O blog foi criado para a cultura. Mostra o quanto é importante o conhecimento.Basta um click no artigo. Centro Médico Iguatemi,310.CLINICA SÃO GABRIEL LTDA- 33419630 33425331Participe ,comente, seja seguidor. DR IDERVAL REGINALDO TENÓRIO , 1954 , JUAZEIRO DO NORTE -CEARÁ. 08041988lgvi.1984 CHEGOU EM SALVADOR COM 18 ANOS , MEDICINA NA UFBA. CIRURGIÃO GERAL. driderval@bol.com.br
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Pedro, de dona Zefinha, acordou pela madrugada, o clarão do sol começava a esconder a luz da lua.
A manhã estava fria, céu de abril
de um azul profundo , sem mácula, sem uma nuvem sequer no firmamento.
Pedro foi até o terreiro, se
espreguiçou, tirou uma raspa da casca do
Juazeiro, limpou os dentes e passou água no
rosto.
Cuidou das 3 cabras e dos cabritos,
ordenhou a vaca mãezinha, botou água no pote da cozinha, sentou para tomar seu
café com cuscuz e um taco de charque assada na brasa do fogão a
lenha.
Pedro vivia para a sua mãe, tudo que fazia eraem benefício da genitora. Era um
rapaz bonito, sertanejo forte, sadio, trabalhador ao extremo, gentil e muito
educado, homem pacato porém de uma coragem acima do normal.
Erasábado, dia de feira livre no povoado de Pedra
Preta. Confins do alto sertão nordestino.
Pedro
perguntou a sua mãe oque precisava comprar na
feira, pegou o bizaco de caçador, a velhalazarina, o chapéu de palha, o facão e arribou para Pedra Preta, que
distava mais ou menos légua e meia do sítio onde morava.
Chegou à feira
por volta das 10.30h. Comprou os mantimentos , duas bacias feitas de folha de flandres,
uma Alpercata de couro cru com solado de pneu, chumbo, bucha, pólvora e
espoleta para sua arma de caça e foi tomar uns tragos com uns amigos,
pois ninguém é de ferro, ele também era filho de Deus. Dizem que, quando o diabo não vem,
manda o secretário, parece que isso é verdade .
Nosso amigo já tinha tomado umas três lapadas de uma cana de cabeça, das boas, estava um pouco alegre quando deu de vista
com uma cabocla cor de jambo muito bonita , corpo bem feito e um lindo sorriso . Os olhares se cruzaram e Pedro ficou animado.
Tomou mais umas duas, sempre de butuca
na morena, quando sentiu um tremendo
murro que o jogou ao chão. De pronto levantou pra briga, e,
notou que o desafeto estava armado de faca. Deu um passo para trás e se preparou
para o pior, só não ia correr do pau, pois não era macho pra isso.
O cabra
correu pra cima e ele revidou, se atracaram .Pega e fura ali, murro aqui e acolá,
Pedro foi ferido pela faca no braço. Caíram os dois, um por cima do outro, ouviu-se um grito forte e depois o silêncio…
O problema é que, quando o namorado da morena, eis aí o motivo da
briga, caiu, o representante do diabo fez a sua
estripulia, a faca virou a afinada ponta e
penetrou profundamente no peito do desafeto, atingiu o coração, o mesmo
morreu na hora.
Pedro se apavorou, pegou seus
piqualhos, sua lazarina e caiu no oco do
mundo caatinga adentro por cima de pau, pedra, espinho e o mais que tivesse pela frente. Só
não queria ser preso. Preso não, isso nunca...
Andou na mata fechada o resto da tarde
e um bom pedaço da noite,evitando
sempre as moradias esparsas do sertão.
Se embrenhou o mais que pode no carrasco sertanejo, tinha o sertão na palma da mão.
Parou exausto já tarde, bebeu a
água da cabaça , escorou-se em uma pedra e adormeceu
profundamente, ali ninguém ia lhe procurar.
Acordou
cedo, como sempre, e deu
de cara com uma vista muito bonita. Tinha dormido perto de um córrego e
um verde vale ao pé da Serra. Fez uma pequena fogueira, pegou água na
bacia de flandres, ferveu e fez o café.
