ANABOLIZANTES EM GOTAS-
GOTAS DE MAROMBA -REVISTA ÉPOCA
O que é o SARM, novo e perigoso anabolizante que bomba em sites e academias
Vendido livremente em sites, o medicamento não tem qualquer controle e pesquisas mostram que pode causar problemas cardíacos
RAFAEL CISCATI
03/07/2018 - 11h00 - Atualizado 03/07/2018 12h11
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O
frasquinho chegara pelo correio, embrulhado em uma caixa de papelão.
Tinha um rótulo pouco convidativo: “Impróprio para consumo humano”,
dizia em inglês. Lucas Cabral, de 30 anos, 1,74 metro e bíceps de 44
centímetros, contou que não se importou com a advertência. Passava pouco
das 7 da manhã quando pressionou o conta-gotas e sugou 10 milímetros do
líquido transparente. Aquela era a medida ideal, segundo lera em um
fórum na internet, para obter os melhores efeitos do LGD-4033 — ou
Ligandrol —, um tipo novo de anabolizante que Cabral descobrira. As
gotas foram despejadas sobre a língua. Não tinham gosto. Cabral tomou o
café da manhã e foi trabalhar.
Cabelo cortado rente, ombros largos
e uma tatuagem tribal que lhe desce pelo lado direito do dorso, Lucas
Cabral exibe, com orgulho, o corpo esperado de um rato de academia. É,
aliás, como se define. Treina, religiosamente, de segunda a sábado,
sempre no mesmo horário. O desejo de ter o corpo trincado surgiu há
cerca de três anos, quando Cabral decidiu que devia parar de fumar e
eliminar a barriga de chope. “Vi meu corpo secar”, disse, animado.
“Minha saúde melhorou, e minha autoestima também.”
Mas,
no final de 2017, a transformação obtida na academia pareceu estagnar.
Cabral já não emagrecia com a mesma facilidade, nem seus músculos
cresciam no mesmo ritmo. Foi quando descobriu o Ligandrol num fórum de
discussão. O composto prometia ganho muscular sem efeitos colaterais e —
dado importante — dispensava o uso de agulhas. Bastavam algumas
gotinhas insípidas tomadas antes do treino.
Cabral usou o
Ligandrol por 49 dias, duas vezes ao dia: de manhã, pouco antes do café,
e à noite, antes do treino. Os resultados vieram aos poucos: o volume
muscular cresceu, a gordura corporal diminuiu. Mais importante que isso,
a estética melhorou. “Deu para notar as pessoas na academia me olhando
de um jeito diferente”, disse, satisfeito. “Eu não queria usar um
anabolizante tradicional. E o Ligandrol me pareceu um bom ponto de
partida.”
O LGD-4033 é mais uma “bomba”, como outras usadas por
frequentadores de academias. Desenvolvidas a partir de meados da década
de 1990, receberam o complicado título de “moduladores seletivos do
receptor de androgênio”. Ou, para facilitar, SARMs, da sigla em inglês. O
Ligandrol é um entre mais de uma dezena de SARMs, uma resposta da
indústria farmacêutica aos dissabores causados pelos esteroides
anabolizantes tradicionais.
A maioria dos anabolizantes tenta imitar o
funcionamento da testosterona, o hormônio sexual masculino. Uma vez
injetados nos músculos, conectam-se a estruturas no interior das células
e dão a partida numa sequência de reações que culminam na produção de
proteína. São usados para tratar pacientes que perdem massa óssea e
muscular.
Mas o uso prolongado de anabolizantes — mesmo com
acompanhamento médico — pode provocar câncer de próstata ou problemas de
fígado. Nas mulheres, provoca o surgimento de características
masculinas, como pelos na face ou engrossamento da voz. Um pacote de
alterações que a ciência chama de "efeitos androgênicos". Os SARMs têm a
vantagem de se conectarem somente aos receptores dos músculos
esqueléticos. “Em teoria, isso deveria permitir que eles estimulassem a
síntese de proteína sem provocar os mesmos efeitos colaterais”, disse o
professor Alexandre Hohl, vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia. O primeiro membro desse novo grupo foi descoberto quase
por acidente, por uma equipe de cientistas da Universidade do Tennessee,
nos Estados Unidos. Na época, o professor James Dalton estudava uma
substância que promovia o aumento dos músculos em ratinhos: “Foi quando
percebemos que nosso composto não vinha acompanhado por efeitos
androgênicos”, disse Dalton a ÉPOCA. “Para nós, foi uma grata surpresa.”
