quinta-feira, 11 de outubro de 2012

HISTÓRIA DE UM VERDADEIRO PAI

        
Foto: Furacão Sandy x Furacão Seca

Enquanto a mídia só fala no furacão "Sandy", por aqui outro furacão também começado com "S" vem devastando o povo pobre do Nordeste, o nome desse furacão é "SECA" e vem a anos matando plantas, animais e pessoas, castigando o povo Nordestino com fome e sede, aqui mesmo em nosso pais, em nosso Brasil, em nosso Nordeste, mas para a mídia, tudo isso é muito menos importante (atrativo) que um Furacão Americano!

Ei, Brasil! O Nordeste pede socorro! Salve o Nordeste!

www.nacaonordestina.org
Adicionar legenda

Curtir ·  ·    
















HISTÓRIA DE UM VERDADEIRO PAI


No inicio de minha vida profissional fui plantonista de um sério pronto atendimento.

Nestes plantões eram lotados dois médicos , os atendimentos eram para pacientes emergenciais, os casos mais graves  eram transferidos e recebidos com todo prazer, pelos plantonistas da unidade Hospitalar que davam suporte a este pronto atendimento.

Era discutido naquela época como nos dias atuais, o que é um atendimento de urgência,o que deve o médico atender, até que ponto é ético o médico dizer este caso não é emergência e não deve ser atendido nesta casa e sim por outra unidade, unidade esta que neste complexo existia e muitas vezes com especialistas.

Era domingo,03h30min da manhã,chovia e a cidade estava deserta, não me recordo o motivo, a pediatria se encontrava desativada , recomendado cautela.

Os pacientes eram atendidos alternadamente ,até a meia noite era intenso o movimento,depois caia consideravelmente,neste   momento chegou um senhor de uns 40 anos de idade,trazia embalado nos braços envolto num grosso lençol uma crianças de 4 a 5 anos , foi até a recepção , disse que o filho estava com febre e dor na garganta .   
A recepcionista explicou que não se tratava de uma emergência e que deveria procurar o outro serviço logo que o dia clareasse .   Humildemente o senhor sentou numa cadeira defronte a televisão que passava a noite ligada,pensou,refletiu ,voltou para a recepcionista,tentou explicar e sem sucesso. Solicitou que lhe mostrasse quem eram os médicos, queria falar e solicitar pelo o amor de Deus que atendessem o seu filho,o médico da vez respondeu que aquele caso não configurava uma emergência e poderia muito bem esperar até o amanhecer.      Pensou: amigdalite às 3:30h da manhã, era brincadeira,porque não levou o garoto durante o dia no ambulatório apropriado, resmungou para si,amigdalite às 3 e 30,é demais .

Ao ver a cena e sentir naquele pai um semblante de diminuição,de inferioridade e de desvalorização como cidadão,chamei o colega,solicitei que atendesse , foi irredutível.   

Não pensei duas vezes,mandei fazer a ficha ,solicitei que colocasse o pai e o filho no consultório,chamei o colega e frente a frente,iniciei a consulta,não uma consulta médico-clínico,mas uma consulta médico-social.    O pai revelou que morava na periferia,que saíra de casa às 06horas da manhã,trabalhava numa empresa encostada noutra,nem mais era terceirizada, o transporte era uma casinha adaptada sobre a carroceria de um caminhão,não tinha alimentação,nem garantia de emprego e era o último a chegar em casa no subúrbio ferroviário depois de uma peregrinação por toda a cidade,devido o despejo dos seus pares que moravam em pontos diversos.

Naquele dia havia deixado a fábrica às 22 horas,rodara por mais de 150 quilômetros , ao chegar em casa,sem almoço e sem jantar,sem banho e possuído pelo cansaço,foi avisado pela esposa que o menino estava com febre e esperava o pai para levá-lo ao médico , matou a sede,encostou a mochila e a marmita,embalou a criança e debaixo de chuva,andou a pé três mil metros,pegou o trem suburbano que se conectava com o ultimo ônibus e depois de rodar 30 quilômetros atingiu o fim de linha,um turístico logradouro,desceu a pé um íngreme ,enladeirado ,longo e deserto percurso da grande praça ao longínquo serviço de urgência.  

