IDERVAL TENÓRIO: O LEILÃO DO SOCORRO-CAUSOS DE FAMÍLIA GALEGO E O LELÃO NA PRAÇA DO SOCORRO

domingo, 23 de outubro de 2016

O LEILÃO DO SOCORRO-CAUSOS DE FAMÍLIA GALEGO E O LELÃO NA PRAÇA DO SOCORRO

Resultado de imagem para LEILÃO DE GALINHA ASSADA NO INTERIOR

CAUSOS DE FAMÍLIA

GALEGO E O LEILÃO NA PRAÇA DO SOCORRO

Sou para o meu condado, a Chapada do Araripe, filho de uma pequena família, ao todos fomos doze irmãos, uma vez que, praquelas bandas a média na época era de dezesseis filhos, chegando famílias a produzir mais de trinta almas.

Um dos meus irmãos mais velho, por ser de alta estatura e do tipo alemão, era chamado de Galego. Hoje somos nove, três o Criador os chamou, morávamos e estudávamos em Juazeiro do Norte, no Sul do Cerará, cidade fundada pelo Padre Cícero Romão Batista, o Meu Padim.

Passávamos as férias escolares na abençoada Serra do Araripe, hoje o coração do Geopark do Araripe , a maior reserva florestal do Árido Sertão do Estado do Ceará e do Estado de Pernambuco, foi neste cinturão verde que nasceram os três homens do século para o nordeste, o Rei do baião Luiz Lua Gozanga, na cidade do Exu , Pernambuco no dia 12 de dezembro 1912, o Antonio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, o autor de A Triste Partida , na cidade do Assaré, no Estado do Ceará no dia 05 de março de 1909 e o Padre Cícero Romão Batista , na cidade do Crato no dia 24 de Março de 1844, nesta mesma Serra peregrinaram o Frei Damião de Bozano e o Padre Ibiapina, todos os três em fase de beatificação, é uma serra abençoada, foi neste pequeno trecho do nordeste onde nasceram os filhos de seu Zé e dona Tonha.

Juazeiro do Norte é uma terra religiosa e muitos são os leilões nas suas paróquias para angariar fundos para as novenas de todas as nossas Senhoras, no nosso bairro a Igreja é de Nossa Senhora do Perpetuo do Socorro, a qual fica defronte a casa na qual nascemos e é lá onde se encontram os restos mortais do fundador do município, O padre Cícero, e o foco da Romaria ,todos os anos em janeiro é efetuado um leilão de pequenos objetos, bolos, galinhas assadas e livros.

Era Janeiro de 1964, o país em ebulição devido o movimento para a derrubada do Presidente da Republica João Goulart, concretizada no dia 31 de março para o 1º- de abril de 1964 , o qual recebeu o nome de Golpe Militar, assumindo o poder uma junta militar, comandada pelo General Humberto de Alencar Castelo Branco, outro Cearense, sendo o mesmo nomeado o primeiro presidente do Regime Militar após o golpe.

Estávamos todos em gozo de férias escolares na nossa Serra do Araripe, mamãe enviara Galego para Juazeiro do Norte com a finalidade de matricular no Colégio Salesiano os seis homens da família e mais o primo Arlindo que morava conosco, na capanga de couro muito bem guardada trazia seiscentos cruzeiros em dinheiro vivo, era meu pai além de um produtivo agricultor, um comerciante regional de grande confiança e respeito, como também elo entre os camponeses e os homens da cidade, era um provedor e um acolhedor nato, um dos homens mais acreditado e respeitado num raio de cem quilômetros.

O Galego chega em Juazeiro e toma o caminho de casa, ao passar tangenciando a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro, o leiloeiro muito vivo, grita num microfone , forrado com uma flanela vermelha, em alto e bom som;

”Meus amigos, tenho uma ótima notícia, se aprochega na praça o Galego, filho do mais respeitado homem da Serra do Araripe, seu Zé Miguel”

O Galego ouviu e pegou corda, o leiloeiro muito esperto jogou a isca, o peixe mordeu, foi fisgado pelo anzol certeiro do sagaz pescador e completa a sua locução:

“ Seu Zé Miguel sempre arremata nos leilões de sua santa, o Galego não é diferente, é macho, bonito, inteligente e traz o sangue do velho pai, o garoto é decidido”

De mãos elevadas, na bandeja um galinha caipira assada na manhã daquele dia , já dura e ressecada, o homem grita:

“E o Galego se acomoda na bancada e já pensa em dar o primeiro lance, tudo indica que será de vinte cruzeiros”

Imagine que, uma galinha gorda e viva na feira custava cinco cruzeiros, o Galego num passe de mágica levantou o braço direito e falou em voz firme:

“vinte não seu educado leiloeiro, dou-lhe 40”.

O leiloeiro levantou a ressecada e despenada galinha e disse.

“Se ninguém der outro lance, o macio e saboroso frango vai para o Galego, mas parece que seu Joaquim dos Doces vai dar um lance de cinqüenta, é um desafio e um desaforo, parece que é verdadeiro"
.
Antes do TAPIA ( o contratado pelo leiloeiro) falasse o seu lance o Galego gritou :

“Subo pra sessenta”

O leiloeiro não titubeou:

" Dou-lhe uma, dou-lhe duas , dou-lhe três e está entregue o frango ao Galego"

e com esta tática de pegar os incautos, três foram os arremates, lá se foram duzentos cruzeiros das matrículas escolares do colégio salesiano.

O Frango estava ressecado e esturricado, não havia dentes que o triturasse, o livro fora oferecido por um Sebo Velho de Juazeiro e o bolo estava solado, duro e sem graça, parecia mais uma rapadura.

Hoje o Galego ainda lamenta pelos duzentos cruzeiros perdidos e jamais esquece da justa correção recebida de minha mãe, que sempre dizia para todos nós:

“ UM HOMEM SÉRIO NÃO FAZ FESTA COM O DINHEIRO DA COMUNIDADE”.

Nas reuniões da família enquanto mais se repete este episódio, maiores são as gargalhadas e Papai sempre sai com esta:

“Eita Galego macho, em leilão é o maioral, como ajudante de Santa não tem outro igual”.

São de fatos como este que se constrói uma bela família e viva a humanidade.

Iderval Reginaldo Tenório

2016

VIDEO DA SERRA DO ARARIPE, VICENTE REGINALDO TENÓRIO, O NARRADOR, NÃO DEIXE DE ASSISTIR, É MUITO BOM .