Esquema da Odebrecht com Itaipava bancou compra de dossiê dos ‘Aloprados do PT’
Capítulo das
falcatruas com dinheiro ilícito é narrado em detalhes pelo delator Luiz
Eduardo Soares, ex-executivo da Odebrecht que atuava no departamento da
propina da empreiteira
André Borges, Fábio Serapião e Beatriz Bulla
15 Abril 2017 | 11h59
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O esquema de lavagem de dinheiro criado entre a Odebrecht e a
cervejaria Itaipava não bancou apenas o caixa 2 de campanhas eleitorais,
mas também a compra, em 2006, de um dossiê contra o então candidato à
presidência, José Serra (PSDB), episódio que ficaria famoso como o
escândalo dos “aloprados do PT”.
O capítulo das falcatruas com dinheiro ilícito é narrado em detalhes
pelo delator Luiz Eduardo Soares, ex-executivo da Odebrecht que atuava
no departamento da propina da empreiteira.
No dia 15 de setembro de 2006, a apenas duas semanas do primeiro
turno das eleições para presidência, integrantes do PT foram presos pela
Polícia Federal em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um dossiê
contra o então candidato tucano ao governo de São Paulo, que concorria
com Aloizio Mercadante. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
tentando diminuir a importância do episódio, afirmou que aquilo era obra
de “um bando de aloprados”.
Foram presos em flagrante Valdebran Padilha, que tinha US$ 109,800
mil e mais R$ 758 mil em dinheiro e Gedimar Passos, com US$ 139 mil e
mais de R$ 400 mil em dinheiro. Ao todo, os dois tinham R$ 1,7 milhão.
Valdebran era empresário e havia sido tesoureiro do PT em Mato Grosso em
2004. Gedimar havia sido agente da PF e se apresentava como advogado do
PT.
O dinheiro seria usado para comprar um dossiê envolvendo Serra,
ex-ministro da Saúde, no escândalo da Máfia dos Sanguessugas. O dossiê,
que se revelou ser falso, seria vendido pelos empresários Darci Vedoin e
seu filho, Luiz Antônio Vedoin, donos da empresa Planam, pivô do
escândalo das sanguessugas.
Quando chegou ao local, Soares diz que encontrou José de Filippi, o
presidente da Itaipava, Walter Faria e Benedicto Júnior, ex-presidente
da construtora Odebrecht. “Nós fomos tomados de surpresa na operação dos
aloprados. BJ me ligou dizendo que tinha dado um grande problema e que
precisava de minha ajuda”, disse o delator. O clima era de tensão: entre
as centenas de maços de dinheiro apreendidos, um deles estava com
rótulo da empresa Leyroz de Caxias, distribuidora da Itaipava que
articulava a distribuição de dinheiro no esquema de propina da
cervejaria.
“Como nós tínhamos essa operação que já tinha começado, de troca de
reais por dólar, eles estavam com medo, porque descobriram que uma parte
desse dinheiro estava com o timbre da Leyroz de Caxias. Mostrava que
isso era da cervejaria Itaipava”, disse Soares.
O delator chega a dar risada, ao se lembrar do episódio. “Me dá
vontade até de rir um pouco. O senhor Walter (Faria, presidente da
Itaipava) falou que ele mesmo estava tirando (o rótulo) e esqueceu de um
pacote, de tirar os invólucros.”
O delator lembra que as investigações avançaram, mas não chegaram à
Itaipava. “Aí a coisa morreu, arrefeceu, e ninguém nunca soube de onde
era o dinheiro”, disse. Luiz Eduardo Soares confirmou que o dinheiro foi
repassado ao ex-tesoureiro do PT pelo próprio Walter Faria. “Eles
pediram esse dinheiro e usaram esse dinheiro”, disse. Segundo o delator,
José de Filippi sabia que a propina seria usada para a compra do
dossiê. “Pediram a minha ajuda naquele momento de tensão. Eu sempre tive
uma postura de me afastar dos problemas, apesar de eles estarem sempre
me perseguindo”.
Procurado, o PT disse que não comentaria a delação. O Estado não
conseguiu localizar nenhum representante da Itaipava desde sexta-feira
para se posicionar.
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