Drogas psicodélicas fazem nosso cérebro ‘sonhar
acordado’, diz estudo
Pesquisa revela
detalhes dos efeitos físicos de substâncias como LSD e "cogumelos
mágicos" na nossa mente
POR CESAR BAIMA
03/07/2014 10:45 / ATUALIZADO 03/07/2014 21:08
Imagem representa atividade cerebral sob efeito de drogas psicodélicas - Imperial
College London
RIO - Durante milhares de anos, drogas
psicodélicas foram usadas em cerimônias religiosas de diversas culturas como
veículos para atingir estados de consciência alterados. Neles, com o uso de
cogumelos ou cactos, pajés, xamãs e outros integrantes das tribos tinham
experiências “espirituais”, como visões e profecias, ou podiam “entrar em
contato com seus deuses.” Agora, cientistas do Imperial College de Londres, no
Reino Unido, dão mais um passo para esclarecer a natureza da ação de compostos
como psilocibina, presente nessas espécies: ela gera padrões no funcionamento
do cérebro similares aos observados durante os sonhos.
Desde o século passado, a psilocibina e
a mescalina, além do semissintético LSD, passaram a ser pesquisados e usados
para tratar desordens psiquiátricas, como alcoolismo e depressão. Já a partir
dos anos 1950, elas também encontraram espaço no uso recreacional e na cultura
pop, principalmente por sua suposta capacidade de “expandir a mente” e aumentar
a criatividade, tendo inspirado músicas de grupos como os Beatles e o próprio
nome da banda The Doors, referência ao título do livro “As portas da
percepção”, em que o escritor britânico Aldous Huxley descreve suas
experiências sob o efeito da mescalina.
Autoconsciência se ‘desliga’
O recrudescimento da guerra às drogas
nos anos 1970 acabou por jogar essas e outras substâncias na ilegalidade,
dificultando ou paralisando as pesquisas. O cenário está mudando. Desde 2008,
médicos suíços estão usando o LSD em experiência para controlar a ansiedade de
pacientes terminais de câncer e ajudá-los a lidar com a morte iminente. Um dos
principais obstáculos aos estudos, no entanto, é a falta de informações sobre
como essas drogas agem no cérebro, o que também está mudando.
No experimento inglês, cujos resultados
foram publicados ontem no periódico científico “Human Brain Mapping”,
pesquisadores do Imperial College injetaram a droga em 15 voluntários — todos
com experiência prévia no consumo de psilocibina — e os submeteram a exames de
ressonância magnética funcional. Os testes mostraram que, sob o efeito da
substância, houve um aumento da atividade nas regiões mais primitivas do
cérebro, como o hipocampo e o córtex cingulado anterior, e relacionadas à
memória e às emoções, num padrão semelhante ao visto durante os sonhos,
enquanto as redes neurais ligadas a pensamentos mais complexos, como a
autoconsciência, exibiram atividade descoordenada.
— Fiquei fascinado por ver as
similaridades entre os padrões de atividade cerebral em um estado psicodélico e
os dos sonhos, especialmente porque ambos envolvem áreas primitivas do cérebro
ligadas às emoções e à memória — comenta Robin Carhart-Harris, professor do
Departamento de Medicina do Imperial College London e líder do estudo. —
Aprender sobre os mecanismos que regem o que acontece sob a influência de
drogas psicodélicas pode também ajudar a entender sobre seus possíveis usos.
Atualmente, estamos estudando os efeitos do LSD no pensamento criativo e na
possibilidade de a psilocibina ajudar a aliviar os sintomas da depressão, ao
permitir que os pacientes mudem seus rígidos padrões de pensamentos
pessimistas. As drogas psicodélicas foram usadas com fins terapêuticos nos anos
50 e 60, mas agora finalmente estamos começando a entender como elas agem no
cérebro, o que pode nos ajudar a fazer bom uso delas.OGLOBO
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