A
novidade deu a largada numa corrida pelo desenvolvimento de novas
substâncias com características similares. Gigantes do setor
farmacêutico, como Johnson & Johnson e Merck, criaram seus próprios
SARMs. As pesquisas pareciam muito promissoras: “Mas a primeira geração
desses compostos desapontou”, disse Hohl. No ano passado, a Food and
Drug Administration (FDA) — a agência americana que se encarrega de
avaliar a segurança e eficiência de novas drogas — publicou um relatório
atestando que os SARMs estudados até ali podiam provocar problemas
hepáticos e cardiovasculares, aumentando o risco de ataques cardíacos.
“Era um sinal de que precisavam de mais anos de desenvolvimento”, disse
Hohl.
Entretanto, como sempre, algo saiu do controle. Atletas
profissionais começaram a usar os SARMs, tanto que em 2008 a Agência
Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) os colocou entre as
substâncias proscritas. Mas uma droga que aumenta músculos só podia cair
nas graças daqueles que são ávidos por isso e topam experimentalismos:
os fisiculturistas.
Num vídeo postado em março deste ano, o
fisiculturista Fernando Maradona fez o anúncio entusiasmado. “Hoje,
estamos aqui para falar sobre um suplemento que está invadindo o meio do
bodybuilding”, disse, encarando a câmera com o dedo em riste. “Isso aí:
SARMs.” Nas redes sociais, os fãs chamavam Maradona pelo manjado
apelido de “Hulk brasileiro”: os músculos retesados já lhe renderam
títulos importantes em competições no Brasil e no exterior e boas
colocações no Mr. Olympia — uma das principais competições do meio. “O
bodybuilder é como um ratinho de laboratório”, disse Maradona. “Ele
testa toda substância nova que promete melhorar seu desempenho.”
Fisiculturista há 20 anos, há três Maradona virou também youtuber. Seus
vídeos documentam, é claro, sua rotina de treino, dão dicas de dieta e
exercícios e fazem a crônica do que há de novo no “meio bodybuilding”.
Em
2010, Maradona participava de uma competição nos EUA quando ouviu falar
nos SARMs pela primeira vez. Um amigo, dono de uma loja de suplementos,
decidiu presenteá-lo com o composto novo: “Mas, na época, não levei a
sério. Achei que fosse papo de vendedor”. A droga ficou esquecida em
alguma prateleira. Cerca de três anos depois, durante uma viagem a Las
Vegas, o amigo refez a oferta. Dessa vez, Maradona deu uma chance à
substância. “Eu me surpreendi”, disse. “Melhorou minha performance,
resistência e capacidade de recuperação.”
Cinco anos depois,
Maradona viu o interesse pelos SARMs explodir para além do meio
competitivo. Foi quando decidiu gravar vídeos sobre o assunto. Afirmou
que sua intenção não era estimular a procura pelos compostos, apenas
tirar dúvidas sobre um tema que seus fãs já discutiam. “O que acontece é
que todo mundo quer ter os mesmos resultados que um fisiculturista”,
teorizou. Para ele, o interesse por anabolizantes varia como a moda.
“Toda vez que a ciência aparece com algo novo, há um boom. Hoje, o boom é
dos SARMs.”
O personal trainer Maurício
Medeiros tem 36 anos, cabelos curtos e pele levemente bronzeada. Na
internet, ganhou notoriedade ao integrar o elenco do Fábrica de Monstros
— um canal no YouTube (bastante) satírico, por vezes sério, criado pelo
marombeiro profissional Leo Stronda. A atração tem mais de 2 milhões de
inscritos. Medeiros terminara de dar uma aula quando recebeu uma
mensagem pelo WhatsApp: “Olha só. Esse é o SARM da moda”, disse,
entregando o celular à reportagem. Troncudo, sério, sentava-se
empertigado na poltrona. Na foto, havia um frasco com um rótulo azul, no
qual fora impressa uma cadeia de carbonos.
“A promessa é que a pessoa
perca 30 quilos ao mês. Imagine o risco.”
Imerso nesse universo de
anilhas, halteres, barras e suplementos alimentares, Medeiros vive
atento ao inevitável burburinho que acompanha o surgimento de um novo
anabolizante. “Há sempre alguém que conhece alguém que usa”, disse. Por
seus cálculos, o bochicho sobre os SARMs chegou às academias — já além
do meio dos fisiculturistas — há cerca de três anos e ganhou vigor nos
últimos 12 meses. A percepção é confirmada por estatísticas do Google. A
procura pelo termo “melhor SARM” cresceu cerca de 5.000% no último ano
no Brasil.
