Para o povo da Bahia e do Brasil.
Hoje assistindo um programa jornalístico numa Rede de Televisão Canal Fechado, Programa apresentado por 04 jornalistas e comandado por Lucas Mendes , fiquei surpreso quando na coluna cultural o apresentador mostrou uma Artista Plástica Russa como se fosse coisa do outro mundo, como se a sua arte fosse o que existe de mais novo no assunto, a mesma faz exposição em todo o mundo, o interessante é que a sua arte é proporcionar vida à sua exposição, manda o publico catar feijão, dormir no salão, andar sobre fios e outras manobras, acontece que o precussor e divulgador desta arte é um baiano soteropolitano , depois cidadão Cachoeirense , onde passou grande parte de sua vida cultural, o meu amigo Damário Dacruz, que nos anos de 80 até o de 2010 encenava os grandes poemas de Castro Alves e os seus numa verdadeira reencarnação e regressão aos fatos da época.
Quando se visitava a sua casa cultural, uma antiga casa na cidade de Cachoeira , casa do tempo colonial e do período escravagista brasileiro, o Damário Dacruz embarcava a plateia no navio negreiro, empilhava 50 pessoas num cubículo 3 por 3 , um calor infernal, portas fechadas, sem luz ou na penumbra, os casais separados, os amigos um distante do outro, ligava um ventilador potente, uma trilha sonora de sofrimento , de gritos e de medo, a voz estridente do comandante dando ordem, o som do chicote cortando o vento e o dorso de cada participante, o balançar do barco, a falta da água, o som de tosses e de gemidos , a plateia ia ao delírio, era uma verdadeira viagem mal assombrada da África ao Brasil, muitos pediam para sair do barco, isto é, da macabra sala, o poeta não hesitava, permitia.
No fim , eram feitos comentários, aqueles que pediam para sair antes não eram convidados a tomar um belo copo d'água, para o poeta eram os escravos que pulavam no mar ou morriam pelos mal tratos.
Visitar o mestre Damário Dacruz era degustar arte, era viver cada momento da vida e conhecer um pouco do sofrimento do povo brasileiro até os dias de hoje.
O Damário era uma artista fora do comum, pena que foi muito cedo, partiu com 57 anos de idade.
Fiz esta matéria para mostrar que a nossa cultura precisa de uma maior divulgação, o brasileiro precisa ser mais brasileiro, o povo tem que conhecer e valorizar o povo, só o povo faz algo pelo povo, para o povo e para o bem do povo.
O DAMÁRIO DACRUZ COMO NÓS, ERA POVO.
Iderval Reginaldo Tenório
DAMÁRIO DACRUZ
O Poeta
“Sou um homem. Portanto, uma surpresa.”
Damário Dacruz nasceu em 1953, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador. Começou a escrever ainda na adolescência e, mesmo com o desejo do pai de que se tornasse engenheiro, decidiu construir suas obras com palavras, imagens e sonhos. Os seus primeiros poemas surgiram nas salas do Colégio Central, mesma instituição onde se revelaram grandes ícones da arte baiana como Glauber Rocha, Calazans Neto e outros.
Membro da geração de artistas surgida nos anos 70, viveu intensamente a efervescência cultural e política da época e produziu movido pela crença na possibilidade de mudar a realidade ao seu redor. Dedicado ao ofício da poesia desde o início da sua vida, Damário Dacruz publicou seu primeiro livro aos vinte anos, mas já havia recebido o primeiro prêmio ainda adolescente.
Mesmo acumulando prêmios importantes ao longo da sua trajetória, Damário se esforçou para que suas obras não se limitassem aos círculos de literatos e acadêmicos, buscando levar os seus textos ao maior número possível de pessoas possível. Assim, formou grupos literários, foi líder estudantil e, mais tarde, tornou-se uma importante referência sindical. Também percorreu o Brasil em busca de novos poetas e diferentes formas de divulgar suas obras, exercitando uma das suas crenças mais profundas: a arte deve surgir do povo, para o povo.
Como estudante de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fundou o jornal UNE-VERSOS. Dedicada à arte, a publicação foi um verdadeiro marco para a época. Também na UFBA, desenvolveu uma segunda paixão: a fotografia. Demonstrava, com as lentes, a mesma sensibilidade que exibia com as palavras. E conseguiu registrar, em imagens, muitos dos temas presentes na sua obra poética. Ao longo da carreira, exibiu fotos em galerias do Brasil e do mundo.
Mesmo sendo poeta de ofício, com quatro livros publicados, foi quando aliou a poesia com a fotografia que Damário Dacruz encontrou o suporte ideal para manifestar sua visão de mundo. Seus fotos-poemas, junções sensíveis entre as imagens que produzia e os versos que escrevia, atingiram grande popularidade.
O mais conhecido deles, “Todo Risco”, lançado em 1985, vendeu mais de 100 mil exemplares. Formada por uma imagem em preto e branco dos trilhos da cidade de Cachoeira, acompanhada por versos que falam da coragem frente aos desafios da vida, a publicação esgotou por seguidas edições.
Com o sucesso das vendas, o poeta conseguiu realizar um dos seus maiores sonhos: criar, no Recôncavo Baiano, coração cultural e histórico do estado, um pólo aglutinador de iniciativas culturais.
Contrariando as tendências da época, que apontavam o crescimento da Bahia na direção do Litoral Norte, comprou um sobrado do século XVIII, na Praça da Aclamação, na cidade de Cachoeira. Depois de quase uma década em longa reforma, feita com recursos próprios e sem ajuda de órgãos governamentais, foi inaugurado o Pouso da Palavra.
Logo o espaço tornou-se um centro cultural regional, e o tempo mostrou que Damário Dacruz acertou ao insistir no sonho. Exposições de artes plásticas, apresentações musicais, debates literários, tudo se encaixa e se frutifica no Pouso da Palavra. Em reconhecimento ao trabalho realizado, recebeu, em 2005, o título de cidadão de Cachoeira.
Longe do mundo da arte, desenvolveu uma longa carreira como profissional de comunicação. Foi revisor do jornal A Tarde e assessor de imprensa de diversos órgãos do Governo do Estado da Bahia. Durante 25 anos, trabalhou na Telebahia, deixando a instituição como gerente da Divisão de Publicidade e Propaganda. Foi ainda diretor da Fundação Cultural do Estado da Bahia e secretário-geral do Instituto Baiano do Livro.
Em maio de 2010, aos 53 anos e quase 40 dedicados à poesia, faleceu em Salvador, vítima de câncer. Foi enterrado em Cachoeira, onde deixou uma obra que vai além das suas publicações e que, hoje, permanece viva através do Instituto que leva o seu nome. Antes de falecer, porém, deixou sua despedida em forma de versos; o adeus de um poeta.
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