domingo, 29 de março de 2015

BRASIL, SALVE OS SEUS JOVENS



                                                                            

                                                                   EDITORIAL DA SEMANA SANTA
Carta aos Jovens

Como sexagenário convicto procuro de uma maneira ou de outra orientar os jovens, dentre as diversas  perguntas, uma provavelmente se sobressai  e faz parte de todas as minhas entrevistas, é a mais difícil e a que possui a maior variedade de respostas.
COMO VAI A ESCOLA?
Muitos baixam a cabeça, outros olham para os pais, outros alegam condições financeiras, e os componentes da grande maioria informam  que trancaram a matrícula ou estão se preparando para entrar na faculdade. São geralmente sustentados pelos pais, muitas vezes já passaram por mais de um curso superior sem expressão e os abandonaram no meio dos mesmos  com o seguinte e decorado jargão:
“NÃO ERA A MINHA PRAIA”.

Estes jovens são oriundos de escolas particulares de todos os níveis e das inadequadas escolas publicas,  numa demonstração clara  dos esforços  e sonhos dos pais  em colocá-los nas portas de um futuro melhor,  sacrificando os outros itens pertinentes a vida, uma vez que,  o país de uma vez por todas abandonou o ensino fundamental e resolveu camuflar a educação com cursos técnicos incompletos, capengas, fracos, sem sustentação e com cursos superiores desnecessários para  os seus exercícios profissionais, com o objetivo de ocupar o tempo dos jovens e diminuir por decreto a taxa de desemprego nacional, uma vez que, para cada matrícula num anêmico PRONATEC ou numa faculdade sem qualificação, comprovada pelo próprio governo, significa um CPF fora do mercado à procura do necessário e cidadão emprego, os tornando subservientes, fracos, dependentes e sem voz, é uma das formas  de escravidão humana, a dependência de outrem na fase adulta da vida.
Sinto que são jovens desantenados com os pais, com o país e com o mundo em que vivem, geralmente são cidadãos contaminados pelo consumismo doentio, utilizam toda a tecnologia da atualidade para o entretenimento, dedicam mais tempo ao corpo do que ao cérebro. Ludibriados pelo álibi da saúde e na procura do corpo perfeito, transitório e artificial gastam as suas energias nas grandes armadilhas de ginásticas em ode ao físico , falsamente apelidadas de   academias, geralmente batizadas  jocosamente  com vulgos americanos.
Esta população,  quase que expatriada pelo momento de invasão estrangeira no qual  vive o país em todos os seus ítens, consomem parte dos proventos dos pais na compra de suplementos, vitaminas, alimentos artificiais, falsos aminoácidos, proteínas batizadas, roupas,tênis, sapatos, bonés e equipamentos pertinentes a este segmento,  além dos maléficos e milagrosos anabolizantes, é o endeusamento ao atraso, ao sepultamento da cultural local e o apagamento da primordial e necessária raiz familiar e humana.
Fecho o meu diálogo, que funciona como um parêntese do meu discurso,   procuro mostrar que o homem é só e somente o cérebro; asseguro que  corpo bonito, rosto perfeito , força muscular , cabelos atraentes é uma propriedade natural e pertinente ao ser humano sadio, reafirmo que todos os jovens são bonitos dentro de sua linhagem genética. Qualquer modificação nesta propriedade é de puro cunho pecuniário, de interesse comercial e de consumo, é o que se cognomina de   moda midiática,  na qual , os grandes interessados modificam e criam sonhos, que para realizar o intento,  a primeira condição é desativar o cérebro racional, ativar a ilusão , sensibilizar  a emoção , atiçar camuflada e propositadamente todas as formas de preconceitos , numa premissa que todos os seres humanos têm que ser iguais em tudo, deixando de lado as suas origens, os seus antepassados,  os seus costumes ,  religião , culturas e culinária para seguirem os ditames do momento, os ditames dos hegemônicos.
Bato na tecla do conhecimento e informo que o cérebro é o maior, o mais importante e precioso armazenador de dados presenteado ao ser humano e sabe manipulá-los criando idéias, pensamentos, consciência lógica e necessárias ao ser humano, relato que o corpo humano é constituído de vários sistemas e órgãos interligados com um único intuito: alimentar e proteger o cérebro em todos os seus vieses . Concluo que,  somente os irracionais  utilizados para pegar peso, para o trabalho duro e para servirem como mantenedores da cadeia alimentar precisam de grande volume de músculos, geralmente as suas vidas são curtas, os seus cérebros cabem na palma da mão de uma criança e o futuro é virarem estercos.
Jovens, priorizem o cérebro, é a única maneira de se conquistar espaço no futuro, façam com que  os seus pais se orgulhem mais e mais. Brasil, meu Brasil varonil, valorize os seus filhos , principalmente os que estão em formação em todas as camadas sociais, proporcione um ensino fundamental digno para todos, priorize a caneta e a escola, esqueça as armas e as penitenciárias, o país tem jeito, eu acredito.
 Brasil,  priorize o Brasileiro e o Brasil, priorize os seus jovens.
Iderval Reginaldo Tenório

