domingo, 15 de dezembro de 2024

A Asa Branca e a sua trajetória cultural

 

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Asa-branca (Fauna e Flora da Caatinga ) · iNaturalist 

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Iderval Reginaldo Tenório


     A Asa Branca e a sua trajetória cultural


                   ASA BRANCA

               HUMBERTO TEIXEIRA E LUIZ GONZAGA

O Nordeste Brasileiro,  região  esquecida e vilipendiada pelos poderes públicos por mais de cinco séculos, guarda muitos segredos culturais  e riquezas  para o mundo. 

Caatinga cinzenta é o seu piso e  o azul celeste o seu teto.    Região eternamente  sapecada, escaldada, desidatrada e  queimada pelo causticante sol,  varrida e sacudida pelas  lufadas dos ventos quentes a refletir os raios solares como miragens, mimetizando lagoas à distância, a conformar o legítmo homem do sertão e os animais não humanos, que trazem na mente todos os anos, por repetidas vezes: "No ano que vem, terá inverno".

Bioma   maestralmente documentado em  O Quinze,  de Raquel de Queiroz, ao reviver o seu torrão natal, Fazenda Não Me Deixes, no município de Quixadá no  Ceará na seca de 1915 e em Vidas Secas, do alagoano Graciliano Ramos, nascido em Quebrangulo e prefeito da cidade de Palmeira dos Índios quando retratou a seca de 1932. 

O bioma nordestino guarda  muitos mistérios do desconhecimento  humano, como reverberaram   o carioca Luiz Carlos Pereira de Sá, o , e o  baiano, da cidade de Barra, Guttemberg Nery Guarabyra Filho,  o Guarabyra, em 1977, no clássico  O Sertão Vai Virar Mar, da dupla  Sá e Guarabyra.

Luiz Gonzaga, pernambucano do Exu  e Humberto Teixeira, cearense do Iguatu, os genitores  do baião,  fizeram um enlace matrimonial com a humanidade pela cultura  e para documentar o nordeste brasileiro. Queriam um símbolo fidedigno que representasse a alma de um povo sofrido, e que o orientasse  na seca, na fome, nas cheias  e na  fartura. Estavam  comprometidos e jurados, pelo destino,  a compor uma obra músical, que fosse irretocável e reverberasse  aterninamente  para  todo o globo terrestre. 

Mentalmente sintonizados pelas mesmas propriedades e fenômenos naturais, pensaram  qual seria a figura viva  nordestina  que  poderia ser o seu símbolo e quais os acordes a serem  entoados. Não foi difícil para os dois gênios. Em um estalo celestial, o descamisado  pernambucano, da cidade do Exu, Luiz Gonzaga, explanou para o experiente advogado, o cearense da cidade de Iguatu, Humberto Teixeira: 

" Dos seres vivos da flora e da fauna nordestina,  é o pássaro ASA BRANCA,  o animal que prevê e foge da seca, e sabe quando ela terminará. Foge do sertão nas épocas ruins e volta nas grandes aguadas.  Foge da fome, do tédio e da tristeza, retorna nas chuvas, na alegria e na fartura, é o maior orientador deste povo. Luta pela sobrevivência,  para este animal não existe  o último soluço, o seu lema é a vida e o seu torrão o maior orgulho". 

Foi prontamente aceito, e com água nos olhos se abraçaram. 

Ao mesmo tempo,  o Humberto matutava o outro tema, quais os acordes, qual a melodia. Fechou os olhos, apurou o cérebro, foi fundo na mente  e falou para o Luiz: 

"Existe uma música  folclórica, de domínio  popular, cantada  há mais de 300 anos e a melodia  continua viva na memória do povo, e é transmetida de geração em geração". 

Cantaralou em  gemido e boca fechada o que havia  encravado na sua mente, e  lá do fundo da garganta mostrou   ao rei a força da memória dos seus seis anos de idade, o gemido da música estava encravada no privilegiado  cérebro iguatuense.

O Luiz cerrou os olhos e viajou no tempo, foi  fundo na mémoria, ouviu como se fosse naquele dia, o cantarolar gemido  humhumhumhumhumhum de  Dona Santana por mais de uma vez,  e  resgatou  das secas de 1915 e 1932 os episódios hibernados na sua mente, quando saboreava um mingau feito da massa da mucunã e rebatia com a saborosa massa do jatobá para saciar a fome no cume da Chapada do Araripe.  O abraço foi reforçado e os lenços foram insuficientes para enxugarem as lágrimas dos dois sobreviventes, genuínas  Asas Brancas.

Oficializada a ASA BRANCA, como  a representante do nordeste, e a centenária melodia com os seus gemidos e  lamentos, alí era gerada a música Asa Branca, considerada a alma do nordeste.

Em pleno ano de sofrimento e dificuldades, 1947, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, autor de Baião, Juazeiro, Respeita Januário e Meu Pé de Serra  conseguiram documentar o  êxodo do Nordestino  para o Sul, utilizando como símbolo a Asa Branca e as suas propriedades meteorológicas.  Como pano de fundo,  os acordes da velha e folclórica melodia temperada com o gemido humhumhumhumhumhum. Foi tocado, balançado e degustado o âmago de cada um, e aos prantos documentaram com fidedignidade a pérola  ASA BRANCA. Com o Luiz, o Humberto e a Asa Branca nascia um mistério real, mostrando para a eternidade  o sofrimento, o labutar, a coragem e o quanto é forte  o homem do nordeste brasileiro. 

Iderval Reginaldo Tenório  

ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA #

Música que engrandece a cultura nordestina. ( Sem fins lucrativos )

 

 

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