Quando aconteceu o
ocorrido, já tinha comprado os mantimentos, explorou os arredores e decidiu
fazer acampamento no local, assim o fez .Com o passar dos tempos fixou residência.
Depois de uns anos mandou buscar
a sua mãe, construiu uma pequena casa de taipa para os dois e ocupou o vale, ninguém apareceu para reclamar a
posse das terras. Casou com uma moça da vizinhança, porém não teve filhos.
Possuía um cachorro ese encheu de amores pelo bicho… era o seu
companheiro, guarda costa , ajudante, tudo enfim , o seu fiel e corajoso amigo,o nome era Leão, eram verdadeiros irmãos.
Pedro tinha progredido bastante, era um incansável trabalhador.Tinha no
curral meia dúzia de vacas, alguns bezerros , um bode, uma trinca de cabras e dois cabritos. A sua mulher também era prendada, criava galinhas caipiras, perus, patos e galinhas-d'angola.
Uma bela noite acordou com o
latido do cachorro Leão ecoando para as bandas do curral, levantou, pegou a
lazarina e foi ver o que estava acontecendo.
Chegou ao curral, leão estava indócil,
porém no escuro não deu para enxergar o
que tinha acontecido, acalmou o cachorro e voltou para casa.
Ao amanhecer foi ao curral
e deu de cara com o acontecido…uma onça pintada apareceu e levou uma
bezerrinha. Ficou louco da vida e resolveu de imediato caçar a
bicha, poderia inclusive perder todos os seus animais, dali para frente a onça poderia fazer morada no seu aconchego.
No outro dia preparou todos os
apetrechos, chamou Leão e bateram um longo papo sobre o ocorrido na noite anterior , diga-se
de passagem, ele gostava de trocar ideias com seu amigo.
O dia erasexta feira, todavia tinha um detalhe, era
sexta feira santa, um dia sagrado para todos os sertanejos nordestinos. A sua mulher falou para ele não ir naquele dia,
fosse no sábado, era melhor. Pedro estava irredutível,
chamou Leão e partiram para a caçada.
Andou toda a manhã e nada de Leão
dá sinal de ter farejador algo. Ao meio dia parou em uma sombra, comeu o farnel
que dona Rita preparou, deu de comer ao amigo e saiu à procura da pintada.
Andou pouco, o cachorro deu o sinal de ter farejado algo…foi
pé ante pé, ele e leão, e por trás da pedra estava a onça dando de mamar aos dois
filhotes. Parou, mirou a espingarda na cabeça da bichana e ouviu o grito…
"Pelo amor de Deus seu Pedro,
não me mate não. Tô dando de comer aos meus filhos"
Menino, Pedro largou a lazarina
no chão, virou-se e deu uma carreira por mais de uma légua, tão em disparada que perdeu as alpercatas e Leão nos seus calcanhares . Ambos caíram
prostrados debaixo de uma moita por mais de duas horas.
Quando o Pedro despertou e ainda ofegante, olhou para o cachorro Leão e falou…
1915, um almocreve de meia idade negociava nos cafundós e nos grotões
da esturricada Serra do Araripe, divisa do Ceará com Pernambuco.
Possuia uma parelha de animais, um belo equino, bom de marcha e um
musculoso muar, bom de carga. Longas eram as distâncias e belos os
lugares percorridos na lida diária, o muar para as cargas , o equino
para os passeios.
Junto ao patrão, o garboso cavalo
sempre nas festas, nos namoros, nas comemorações e nas grandes corridas,
era com orgulho que o belo animal desfilava naqueles sertões, bem
tratado, bem alimentado, bom capim, boa alfafa, excelente milho e tortas
de caroços de algodão, era vida de rei.
Impecáveis
arreios e vistosos ornamentos, manta vermelha, sela macia, peitoral
ornado com estrela de metal , rédeas e alforjes de couro de
carneiro, rabicho trançado com fio de seda, boqueira e estribos de
pura prata, polidos, encerados e bem conservados, vivia época de
glórias.
