domingo, 7 de dezembro de 2025

O ZEZINHO CRESCEU E COMPREENDEU O MUNDO






 

O ZEZINHO CRESCEU E COMPREENDEU O MUNDO


Nascido de uma família de baixa renda, o Zezinho não aceitava o tipo de vida que levava, não compreendia a diferença entre as classes sociais.  

Cresceu ouvindo que Deus era o pai de toda a humanidade e não entendia o porquê  de só passar fome e sofrimentos financeiros os pobres, aliás, não engolia a ideia de tanta diferença entre as pessoas no tocante as dificuldades da vida. Se Deus era o pai de todos, quais eram os porquês de alguns usufruírem de  boas escolas, casas, hospitais, roupas , mordomias  e outros não possuírem nada?  Na sua voadora cabeça estes fatos não encontravam paradeiros, não estavam ao alcance de seus primários pensamentos.

Para o Zezinho um verdadeiro  pai tem que olhar para todos os filhos sem diferenciação, era este o padrão que   possuía na sua imbricada teia cerebral.

O Zezinho chegava em casa e não encontrava os utensílios domésticos que existiam na casa do patrão do seu pai e  nas casas dos  ricos. Não entendia porque teria que dormir em cima de um jirau, feito de madeira agreste, enquanto o filho do pai do seu patrão dormia numa cama alta, cheirosa e fofa, como explicar se Deus é o pai de todos? Será que Deus gosta mais de um filho do que de outro? Será que ele só gosta dos ricos? Será? A cabeça do menino vivia em eterna pavorosa, vivia em  voçoroca. 

O Zezinho cresceu e virou homem, passou a entender o teorema, a engrenagem e os ninhos das serpentes, que como Sucuris que  comem até os próprios filhos após o parto.  Passou a enxergar que existiam as classes sociais desde o surgimento da humanidade  e que as oligarquias, os dominantes, os poderosos  faziam e fazem de tudo para que cada indivíduo das classes inferiores se  perpetue na sua clausura social, preso, fechado e blindado numa caixa hermeticamente fechada. Passou a  entender que para pular de um degrau para outro, para sair de uma classe  para outra e melhorar a posição, o indivíduo teria e tem que ser ousado e ir de encontro aos ditames das oligarquias, teria  que transgredir os métodos de encabrestamentos impostos durante séculos.

Passou a entender que o sujeito não pode baixar a cabeça, sempre rezar na cartilha da subserviência e  dizer amém, numa ladainha decorada,  conformativa e transmitida de geração a geração. 

O indivíduo tem que desobedecer, insistir contra os pensamentos dominantes das castas superiores e partir para a luta, partir para uma contenda democrática e exigir melhores dias para todos os seres humanos, mesmo nadando contra a correnteza. 

O Zezinho entendeu que  para sair do fosso, tem que fazer uso das ferramentas que as castas superiores  utilizam. Tem que estudar, se esforçar, não cair nas tentações impostas pelos hegemônicos. Tem que fugir do oferecimento crônico e eterno de pão e circo, como se a vida fosse apenas entretenimento, bucho cheio e subserviência social. 

Botou na cabeça que  apesar de existir uma carta magna nacional chamada Constituição Federal,   só lutando, brigando, exigindo, cobrando, confrontando, se esforçando, se dedicando e correndo  é que conseguirá subir na escala social e sair da caixa dura e blindada que nasceu, compreendeu que o único e melhor caminho é no aproveitamento escolar, principalmente na base, na raiz, no caule, na primeira fase da vida. 

O Zezinho entendeu que até os 18 anos tem que dedicar todos os esforços no aprendizado para um bom futuro na vida. Tem que investir no aprendizado de uma profissão, de uma atividade esportiva ou artística, tudo com a tutela da Escola.


Sedimentou na cabeça que sem  estes predicados continuará eternamente na base da pirâmide social. Continuará fazendo força e sendo esmagado pelas demais camadas sociais e continuará na famigerada renda baixa. Viverá sem pensamentos próprios, sem autoestima e sobreviverá das viciantes ajudas sociais, alimentando a vontade dos dominantes e de promessas de dias melhores. Perderá o poder de sua maior arma, o voto, que numa democracia plena é considerado o primeiro poder,  que é superior aos demais, o executivo(2º), o legislativo(3ª) e o judiciário, o 4º poder. Todos dependem do 1º poder, o VOTO.  

O Zezinho acordou em tempo, venceu todas as barreiras e pede que todos os outros Zezinhos também lutem e acordem, sigam o seu exemplo.

Entendeu o Zezinho   que  esta caixa é  densa e internamente escura, quente e paredes  grossas,  porém, existe uma saída que é estreita, camuflada,  longa e dolorosa. Requer muitos esforços, requer coragem e força de vontade, requer foco, resiliência e determinação,  mas existe.

Viva o meu amigo Zezinho e que os outros sigam o seu caminho. Basta força, coragem,  resiliência,  lutar contra a vontade dos dominantes e exigir visibilidade dos que gestores.   Basta ser mais um Zezinho.

                          Iderval Reginaldo Tenório

 


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