Clementina de Jesus é lançada em Sorocaba
Jornal Cruzeiro do Sul - 22/02/2017
Clementina de Jesus é lançada em Sorocaba -
Clementina de Jesus - Rainha Quelé - TV - Câmara Notícias - Portal ...
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30 de dez de 2012 - Clementina de Jesus - Rainha Quelé ... à cantora Clementina de Jesus, também chamada de Rainha Quelé. ... Direção: Werinton Kermes
Dentro da programação de Carnaval da Prefeitura de Sorocaba, será
lançada hoje, às 20h, uma biografia da cantora Clementina de Jesus, de
autoria dos jornalistas Felipe Castro, Janaína Marquesini, Raquel Munhoz
e Luana Costa, formados pela Universidade Metodista de São Paulo. O
evento, que ocorre no clube 28 de Setembro (rua Machado de Assis, 112)
com entrada gratuita, contará com show de Márcia Mah apresentando o
repertório de Clementina.
A biografia Quelé, a voz da cor percorre desde a infância pobre da
artista em Valença, no interior do Rio de Janeiro, até o momento em que
desponta para a carreira artística, já passados mais de 60 anos de vida.
"Ela era neta de escravos, negra, empregada doméstica e lançada
artisticamente aos 63 anos de idade. Mais do que isso, ela contrariava o
padrão estético e até artístico que dominava sobre as cantoras
brasileiras, a imensa maioria delas com canto suave, soprano, enquanto a
Clementina tinha o canto contralto, voz rouca, forte, algo muito
diferente, muito ancestral", conta Janaína.
Com as pesquisas, os jornalistas descobriram que Clementina de Jesus
cantava coisas que levava na memória, cantos que ela ouvia quando era
garota. "Sabia de cor inúmeras cantigas de trabalho, curimas e lundus,
cantos ancestrais que levava consigo", comenta Janaína. Os jornalistas
também levantaram que, depois de famosa, Quelé cantou e gravou com
alguns dos maiores artistas brasileiros: Cartola, Pixinguinha, Paulinho
da Viola, Milton Nascimento, João Bosco, Clara Nunes e Martinho da Vila,
entre tantos outros. "Isso tudo evidencia que a história de Clementina é
riquíssima, ela enquanto mulher, negra, sambista, representa um Brasil
profundo, um Brasil do povo que não é comumente representado nos
veículos de comunicação."
A descoberta
"O momento de Clementina foi aquele, surpreendendo todo mundo, já uma
pessoa com mais de 60 anos de idade, fazendo sucesso. Não conheço
ninguém que tenha feito isso, mas o que gostaria mesmo é que Clementina
tivesse sido descoberta há mais tempo". As palavras são do poeta
Hermínio Bello de Carvalho, que lançou a cantora Clementina de Jesus, no
espetáculo Rosa de ouro, em 1965. O produtor conta que, naquela época,
encontrou Clementina cantando em uma taberna, em um momento de
descontração. Até então, ela trabalhava como empregada doméstica de uma
família no Rio de Janeiro.
Guardiã e herdeira da cultura musical afro-brasileira, dona de uma voz
potente, Clementina gravou 12 discos de sucesso nos tempos da bossa nova
e o do iê-iê-iê. Esteve em programas de TV, rádios, fez show pelo País e
fora dele. Na França, cantou no Festival de Cannes e, no Senegal, teve
de voltar ao palco quatro vezes, muito aplaudida. O jornalista Sérgio
Cabral, que testemunhou a cena, no Festival Internacional de Arte Negra,
relembra que as pessoas queriam tocá-la.
Filha da primeira geração de descendentes de africanos libertados da
escravidão, Clementina desde pequena ouvia a mãe cantar saberes
ancestrais da cultura banto enquanto lavava roupas. O pai, um grande
violeiro e capoeirista, completava a formação musical da filha.
Clementina, ou Quelé, apelido que ganhou na infância, cantou desde
pequena, na igreja, em festas religiosas, onde chegou a treinar
pastoras, na casa das tias do samba, já no Rio, e nos corsos que deram
origem às escolas de samba. Foi portelense, antes de entrar na Mangueira
para nunca mais sair, por causa do amor ao marido que lhe acompanhou
por 30 anos.
Este ano, 2017, a morte da cantora completa três décadas e em fevereiro, se viva, ela teria completado 116 anos.
Todas essas histórias em mais detalhes sobre os bastidores do mundo do
samba entre 1960 e 1987 são apresentadas no livro Quelé, a voz da cor -
biografia de Clementina de Jesus. A pesquisa sobre a artista começou com
um trabalho de conclusão de curso na faculdade e depois de muitas idas e
vindas ao Rio -- um esforço de pesquisa que levou seis anos-- terminou
em uma publicação de 363 páginas, incluindo vasta bibliografia e índice
onomástico, pela editora Civilização Brasileira.
"A turma que fez este trabalho não escreveu apenas uma biografia", diz,
em um trecho da orelha do livro, o escritor e historiador Luiz Antonio
Simas. "O que estas páginas apresentam é um relato fundamental para se
contar a história da nossa música e dos saberes africanos
redimensionados no Brasil", completa um dos principais estudiosos da
cultura do samba.
O acervo do jornalista e agora Secretário da Cultura de Sorocaba,
Werinton Kermes (que inclusive tem um documentário sobre Clementina),
foi uma das referências para o livro. "O lançamento do documentário do
Werinton, marca, em nossa opinião, um processo de resgate da cultura
popular por meio da memória de Clementina de Jesus em Sorocaba. Por
conta disso, não poderíamos deixar de fazer um lançamento na cidade",
reforça Janaína.
Clementina de Jesus terminou a carreira aos 86 anos, depois das
gravações de Cantos escravos, em 1982, junto com outros músicos. Apesar
da fama, morreu pobre como tantos artistas negros importantes para à
música brasileira, como Pinxiguinha e Heitor dos Prazeres. (Com
informações da Agência de Notícias RMS e da Agência Brasil)
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