cúbicos, o aquifero poderia ser suficiente para abastecer em aproximadamente 100 vezes a população mundial.

quarta-feira, 25 de maio de 2011



          A Resposta do Jeca Tatu


                           Autor: Catullo da Paixão Cearense
                           Intérprete: Rolando Boldrin


Como diz o cabôco: "Diz qui", há muito tempo, um tal Senadô andô falano num jornal qualquer, qui o rocêro, o caipira, é... um priguiçôso, um indolente, um que só vive incostado... um punhado de coisas, enfim. O grande poeta Catullo da Paixão Cearense colocou, então, na boca de um desses brasileiros, lá do sertão, uma resposta... bem assim:

Seu dotô, venho dos brêdo,
Só pra mode arrespondê
Toda aquela fardunçage
Qui vancê foi inscrevê!

Num teje vancê jurgano
Qui eu sô argum cangussú!
Num sô não, Seu Conseiêro.
Sô norte, sô violêro
e vivo naquelas mata,
como veve um sanhaçu!
Vassucê já mi cunhece:
Eu sô o Jeca Tatu!

Cum tôda essa má piáge,
Vassucê, Seu Senadô,
Nunca, um dia, se alembrô,
Qui, lá naquelas parage,
A gente morre de fome
E de sêde, sin sinhô!

Vassuncê só abre o bico,
Pra cantá, como um cancão,
Quano qué fazê seu ninho,
Nos gáio duma inleição!

Vassuncê, qui sabe tudo,
É capaiz de arrespondê
Quando é que se ouve,
Nos mato,
O canto do zabelê?

Em qui hora é qui o macuco
Se põe-se mais a piá?
E quando é que a jacutinga
Tá mio de se caçá?
Quando o uru, entre as foiage,
Sabe mais asubiá?

Qualé, de todas as arve,
A mais derêita, inpinada?
A qui tem o pau mais duro,
E a casca mais incorada?

Hem?

Vancê nun sabe quá é
A madêra qui é mais boa,
Pra se fazê uma canôa!

Vancê, no meio das tropa,
Dos cavalo, Seu Dotô,
Oiano pros animá,
Sem vê um só se movê,
Num é capáiz de iscuiê
Um cavalo iquipadô!

Eu quiria vê vancê,
No meio de uma burrada,
Somente pur um isturro,
Dizê, em conta ajustada,
Quantos ano, quantas manha,
Quantos fio tem um burro!

Vancê só sabe de lêzes,
Qui si faiz cum as duas mão!
Mais, porém, nun sabe as lêzes
Da Natureza, e qui Deus
Fêiz pra nóis, cum o coração!

Vancê nun sabe cantá,
Mais mió qui um curió,
Gemeno à bêra da istrada!
Vancê nun sabe inscrevê,
Num papé, feito de terra,
Quano a tinta é o do suó,
E quano a pena é uma inxada!

Se vancê nun sabe disso,
Num pode me arrespondê:
Óia aqui, Seu Conseiêro:
Deus nun fêiz as mão do home,
Somente pra ele inscrevê

Vassuncê é um Senadô,
É um Conseiêro, é um Dotô,
É mais do qui um Imperadô,
É o mais grande cirdadão,
Mais, porém, eu lhi agaranto,
Qui nada disso siría,
Naquelas mata bravia,
Das terra do meu Sertão.

A miséria, Seu Dotô,
Tombém a gente consola.
O orgúio é qui mata a gente!
Vancê qué sê persidente?
Eu sô quero ser...
Rocêro e tocadô de viola!

Você tem todo dereito
De ganhá cem mil pru dia!
Pra mió podê falá.
Mais, porém, o qui nun pode
É a inguinorânça insurtá,
A gente, Seu Conseiêro,
Tá cansado de isperá!

Vancê diz que a gente
Véve cum a mão no quêxo,
Assentado, sem fazê causo das coisa
Qui vancê diz no Senado.
E vassuncê tem razão!
Si nóis tudo é anarfabeto,
Cumo é que a gente vai lê
Toda aquela falação?

Priguiçôso? Maracêro?
Não sinhô, Seu Conseiêro!

