O
ZEZINHO CRESCEU E COMPREENDEU O MUNDO
Nascido
de uma família de baixa renda, o Zezinho não aceitava o tipo de vida que
levava, não compreendia a diferença entre as classes sociais.
Cresceu
ouvindo que Deus era o pai de toda a humanidade e não entendia o
porquê de só passar fome e sofrimentos financeiros os pobres, aliás,
não engolia a ideia de tanta diferença entre as pessoas no tocante as
dificuldades da vida. Se Deus era o pai de todos, quais eram os porquês de
alguns usufruírem de boas escolas, casas, hospitais, roupas ,
mordomias e outros não possuírem nada? Na sua voadora cabeça
estes fatos não encontravam paradeiros, não estavam ao alcance de seus
primários pensamentos.
Para o
Zezinho um verdadeiro pai tem que olhar para todos os filhos sem
diferenciação, era este o padrão que possuía na sua imbricada teia
cerebral.
O
Zezinho chegava em casa e não encontrava os utensílios domésticos que existiam
na casa do patrão do seu pai e nas casas dos ricos. Não
entendia porque teria que dormir em cima de um jirau, feito de madeira agreste,
enquanto o filho do pai do seu patrão dormia numa cama alta, cheirosa e fofa,
como explicar se Deus é o pai de todos? Será que Deus gosta mais de um filho do
que de outro? Será que ele só gosta dos ricos? Será? A cabeça do menino vivia
em eterna pavorosa, vivia em voçoroca.
O
Zezinho cresceu e virou homem, passou a entender o teorema, a engrenagem e os
ninhos das serpentes, que como Sucuris que comem até os próprios filhos
após o parto. Passou a enxergar que existiam as classes sociais desde o
surgimento da humanidade e que as oligarquias, os dominantes, os
poderosos faziam e fazem de tudo para que cada indivíduo das classes
inferiores se perpetue na sua clausura social, preso, fechado e blindado
numa caixa hermeticamente fechada. Passou a entender que para pular
de um degrau para outro, para sair de uma classe para outra e
melhorar a posição, o indivíduo teria e tem que ser ousado e ir de encontro aos
ditames das oligarquias, teria que transgredir os métodos de
encabrestamentos impostos durante séculos.
Passou
a entender que o sujeito não pode baixar a cabeça, sempre rezar na cartilha da
subserviência e dizer amém, numa ladainha decorada, conformativa e
transmitida de geração a geração.
O
indivíduo tem que desobedecer, insistir contra os pensamentos dominantes das
castas superiores e partir para a luta, partir para uma contenda democrática e
exigir melhores dias para todos os seres humanos, mesmo nadando contra a
correnteza.
O
Zezinho entendeu que para sair do fosso, tem que fazer uso das
ferramentas que as castas superiores utilizam. Tem que estudar, se
esforçar, não cair nas tentações impostas pelos hegemônicos. Tem que fugir do
oferecimento crônico e eterno de pão e circo, como se a vida fosse apenas
entretenimento, bucho cheio e subserviência social.
Botou
na cabeça que apesar de existir uma carta magna nacional chamada
Constituição Federal, só lutando, brigando, exigindo, cobrando,
confrontando, se esforçando, se dedicando e correndo é que
conseguirá subir na escala social e sair da caixa dura e blindada que nasceu,
compreendeu que o único e melhor caminho é no aproveitamento escolar,
principalmente na base, na raiz, no caule, na primeira fase da vida.
O
Zezinho entendeu que até os 18 anos tem que dedicar todos os esforços no
aprendizado para um bom futuro na vida. Tem que investir no aprendizado de uma
profissão, de uma atividade esportiva ou artística, tudo com a tutela da
Escola.
Sedimentou
na cabeça que sem estes predicados continuará eternamente na base da
pirâmide social. Continuará fazendo força e sendo esmagado pelas demais camadas
sociais e continuará na famigerada renda baixa. Viverá sem pensamentos
próprios, sem autoestima e sobreviverá das viciantes ajudas sociais,
alimentando a vontade dos dominantes e de promessas de dias melhores. Perderá o
poder de sua maior arma, o voto, que numa democracia plena é considerado o
primeiro poder, que é superior aos demais, o executivo(2º),
o legislativo(3ª) e o judiciário, o 4º poder. Todos
dependem do 1º poder, o VOTO.
O
Zezinho acordou em tempo, venceu todas as barreiras e pede que todos os outros
Zezinhos também lutem e acordem, sigam o seu exemplo.
Entendeu
o Zezinho que esta caixa é densa e internamente
escura, quente e paredes grossas, porém, existe uma
saída que é estreita, camuflada, longa e dolorosa. Requer muitos
esforços, requer coragem e força de vontade, requer foco, resiliência e
determinação, mas existe.
Viva o
meu amigo Zezinho e que os outros sigam o seu caminho. Basta força,
coragem, resiliência, lutar contra a vontade dos dominantes e
exigir visibilidade dos que gestores. Basta ser mais um Zezinho.
Iderval Reginaldo Tenório
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