Orgulhava-se quando nas paragens recebia preços e
apreços, recebia avaliação, elogios e jamais o cavaleiro pendia para
negociação. Era um animal faceiro, elegante, orgulhoso e cheio de
brios, na sua garupa as mais belas donzelas e as mais macias das
nádegas, era motivo de festas onde chegava com os seus passos, galopes e
trotes numa demonstração de força e virilidade , qualidades estas
que lhe credenciavam a cruzar semanalmente com uma bela égua ou uma
formosa e elegante asinina, assim era o pomposo e pabo cavalo, cheio de
garbo.
O muar, coitado, a subir ladeiras e a cortar
caminhos, dois a três sacos na pesada cangalha pregada no lombo,
cabresto de cordas de croá, rabicho de agave e duas puídas viseiras de
couro cru em cada lado da cabeça obstruindo, tapando, abortando,
escurecendo e a impedir a visão lateral, no pescoço um pesado chocalho
para a sua identificação.
Nos fins de semana , durante o
dia , quatro cambitos para o carregamento de lenha e feixes de
canas, à noite dois caçuás para o transporte de frutas , garrafas e
diversas mercadorias no seu lugarejo. Como pastagem capim seco,
algumas relvas , palhas de milhos encontradas nos arredores e nos
monturos das casas. Não sabia se vivia para comer e trabalhar ou só
teria comida se trabalhasse.
Longas eram as conversas
entre os dois animais, o muar piado nas duas patas direitas, triste e
a lamentar , porém conformado por lhes sobrar a vida para o trabalho ;
o outro , solto pelos terreiros, falante, garboso e risonho; ambos
confabulavam sobre as suas vidas, as injustiças e quão ingrata era a
vida para um deles, a diferença era exorbitante, era de fazer pena e foi
assim durante muitos anos, um sempre sorrindo e a gargalhar, o
outro... o outro só Deus para socorrer.
Como o tempo é o
pai, o aconselhador e o diluidor dos sofrimentos e a esperança é a
mãe de todos os animais, uma década se passou , os dois viventes
sempre a dialogar.
Com a falta das chuvas foram
escasseando as vendas e aumentando as despesas, motivo mais do que
suficiente para o almocreve diminuir os momentos de festas e de
alegrias. Primeiro se desfez dos belos arreios, diminuiu a compra de
alimentos especiais e como necessitava aumentar o volume das cargas
passou a utilizar os dois animais na lida diária, os passeios
recreativos do equino passaram a ser coisas do passado.
O
belo e orgulhoso equino passou a andar na vala comum , lado a lado com o
muar, a sela foi substituída por uma cangalha , um saco de cada lado
e o dono escanchado no meio, desta vez contando os passos, pulando
grotas, subindo e descendo ladeiras, na ida produtos da lavoura , na
volta especiarias para abastecer as bodegas da região: querosene,
peixes salgados , açúcar, café e outros mantimentos, com o novo ofício
desapareceram as belas éguas, as formosas asininas e os saborosos
manjares. O equino passou a sobreviver nos grotões e nos monturos do
esturricado sertão.
O muar continuou a sua batalha,
agora como coadjuvante, apenas como complemento de cargas, quando o
produto era pouco ficava a pastar, a perambular pelas capoeiras à
procura de uma relva mais hidratada, vivia a pensar na sua atual e
inútil vida. Costas batidas, boca mucha, dentes falhos, amarelados,
desgastados e com raias escuras , bicheiras no lombo , espinhaço
pelado, cascos rachados e juntas calcificadas, sobrevivia a perambular
caatinga adentro. Como era do trabalho, se sentia um inútil. Intediado
mergulhou no mundo da tristeza.
O velho equino fazia a vez do muar
nas feiras livres dos vilarejos serranos. dois sacos, o dono escanchado
no meio da cangalha e o filho na garupa, subia e descia os penhascos
do Araripe, já não possuía belas boqueiras de prata.
O
rabicho de seda fora substituída por um de cordas a cortar a borda
anal, as cilhas, agora de couro cru, com suas grosseiras fivelas a
lhes causar mossas na barriga e a traumatizar os bagos aposentados,
força era agora a sua maior virtude, força para não sofrer com as
pontiagudas esporas que tangenciavam os órgãos genitais, muitas vezes
ferindo-os quando desacertava os passos.