É pruquê vancê nun sabe
O qui seja um boiadêro
Criá cum tanto cuidado,
Cum amô e aligria,
Umas cabeça de gado...
E, dipôis, a impidimia
Carregá tudo, cos diabo,
In mêno de quato dia!...

É pruquê vancê nun sabe
O trabáio disgraçado
Qui um home tem, Seu Dotô,
Pra incoivará um roçado...
E quano o ôro do mío
Vai ficano inbunecado,
Pra gente, intoce, coiê,
O mío morre de sêde,
Pulo só isturricado,
Sequinho, como vancê!

É pruquê vancê nun sabe
O quanto é duro, um pai sofrê,
Veno seu fio crescendo,
Dizeno sempre:
Papai, vem mi insiná o ABC!

Si eu subesse, meu sinhô,
Inscrevê, lê e contá,
Intonce, sim, eu havéra
Di sabê como assuntá!
Tarvêis vancê nun dexasse
O sertanejo morrendo,
Mais pió qui um animá!

Pru módi a puliticaia,
Vancê qué qui um home saia
Do Sertão, pra vim... votá?...
In Juaquim, Pêdo, ou Francisco,
Quano vem a sê tudo iguá?...

Priguiçôso? Madracêro?
Não!.. Não sinhô, Seu Conseiêro!

Vancê nun sabe di nada!
Vancê nun sabe a corage
Qui é perciso um home tê,
Pra corrê nas vaquejada!
Vossa Incelênça nun sabe
O valô di um sertanejo,
Acerano uma queimada!

Vamicê tem um casarão!
Tem um jardim, tem uma cháca.
Tem um criado de casaca
E ganha, todos os dia,
Quer chova, quer faça só,
Só pra falá... cem mirré!

Eu trabáio o ano intero,
Somente quando Deus qué!
Eu vivo, no meu roçado,
Mi isfarfando, como um burro,
Pra sustentá oito fio,
Minha mãe, minha muié!

Eu drumo inriba de um côro,
Numa casa de sapé!
Vancê tem seu... ortromóvi!
Eu, pra vim no povoado,
Ando dez légua, de pé!

O sór, têve tão ardente,
Lá pras banda do sertão,
Qui, in meno de quinze dia,
Perdi toda a criação!

Na semana retrasada,
O vento tanto ventô,
Qui a paia, qui cobre a choça,
Foi pus mato... avuô!

Minha muié tá morrendo,
Só pru farta de mezinha!
E pru farta de um dotô!
Minha fia, qui é bunita,
Bunita, como uma frô,
Seu Dotô, nun sabe lê!

E o Juquinha, qui inda tá
Cherano mêmo a cuêro,
E já puntêia uma viola...
Si entrasse lá, pruma iscola,
Sabia mais que vancê!

Priguiçôso? He... Madracêro?
Não... Não sinhô, Seu Conseiêro!...

Vancê diga aus cumpanhêro,
Qui um cabra, o Zé das Cabôca,
Anda cantano esses verso,
Qui hoje, lá no Sertão,
Avôa, de boca em boca:

(cantado)

Eu prantei a minha roça,
O tatu tudo cumeu!
Prante roça, quem quisé,
Qui o tatu, hoje, sou eu!

Vassuncê sabe onde tá o buraco
Adonde véve o tatu esfomeado?
Han?... Tá nos paláço da Côrte,
Dessa porção de ricaço,
Qui fêiz aquele palaço,
Cum sangre do disgraçado!

Vancês tem rio de açude,
Tem os dotô da Ingêna,
Qui é pra cuidá da saúde...
E nóis?... O qui tem? Arresponda!

No tempo das inleição,
Qui é o tempo da bandaiêra,
Nós só tem uma cangaia,
Qui é pra levá todas porquêra,
Dos Dotô Puliticáia!...

Sinhô Dotô Conseiêro,
De lêzes, eu nun sei nada!
Meu derêito é minha inxada,
Meu palaço é de sapé!
Quem dá lêzes pra famía
É a minha boa muié!

Vancê qué ser persidente?
Apois, seja!
Apois seja, Meu Patrão!
A nossa terra, o Brasí,
Já tem muita inteligênça,
Muito home de sabença,
Qui só dá pra... ó, ispertaião!
Leva o Diabo, a falação!
Pra sarvá o mundo intêro,
Abasta tê... coração!

