BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu um duro
recado na manhã desta quarta-feira aos envolvidos no escândalo da Petrobras. Ao
participar da abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção, ao
lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Janot defendeu a prisão de
corruptos e corruptores, o confisco de valores e bens desviados e disse que a
culpa pela corrupção que envergonha o país não é do Ministério Público, mas de
maus dirigentes. O procurador classificou as denúncias de corrupção na
Petrobras como um incêndio de grandes proporções. Ele aproveitou para defender
a substituição da diretoria da estatal.
— É necessário maior rigor e transparência na sua forma de atuar.
Espera-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar
previamente culpa, a substituição de sua diretoria.
O procurador observou que durante anos o país viveu o que ele
classificou de "fetiche do sigilo e cultura da autoridade" o que, em
sua visão, contribuíram para dar o tom das relações entre agentes públicos e a
sociedade civil. Ele lembrou que o Brasil ainda é um país extremamente
corrupto, ocupando uma posição no ranking internacional que envergonha a
população. Mas disse que o Ministério Público tem agido para tentar reverter
essa situação.
— Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos
espúrios que engordaram suas contas às custas da esqualidez do Tesouro Nacional
e do bem-estar do povo — discursou.
'CULPA É DE MAUS DIRIGENTES'
Ele recusou uma delação premiada de representantes de construtoras
acusadas de irregularidades com a Petrobras porque, conforme declarou
recentemente em entrevista, não aceitaram admitir a culpa nas transações.
Janot afirmou que a culpa pela corrupção é de maus dirigentes e
empresários.
— Isso não é culpa do Ministério Público, mas de maus dirigentes que se
associam a maus empresários em odiosas atuações montadas para pilhar
continuamente as riquezas nacionais.
De acordo com Janot, o Ministério Público está atuando para não deixar
ninguém impune.
— Ninguém se beneficiará de ajustes espúrios. Isso todos temos de ter
certeza. A resposta para aqueles que assaltaram a Petrobras será firme. A
decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estava na mesma mesa
que Janot, em discurso antes do procurador-geral avaliou que a percepção maior
da população sobre a corrupção se deve, contraditoriamente, às ações para
combatê-la.
— A corrupção é um crime que ocorre nos subterrâneos. Ela é um crime
oculto. Para conhecê-la é necessário evidenciá-la e colocá-la sob a luz do sol.
quando as medidas que são tomadas para combater a corrupção surtem seus
efeitos, a luz do sol é colocada sobre a realidade que estava antes na sombra e
a percepção social da corrupção aumenta. Isso traz uma saudável contradição —
declarou.
Cardozo admitiu que há fortes indícios de corrupção na Petrobras e que
isso atinge a empresa. Mas, segundo ele, a tarefa do governo é afastar, punir e
afastar quem estiver praticando irregularidades. Ele não quis comentar, no
entanto, a revelação de que o ex-ministro José Dirceu manteve contrato com a
Camargo Correa.
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— Não vou prejulgar absolutamente nada. Tudo deve ser apurado nos termos
da lei.
O ministro também disse que, ao se referir a maus governos, o
procurador-geral da República não estava, necessariamente, falando da
presidente Dilma Rousseff.
— O procurador falou dos governos e acho que quando fala dos governos
todos aqueles que não tiveram, historicamente, uma postura de apurar o que
tinha que ser apurado, obviamente podem ficar incomodados. Um governo como de
Dilma Rousseff, que tem postura firme de apuração, que não se intimida com
quaisquer fatos que possam ensejar as investigações, não se sente incomodado,
mas, ao contrário, apoia as investigações.
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