A vida endureceu
para o faceiro e garboso animal , trouxe à memória os momentos de
bonança ao lado do zeloso patrão nos tempos das vacas gordas, das
chuvas, das farturas e dos grandes bailes. Olhava para os lados e não
mais enxergava os pomares verdejantes do caminho, pois os tapa olhos
laterais do muar, agora encontravam-se na sua cabeça, vedando os seus
olhos, limitando a visão . O velho cavalo mais participava dos
acontecimentos e nem das quermeces , passou a ser um animal de cargas,
puramente para comer e para o trabalho, não tinha direito a pensar. Seguia a dura e pétrea regra, obediência sem contestação, vivia silente
aos puxavancos do puído cabresto que lhe cortava as moídas narinas,
do rabicho que magoava o tronco da calda e a borda anal, das cilhas que
feriam a barriga, as virilhas e machucavam os inúteis bagos, o animal
vivenciava a mais espúria entidade criada pelo dominador, o mais baixo
golpe sofrido por um ser vivo, obedecer sem contestar, vivia a mais
degradante forma de vida, a escravidão. Os três foram
minguando. O esquálido muar sem trabalho, esquecido, menosprezado ,
deprimido e abandonado foi requisitado pelos produtores de charque. O
faceiro equino, agora não mais belo, sem a força da juventude, com a
estima em baixa caiu no ostracismo, calda imóvel a proteger o fim dos
intestinos, esfíncter este que sofria compressões musculares
periódicas ao menor grito. Relinchos abafados, olhos sempre para o chão,
dentes desgastados, puídos e rentes às gengivas, musculatura
minguada, pele áspera e pelos ressecados. Sem força, sem brio e sem
pernas foi substituído por sangue novo, mergulhou na solidão, não mais
requisitados ao trabalho se embrenhou nos carrascos e nunca mais soube
do seu paradeiro, sumiu. O cavaleiro em crise e em
desacerto envelheceu. Sem os seus amigos e provedores animais , com a
chegada do progresso , dos bulidos das motocicletas e dos motores
mergulhou no esquecimento e na solidão da vida. Os dias
ficaram mais longos, a falta de afazeres lhe consumiram os brios e a
cidadania, caiu no esquecimento. De resto, com o exodo e à procura da
sobrevivencia , os deseducados filhos, os sofridos netos e os demais
descendentes migraram para alimentar, como lenhas verdes, as grandes
metrópoles, ora na construção civil , ora na desconstrução da
cidadania e ora a forjar uma nação servil, uma nação sem rumo, sem
prumo e sem paradeiro . Em terras estranhas batalham , lutam e
sobrevivem. Muitos mergulham nos mares dos desvios de condutas.
As três vidas após sangrentas lutas ficaram no caminho . O país,
alheio aos seus filhos, continua condescendente ao abandono dos
mesmos , sem uma instituição sustentada que lhes garanta o futuro,
que proporcione vida digna aos que trabalham ao extremo e não vaguem pelos valados até o resto da vida. Basta vê os milhares de
trabalhadores do ontem, os abandonados do hoje e do amanhã. Hoje nos diversos grotões da nação ainda vagam muitos almocreves à espera do mesmo futuro.
O Mundo gira e tudo se repete, mostrando que na natureza nada se
constrói, tudo se transforma. Apenas o tempo, como diluidor universal, é
quem dita e conduz o destino de cada um.
Assim foi a vida do
velho cavalo, do forte burro , do almocreve e o caminho
dos seus descendentes. Onde está o futuro?
Hoje, a presença feminina é marcante em todos os
níveis de formação educacional, mas nem sempre foi assim. As mulheres
ingressaram na escola tardiamente e com formação voltada para os
cuidados com o lar e a família.
De acordo com as leis portuguesas, o sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus, ou sexo imbecil, uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais.
Essa ideia persistiu no Brasil Colônia, onde também eram comumente
declamados versinhos como: “mulher que sabe muito é mulher atrapalhada,
para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada”; "a mulher honrada
deve ser sempre calada"; e “mulher que sabe latim não tem marido, nem
bom fim” – muitos dos quais encontrados na literatura de escritores
portugueses do gênero masculino.
Mesmo já no século XIX, Charles Darwin, por exemplo, acreditava que
as mulheres eram intelectualmente inferiores – opinião semelhante à de
outros homens biólogos na época.