Prus home di intiligênça,
Trago comigo essa figa:
Esses home tem cabeça.
Mais, porém, o qui é mais grande
Do que a cabeça... é a barriga!

Seu Conseiêro... um consêio:
Dêxe toda a birbotéca dos livro!
E, se um dia, vancê quisé
Passá ums dia de fome,
De fome e, tarvêiz de sêde,
E drumi lá, numa rêde,
Numa casa de sapê,

Vá passá comigo uns tempo,
Nos mato do meu sertão,
Que eu hei de lhe abri a porta
Da choça... e do coração!

Eu vorto pros matagá...
Mais, porém, oiça premêro:
Vancê pode nos xingá,
Chamá nóis de madraçêro.
Purquê nóis, Seu Conseiêro,
Nun qué sê mais bestaião!
Não!.. Inquanto os home di riba
Dexá nóis tudo mazombo,
E só cuidá dos istombo,
E só tratá di inleição...

Seu Conseiêro hái de vê,
Pitano seu cachimbão,
O Jeca-Tatu se rindo,
Si rindo... cuspindo
Sempre cuspindo,
Co quêxo inriba da mão!

Eu sei que sô um animá,
Eu nem sei mêmo o que eu sô.
Mais, porém, eu lhe agaranto
Qui o qui vancê já falô,
E o qui ainda tem de falá,
O qui ainda tem de inscrevê,
Todo, todo o seu sabê,
E toda a sua saranha...
Não vale uma palavrinha,
Daquelas coisa bunita,
Qui Jesuis, numa tardinha,
Disse, inriba da montanha!...

domingo, 22 de maio de 2011

O CORONÉ E A LUA DE MÉ E SEU DOUTOR ME CONHECE?



O CORONÉ E A LUA DE MÉ E SEU DOUTOR ME CONHECE?


O CORONÉ E A LUA DE MÉ E SEU DOUTOR ME CONHECE?




LENDO O BLOG

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DIVULGUEM O BLOG.

SÃO MAIS D 70 MATÉRIAS DIFERENTES.

NO FIM DE CADA MATÉRIA  PODEM COMENTAR.  UM ABRAÇO DR IDERVAL

 

 

ILDO SIMÕES E PATATIVA DO ASSARÉ


DO GRANDE POETA BAIANO- ILDO SIMÕES

 MÉDICO PNEUMOLOGISTA EM ATIVIDADE

                         Dr ildo Simões,ex-Preseidente da

                          Sobrames- Bahia.

 O CORONÉ E ALUA DE MÉ
 
 
Um certo doutor tinoco

Já chegado nas idades

Paquerô menina nova

Uma verdadeira beldade

Mas em matéra de janero

Só tinha dele a metade.

 

Viajaram pra Paris

Pra passar lua de mé

Todo mundo comentava

Da menina e o coroné

Sete dias de passeio

Sendo cinco no moté

 

No começo aquele fogo

Verdadeira patuscada

Dava três em cada tarde

E mais cinco por noitada

No quinto dia o vexame

Começou a fraquejada.

 

Cuidou da alimentação

Mas cada dia pió

Apelou pra bruxaria

Nem assim ficou mio.

Foi correndo ao celular

E pediu vaga no incó.

 

O coroné tomou o vou

Lá pro  incó de sun Palo

Depois de muitos ixames

Na barriga acharam um calo

O coração disparado e

O sangue muito ralo.

 

Jutaro os especialista

De Jatene ao diretor

E fizeram o veredicto

Sem ninguém se contra por

A sua doença é esclerose

Cum estravagança de amor.

 

É doença passagera

Pió se fosse maleita

Fique Carmo e confiante

Brochada nunca é disfeita

Vá correndo a sarvador e

Mande aviá esta receita.

 

Um litro de catuaba

Nós moscada e pixulim

Vinte grama de castanha e

Um quilo de  amedoim

Erva de são Cipriano

Da feira são Joaquim

 

 

Hoje em dia o coroné

Miorô  seu furunfá

Aprendeu que mingau quente

Só se come devagá

E fogo de mué nova

Tem que saber apagá.









AGORA  O AMIGO TERÁ ALGUMAS DO GRANDE PATATIVASEU DOUTOR ME CONHECE?  

