sábado, 18 de janeiro de 2025

Zezinho e as suas dúvidas sobre o tema: Eutanásia, distanásia e ortotanásia.

 



Zezinho e as suas dúvidas : Eutanásia, Distanásia e Ortotanásia.

 

Zezinho, 12 anos, é um bom estudante. O pai  é médico no interior do nordeste, o tio é médico na  capital, trabalha na emergência  na UTI do maior hospital de trauma da região, milita com pacientes graves, a sua rotina é    salvar vidas. É também  professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do seu Estado.  

Ao ouvir no jornal, que um famoso escritor viajou para outro país para realizar uma eutanásia, ficou curioso e quis saber do que se tratava. Soube, depois de uma boa leitura,  que tratava-se de um ato e uma maneira de morrer. Ficou encucado com a posição do Brasil que não permite este ato, e pensou: Quais a as razões?  será que é uma coisa perigosa? indecente? será uma coisa grave?  Foi ao pai e fez diversas indagações, o pai respondeu com toda a propriedade e fundamentação, pois é  médico, e dos bons.

Chamou Zezinho, falou da medicina, do seu tio que trabalha na UTI salvando vidas e  expôs vários casos já vividos durante a sua formação. Como é católico e temente a Deus, fez uma explanação sobre a religião, a alma,  os ensinamentos adquirido durante a vida , dos casos graves ao redor do mundo, do código de ética e das legislações federais que  os médicos devem seguir no exercício da medicina.

Falou que muitos seres humanos morrem por falta de assistência médica adequada e outros morrem  mesmo com todos os conhecimentos, medicações, assistências, médicos especializados e tudo que for preciso. Enfatizou que tem casos que não jeito  e terminam morrendo. Daí surgiram muitos procedimentos para conduzir a morte e assim discorreu para clarear a mente do menino Zezinho.

Disse que existe três modelos de morte, quando a pessoa encontra-se doente  prestes a morrer  e  não existem tratamento para recuperar a saúde, e que o médico tem que respeitar este momento da vida de cada ser humano, existem a Eutanásia, a Distanásia e a ortotanásia.        

Eutanásia, é entendida como morte provocada por sentimento de piedade à pessoa que sofre.   Ao invés de deixar a morte acontecer naturalmente, a eutanásia age sobre a morte, antecipando-a. Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal, é movida pela compaixão ou piedade.  Portanto, se a doença for curável não será eutanásia, mas sim o homicídio, pois a busca pela morte sem a motivação humanística não pode ser considerada eutanásia.


Distanásia é o prolongamento artificial do processo de morte e por consequência prorroga também o sofrimento da pessoa.  Muitas vezes o desejo de recuperação do doente a todo custo é a regra, ao invés de ajudar ou permitir uma morte natural, acaba prolongando sua agonia, o sofrimento do paciente e da família.
Conforme Dra.Maria Helena Diniz, trata-se do prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal ou tratamento inútil. Não visa prolongar a vida, mas sim o processo de morte.

Ortotanásia significa  a morte pelo seu processo natural.  Neste caso o doente já está em processo natural da morte e recebe   assistência médica para não morrer com sofrimentos, recebe remédio para dor,  febre, soro e não  interfere  no curso natural, era assim no tempo dos seus avós.

Assim, ao invés de se prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), deixa-se que este se desenvolva naturalmente (ortotanásia).

 Desta forma, diante de dores intensas sofridas pelo paciente terminal, consideradas por este como intoleráveis e inúteis, o médico deve agir para amenizá-las, mesmo que a consequência venha a ser, indiretamente, a morte do paciente. 

Zezinho, de posse destes conhecimentos, satisfeito com os ensinamentos equilibrado do pai,   passou para todos os colegas, professores e diretores da sua escola, como também para todos  os seus amigos.  Falou que tudo que um homem sabe tem que passar para os outros e que os médicos devem exercer a profissão com muito respeito, assim como seu pai e o seu tio. Disse que  os conhecimentos são  democráticos e devem ser coletivos.

                                                  Salvador, 18 de Janeiro de 2025                                                   

Iderval Reginaldo Tenório

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

ZÉ PIANCÓ

 

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ZÉ PIANCÓ

 

          Zé Piancó nascera sem coração, vivera por viver, a  sina era trabalhar, labutar, brigar e cansar o corpo moído. Da boca para o bucho e deste para o mundo para alimentar outras bocas. O Piancó nascera bicho para quebrar  ossos, queimar o mundo e para maltratar a  terra sem ferir a natureza, era um selvagem bruto, um animal animal.

          Coração seco,  vida real e dura, tão real  como o  morrer.  O Piancó não era pouco esforço, era exagero, era o sol ardente sem piedade a sapecar as costas da terra,  as descargas dos raios e os estrondos dos trovões nos dias de tempestades. O macho  era a poeira, a ventania, o redemoinho a destronar os invasores, o tronco grosso que resiste ao fogo, a capoeira fechada de gravetos, capim e o  cipó, que na seca são tão inflamáveis como a gasolina.