Jesuítas: os primórdios da educação brasileira
As escolas do período colonial foram constituídas, inicialmente, pela
ordem dos padres jesuítas. Localizadas nas vilas e cidades, eram
voltadas para o público masculino, visando à formação de uma elite
colonial culta e religiosa. Tanto as mulheres brancas, ricas ou não,
como as negras escravas e as indígenas não tinham acesso à leitura e à
escrita.
A primeira reivindicação pela instrução feminina no Brasil partiu de
um indígena, que pediu ao padre Manoel de Nóbrega que ensinasse sua
mulher a ler e a escrever. Os indígenas estranhavam a diferença de
oportunidades educacionais entre homens e mulheres, visto que estas eram
consideradas companheiras.
O padre sensibilizou-se com o pedido, já que os jesuítas tinham o
desejo de fundar recolhimentos para as mulheres no Brasil. No entanto, a
ideia não se concretizou por ter sido considerada ousada demais pela
rainha de Portugal, Dona Catarina.
Apesar disso, alguns indígenas conseguiram burlar as regras. A autora
Arilda Ribeiro afirma ter encontrado registros de que Catarina
Paraguassu, também conhecida como Madalena Caramuru, teria sido não
apenas a primeira indígena, mas a primeira mulher a aprender a ler e a
escrever, tendo feito uma carta de próprio punho ao padre Manoel de
Nóbrega em 1561.
As mulheres ficaram excluídas do sistema escolar estabelecido na
colônia. Quando muito, podiam educar-se na catequese. Na segunda metade
do século XVII, surgiram conventos no Brasil, cujas “escolas” para moças
ensinavam, sobretudo, costura e bordado (“trabalhos de agulha”), boas
maneiras e muita reza para “afastar maus pensamentos”.
Esses locais também eram usados como prisões por homens que tivessem
muitas filhas e temessem a divisão de suas propriedades com futuros
genros; por maridos traídos ou pelos que tinham a intenção de trair suas
esposas; além de irmãos que, pensando na herança familiar, preferiam
não repartir os bens.
Até então, a educação feminina seguia restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos.
A inclusão limitada das mulheres na escola
A implementação de uma série de reformas estabelecidas por Sebastião
José de Carvalho, futuro Marquês de Pombal, entre 1750 e 1777, na
metrópole e nas colônias portuguesas, culminou com a expulsão dos
jesuítas (1759). Assim, a educação passou da mão destes para o Estado.
A reforma educacional pombalina representou uma primeira tentativa de
transformação da instrução feminina, embora pouco tenha mudado na
prática. Com Pombal, oficialmente, as mulheres tiveram permissão para
frequentar salas de aula (separadas por sexo); e o magistério público
surgiu como mercado de trabalho para elas, que poderiam dar aulas apenas
para moças.
Pela
reforma, foi proibido o ensino particular sem a permissão da
recém-criada Diretoria Geral de Estudos; o conteúdo do ensino e os
livros didáticos passaram a ser controlados; e foram criadas as aulas
régias, que marcaram o surgimento do ensino público oficial e laico.
Com a vinda da família real portuguesa, em 1808, a educação feminina,
de forma geral, continuou a mesma. A preocupação era que as mulheres
soubessem cuidar do lar e pudessem aparecer em público sem causar
vergonha ao marido ou aos pais.
Por influência dos estrangeiros que chegavam, surgiu o interesse e a
procura, por parte das famílias, por professoras particulares, que,
geralmente, ensinavam, simultaneamente, meninos e meninas da família.
Diferentes estabelecimentos no centro da cidade, destinados à educação feminina, apareciam em anúncios na Gazeta do Rio de Janeiro,
alguns dirigidos por inglesas e francesas. A portuguesa Maria do Carmo
da Silva e Gama anunciava seu estabelecimento para “filhas de boas
famílias”, em 1813, por exemplo.
Durante o período do Império Brasileiro, ainda que as mulheres tenham
começado a ter acesso à instrução das primeiras letras, eram
desobrigadas de cursarem o ensino secundário, cuja função era preparar
os homens para o ensino superior.
