Vacina de febre amarela deve ser aplicada em idosos de forma criteriosa
Por: Gabriella Ponte (Bio-Manguinhos/Fiocruz)
Desde que a epidemia de febre amarela começou no início do ano, há
preocupação com relação aos idosos e muitas dúvidas surgiram nas redes
sociais. A vacina febre amarela de Bio-Manguinhos é de vírus vivos,
obtida por atenuação da subcepa 17DD do vírus da doença, cultivado em
ovos de galinha embrionados livres de germes patogênicos.
Sendo uma vacina viva, alguns grupos etários precisam tomar
precauções específicas, como as pessoas com 60 anos ou mais. Outro grupo
etário é formado por crianças abaixo de seis meses. Neste caso, a
imunização é contraindicada.
Para esclarecer as dúvidas, o pediatra e consultor científico sênior
de Bio-Manguinhos, Reinaldo de Menezes Martins, explica em detalhes como
os idosos devem proceder. “Geralmente pessoas nessa idade possuem
imunidade mais baixa e, por isso, deve-se levar em conta o risco de
contrair a doença versus o benefício e risco da imunização”.
Uma das variáveis que influenciam nessa decisão é onde o idoso vive e
como é seu estilo de vida. “Se o idoso não sair muito de casa e morar
em área sem ocorrência de febre amarela em macacos ou casos humanos, é
melhor não se vacinar. Ele pode tomar precauções como utilizar roupas
compridas, usar repelentes, colocar telas nas janelas e evitar áreas com
mata. No entanto, se o idoso mora em área com circulação do vírus e é
um trabalhador rural, indo muito a matas e beira de rios, é necessário
optar por imunizar esse indivíduo”, detalhou o especialista.
Um dos eventos adversos da vacinação para a febre amarela é a doença
viscerotrópica aguda (DVA), que ocorre até o décimo dia após a
vacinação, semelhante à própria febre amarela. Estima-se um caso de DVA
para cada 400 mil doses da vacina. Deve-se suspeitar da doença quando
houver febre, hipotensão/choque e icterícia/hemorragia, além de exames
laboratoriais compatíveis. A frequência de eventos neurológicos após a
vacinação (meningoencefalite, síndrome de Guillain-Barré e doença
autoimune com envolvimento de sistema nervoso central ou periférico)
também é rara. Estima-se a sua frequência em um caso para cem mil doses.
Em geral, a meningoencefalite é benigna.
“O risco de uma pessoa acima de 60 anos adquirir doença
viscerotrópica ou neurotrópica após a vacinação é maior do que nos
adultos mais jovens. E, nos acima de 70 anos, o risco é ainda mais
elevado. Por isso, o ideal é que o idoso que se vacinar contra febre
amarela seja acompanhado nos primeiros 30 dias após a imunização,
instruiu Martins.
De acordo com o Informe de Febre Amarela no Brasil nº 33/2017,
divulgado pelo Ministério da Saúde, em 23 de março, de 1º de dezembro de
2016 até 23 de março de 2017 foram confirmados 492 casos de febre
amarela selvagem. Destes, 62 ocorreram em pessoas acima de 61 anos (50
homens e 12 mulheres), o equivalente a 12,6%.
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