domingo, 3 de abril de 2016

BAIÃO DE DOIS - UM PRATO TÍPICO DO CEARÁ.


EU SOU CATINGUEIRO DO NORDESTE, MUITAS VEZES CATINGUENTO , A CIVILIZAÇÃO  E O BANCO DA ESCOLA NÃO CONSEGUIRAM PODAR E AINDA HOJE SOU MEIO RÚSTICO. 
 
SOU TOTALMENTE NORDESTINO MODELO 1930.
Amigos tenho lido e escutado um cento de citações sobre o verdadeiro nordeste brasileiro, tenho sentido que na sua grande maioria são relatos teóricos, relatos vividos no papel, nos livros ou em anedotas, resolvi criar uma página no blog e aos poucos mostrar ao Brasil o verdadeiro Nordeste, o nordeste vivo e vivido por um nordestino nato.

Vocês que falam do baião de dois, que é isso , é aquilo e aquilo outro, não é nada disso,  baião de dois amigos não é  nada disso que vocês têm lido por aí, este que vocês comem   é o baião de dois sofisticado, da grã-finagem, é o baião inventado, é o baião de restaurante , é o baião turístico, deixe eu dizer alguma coisa sobre este prato.

O Baião de dois é um prato típico do povo cearense, teve a sua origem na Paraíba, porém o Ceará encampou como um dos seus símbolos, tem mais de um século de vida.

O Baião de dois já está dizendo, é constituído de dois cereais, o arroz e o feijão, ele geralmente é servido à noite na casa do nordestino , na sua essência ele foi inventado para aproveitar o arroz e o feijão que sobram do almoço, daí o nome de Baião de dois, na mesma panela do feijão coloca-se mais água e quando estiver fervendo mistura o arroz que sobrou. 


Nas casas com melhores posses se acrescenta um queijo coalho, um tempero verde, noutras uma linguiça e por aí vai , até terminar neste baião turístico, nós  aqui na caatinga chamamos estes ingredientes sofisticados de MUSTURA.


Quando a mãe colocava o Baião de dois legítimo,  o sujeito perguntava e pedia ao mesmo tempo: MÃE E CADÊ A MUSTURA? A mãe pegava uma frigideira preta e tirava um naco de carne contado e matematicamente cortado para dá para todos , colocava por cima do Baião de dois e estava pronto o mais gostoso jantar do Ceará.

O cearense é o povo que mais  come baião de dois no Brasil, tanto que o Rei Luiz Gonzaga cantou em verso e prosa, agora quem mais sedimentou este costume foi o João Silva, um pernambucano de Arco Verde,  o maior compositor do Luiz Gonzaga, autor de Pagode  Russo, Tá Danado de Bom, Viva meu Padim, Nem se Despediu de mim e por aí afora,  quando numa de suas músicas ele falou e fala :

” QUER MATAR UM CEARENSE INVENENADO,  BOTE UM POUCO DE VENENO NUM PRATO DE BAIÃO DE DOIS,  PRA VOCÊ VÊ UM CABOCO MORTO”. João Silva 

Este prato foi muito saboreado por este mortal na minha Bodocó Pe , Exu Pe,  Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e na minha Serra do Araripe, este outro baião de dois sofisticado, turístico também  comi e como muito nas casas dos grã finos da região, também é muito gostoso, continua sendo Baião de dois em alusão aos dois principais ingredientes: O FEIJÃO E O ARROZ, desta vez especialmente cozido para este fim, eles deixaram de serem  sobras para serem o prato principal.

Agora,  Baião de dois o legítimo,  é aquele que se comia e a ainda se come  no jantar por este sertão nordestino de meu Deus, no máximo um ovo estrelado ou um taco de carne assada , que hoje vocês chamam de carne do sol.

Dei o meu recado e espero críticas.
Iderval Reginaldo Tenório


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