A Constituição de 1824, a primeira do Brasil, propunha o ensino
primário gratuito extensivo a “todos” os cidadãos, embora sem considerar
como tal as populações negra e indígena. Entretanto, a primeira
legislação específica sobre o ensino primário, após a Independência, foi
a lei de 15 de outubro de 1827, conhecida como Lei Geral,
que marcou a criação de escolas de primeiras letras (hoje, Ensino
Fundamental) em todo o país – e foi referência para a escolha da data
comemorativa do Dia do Professor.
A lei tratou dos mais diversos assuntos, como a remuneração dos
mestres e mestras, o currículo mínimo, a admissão de professores e as
escolas para meninas. As mulheres, no entanto, seguiram sendo
discriminadas: não tendo acesso a todas as matérias ensinadas aos
meninos, sobretudo as consideradas mais racionais, como a geometria, e
deveriam aprender as “artes do lar”.
Com relação ao pagamento, apesar de a Lei Geral prever igualdade para
mestres e mestras, um decreto de 1831 fez com que, na prática, as
mulheres ganhassem menos. Isso porque os governos provinciais tinham a
autorização de contratar candidatos não aprovados em concurso com a
condição de pagá-los salários menores; e vale lembrar que não havia
escolas de formação para meninas, além de elas não terem aulas de todas
as matérias ministradas nas instituições de primeiras letras.
Em 1835, foi criada a primeira Escola Normal do país, em Niterói. No entanto, não foram admitidas matrículas de moças.
O início das classes mistas e um novo campo para o magistério
A educação feminina no Rio de Janeiro contou com a dedicação de
vários grupos de religiosas. Em 1854, por exemplo, começou a funcionar o
Colégio Imaculada Conceição, mantido pela Companhia das Filhas de
Caridade de São Vicente de Paula, voltado para a educação das filhas da
elite carioca e comprometido com os rígidos padrões morais da Igreja
Católica Romana.
A partir de 1870, foram fundadas escolas protestantes, especialmente
metodistas e presbiterianas, que quebraram o monopólio religioso do
catolicismo e, pela primeira vez no Brasil, reuniram alunos de ambos os
sexos numa mesma classe.
Nessa
época, surgiram nas províncias escolas públicas mistas, e as
professoras receberam autorização para lecionar para meninos de
determinada idade (geralmente entre 12 a 14 anos) – o que abriu um novo
campo ao magistério feminino.
As moças foram liberadas para ingressar nos cursos normais, e o
trabalho feminino ganhou força no final do século XIX, tendo em vista a
necessidade de um número maior de trabalhadores para suprir a crescente
demanda.
Aliado a isso, foi construído o discurso da vocação natural da mulher
ao magistério. Médicos, pais, clero e governantes acreditavam que elas
eram dotadas de ternura e outras qualidades “naturais” para os
professores exercerem sua profissão.
Cabe salientar que o privilégio dos cargos superiores da instrução
pública, postos de comando, ainda era dos homens. Embora, até 1898, a
regulamentação da escola pública não mencionasse critérios de gênero
para a direção de uma escola, por exemplo, pareceu ter havido um acordo
entre autoridades do governo e da administração do ensino ao elegerem,
inicialmente, apenas professores homens, reforçando as desigualdades de
gênero nas relações profissionais.
Por volta de 1910, as mulheres começaram a dominar o mercado de
trabalho do ensino elementar, enquanto os homens seguiam dominando o
nível secundário. No entanto, mesmo nas primeiras décadas do século XX,
havia a exigência do celibato para que as mulheres pudessem exercer a
função de professoras do ensino público. Segundo o Estatuto da Instrução
Pública, as professoras tinham que ser solteiras ou viúvas. Se
casassem, perderiam o cargo.
Mulheres no ensino profissionalizante e no ensino superior
Em 1881, foram inauguradas as classes profissionalizantes para o sexo
feminino no Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, apenas 24 anos
depois de sua fundação. Os cursos, porém, ainda reforçavam os papéis
tradicionalmente vinculados às mulheres.
Em 1897, era criado, também no Rio, o Instituto Profissional Feminino
que, após 15 anos, acrescentava Orsina da Fonseca ao seu nome (em
homenagem à esposa do presidente Hermes da Fonseca).
