Lava-Jato está no caminho de Temer à Presidência
Nome do vice-presidente aparece quatro vezes nas investigações desde o início da operação, em 2014
TEMER TEM O QUE TEMER |
BRASÍLIA
— O vice-presidente Michel Temer (PMDB), que já está se preparando para assumir
o lugar da presidente Dilma Rousseff (PT) caso o impeachment seja aprovado pelo
Senado, tem a Lava-Jato em seu caminho. O nome dele apareceu pelo menos quatro
vezes nas investigações sobre corrupção desde o início da operação, em março de
2014. Temer foi citado por dois delatores: o senador Delcídio Amaral (sem
partido-MS) e o lobista Júlio Camargo, o mesmo que confessou pagamento de
propina de US$ 5 milhões para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Procurado pelo GLOBO, Antônio Mariz, advogado de Michel Temer, reconheceu as citações, mas
negou qualquer irregularidade vinculada ao vice.
O
nome do vice-presidente está registrado também numa planilha apreendida na
sétima fase da Operação Lava-Jato com um dos ex-executivos da empreiteira
Camargo Corrêa e numa troca de mensagens por telefone entre Léo Pinheiro,
ex-presidente da OAS, e Eduardo Cunha. Nos próximos dias, o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, deverá decidir se pede ou não ao Supremo Tribunal
Federal (STF) abertura de inquérito para apurar as acusações contra o
vice-presidente, especialmente a partir da delação de Delcídio Amaral. A
referência a Temer já foi enviada ao STF para ser juntada ao maior dos
inquéritos da Lava-Jato na Corte. O processo tem 39 pessoas sob investigação e,
por enquanto, o vice-presidente ainda não é formalmente investigado.
Uma
das primeiras referências a Temer apareceu num depoimento de Júlio Camargo ao
grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República responsável pelas
investigações sobre o suposto envolvimento de políticos com fraudes na
Petrobras. Ao falar sobre o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando
Baiano, que o teria ajudado a repassar a propina a Eduardo Cunha, Camargo
mencionou também supostas ligações de Baiano com Temer e outros políticos do
PMDB.
“Havia
comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de
Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de
irmandade”, disse Camargo aos procuradores.
A
Polícia Federal também se deparou com o nome do vice-presidente numa planilha
apreendida com executivos da Camargo Corrêa, a primeira empreiteira a admitir
seu envolvimento em fraudes na Lava-Jato e em outras áreas da administração
pública federal.
EM PLANILHAS, REFERÊNCIAS A 2 OBRAS
O
nome de Michel Temer aparece na planilha associado a duas quantias de US$ 40
mil e a duas obras: de asfaltamento e de duplicação de rodovias em Araçatuba e
Praia Grande (SP), executadas pela Camargo Corrêa. Cada uma teria custado US$
18 milhões. Também há nomes de outros políticos de vários partidos associados a
valores e obras. Uma cópia do documento foi apreendida na Operação Castelo de
Areia, anulada no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A
Castelo de Areia deverá ser tema de investigação da Lava-Jato. Nas preliminares
de um acordo de delação com o Ministério Público Federal, Léo Pinheiro foi
perguntado sobre a trama que teria enterrado a operação, segundo disse uma
fonte ao GLOBO. A Procuradoria-Geral da República nega que tenha assinado
acordo de delação com Léo Pinheiro.
R$ 5 MILHÕES PARA TEMER
Mensagens
no celular de Pinheiro indicam que a empreiteira pagou R$ 5 milhões a Temer.
Numa conversa com o empresário, Eduardo Cunha cobra a liberação de um pagamento
a ele e cita Temer: “Eles tão chateados porque Moreira conseguiu de você para
Michel cinco paus e vc já depositou inteiro e eles que brigaram com Moreira vc
adia, é isso. Vc dar, ninguém tem nada com isso, é só a preferência”. Em
resposta, Pinheiro diz: “Te explico pessoalmente. O assunto foi GRU”. Para os
investigadores, cinco paus seriam R$ 5 milhões. Moreira seria o ex-ministro
Moreira Franco (PMDB), e GRU, o aeroporto de Guarulhos.
Em
delação negociada no início deste ano, o senador Delcídio Amaral (sem
partido-MS) apontou Temer como o responsável pela indicação de Jorge Zelada e
João Augusto Henriques para a diretoria Internacional da Petrobras, na vaga do
ex-diretor Nestor Cerveró. João Henriques foi o primeiro a ser indicado, mas,
por problemas no Tribunal de Contas da União (TCU), a vaga foi ocupada por
Zelada. Os dois, Zelada e Henriques, foram condenados por corrupção na
Petrobras. Zelada, a 12 anos e dois meses, e Henriques, a seis anos e oito
meses de prisão.
Delcídio
cita Temer ao falar sobre fraudes na compra de etanol de 1997 a 2001, período
em que Henriques presidia a BR Distribuidora, ligada a Petrobras.
Na última sexta, o nome do vice surgiu na proposta
de delação premiada de José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix. Segundo
a revista “Época”, o empresário contou ter pago R$ 1 milhão a um emissário de
Temer como “agradecimento” por participar de uma licitação de R$ 162 milhões da
Eletronuclear para operar na usina de Angra 3. (Colaborou Cleide Carvalho)
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