   VEJA A PROFUNDIDADE DAS PALAVRAS, SÓ QUEM SOFREU SABE FAZER UMA ESTADO FALAR.SINTA  A SÊCA ENTRELAÇADA NESTAS PALAVRAS. SINTA  O APELO DE UM POVO QUE MORRE A MINGUA.  MENTALISE.

 

 

Esta poesia o grande Patativa  dando voz ao Estado do Ceará, cobra do Brasil, cobra dos homens poderosos uma resposta,cobra mais atenção, cobra uma solução  centenária.Roga humildemente o sofrimento de um povo, não só do Ceará mais de todo o país. Esta página é profunda.

 

Falo sempre que Patativa do Assaré( Antonio Gonçalves) Homem rude do sertão cearense, homem sem estudo, foi um dos maiores desta terra.   Hoje vive na mente de um povo sofrido, de um povo que perdeu um verdadeiro guerreiro.Porém digo, para um povo  de vergonha, O VELHO PATATIVA  continua vivo e cotidianamente cresce,  acorda com a sua voz alta, com as suas palavras fortes e contundentes muitos que  conseguem beber deste poço de sabedoria e de ensinamentos. Viva o Brasil, viva  a literatura Brasileira. Vá fundo.   Conheça os literatos brasileiros.

 

Amigo: CONHEÇA O SEU BRASIL. CONHEÇA O SEU NORDESTE. CONHEÇA O NORTE. CONHEÇA O SUL.  ENFIM:    CONHEÇA ESTE PAÍS. SEJA BRASILEIRO.  TOME CONHECIMENTO DAS OUTRAS LITERATURAS, MAS, PRIMEIRO CONHEÇA A SUA. 

 

SEU DOUTÔ ME CONHECE?
              PATATIVA  DO ASSARÉ
 

 

SEU DOTÔ,SÓ ME PARECE

QUE O SINHÔ  NÃO ME CONHECE,

NUNCA SÔBE QUEM SOU EU,

NUNCA VIU MINHA PANHOÇA,

MINHA MUÉ,MINHA ROÇA

E NEM OS FIO QUE DEUS ME DEU.

 

SE NÃO SABE,ESCUTE AGORA,

QUE VOU CONTÁ MINHA HISTÓRA,

TENHA A BONDADE DE UVI,

EU SOU DA CRASSE MATUTA,

DA CRASSE QUE NÃO DISFRUTA,

DA RIQUEZA DO BRASI.

 

SOU AQUELE QUE CONHECE

AS PRIVAÇÃO QUE PADECE

O MAIS POBRE CAMPONÊS:

TENHO PASSADO NA VIDA

DE CINCO MÊS EM SEGUIDA

SEM COMER CARNE UMA VEZ.

 

SOU O QUE DURANTE A SUMANA,

CUMPRINDO A SINA TIRANA,

NA GRANDE LABUTAÇÃO,

PRA SUSTENTAR A FAMIA,

SÓ TEM DEREITO A DOIS DIA,

E O RESTO,O RESTO DO PATRÃO.

 

SOU O QUE NO TEMPO DA GUERRA

CRONTRA O GOSTO SE DESTERRA

PRA NUNCA MAIS VORTAR,

E VAI MORRÊ NO ISTRANGERO,

COMO POBRE BRASILÊRO

LONGE DO TORRÃO NATÁ.

 

SOU O SERTANEJO QUE CANSA

DE VOTÁ COM ESPERENAÇA

DO BRASI FICÁ MIÓ:

MAS O BRASI CONTINUA,

NA CANTIGA DA PIRUA,

QUE É       ___ PIÓ,PIÓ,PIÓ...

 

 

SOU O MENDIGO SEM SUSSEGO,

QUE POR NÃO ACHÁ EMPREGO

SE VÊ FORÇADO A SEGUI

SEM DEREÇÃO E SEM NORTE,

ENVERGONHADO DA SORTE,

DE PORTA EM PORTA A PEDI.

 

SOU AQUELE DESGRAÇADO

QUE NOS ANOA ATRAVESSADO,

VAI BATÊ NO MARANHÃO,

SUJEITO A TÔDO MARTRATO,

BICHO DE PÉ CARRAPATO

E ATAQUE DE SEZÃO.