          O Zé era pau de bater em bicho, corda de amarrar doido, o amargo do jiló e   o doce da cana caiana, era o assobio da cobra, o mormaço da evaporação e do calor, o Zé era a  trama, o trauma  e a lama.

          O sujeito era o estrondo  e  o escuro como nas noites de trevas, era o miolo da dura madeira, era o fundo lá dos fundos dos profundos mares, o cabra era a fronde da moita, o oco do pau, o manto do monte, o centro da terra e o ferro do núcleo. Era pedra, gás, água, era o incandescente, Piancó era tudo e ao mesmo tempo não era nada.

         O Zé era o Zé , nada mais do que um Zé. Nascera sem pai, sem mãe, sem nada, sem beira e talvez sem eira, o Piancó nascera sozinho, sem rumo e sem prumo.  Vivera na solidão, na defesa da vida, da natureza  e na defesa do pão. 

       O Zé da Silva Piancó era um piancó e nada mais, apenas um piancó, um Dassilva, um Corema, um Cariri.

                                          O Zé era um CARIRI.

          Iderval Reginaldo Tenório

O QUE É HETEROSSEXUALIDADE COMPULSÓRIA? termos feministas

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Zezinho, Pedrinho e a Natureza.

 


 


Tinamidae Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Nambu-p… | Flickr

    

                                       Zezinho, Pedrinho e  a natureza.

 

 


Inhambu chororó (Crypturellus parvirostris) Small-billed - YouTube

                            Zezinho, Pedrinho e  a Natureza.

Zezinho, 14 anos de idade, 1968, férias nos sertões pernambucano. Pais  agricultores de subexistência, porém acreditavam na educação como uma das ferramentas para um futuro melhor,  não deixavam os seus filhos sem escola.   

Zezinho e Pedro saíram em busca de uma caça para  comer, ato comum naquelas paragens nas décadas de sessenta e setenta. Ao furarem as capoeiras e exaustos, sentaram no tronco de um umbuzeiro, sob o sol causticante,  o único lugar que tinha sombra. Beberam  água de cabaça, enxugaram o rosto com a ponta da camisa  e seguiram enfrente.

As armas não eram de fogo e sim duas baladeiras(estilingues) feitas de gancho de madeira, borracha de câmara  de ar e  couro velho de cinto, achado numa maleta de madeira forrada com couro cru e cuidadosamente guardada pelo pai, uma vez que, no campo nada vai para o lixo, isto é, nada se rebola  no mato, um dia será útil. A reciclagem no sertão é moda eterna e é levada  a sério.

Saíram em silêncio e logo viram um casal de Codorniz, são tão espertas e atentas  que voaram fazendo um grande barulho com o bater das asas, continuaram a caminhada. Pedro, que ia na frente, avistou um preá adulto e dois filhotes, puxou as borrachas da baladeira, Zezinho com os dois braços elevados  gritou alto: PARE PEDIM, PARE, exatamente para os animais ganharem a copeira e escaparem.  Completou em voz  alta :

"Pedim, não se mata filhotes e nem uma mãe que os conduz.  Quando um filho morre é um trauma para a mãe e quando uma mãe morre, com filhotes pequenos, eles sofrem, podem morrer de fome ou mesmo serem comidos pelos animais maiores, eles são presas fáceis.  Nunca faça isso Pedim, sei que aqui neste sertão é comum o homem sobreviver caçando animais, porém tem que seguir algumas regras, já imaginou  quantas crianças estão abandonadas no mundo por falta de uma mãe?".

 Pedro não gostou, ele queria era uma caça. Continuaram a caminhada e  sempre atentos com os animais peçonhentos, notadamente as cobras  cascavéis que têm matado  ovelhas, bodes, bois,  cavalos  e também pessoas. 

Cortaram a pé mais de uma  légua de caminhada, só carrapichos, rabo de raposa, mandacarus, jiquiris, coroa-de-frade, facheiro e  faveleiros. Com  o sol se pondo e  a queda da temperatura,  os animais surgem em busca da alimentação e da água.

Pedro, muito esperto, começa a atirar com a sua  arma artesanal, acerta uma rolinha, um caga-sebo, um corró e um gola, insatisfeito começa a atirar em calangos e lagartixas, disse que não gosta do balançar das suas cabeças, o Pedro é um menino traquino. 

Zezinho reclama e diplomaticamente toma a dianteira. Ao aproximarem-se de um dos aceiros da capoeira, enxerga um ninho e comunica ao Pedro, era um ninho de Inhambu, que é conhecida na região como Nambu. Os seus ovos são marrons, tais quais são as suas penas, eram cinco no seu total. Zezinho não quis levá-los, porém Pedro bateu o pé e disse que não deixaria os ovos no ninho, não voltaria de mãos vazias e  iria comê-los cozidos. 

