Quando criança, na minha
cidade natal, Juazeiro do Norte,
Sul do Ceará, ficava impressionado e sempre que podia passava horas e
horas a observar os descamisados da Capital da Fé, chamados pejorativamente de esmoles.
Todos que pediam eram
colocados no mesmo saco, no mesmo balaio, bastava um defeito físico,
visual ou mental, eram tachados de esmoles, outros sofriam de doenças genéticas.
Depois de adulto, o sujeito passa a entender o quadro sociológico daqueles humanos, conclui-se que
eram pacientes psiquiátricos, neurológicos e ortopédicos abandonados pelas frágeis famílias e pelos podres poderes
públicos.
Muitos eram os doentes e os alcoolistas crônicos, o comum era que viviam abaixo da linha da pobreza, faziam parte injustamente da escoria social,
considerados desprezíveis, sem valor, sem educação, cultura ou formação, eram invisíveis para a sociedade, viviam sem eira nem beira, sem recursos materiais e sociais.
Muitos eram verdadeiros gênios invisíveis do sofrido nordeste, artistas natos, ícones do
regionalismo e das tradições milenares dos povos que viviam na região, descendentes de índios e dos fugitivos europeus que
deram origem aos habitantes do Cariri cearense.
Nas últimas décadas do séxulo XIX e início do século XX, fruto da busca da salvação e dos milagres do Padre Cícero Romão Batista, o fundador da Meca do Cariri (Juazeiro do Norte), que depois do estouro do milagre da hóstia em 1889, a vila passou a ser o reduto dos necessitados de todo o nordeste brasileiro. Por serem deficientes físicos,
auditivos ou visuais utilizavam-se das artes, oferecidas por Deus, para as suas sobrevivências. Tocavam flautas, pífanos, pandeiros, lâminas de serrotes, cítaras, rabecas, safonas diversas, inclusive a pé de bode, triângulos, berimbaus, melês, violões e diversos
outros instrumentos, às vezes simultaneamente.
Depois de consciente e adulto, agradeço as horas perdidas, horas que de perdidas não tinham nada, foram as horas mais achadas da minha infância, momentos gravados na minha mente e importantíssimos para a minha formação humana, social e cultural.
O que mais apreciava eram as histórias cantadas nas sua características vozes, muitas vezes choradas, anasaladas, gemidas e arrastadas, muitos foram os clássicos e os benditos gravados na minha mente, hoje repitidas espontaneamente, fruto das observações destes guerreiros Caririenses.
Depois de consciente e adulto, agradeço as horas perdidas, horas que de perdidas não tinham nada, foram as horas mais achadas da minha infância, momentos gravados na minha mente e importantíssimos para a minha formação humana, social e cultural.
O que mais apreciava eram as histórias cantadas nas sua características vozes, muitas vezes choradas, anasaladas, gemidas e arrastadas, muitos foram os clássicos e os benditos gravados na minha mente, hoje repitidas espontaneamente, fruto das observações destes guerreiros Caririenses.
Obrigado abnegados e
injustiçados gênios do meu Cariri, de minha serra do Araripe, da minha
Juazeiro do Norte, do meu abençoado Ceará. Ao Cego Oliveira e a todos os
cantadores de rua, obrigado pelas aulas não valorizadas na época e que
hoje cora de vergonha as faces daqueles que viveram, nada fizeram e
não souberam valorizar aqueles professores das artes desta e das civilizações passadas.
Viva os nossos gênios tão maltratados, porém admirados por uma leva de inocentes que fariam de tudo para voltar a conviver com todo aquele universo cultural, e se Deus assim permitisse, bradaria em voz alta para todo o mundo escutar.
Obrigado meus professores da vida e salve esta bela e democrática cultura, viva os ícones que ficaram no esquecimento e que brotam de vez em quando das nossas mentes.
Viva os nossos gênios tão maltratados, porém admirados por uma leva de inocentes que fariam de tudo para voltar a conviver com todo aquele universo cultural, e se Deus assim permitisse, bradaria em voz alta para todo o mundo escutar.
Obrigado meus professores da vida e salve esta bela e democrática cultura, viva os ícones que ficaram no esquecimento e que brotam de vez em quando das nossas mentes.
Muito obrigado meus eternos professores.
Salvador,12 de Março de2012
Iderval Reginaldo Tenório
Noites Brasileiras
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www.youtube.com/watch?v=hdA9lvKUF6E
26/10/2007 - Vídeo enviado por Carlos M.
Trecho do documentário "Nordeste: Cordel, Repente E Canção (produção de Tânia Quaresma, 1975)" onde ...cego oliveira, no sertão do seu olhar on Vimeo
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