COMO NOSSOS PAIS - BELCHIOR - YouTube

www.youtube.com/watch?v=85tRr6_1FXQ
12 de jun de 2010 - Vídeo enviado por vangodias
ALUCINAÇÃO (1976) PHILIPS/PHONOGRAM - O SEGUNDO E MELHOR ALBUM DE BELCHIOR.

EDITORIAL DA SEMANA SANTA- Carta aos Jovens


EDITORIAL DA SEMANA SANTA

Carta aos Jovens

Como sexagenário convicto procuro de uma maneira ou de outra orientar os jovens, dentre as diversas  perguntas, uma provavelmente se sobressai  e faz parte de todas as minhas entrevistas, é a mais difícil e a que possui a maior variedade de respostas.
COMO VAI A ESCOLA?
Muitos baixam a cabeça, outros olham para os pais, outros alegam condições financeiras, e os componentes da grande maioria informam  que trancaram a matrícula ou estão se preparando para entrar na faculdade. São geralmente sustentados pelos pais, muitas vezes já passaram por mais de um curso superior sem expressão e os abandonaram no meio dos mesmos  com o seguinte e decorado jargão:

“NÃO ERA A MINHA PRAIA”.
Estes jovens são oriundos de escolas particulares de todos os níveis e das inadequadas escolas publicas,  numa demonstração clara  dos esforços  e sonhos dos pais  em colocá-los nas portas de um futuro melhor,  sacrificando os outros itens pertinentes a vida, uma vez que,  o país de uma vez por todas abandonou o ensino fundamental e resolveu camuflar a educação com cursos técnicos incompletos, capengas, fracos, sem sustentação e com cursos superiores desnecessários para  os seus exercícios profissionais, com o objetivo de ocupar o tempo dos jovens e diminuir por decreto a taxa de desemprego nacional, uma vez que, para cada matrícula num anêmico PRONATEC ou numa faculdade sem qualificação, comprovada pelo próprio governo, significa um CPF fora do mercado à procura do necessário e cidadão emprego, os tornando subservientes, fracos, dependentes e sem voz, é uma das formas  de escravidão humana, a dependência de outrem na fase adulta da vida.
Sinto que são jovens desantenados com os pais, com o país e com o mundo em que vivem, geralmente são cidadãos contaminados pelo consumismo doentio, utilizam toda a tecnologia da atualidade para o entretenimento, dedicam mais tempo ao corpo do que ao cérebro. Ludibriados pelo álibi da saúde e na procura do corpo perfeito, transitório e artificial gastam as suas energias nas grandes armadilhas de ginásticas em ode ao físico , falsamente apelidadas de   academias, geralmente batizadas  jocosamente  com vulgos americanos.
Esta população,  quase que expatriada pelo momento de invasão estrangeira no qual  vive o país em todos os seus ítens, consomem parte dos proventos dos pais na compra de suplementos, vitaminas, alimentos artificiais, falsos aminoácidos, proteínas batizadas, roupas,tênis, sapatos, bonés e equipamentos pertinentes a este segmento,  além dos maléficos e milagrosos anabolizantes, é o endeusamento ao atraso, ao sepultamento da cultural local e o apagamento da primordial e necessária raiz familiar e humana.
Fecho o meu diálogo, que funciona como um parêntese do meu discurso,   procuro mostrar que o homem é só e somente o cérebro; asseguro que  corpo bonito, rosto perfeito , força muscular , cabelos atraentes é uma propriedade natural e pertinente ao ser humano sadio, reafirmo que todos os jovens são bonitos dentro de sua linhagem genética. Qualquer modificação nesta propriedade é de puro cunho pecuniário, de interesse comercial e de consumo, é o que se cognomina de   moda midiática,  na qual , os grandes interessados modificam e criam sonhos, que para realizar o intento,  a primeira condição é desativar o cérebro racional, ativar a ilusão , sensibilizar  a emoção , atiçar camuflada e propositadamente todas as formas de preconceitos , numa premissa que todos os seres humanos têm que ser iguais em tudo, deixando de lado as suas origens, os seus antepassados,  os seus costumes ,  religião , culturas e culinária para seguirem os ditames do momento, os ditames dos hegemônicos.
Bato na tecla do conhecimento e informo que o cérebro é o maior, o mais importante e precioso armazenador de dados presenteado ao ser humano e sabe manipulá-los criando idéias, pensamentos, consciência lógica e necessárias ao ser humano, relato que o corpo humano é constituído de vários sistemas e órgãos interligados com um único intuito: alimentar e proteger o cérebro em todos os seus vieses . Concluo que,  somente os irracionais  utilizados para pegar peso, para o trabalho duro e para servirem como mantenedores da cadeia alimentar precisam de grande volume de músculos, geralmente as suas vidas são curtas, os seus cérebros cabem na palma da mão de uma criança e o futuro é virarem estercos.
Jovens, priorizem o cérebro, é a única maneira de se conquistar espaço no futuro, façam com que  os seus pais se orgulhem mais e mais. Brasil, meu Brasil varonil, valorize os seus filhos , principalmente os que estão em formação em todas as camadas sociais, proporcione um ensino fundamental digno para todos, priorize a caneta e a escola, esqueça as armas e as penitenciárias, o país tem jeito, eu acredito.
 Brasil,  priorize o Brasileiro e o Brasil, priorize os seus jovens.