Zezinho rebateu:

"Pedim meu irmão, são estes ovos que darão continuidade a existência dos Nambus aqui na terra. Como você e a sua traquinagem  não querem deixá-los, vamos fazer um acordo: Ao chegar em casa você fica com dois e eu com três, pois foi eu quem achou o ninho. Acho  inclusive, que a mãe Nambu não mais voltará para chocá-los, pois você desfez e pisou no ninho, cortou o capim,   expôs ao relento e fez muita zoada, a mãe está desconfiada e temente, abandonará o  ninho em defesa da vida, ela é afavor da vida e não da  morte".

Pedro retruca com ar de sabedoria  e com o dedo em riste vocifera:

 " Zezinho, você está cheio de leotria e filosofia, depois que mudou de escola, só fala agora em defender a natureza, os animais e até falou que matar as abelhas, as formigas e as borboletas é crime, você está muito diferente. Outra coisa  Zezinho, o professor falou na minha escola, que são os países ricos que destroem a natureza,  escravizam as nações pobres e levam tudo de bom para eles. Você sabia que o café bom  e as frutas  boas, enfim tudo que for de bom os ricos do mundo levam para o estrangeiro e para nós só ficam as borras?

Partiram para casa, no caminho  Pedro  e Zezinho trocaram ideias mirabolantes sobre a natureza e os seus fenômenos, um ensinava ao outro o que sabiam.

O Pedro pegou uma caçarola logo ao chegar em casa,  cozinhou os dois ovos  e comeu com farinha. O Zezinho viu que na sua casa uma galinha estava chocando alguns ovos, quando ela saiu para beber água ou comer alguma coisa, que é rápido e deixou o ninho sozinho, colocou os três ovos  entre os da galinha, não disse nada para a sua mãe e todos os dias ia até o ninho para saber como estavam. Passado 19 dias, os ovos começaram a eclodir, não  é que nasceram dez pintos brancos e  graudos,   três pintos marrons e  pequenos!?  A galinha quando viu a sua ninhada, provavelmente achou estranho, porém andava no terreiro com todos os treze, inclusive cuidava bem dos brancos, porém dava mais atenção aos  pequenos e  marrons. Dividia os grãos de milho, as formigas e farinhas em xerém, para os menores e quando ia se deitar colocava os três marrons em baixo do seu fofo peito,  os maiores e  brancos sob as duas asas. Orientava os maiores para não chatearem os seus pequenos filhotes, todos eram irmãos e mereciam o mesmo cuidado,  pedia que protegessem os três menores. Os pintinhos brancos tinham orgulho dos irmãos cor de chocolate,   ficavam impressionados com o talento, a rapidez  e a destreza  de cada um, os pequenos não paravam, eram incansáveis.

Passado dias, as férias acabaram,  Zezinho e Pedro voltaram para as suas escolas. O Zezinho chamou o Pedro e  falou:

"Pedim,  vejo que você é inteligente e um dia  vai entender a natureza. Vai conhecer a grande variedade de vidas, vai mergulhar no estudo das raças, das etnias, das matas, dos minerais, dos rios e de tudo que compõe a terra. Veja que a galinha cuidou dos pintos como se todos fossem seus, cuidou sem preconceitos e mostrou aos seus pintinhos brancos como é importante respeitar a diversidade e as  diferenças."

Diz o pai de Zezinho, que a galinha ficava muito alegre quando via os seus filhotes marrons crescerem, voarem,  cantarem com tanta precisão as  lindas e estranhas  melodias, não comuns entre as galinhas.

A família cresceu, os pintos ficaram adultos e começaram a ter os seus filhos. As  Nambus ganharam a capoeira em busca do seu habitat natural, porém,  de vez em quando voltavam para visitar a mãe e cantar para todos os moradores do arraial.  Eram verdadeiras estrelas da natureza. Uma vez vieram  mais de trinta e fizeram uma contagiante apresentação, neste dia os olhos da galinha  marejavam de tanto orgulho e alegria, era visível o soluçar  do seu cacarejo.  Um grupo cantava em tons iguais, outros em tons  diferentes e  um, que ficava à frente,  comandava com maestria.  Havia um  menor que se destacava nos silêncios do espetáculo, era um tenor e de grande valor, tinham músicas que todos  paravam e o pequeno tenor soltava a sua contagiante voz,  o  maestro conduzia com sabedoria e orgulho.

Os encontros de família ficaram inesquecíveis para todos. Não saem de suas mente os belos espetáculos  cantados pelo  coral dos Inhambus.

Foi assim que Zezinho passou as suas férias e junto ao Pedro organizaram um debate na escola com todos os colegas, o Pedim, conquistado pelas ideias do  colega,   foi o seu coordenador e escolheu  o assunto :

TUDO PELA NATUREZA. CUIDE DA FAUNA E DA FLORA. CUIDE  DOS MORROS, DOS  RIOS  E DO HOMEM. O MUNDO É DE TODOS E MERECE RESPEITO.

CUIDE DA NATUREZA.

Salcador , 13 de Janeiro de 2025

                                                               Iderval Reinaldo Tenório