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O BRASIL DOS SONHOS
COLUNA- EM TEXTOS DO AUTOR
O BRASIL DOS SONHOS
O Mundo moderno caminha a passos largos para a elevação do desemprego e o aumento das doenças desocupacionais.
Com este preâmbulo que parece mais uma invenção do autor ou até mesmo um ato irresponsável, procurarei centrar o pensamento e chamar a atenção para um futuro não muito distante.
O homem nasce e cresce no intuito de perpetuar a espécie, para isso passa por um período de aprendizado que é peculiar à raça humana sempre no aprimoramento do intelecto em substituição à força motora.
Neste mundo moderno, diferente do mundo anterior, quando os músculos falavam mais alto , onde dominavam os mais troncudos, os mais valentes , os mais musculosos aos poucos o cérebro foi tomando espaço e na escala da evolução passou a predominar, fazendo com que o homem fosse medido pelos pensamentos, pelas ações e pelo intelecto.
Com esta evolução, o aperfeiçoamento cerebral fez com que o encéfalo passasse a dominar, trazendo a comodidade de trabalhar menos para o seu sustento.
Naquela época se fazia necessário o trabalho ininterrupto e duro para a obtenção apenas do pão, não se falava no intelecto, o importante era a sobrevivência da matéria, da massa, do corpo.
Nos tempos atuais e modernos, com a necessidade cada dia menor da força na execução das tarefas, o homem foi substituído pelas máquinas, e como uma máquina passou a conviver com movimentos repetitivos na manipulação dos líquido e gases poluentes, nas engrenagens, nas manivelas que geram múltiplas doenças ocupacionais, sucateando-o.
Com a revelação destes infortúnios, a indústria sucateadora de seres humanos banida dos países dominantes pousaram nos periféricos , instalaram as suas parafernálias em regiões metropolitanas, contaminando as reservas naturais , distanciando o trabalhador por mais de 14 horas e por mais de 50 quilômetros de distancia do seio familiar e da vida social, tendo como álibi eliminar o desemprego , matar a fomer, propiciar conforto com a criação de escolas, saúde para toda a família e criar um mercado consumidor para manterem vivo a saga do lucro e da concentração do Capital.
Nasceu nesta época as grandes empresas de transportes, as grandes construtoras, as empresas de saúde de grupo , promovendo o famigerado êxodo rural, desabitando as terras , matando a agricultura de subsistência , causando um verdadeiro facetamento da família.
Os primeiros operários hoje pagam caro por trabalharem anos após anos sem uma proteção adequada, muitos mutilados, cegos, surdos e com miríades de patologias ocupacionais.
O exercício da cidadania foi conquistado em 1938 com Getúlio Vargas , reforçada em 1943 com o mesmo Getúlio e em 1946 com o governo Dutra, abalado com o governo da revolução em 1964 , reaparecendo 20 anos depois com a luta operária no Estado de São Paulo, tendo como um dos baluartes um torneiro mecânico que mais tarde se tornaria o primeiro operário a ocupar o mais alto cargo da nação, a Presidência da República.
O tempo passou, com ele a modernização mecânica foi velozmente substituída pela eletrônica e a informática , que junto à robótica passaram a dominar.
Os humanos das décadas passadas se perderam no tempo, cansados pela sobrecarga e pelas horas dentro de conduções na tarefa ir e vir, na procura do pão de cada dia perderam o laço familiar e passaram a funcionar como uma máquina em decadencia , exigente e que necessita de multipla manutenção, principalmente no viés psiquico, o homem entrou em decomposição social .Veio a globalização.
Hoje o padrão humano de desgaste não guarda diferenças em relação ao físico e à mente, com a multiplicação dos movimentos repetitivos e a hibernação dos neurônios pensantes , necessários apenas nas cabeças dos donos do Capital, no além mar, surgem exércitos de deficientes multiocupacionais , que abandonados pelo Capital selvagem e à procura de proteção peregrinam pelos institutos governamentais, o diferencial é que naquela época apesar da falta do progresso, o sucateamento que existia era menor, a seguridade social, a alimentação, o transporte , a escola e a saúde eram para todos os componentes da família, pois o operário até o ano 1998 era o provedor mor , o contratado era o pai e em cascata eram pulverizados os benefícios como plano de saúde e educação para todos os componentes da família, muitas vezes até para os seus genitores.
Naquela época os salários eram para sustentar a família com toda a sua complexidade na compra dos mantimentos e dos bens de consumo doméstico, hoje o homem não é prioridade, o emprego é terceirizado e sem garantia, o contrato é avulso, é precário, o homem virou uma máquina descartável, como eram os escravos no século 18, que labutavam por mais de 16 horas por dia até a exaustão , que o digam os funcionários das minas e da saúde, inclusive os médicos.
Hoje o operário é o filho, aquele jovem que não tem família atrelada , aquele que não adoece, que come mal, que não tem compromisso familiar, que não tem despesas com o lar, que não transfere nenhum direito social aos componentes da família, é um trabalhador avulso, que não tem transporte digno e o que percebe é apenas para alimentar o pequeno e estreito sonho de consumo do mundo moderno, como motos, celulares, bebidas , roupas e todas as parafernálias eletrônicas, num gasto egoísta e pessoal, quiçá nos mais ajuizados na transferência quase total dos ganhos para uma Faculdade particular , que muitas vezes em nada melhorarão o seu futuro. O pior é leva ao surrado operário pai, a pecha de preguiçoso, desocupado e oportunista, levando à baixa estima, à depressão e a perda do primeiro posto no seio familiar, o provedor, transformando-os em verdadeiras sucatas, em alcoólatras e doentes por não possuírem ocupação, são as doenças desocupacionais.
Que venham as fábricas com todo o seu progresso, que apareçam os empregos mesmo com as suas ressalvas produtivas sem esquecer o social, mas, que empreguem os pais,que empreguem os chefes de famílias, que elevem as suas estimas e resgatem a dignidade familiar, núcleo mor de uma civilização avançada .
Que o progresso e o emprego transformem estes jovens em homens aprendizes , proporcionando ensinamentos profissionais em todas as áreas, notadamente nas áreas do pensamento e da criatividade , sedimentado na prática , na ética e na cidadania, assim , quem sabe, com muito trabalho o Brasil do futuro e dos sonhos poderá ser realidade.
Salvador, 28 de Janeiro de 2001
Iderval Reginaldo Tenório
SOBRAMES -BA
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