Dilma: 'Me preocupa muito que prendam o Lula'
Em palestra na Universidade de Harvard, impedimento de candidatura do petista seria "invenção de cenários"
Cláudia Trevisan, enviada especial a Cambridge, EUA
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O Estado de S. Paulo
O Estado de S. Paulo
08 Abril 2017 | 16h17
A ex-presidente Dilma Rousseff disse neste sábado temer que
seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, seja
preso antes da disputa presidencial de 2018, o que, em sua opinião,
representaria uma mudança ilegítima nas regras das eleições. “Me
preocupa muito que prendam o Lula, me preocupa muito que tirem o Lula da
parada”, afirmou em palestra na Universidade Harvard.
“Infelizmente para as oposições, ele tem 38% nas pesquisas,
com tudo o que fizeram com ele”, afirmou. “É uma possibilidade concreta,
meus caros. Deixa ele concorrer para ver se ele não ganha”, ressaltou
no Brazil Conference at Harvard & MIT, organizado por estudantes
brasileiros nas duas organizações. “Não acho que o Lula tem de ganhar ou
perder. Ele tem de concorrer. Se perder, é da regra do jogo.”
Dilma defendeu uma Assembleia Constituinte exclusiva para
realização da reforma política. Segundo ela, a fragmentação partidária
tornou o Brasil ingovernável e alimentou o fisiologismo. “Todo mundo
quer ter partido para ter Fundo Partidário e tempo de TV. Esse sistema
cria mecanismos para que haja fisiologismo e corrupção”, afirmou a
ex-presidente, que defendeu o financiamento público de campanhas.
A petista disse que um de seus erros foi não ter percebido que o
“centro democrático” que garantiu a governabilidade de todas as
administrações desde a redemocratização havia sido dominado pela
“extrema direita corrupta”. O “MDB velho de guerra” sucumbiu à
influência de Eduardo Cunha, afirmou, em referência a seu algoz no
processo de impeachment.
Poucas horas depois de Dilma, o juiz Sérgio Moro falaria no mesmo
auditório sobre a Lava Jato. A ex-presidente ressaltou que a operação
só foi possível por mudanças legislativas propostas por seu governo,
entre as quais mencionou a regulamentação da delação premiada.
Mas ela criticou o que considera uso político e ideológico da
Lava Jato e disse ser possível combater a corrupção sem “comprometer o
sistema democrático” do país. “Não é admissível juiz falar fora de
processo, em qualquer lugar do mundo. O juiz não pode ser amigo do
julgado. Não é possível qualquer forma de violação do direito de
defesa.”
Durante sua intervenção de quase uma hora, Dilma sustentou a tese
de que seu afastamento foi um golpe praticado com o objetivo de
restaurar uma agenda de governo neoliberal que, segundo ela, havia sido
abandonada pelos gestões petistas. “Durante quatro eleições consecutivas
nós havíamos derrotado o projeto neoliberal”, afirmou. “Daí a
necessidade do impeachment.”
Para Dilma, a crise política brasileira só será resolvida com a
eleição presidencial de 2018. “O Brasil sempre melhorou quando houve
democracia.”
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