segunda-feira, 18 de maio de 2015

Estratégia da China lança desafio nuclear aos EUA

WASHINGTON — Depois de décadas mantendo uma força nuclear pouco expressiva, a China tem investido em mísseis de longo alcance que transportem várias ogivas, um passo que autoridades federais americanas e analistas políticos dizem servir para intimidar os Estados Unidos, já que Washington prepara-se para implantar defesas antimísseis mais robustas no Pacífico.
O que torna a decisão da China particularmente notável é que a tecnologia de miniaturização de ogivas e de transporte de três ou mais delas num único míssil está em mãos chinesas há décadas. Mas uma sucessão de líderes deixou-a inativa — eles não estavam interessados em participar do tipo de corrida armamentista que caracterizou a competição da Guerra Fria nuclear entre EUA e União Soviética.
Agora, entretanto, o presidente Xi Jinping parece ter mudado o curso da política sobre o tema, ao mesmo tempo em que constrói aeroportos militares em ilhas disputadas do Mar do Sul da China, declara zonas exclusivas “de identificação de defesa aérea”, envia submarinos chineses pelo Golfo Pérsico pela primeira vez e cria um novo arsenal poderoso de armas cibernéticas.
Muitos destes passos têm surpreendido funcionários dos EUA e se tornaram uma evidência do desafio que o governo Obama enfrenta para lidar com a China, particularmente depois que agências de Inteligência americanas previram que Xi focaria no desenvolvimento econômico e seguiria o caminho de seu predecessor, que defendia a “ascensão pacífica” do país.
KERRY EM PEQUIM
O secretário de Estado, John Kerry, desembarcou há dois dias em Pequim para discutir questões econômicas e de segurança que preocupam os EUA, embora ainda não esteja claro se o desenvolvimento de mísseis, que as autoridades descrevem como recente, estava na agenda.
Funcionários americanos dizem que, até agora, a China negou-se a participar de conversas sobre o início da implantação de múltiplas ogivas nucleares em seus mísseis balísticos.
— Os EUA gostariam de ter uma discussão mais ampla sobre as questões de modernização nuclear e de mísseis balísticos de defesa com a China — afirmou Phillip Saunders, diretor do Centro para Estudo de Assuntos Militares na Universidade de Defesa Nacional, instituição acadêmica fundada pelo Pentágono. — Os chineses têm sido relutantes em discutir o tema em canais oficiais.
Entretanto, Saunders e outros especialistas têm se engajado em conversas não oficiais com chineses sobre a questão. O novo programa nuclear de Pequim foi descrito com profundidade no relatório anual do Pentágono ao Congresso e revelou um dilema para o governo Obama, que nunca falou publicamente sobre o avanço nuclear da China.
O presidente americano está sob mais pressão do que nunca para implantar sistemas de defesa antibalística no Pacífico, embora a política oficial seja a de que estes interceptadores sirvam para conter a Coreia do Norte, não a China. Além disso, Obama tenta encontrar uma forma de sinalizar que resistirá aos esforços da China para intimidar seus vizinhos — incluindo os mais próximos aliados de Washington — e manter os EUA fora do Pacífico Ocidental.

Já se aventa no Pentágono sobre acelerar o esforço de defesa antibalística e enviar navios militares às águas internacionais próximo às ilhas em disputa, para deixar claro que os EUA vão insistir na navegação livre em áreas que a China está reivindicando como zonas exclusivas.
Para autoridades americanas, o movimento chinês demonstra uma rápida transformação da estratégia de Xi, agora considerado um dos líderes mais poderosos desde Mao Tsé-tung ou Deng Xiaoping. Fotografias divulgadas recentemente dos esforços chineses para recuperar a terra em disputa nas ilhas do Mar do Sul da China e de construir aeródromos no local chamaram a atenção da Casa Branca e de militares pela velocidade e pela intensidade da determinação de Xi em empurrar potenciais competidores de suas vizinhanças no Pacífico.
Isto envolve a construção de porta-aviões e submarinos para criar uma força que possa representar um desafio aos EUA numa crise regional. Parte do programa de modernização militar da China tem como alvo direto a superioridade tecnológica americana. A China tem buscado tecnologias para bloquear a vigilância e a comunicação de satélites, e seus principais investimentos em cibertecnologia são vistos por funcionários dos EUA como forma de roubar propriedade intelectual e se preparar para um conflito.
http://oglobo.globo.com/mundo/china-lanca-desafio-nuclear-aos-eua-16187362#ixzz3aVVZdKlb

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