 

SEU DOTÔ, NÃO SE ENFADE,

VÁ GUARDADNDO ESTA VERDADE

NA MEMÓRA ,E PODE CRÊ

QUE EU SOU AQUELE OPERARO

QUE GANHA UM POBRE SALÁRO

QUE NÃO DÁ NEM PRA CUMÊ.

 

SOU ÊLE TODO,EM CARNE EM OSSO,

MUTA VEZ NÃO TEM ARMÔÇO

E NEM TOMBÉM O JANTAR,

EU SOU AQUELE ROCÊRO,

SEM CAMISA E SEM DINHEIRO

CANTADO POR JUVENÁ.

 

 

SIM POR JUVENÁ GALENO,

O POETA ,AQUELE GENO,

O MAIOR DOS TROVADÔ,

AQUELE CORAÇÃO NOBRE

QUE MINHA VIDA DE POBRE

MUNTO SENTIDO CANTÔ.

 

HÁ MAIS DE CEM ANO EU VIVO,

NESTA VIDA DE CATIVO

E POTREÇÃO NÃO NÃO CHEGOU:

SOFRO MUNTO E CORRO ESTREITO,

INDA TÔ DO MÊRMO JEITO

QUE JUVENÁ ME DEIXOU.

 

 

SOFRENDO A MÊRMA SENTENÇA,

TOU QUAGE PERDENDO A CRENÇA,

E PRA NIGUÉM SE ENGANÁ

VOU DEXÁ MEU NOME AQUI;

EU SOU FIO DO BRASÍ,

E O MEU NOME É CEARÁ

CENETARIO DE JUAZEIRO DO NORTE

Juazeiro do Norte-CE: Município se prepara para o aniversário de 100 anos

Faltam 68 dias para os 100 anos de Juazeiro. A programação cultural começa a esquentar na cidade


Um relógio faz a contagem regressiva para o aniversário da cidade, dia 22 de julho (FOTO: DEIVYSON TEIXEIRA )
Um relógio faz a contagem regressiva para o aniversário da cidade, dia 22 de julho (FOTO: DEIVYSON TEIXEIRA )
O clima é de contagem regressiva. E não dá nem para tirar a data da cabeça. Basta dar uma olhada para o relógio, em posição privilegiada na praça Padre Cícero, para saber que faltam apenas 68 dias para o Centenário de Juazeiro do Norte. A data já está sendo celebrada na cidade há dois anos, mas as comemorações vão esquentar de vez a partir deste mês.
Inaugurações, shows artísticos, reformas e uma vasta programação religiosa marcam os festejos pelos 100 anos da Terra do Padim. O destaque fica por conta da apresentação do padre Reginaldo Manzotti, confirmada para o dia 17 de julho, na praça dos Romeiros, a partir das 19h. O pico da festa será a missa de Ação de Graças pelo Centenário, no dia 22 de julho, no Santuário de Nossa Senhora das Dores, também às 19h.
Até o “rei” pode pintar em Juazeiro do Norte. “Estamos tentando trazer pra cá o Roberto Carlos, que faria um grande show para deixar a festa ainda mais completa”, antecipa o secretário de cultura do município, Fábio Carneirinho. Em alusão ao centenário da cidade, a Prefeitura de Juazeiro está investindo R$ 90 milhões, valor distribuído em um total de 103 obras pela região. “A festa, na verdade, vai além de julho e só termina no fim do ano”, garante.
No Horto – cartão postal da cidade – a estátua do Padre Cícero será reformada e estará novinha até o dia 22 de julho, dia em que a cidade completa em 100 anos. O movimento de fiéis aumenta a cada dia. “O pico vai ser em julho, mas até o fim do mês com certeza a demanda vai aumentar. Por isso, já estamos nos preparando. Não vai faltar gente trabalhando aqui para dar atenção a todos os visitantes”, informa a guia do Casarão Padre Cícero, Edna Barbosa.
Seu José Silva, de 65 anos, já entrou no clima do centenário e visita todos os dias a estátua do Padim. Para ele, padre Cícero é como um pai. Por isso faz questão de pedir a “bênção” todos os dias. Romaria? Não perde uma. “Quando Juazeiro fizer 100 anos eu vou ser o primeiro a chegar aqui na estátua e dar parabéns ao meu Padim, porque a cidade só existe por causa dele”, crê.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA

