Morre o médico Aloysio Campos da Paz, fundador da Rede Sarah
Aos 80 anos, médico apresentava saúde fragilizada
Aloysio Campos da Paz Junior
durante entrevista no Sarah, em Brasília - Roberto Stuckert Filho/ 30-5-2003
BRASÍLIA
- O médico Aloysio Campos da Paz Júnior, fundador da Rede Sarah, morreu neste
domingo, aos 80 anos, de insuficiência respiratória. Ele vinha sendo internado
com frequência e, já com a saúde fragilizada, não resistiu. A morte foi
registrada às 14h30m. O velório e o enterro serão realizados em Brasília.
Em nota,
a presidente Dilma Rousseff lamentou a perda, afirmando que “o Brasil e a
medicina são devedores da dedicação e determinação” do médico:
“Campos
da Paz dizia que sua filosofia era trabalhar para que cada paciente fosse
tratado com base no seu potencial e não nas suas dificuldades. Foi com esta fé
na potencialidade de cada paciente que ele e sua equipe ajudaram a melhorar a
qualidade de vida de milhares de brasileiros”.
Diretor
do Hospital Sírio-Libanês e médico particular da presidente Dilma Rousseff e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Roberto Kalil Filho ressaltou que
atuação de Campos da Paz na Rede Sarah é um exemplo para instituições públicas.
— O que
ele criou é algo único. O feito que ele conseguiu, de atender a população do
SUS, tem que ser seguido por toda a instituição pública. Tomei posse há dois
dias como presidente do Incor (Instituto do Coração) e disse logo na primeira
reunião do conselho que meu sonho é fazer do Incor uma Rede Sarah para
cardiologia, com qualidade de atendimento e suporte econômico que ele conseguiu
— afirmou.
O médico
infectologista David Uip, secretário de Estado da Saúde de São Paulo, também
lembrou o perfil empreendedor do amigo:
— Conheci
o doutor Aloysio por um paciente em comum. A partir daí veio uma grande amizade
e muita admiração. Ele foi um grande empreendedor em termos de novas e grandes
ideias. Com a Rede Sarah, conseguiu financiar o que num primeiro momento era
uma grande ideia e depois se tornou uma realidade, e referência.
O senador
José Sarney (PMDB-AP) destacou o trabalho do médico, afirmando que acompanhou
sua obra como amigo e também como Conselheiro Representante da Comunidade do
Sarah.
"O
Brasil perde um dos maiores homens do nosso tempo, o grande cientista de renome
internacional, que era uma das maiores autoridades das doenças do aparelho
locomotor. Sua extraordinária obra à frente do Hospital Sarah, por ele fundado,
não só salvou milhares de vidas, como também gerou uma rede de hospitais no
Brasil inteiro, formando equipes e criando métodos de administração hospitalar,
granjeando um prestÍgio que o coloca entre os grandes nomes da medicina
brasileira em todos os tempos”, escreveu em nota.
Nascido
no Rio de Janeiro, em 1934, Aloysio Campos da Paz Júnior iniciou sua história
com a Rede Sarah em 1968. De volta ao Brasil após uma pós-graduação em
ortopedia e reabilitação com o catalão Joseph Trueta em Oxforf - experiência
que considerou um divisor de águas em sua vida -, ele foi convidado a assumir a
direção do então Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek. O hospital havia sido
criado em 21 de abril 1960, junto com a fundação da capital federal, por
Juscelino Kubischek.
Em 1976,
Campos da Paz consegue a aprovação pela Presidência de um projeto para criação
de um grande hospital que prestaria serviços à região Centro-Oeste, mas que
também formaria médicos e paramédicos e desenvolveria tecnologia própria. A
última etapa do projeto previa a implantação de toda uma rede nacional de
hospitais do aparelho locomotor, a Rede Sarah. O Hospital Sarah é inaugurado em
12 de setembro de 1980 e, em 1993, expande suas atividades com uma unidade em
São Luís, no Maranhão.
A rede
conquistou fama internacional e, no Brasil, já foi palco do tratamento de
celebridades – como o músico Herbert Vianna, que ficou paraplégico depois de um
acidente de ultraleve. Políticos e ministros também já se trataram na
instituição, como o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim
Barbosa, que tem um problema crônico nos quadris. Em 2005, a rede é reconhecida
por ter implantado um novo método de neurorreabilitação, com uma abordagem que
incorpora a família e o contexto de cada paciente no processo de
neurodesenvolvimento.
Hoje, a
rede conta com nove unidades hospitalares (Brasília, Salvador, São Luís, Belo
Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Macapá e Belém), um centro de
reabilitação às margens do Lago Paranoá, em Brasília, uma universidade de
pós-graduação e um Centro de Tecnologia, em Salvador.
O GLOBO |
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