Iderval Reginaldo Tenório

COMO NOSSOS PAIS - BELCHIOR - YouTube

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12 de jun de 2010 - Vídeo enviado por vangodias
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sexta-feira, 27 de março de 2015

AUSTRALIA E O MASSACRE DA INGLATERRA- O MUNDO PRECISA SABER

"Australia, until 1960s, Aborigines came under the Flora And Fauna Act, classified them as animals, not human beings.
#whitesupremacy #racism #Australia #zkblast"
Aborígines e Estado Australiano

sangue, civilização, segregação racial e... coelhos

Gabriel Passetti *

Mestrando em História Social – USP
passetti@klepsidra.net

 



INTRODUÇÃO

 
            Pensar em um filme sobre a Austrália nos remete quase que sempre à série “Crocodilo Dundee”. O que mais há na Austrália além de “Crocodilos Dundee”? O que aquele imenso e desconhecido país tem a nos oferecer além de surfistas, bumerangues, cangurus, coalas e ornitorrincos?
 
            Quando se lembra na Austrália, geralmente se esquece da sua população original: os aborígines. Até sabemos que existiam índios nos EUA, afinal eles atacavam os mocinhos nos Westerns e, por serem tão hostis aos mocinhos, teriam sido apagados do mapa.



Mas o que dizer da população original da Austrália? Desconhece-la totalmente já é um indício de que há algo errado. O filme “Geração Roubada” aborda exatamente esta questão. Segundo filme mais assistido na Austrália em 2002, rodado com apenas US$ 3 milhões, e vencedor do Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro pelo público na 27ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, este filme nos apresenta o oposto da imagem criada por “Dundee”.
 
 
UM POUCO DE HISTÓRIA...
 
            Se “Geração Roubada” é o oposto de “Crocodilo Dundee”, podemos dizer que também a Austrália também é uma oposição. Esta diferença, se dá devido a enorme maioria da população ser branca, ocidentalizada e descendente dos britânicos, e os 2% restantes, aproximadamente 350.000 indivíduos, serem das diversas etnias aborígines.
 
            Quando os ingleses chegaram à Austrália, em 1788 – pouco depois de perderem suas principais colônias, os atuais EUA – aquela região era povoada por mais de 2000 diferentes etnias, que viviam lá a mais de 150.000 anos com uma forma de vida bastante arraigada à terra: eram em sua maioria caçadores e nômades, tendo sacralizado alguns fenômenos naturais e acidentes geográficos. Para os ingleses, aquele novo continente foi considerado terra nullius, ou seja, terra-de-ninguém. Afinal, não havia pessoas vivendo lá, mas sim alguns “remanescentes do Neolítico”, como diziam.
 