Com a Lei Nº 1997, de setembro de 1918, foi autorizada a separação
entre internato e externato, sendo este transferido para novas
instalações no ano seguinte e passando a chamar-se Escola Profissional
Paulo de Frontin. Lá, eram oferecidos o Curso Comercial, com as
disciplinas de estenografia (taquigrafia), datilografia, contabilidade e
línguas; e o Curso Profissional, com as oficinas de chapéus, bordados,
costura, flores, desenho e modelagem. Durante décadas, essa instituição
foi uma das principais referências no ensino profissionalizante para
moças fluminenses.
O ingresso nos cursos superiores foi mais uma luta enfrentada pelas
mulheres. Apenas em 1879, o governo imperial permitiu, condicionalmente,
a entrada feminina nas faculdades. As candidatas solteiras deveriam
apresentar licença de seus pais; já as casadas, o consentimento por
escrito de seus maridos.
Embora oficialmente aceitas na graduação, o número de mulheres
inscritas para tal foi irrisório por muito tempo. As razões para isso
vão desde o preconceito da sociedade até a impossibilidade de elas
frequentarem os melhores cursos preparatórios, dificultando a entrada no
ensino superior.
O cenário atual da educação feminina
Após conquistarem o acesso aos cursos superiores, as mulheres
seguiram progredindo no campo da educação, tornando-se mestras e
doutoras em diferentes áreas do saber. Durante a segunda metade do
século XX, a presença delas cresceu expressivamente na educação, tanto
como força de trabalho, quanto na participação em todos os níveis de
formação.
“A década de 90 marca a virada das mulheres brasileiras, que
ultrapassaram os homens em nível de escolarização. A proporção de
pessoas analfabetas já é significativamente menor entre as mulheres do
que entre os homens em todos os grupos com até 39 anos de idade. As
mulheres também superaram os homens em número médio de anos de estudos
e, nas salas de aula, reinam absolutas: 85% dos 1,6 milhão de
professores da educação básica em todo o país são do sexo feminino”, diz
um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) do ano 2000.
Segundo esse relatório do Inep, o fator de maior influência para essa
virada das mulheres sobre os homens em nível de escolarização foi o
ingresso das mulheres no mercado de trabalho, o que as estimulou a
buscar um melhor nível de escolaridade, inclusive como forma de
compensar a discriminação salarial de gênero.
Observando dados mais atuais, o Censo da Educação Superior de 2016
apontou que as mulheres representavam 57,2% dos estudantes matriculados
em cursos de graduação. Já na docência, segundo o mesmo levantamento,
elas são 45,5%.
Entre os professores da educação básica, elas são maioria: representam cerca de 80%, segundo Censo Escolar 2018.
No
início do século XX, a educação feminina ainda era voltada para as
necessidades domésticas e o currículo destinado às mulheres
relacionava-se aos objetivos do Abecedário Moral (1585), obra do escritor português Gonçalo Fernandes Trancoso (Imagem: GEA/ MultiRio).
Fontes:
BNDigital – Biblioteca Nacional. Portal MAPA – Memória da Administração Pública Brasileira (Arquivo Nacional). Site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep. Site do projeto Mulher 500 Anos Atrás dos Panos (Rede de Desenvolvimento Humano - REDEH). KRAUSE, C; KRAUSE, M. Educação
de mulheres do período colonial brasileiro até a o início do século XX:
do imbecilitus sexus à feminização do magistério.X Simpósio Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental, 2016. MACHADO, M; QUADROS, R; TOMÉ, D. A educação feminina durante o Brasil colonial. Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012. PAZ, Cláudia Denis Alves da. Gênero no trabalho pedagógico na educação infantil. 2008. Dissertação – Mestrado em Educação – Faculdade de Educação/ UnB. RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres Educadas na Colônia.
In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria;
VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500 Anos de Educação no Brasil. 2. ed.
Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2000. RIBEIRO, Arilda Ines Miranda. Mulheres e educação no Brasil-Colônia: histórias entrecruzadas. Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil", Faculdade de Educação – Unicamp. SCHUMAHER, Schuma. Um Rio de Mulheres:a participação das mulheres fluminenses na história do Estado do Rio de Janeiro/ Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil – Rio de Janeiro: REDEH, 2003. STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Um olhar na História: a mulher na escola (Brasil: 1549 – 1910). Programa de Pós-Graduação em Educação – UFRN. II Congresso Brasileiro de História da Educação, 2002