Juazeiro do Norte foi fundada em 22 de julho de 1911. A cidade fica na região do Cariri. Para comemorar a data, a população realiza programação há dois anos. Nos próximos meses, o clima esquenta com mais atividades.
SAIBA MAIS
JUAZEIRO DO NORTE
Data de fundação: 22 de julho de 1911
Localização -microrregião do Cariri
População estimada -244.701 habitantes (censo 2010)
Distância de Fortaleza: 493,4 quilômetro
Datas comemorativas da cidade: Aniversário de Juazeiro do Norte
(22 de julho); Romaria de Nossa Senhora das Dores (15 de setembro), Romaria do Padre Cícero (2 de novembro), Romaria do Ciclo Natalino, Aniversário de Padre Cícero (24 de março) e Dia do Romeiro (1º de novembro).
O Povo online

O VELHO CAVALO

LEIAM MAIS  UM TEXTO DESTE MORTAL.
                                                                             
                                                                             


                                                               


                                                                                 


                                              
                   
                                                                                                                
                                                                               
                                                                                                                             


                                    O VELHO CAVALO



                                Foi nos meados de 1915 no sertão do Ceará quando das chuvas nem os prenúncios .. Relatos de minha avó.

                               Relata que nos sertões do Ceará havia um almocreve de meia idade, que negociava nos cafundós e nos grotões da esturricada serra do Araripe,divisa do Ceará com o Estado de Pernambuco, para o ganho do pão de cada dia utilizava como meio de transporte uma parelha de animais, um belo eqüino e um musculoso muar.

                            Grandes eram as distancias a percorrer e belos os lugares visitados, o muar para as cargas e o eqüino para os passeios junto ao dono,sempre nas festas,nos namoros ,nas comemorações e nas grandes corridas, era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões, bem tratado,bem alimentado ,bom capim,boa alfafa ,excelente milho e muitas vezes tortas de resíduos de caroços de algodão,era uma vida de rei, cheio de arreios e ornamentos, manta vermelha, sela nova,dois alforges do puro e macio couro de carneiro,rédeas de couro curtido,rabicho trançado  com fio de seda,boqueira do melhor metal,estribos de pura prata, polidos,encerados e bem conservados,vivia época de glórias, se orgulhava  quando nas paragens recebia preço,recebia avaliação,elogios  e jamais o seu dono pendia para negociação, era um animal orgulhoso e cheio de brios, na sua garupa as mais belas donzelas, as mais macias das nádegas, era  motivo de festas onde chegava com o seu baixo ,com o seu galope,trotando,chispando ou com os seus admiráveis passos sempre a esquipar demonstrando a sua bela marcha ,qualidades estas que lhe credenciava a cruzar semanalmente com uma diferente e bela égua,com uma formosa e elegante asinina,todo faceiro,todo pabo .  O muar ,coitadinho, a subir ladeiras,a cortar caminhos,dois a três sacos na pesada cangalha,cabresto de cordas de croá,rabicho de agave e uns puídos tapa olhos laterais de couro cru,impedindo,tapando,obstruindo,abortando,escurecendo a visão lateral,um pesado chocalho bovino pendurado no pescoço, festas só para carregar frutas para as vendas,garrafas de bebidas ou feixes de canas caiana muito apreciadas naquela redondeza, como pastagem  capim seco,algumas relvas nos arredores e monturos das casas,não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só teria comida se trabalhasse. Longas eram as conversas  entre os dois animais nos seus encontros ,um peado nas duas patas direitas e o outro solto pelos terreiros,discutiam as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a vida para um deles, a diferença era exorbitante,era de fazer pena e foi assim durante muitos anos, foi assim,um sempre  sorrindo , a gargalhar ;e o outro... o outro só Deus.