            Inicialmente terra de degredados e presos, a Austrália passou a chamar a atenção dos ingleses quando estes descobriram ouro em suas terras. Uma febre imigratória ocorreu e, rapidamente, começou a colonização das terras de seu interior. Aos aborígines restavam alguns trabalhos de menor qualificação nas fazendas, ou então o trabalho de guias. Aos demais, a expulsão para terras cada vez mais distantes através da expansão da fronteira branca.
 


Moodoo e Mr. Neville, ícones da nova
civilização australiana
            Esta invasão desestruturou totalmente a sociedade aborígine. Armados de flechas e lanças, não eram páreo para fazendeiros e mineradores com seus rifles Remington. As terras começaram a ser cercadas, os locais sagrados destruídos, e a tradicional vida nômade de caça passou a ser cada vez mais difícil. Paralelamente ao massacre proporcionado pelas armas, chegaram as doenças: varíola e gripe, que conseguiram com muito mais eficiência e em menor tempo, dizimar a população nativa.
   
A independência chegou em 1905. Os diferentes estados se organizaram na forma de uma federação e continuaram sua expansão. Porém, à esta época, já havia um enorme problema aflingindo aos fazendeiros: os coelhos.
 
Trazidos pelos ingleses ainda no século XIX, os coelhos encontraram na Austrália o ambiente ideal para a sua reprodução: clima e vegetação propícios e a inexistência de predadores naturais. Rapidamente regiões cada vez maiores da Austrália passaram a ser literalmente devastadas pelos coelhos. Tomou-se então, uma medida drástica: o governo construiu uma gigantesca tela de proteção que dividia o país em dois: um civilizado, branco, agrícola e à prova de coelhos; e o outro, selvagem e infestado de coelhos.
 
Dentro deste contexto, as populações aborígines eram empurradas cada vez para mais longe. Afastadas de suas regiões de origem, sem poderem caçar nem manter sua vida nômade, muitas etnias passaram a depender diretamente das rações alimentares e de vestimentas oferecidas pelo governo.
 
O Estado de Western Australia (Austrália Ocidental) foi o primeiro a estabelecer leis discriminando e segregando a minoria aborígine da maioria branca. Os nativos ficaram restritos, em sua maioria, às reservas nas fronteiras da linha dos coelhos. E, quando eram enviados às cidades, eram impedidos de ter acesso à certas regiões, bem como a inúmeros direitos civis.
 
Foi instituído nesta época o cargo de Protetor-Chefe dos Aborígines. Este, era responsável pelo “bem-estar” dos nativos, podendo selecionar quais crianças desta população seriam retiradas de suas famílias e levadas aos “centros educacionais”, para aprenderem a viver como brancos.
 
Tais “centros” eram, na realidade, campos de concentração de aborígines, nos quais as crianças eram obrigadas a abandonar seus idiomas e costumes tradicionais, e assumirem uma orfandade. Passado este estágio, eram então, catequizadas e ensinadas a trabalhos da mais baixa qualificação: para os rapazes trabalhos agrícolas ou manuais urbanos, para as moças prendas domésticas.
 
Após saírem dos “centros educacionais”, os jovens aborígines agora “civilizados”, eram enviados a famílias de toda a Austrália, que passavam a ser responsáveis por eles, inclusive por seus casamentos.
 
Um detalhe sórdido era escondido dentro deste sistema: somente crianças mestiças eram levadas aos “centros educacionais”. Estas, poderiam casar somente com brancos, para que seus traços sangüíneos aborígines fossem apagados em três ou quatro gerações. O discurso oficial de “civilizar os aborígines” se tornava insustentável diante do fato de que em uma mesma família, crianças mestiças foram levadas, e crianças “100% aborígines”, não.
 
Em 1937, a Federação Australiana proclamou uma lei na qual os aborígines do centro e do norte, que fossem mestiços, deveriam ser “civilizados” de forma continuada. Em 1951, esta lei foi extendida a todos os aborígines da Austrália. Com o tempo, desapareceria o problema aborígine.
 
Entre 1910 e 1960, período em que a transferência de crianças de suas famílias para os “centros educacionais” esteve em seu auge, calcula-se que de 10 a 30% de todos os nascidos aborígines foram levados. Nenhuma família ficou intocada. A partir da década de 1960, este processo diminui gradativamente, até que em 1972 tal lei é finalmente abolida.
 