Na solidão do caminho,na escuridão da noite,sob o frio da úmida e torrencial chuva,arriscando as suas vidas,mergulhou na realidade .

Na cabeça um turbilhão de pensamentos,todos de baixa estima:pobre,não bonito,suburbano,pertencente a uma categoria sem valor,afro descente,cansado,naquele dia sem se alimentar,foi tomado pelo desânimo,porém,tinha um filho,possuía um rei,possuía uma das razões que justificava viver,que justificava todo e qualquer sacrifício,aliás,levar o seu filho a um médico,não era sacrifício,era um prazer e pensava no seu trabalho,na sua família, no seu pai,via e sentia naquela hora,naquele momento como era difícil a vida,como era dura,como era insignificante diante do mundo, ainda bem que existia o médico,este sim me compreendia,este sim era homem de coração bom,este sim atendia a toda hora,atendia em todos os momentos, nos momentos de necessidades e sempre alegre,sempre rindo,ainda bem que existia o médico, deste mundo só o médico,somente o médico era verdadeiramente humano,quem era ele para ser atendido,para receber a atenção daquela espécie de homem,homem estudado e importante,inclusive por ele ser um simples operário era condição suficiente para não ser atendido, ainda assim ,o médico atendia . 

Atendia porque era humano, porque era bom,porque era gente ,apesar de médico era gente e foi assim que veio pensando em todo o seu longo e difícil trajeto,imaginava encontrar um amigo,um amigo que lhe escutasse,que lhe desse atenção,que lhe desse socorro,ainda bem que existe o médico.

Disse também que saiu preocupado como voltaria,com que carro, com qual dinheiro e para ir ao trabalho no outro dia,sem dormir,sem comer ,sem condições de faltar e se fosse demitido?porém,nada disso era mais importante do que aquele filho,nada tinha mais importância do que a saúde do seu filho. 

O colega frente a frente ,escutava silenciosamente .Aquele depoimento era mais um desabafo, um desabafo social,um desabafo para com ele mesmo,um desabafo quem sabe,talvez para com DEUS, e o colega escutava calado, silencioso,olhar perdido,o colega estava noutro mundo bem distante,não sei aonde,num lugar longínquo;cabisbaixo. Repentinamente,com os olhos marejados , voz trêmula, rompeu o silencio ,abraçou o guerreiro pai e balbuciou:PAI,AH SE TODOS OS PAIS FOSSEM ASSIM! COMO SERIA DIFERENTE.

Pegou as rédeas do atendimento,arranjou energia não sei aonde,atendeu,conversou,riu,ofereceu o seu lanche noturno e o café da manhã para aquele pai exemplar ,alimentou a criança ,pediu-me que passasse o plantão pela manhã e com a criança medicada,a bolsa cheia de amostras e muita disposição foi conhecer na periferia onde morava um homem, onde morava um cidadão ,onde morava um verdadeiro pai e saíram os três na mesma condução .

Ainda hoje, nos encontros da vida escuto do nobre e gentil colega:__meu amigo, muito obrigado, a medicina não é só conhecimentos técnicos é muito mais. A medicina é o social,é o humanismo, é a ética,é o altruísmo,a medicina é a essência da cidadania ,a medicina é uma das representantes fiel de Deus.Ser médico enfim, é ser um misto de tudo quanto é de bom,ser médico é ser provedor,acolhedor e compreender os encontros e os desencontros do homem ,ser médico é apenas ser Médico.APENAS. 

Iderval Reginaldo Tenório
             





ROBERTO CARLOS - MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO - 1979 (Vídeo-Clip RC Especial) - HDROBERTO CARLOS - MEU QUERIDO, MEU VELHO, MEU AMIGO - 1979 (Vídeo-Clip RC Especial) - HDpor ELMIRALMEIDA




Meu Velho PaiMeu Velho Paipor Valdir Assis








Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Dr. Tenorio o senhor pertence a uma safra em fase de extinção.Hoje em dia em cada 1.000 se encontra um DR> TENORIO lhe digo com certeza e conhecimento.Fique com nosso PAI