                             Como o tempo  é o pai ,o aconselhador e o diluidor dos sofrimentos como a água é diluidor  universal e a esperança a mãe de todos os animais uma década se passou e os dois viventes sempre a dialogar,com a falta de chuvas foram escasseando as vendas,os compradores cotidianamente caindo ,motivo mais do que suficiente para o almocreve diminuir os momentos de festas e de alegrias , primeiro se desfez dos belos arreios,diminuiu as compras de alimentos  especiais e necessitava  aumentar o volume das cargas para suprir as suas despesas azeitando a sua sobrevivência.O belo e orgulho eqüino passou a andar na vala comum,a sela foi substituída por uma cangalha,dois sacos ,um de  cada  lado e por ser um exímio esquipador o dono escanchado no meio,desta vez subindo e descendo ladeiras,pulando grotas,na  ida produtos da lavoura para a venda e na volta especiarias para abastecer as bodegas da região :como querosenes,peixes salgados,açúcar,café e outros mantimentos, com a idade desapareceram as belas éguas,as formosas asininas e os manjares nos terreiros dos esturricados sertões.
                               O muar continuou a sua batalha, agora como coadjuvante,  apenas como complemento de carga, quando o produto era pouco ficava a pastar,a perambular pelas capoeiras à procura de uma relva  mais hidratada pensando na sua atual e inútil vida ,costas batidas,boca mucha ,dentes amarelos,desgastados, bicheiras nos ombros,espinhaço pelado ,cascos rachados ,juntas calcificadas,perambulando caatinga adentro.. E lá ia o velho eqüino, dois sacos , o dono escanchado no meio da cangalha , o filho na garupa . Subia e descia, já não possuía belas boqueiras,o rabicho de cordas como afiadas facas  a cortar a borda anal ao menor grito do patrão,as cilhas de couro apertadas na barriga caindo pelo vazio a traumatizar os bagos aposentados, força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as esporas que tangenciavam os órgãos genitais,muitas vezes ferindo-os quando desacertava os passos, a vida endureceu e trouxe à memórias os momentos vividos ao lado do amigo muar nos tempos das bonanzas,das vacas gordas,das grandes chuvas,das farturas e dos grandes bailes. Olhava para os lados e não mais enxergava pois as viseiras laterais do muar agora se encontravam na sua cabeça ,tapando os seus olhos, a visão agora era limitada, era uma visão de subserviência, não mais participava dos acontecimentos, agora era apenas um animal de cargas, vivia apenas para comer e para o trabalho, não tinha direito a pensar,seguia a dura e pétrea regra, para viver só lhe restava a obediência sem contestação, seguia os puxavancos do puído e velho cabresto que dava duas voltas na funcieira ,vivenciava a mais espúria entidade criada pelo dominador,o mais baixo golpe sofrido por um ser vivo, obedecer sem contestar ,simplesmente a mais velada escravidão.

                             Os três entes aos poucos foram minguando, o muar sem trabalho foi sumindo ,esquecido ,menosprezado e abandonado até o dia em que foi  requisitado pelos  produtores de charques. O belo eqüino agora não mais belo,sem a força da juventude,com a estima em baixa ,  caiu na desconfiança,calda caída,olhos sempre para o chão,dentes puídos ,rentes  às gengivas,desgastados,musculatura minguada,pelos ásperos,relinchos abafados; sem força , sem brio , sem pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão e se perdeu nos carrascos das matas que ainda existiam e nunca mais soube do seu paradeiro, o dono caiu numa crise de desgraça ,envelheceu sem os seus maiores amigos,engolido pelo bafo do progresso trazidos pelos bulidos dos motores de dois tempos nos velhos aviamentos e nos transportes  das poucas mercadorias, mergulhou no esquecimento,mergulhou no solitarismo da vida, alimentando as grandes metrópoles com a sua prole na construção e reconstrução de uma nação que continua sem rumo,sem prumo e sem um paradeiro ou porto seguro para os que nela batalham e lutam. Os três se foram, continua a condescendência e as condutas sem uma instituição sustentada,sem nenhuma criação institucional que traga garantias futuras para um povo sofrido que trabalha até os setenta e depois vaga pelos valados da vida,basta vê os liberais e autônomos de ontem, hoje  abandonados ,como os de hoje os abandonados do futuro.  Hoje na mesma serra do Araripe,nos mesmos grotões do Nordeste ainda vagam muitos Três Entes Amigos  à espera do mesmo futuro.    

                        O Mundo gira e com ele a repetição, mostrando que na natureza nada se constrói   ,tudo se transforma,apenas o tempo é o senhor que dita e conduz o destino de cada um,pedindo  que   viva a vida como o único patrimônio  .
                         Iderval Reginaldo Tenório   2010