            “Geração roubada” foi o nome dado à todas estas gerações de crianças aborígines levadas de suas famílias para a “civilização”. Quando o filme foi lançado, em 2002, o governo federal afirmou que o livro com o qual este se baseou e, o próprio filme, narravam mentiras. Resta lembrar que este mesmo governo, foi um dos poucos que respondeu prontamente à solicitação de tropas por parte de George W. Bush, para as invasões do Afeganistão e do Iraque.
 
Em 1997, a Justiça Australiana havia deliberado que o ocorrido com as “gerações roubadas”, havia sido um genocídio. Porém, negou quatro pedidos de ressarcimento estatal aos descendentes destas pessoas e de seus familiares. A alegação foi de que os pais haviam consentido com a retirada das crianças. Há imprecisões, pois estes pais eram analfabetos, e muitas vezes nem compreendiam o idioma inglês. Sua “assinatura” era na realidade um “X” em uma folha.
 
 

O FILME

    
           “Geração Roubada” é intitulado originalmente “Rabbit-Proof Fence”, o que em uma tradução literal significa “Cerca à prova de coelhos”. Enquanto que o título em português trata o tema de forma global, destacando o fato de que aqueles personagens foram apenas peças em um grande jogo, o título em inglês nos oferece outras interpretações: a primeira e mais óbvia diz respeito ao caminho seguido pelas heroínas: a cerca. Por outro lado, podemos pensar nesta não como algo que apenas separa as fazendas dos coelhos, mas sim como algo que separa a “civilização” da “barbárie” na Austrália, ou seja, em último caso, brancos e aborígines.
Uma cerca separando civilização e barbárie
 


            O filme narra a história verídica das irmãs Molly (14 anos), Daisy (10) e sua prima, Gracie (8). Elas foram retiradas de suas mães em 1931 através do sistema comandado pelo Protetor-Chefe dos Aborígines, o Sr. A. O. Neville.

            Reconhecida sua mestiçagem, as garotas foram retiradas de suas famílias e sua comunidade, na região de Jigalong, e levadas de trem, dentro de jaulas, até o “centro educacional” de Moore River (Moore River Native Settlement).

O início do "processo pedagógico": jaulas
 




Estado (Sr. Neville, à esq.) e Igreja
(freira, à dir.) unem-se para educar
as aborígines
            Lá, foram recepcionadas pelas religiosas que comandavam o local, e tiveram que se adaptar rapidamente ao novo sistema: foram proibidas de conversar em seu idioma, tomaram banhos, trocaram de roupas e passaram a obedecer severa hierarquia e disciplina. Rapidamente, Molly liderou a irmã e a prima para uma fuga: era inconcebível permanecer naquele local.         O filme desenrola-se então a partir deste ponto: as meninas fogem desesperadamente do Sr. Neville (apelidado “carinhosamente” de Sr. Devil – notem a semelhança fonética no idioma inglês entre “Nevil” e “Devil”), de seu capanga Moodoo (um aborígine cuja profissão é caçar as “fujonas”) e da polícia.

 


           O filme se torna gradativamente um drama épico. As três garotas conseguem fugir de Moore River, mas não sabem nem para onde devem ir para conseguirem chegar em casa, em Jigalong. Correm instintivamente: às vezes encontram ajuda, às vezes tem problemas. Elas não sabiam que teriam que caminhar mais de 2.500 km através do sertão e do deserto australiano para conseguirem voltar, a única coisa que sabiam é que deviam seguir a cerca dos coelhos. Em seu caminho, sem comida e sem água, são auxiliadas por alguns ex-internos de Moore River. Entre eles está o caso dramático de uma moça que, após sair do internato, foi enviada para trabalhar em uma fazenda. Mal sabia ela que, além dos trabalhos domésticos, deveria também oferecer serviços sexuais ao patrão.

            O filme foi baseado no relato de Doris Pilkington Garimara, uma das filhas de Molly. Dirigido pelo badalado Phillip Noyce, de “O Colecionador de Ossos”, “Perigo Real e Imediato”, e “O americano tranqüilo”, utilizou como atrizes-mirim, garotas que são filhas da “Geração Roubada”: apesar de suas feições serem de mestiças, não sabiam pronunciar sequer uma palavra dos idiomas aborígines.