O frequentador de academia que procura SARMs, mesmo sem
intenção de competir, o faz por vaidade. “Aquele menino magro, que as
garotas nunca notaram, começa a ganhar corpo”, disse Medeiros. “E isso
vicia. Resultado vicia.” A propagação do assunto é explosiva. Essa nova
vaga de anabolizantes tem um instrumento que faltava às anteriores: as
redes sociais. “Costumo dizer que a internet foi como uma bomba de
Hiroshima para os anabolizantes”, disse Medeiros. “Hoje, se quiser
comprar isso aqui” — disse, apontando para o frasco na foto do celular
—, “basta passar meia hora no Google.”
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No
YouTube há canais especializados nos SARMs. Alguns usuários narram suas
experiências com os anabolizantes por semanas a fio — sob o olhar
atento de uma audiência que comenta e pede dicas. Quem os vê quer saber
qual SARM usar para conquistar o corpo ideal, qual a dosagem mais
adequada e qual a duração do ciclo — no jargão do setor, o tempo de uso
da droga. São todas questões para as quais a ciência ainda não tem
resposta. Mas para as quais os internautas juram ter uma saída. “Meu
cabelo começou a cair demais, toda vez que passava os dedos por ele”,
disse um rapaz, antes de apontar a solução. “Acho que a questão era a
dosagem. Diminuí.”
A empreitada do gaúcho Renan Duarte com os
SARMs começou no final de janeiro deste ano. “Oi, galera do YouTube.
Hoje, inicio meu ciclo”, anunciou num vídeo do dia 27 daquele mês —
óculos escuros no rosto, franja jogada de lado. Seu “Projeto SARMs”
durou 90 dias e 120 cápsulas de uma substância chamada S23. Os vídeos
foram gravados no quarto, com a câmera parada e com Duarte devidamente
descamisado. “Eu quis fazer os vídeos para auxiliar quem pretendia
comprar. Para essas pessoas terem algo verdadeiro em que acreditar”,
disse. Foram 11 vídeos, um por semana. O último guardava um
desapontamento. “A promessa dos laboratórios era puro marketing”, contou
Duarte. “O produto que usei não cumpriu nada do que prometeu.”
A
procedência duvidosa dos SARMs representa um risco adicional. Como não
há controle por qualquer agência governamental, é impossível garantir o
conteúdo do frasco — e quais seus efeitos sobre o corpo. Um estudo
publicado em novembro do ano passado, conduzido por uma equipe da
Universidade Harvard, pôs à prova 44 produtos vendidos on-line como
SARMs. A maioria falhou: somente 23 tinham, de fato, um SARM em sua
composição. Outros 17 continham substâncias ilegais na mistura —
incluindo aí um composto tóxico, cujo desenvolvimento foi abandonado
pela indústria farmacêutica há mais de dez anos, por provocar câncer em
animais. Os outros quatro não apresentavam qualquer ingrediente ativo —
não eram melhores que farinha.
“Estamos falando de remédios. É como se
eu vendesse uma droga controlada, como o Diazepam, livremente pela
internet e ninguém fizesse nada”, disse Hohl, da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia. Enquanto isso, milhares se arriscam por um corpo
trincado, ao alcance de alguns cliques. “Ainda não sabemos se essas
substâncias são seguras”, disse James Dalton. “A verdade é que quem as
usa se expõe a riscos muito grandes.
ÉPOCA BRASIL
Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=V25dmbvf4p4
25 de ago de 2008 - Vídeo enviado por Bunniyhp
Quando fala " Vida de gado, povo marcado, povo feliz", quer dizer que mesmo sendo explorado pelos ...Admirável Gado Novo - Zé Ramalho - VAGALUME
https://www.vagalume.com.br › MPB › Z › Zé Ramalho
1 de fev de 2001
Zé Ramalho - Admirável Gado Novo (música para ouvir e letra da música com legenda)! Ê, ô, ô, vida de gado ...Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=JGdy_kc27zI
14 de mai de 2015 - Vídeo enviado por Anti Nova Ordem
'' Essa música retrata a alienação do povo, que cansado de tanta miséria, esperam que um "messias ...Zé Ramalho - Vida de Gado - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=e085Ve4jDPw
1 de dez de 2013 - Vídeo enviado por juaceni
Show 30/11/2013.
Um comentário:
O complicado que o governo deixa livre o comércio, tanto pela internet como nas farmácias de manipulação!!
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