Neste mapa podem ser destacadas linhas contínuas,
com a indicação das cercas dos coelhos, e no pontilhado,
o caminho percorrido pelas fugitivas de Moore River

             Obviamente, o filme gerou grandes discussões e controvérsia na Austrália. Um assunto que é um enorme tabu, escondido e negado durante décadas, foi retratado de forma esplendida nas telas: não é pra menos que foi o segundo filme mais visto em 2002 naquele país. Para os conservadores, o filme é injusto com aqueles que apenas queriam levar o bem para os bárbaros. Para os descendentes dos nativos, o filme foi ainda brando de mais com pessoas que na realidade teriam sido ainda mais sanguinárias e preconceituosas.
 

            O principal ícone deste sistema segregacionista e etnocida é o Sr. Devil. A. O. Neville realmente existiu, assim como todas as demais personagens. De 1915 a 1936, foi o Protetor-Chefe dos Aborígines, sendo que seu cargo deveria reportar-se somente ao Premiê Australiano. No filme, o Sr. Devil é retratado como alguém que entusiasticamente realmente acredita estar fazendo o bem para aquelas pessoas. Seu enorme preconceito é extravasado em frases como “indesejada terceira raça” (a respeito da mestiçagem), “avanço ao status branco” (sobre o branqueamento), “eles são nossa responsabilidade” (sobre o controle total da vida dos aborígines).
A. O. Neville, com a Bíblia em mãos, acredita
estar salvando a Austrália e os aborígines
 
            Entramos, então, na seguinte questão: apenas por uma pessoa acreditar estar fazendo “o bem” a alguém, isto a isenta de responsabilidades? O que era este “bem” que Neville acreditava estar fazendo? Era um bem aos aborígines, a ele próprio, ou à Austrália branca? Que direito ele – e tantos outros – tinha de decidir sobre a vida das outras pessoas?
 
            Por discordar desta ingerência em suas vidas, Molly e Daisy tiveram que viver o resto de suas vidas escondidas do olhar vigilante do Estado Australiano. Transferiram-se para o “lado de lá” da cerca junto de seus familiares e, forçosamente, retornaram ao estado original de sua população: caça e nomadismo.

          Porém, nem mesmo isto foi possível para conter a “luta pelo bem”: quando tinha 24 anos, Molly foi mais uma vez presa, junto de duas filhas suas, e levada para Moore River. Foge mais uma vez de lá, só com sua filha de um ano e meio, Annabelle, seguindo mais uma vez a cerca dos coelhos. Porém, nem assim conseguiria a tranqüilidade. Annabelle foi mais uma vez raptada, e desta vez não conseguiu fugir de Moore River. Voltou a ter notícias de sua mãe somente em 2002, ao assistir a “Rabbit-Proof Fence”, mas esta história será contada em um novo filme...
Mãe aborígine "autoriza" a tutela
estatal de suas filhas



 

EXCLUSIVIDADE AUSTRALIANA?

 
            Apesar de ser desconhecido de nós este chocante caso da História Australiana, não é novidade este sistema por lá desenvolvido. É difícil encontrarmos um dos países que atualmente se intitulam “civilizados”, “modernos” e “defensores dos direitos humanos”, que não tenha construído esta dita modernidade sobre os cadáveres de milhares de “bárbaros”.
 
É bastante conhecido o que foi feito pelos europeus na África e na Ásia nos séculos XIX e XX: em nome de Deus e da civilização, controlaram, dominaram, exploraram e assassinaram milhares de colonizados. Aplicando um implacável sistema de dominação, exploraram suas colônias até o máximo que conseguiram, deixando para trás um rastro de devastações nas populações e na natureza.
 
Após a Primeira Guerra Mundial e a crise do imperialismo, veio então o ápice deste sistema segregacionista e racista: o nazismo. Este, sim, é demonizado. Porém, o que dizer do que foi feito no Congo Belga? E sobre as atrocidades francesas na Argélia? Sobre as violências de ingleses na Índia e na China?
 
Se as metrópoles aplicaram duramente as teorias eugênicas e de darwinismo social, os países (in)dependentes do resto do mundo foram igualmente a fundo nestas políticas: acreditando que o caminho para chegarem no estágio evolutivo europeu poderia ser cortado, as elites locais potencializaram o que as metrópoles vinham fazendo em suas colônias. Para estas elites, o tempo corria e era o momento de definição entre o sangue impuro e o sangue puro, entre a preguiça e o trabalho, e eles, como os legítimos responsáveis pelas novas “nações”, não poderiam permitir que seus povos permanecessem no Neolítico.



     Qual a solução, então, para chegarem à modernidade e ao esplendor da sociedade européia? Branquear a população, separar civilizados de bárbaros e de preferência acabar com estes. Houve basicamente dois modelos a serem aplicados: um pode ser exemplificado com o que foi o aplicado na África do Sul, e no Sul dos EUA: separação total entre as populações – brancos e negros não deveriam ter contato entre si, e deveria haver um esforço coletivo para conter o aumento populacional negro enquanto que era estimulada a chegada de brancos.
Moodoo é o retrato do aborígine "civilizado": passa a ser
caçador das fugitivas de Moore River

            O segundo modelo foi aquele aplicado no Oeste dos EUA e na Argentina, por exemplo: extermínio – com o uso das mais modernas tecnologias, o Estado tinha o direito de eliminar o sangue impuro e bárbaro das terras até aquele momento improdutivas.


            E como entra a Austrália nesta história? Qual sua especificidade? A Austrália conseguiu unir as duas políticas em uma só, criando uma terceira. Ao mesmo tempo em que isolou seus aborígines em reservas, ao mesmo tempo em que reduziu sua população drasticamente, também tratou de impedir o surgimento de uma “terceira raça”: aqueles que eram mestiços, eram propriedades do Estado e deveriam ser cuidados para que o processo que havia começado em seu sangue, acabasse: o branqueamento.



 

Ícone da resistência
aborígine, a mãe de Molly
e Daisy aguarda junto à
cerca o retorno de suas
filhas
            A hipocrisia da sociedade branca, cristã e ocidental exalta sua modernidade, sua civilidade e sua cultura, opondo-se ao restante do mundo, enquanto que isto foi construído a partir de um sistema que, se aplicado hoje, seria considerado o mais bárbaro de todos. Porém, como está em um passado místico, é endeusado: a Rainha Vitória é ainda hoje o principal ícone da civilidade britânica, a corrida para o Oeste é o símbolo do crescimento Norte-Americano, a Conquista do Deserto é o marco da virada argentina para a civilidade.

           Escondendo enormes interesses econômicos e um enorme preconceito racial, as elites “civilizadas” de todo o mundo, do século XIX ao XX, aplicaram com maior ou com menor intensidade um projeto que visava manter sob seu controle uma quantidade cada vez maior de recursos, enquanto que paralelamente dizimavam as populações nativas para conseguir suas terras e ao mesmo tempo alcançar o inalcançável e o inútil: a pureza racial. Hoje em dia, todo este processo pode ser descrito como “consolidação dos Estados”.

 
Saiba mais sobre a Austrália na internet:
 
 

Bibliografia

ATTWOOD, B & ARNOLD, J. (org) The struggle for aboriginal rights: a documentary history. Melbourne: Allen & Unwin, 1999.

 
BERNDT, R. M. (org) Aborigines and change: Australia in the 1970’s. New Jersey, 1977.
 
BIRD, C. (org) Bringing them home. Queensland, University of Queensland Press, s/ data.
 
GRIMSHAW, P., LAKE, M., McGRATH, A. & QUARTLY, M. Creating a Nation. Melbourne: McPhee Gribble, 1994.
 
HEGARTY, R. Is that you, Ruthie?. Queensland: University of Queensland Press, 1999.
 
KIDD, R. The way we civilize. Queensland: University of Queensland Press, s/ data.
 
MARKUS, A. Blood from a stone. Monash publications in History, 1986.
 
PRENTIS, M. D. A study in black and white: the aborigines in Australian History. Methuen, 1975.
 
ROWLEY, C. D. The destruction of aboriginal society. S/ local, s/ data.
 
TUDBALL, L. Australians: our lives through time, vols. 1 e 2. Rigby Heinmann, 1988.
 
PILKINGTON, D. & GARIMARA, N. Follow the Rabbit-Proof Fence. Queensland: University of Queensland Press, 1996.
 
POAD, D., WEST, A. & MILLER, R. Contact: an Australian History. Macmillan, 1986.
 
QANTAS – The spirit of Australia. Rabbit-Proof Fence study guide. In http://www.enhancetv.com.au/study_it/Fence.pdf

Nota:* - Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São