24.abril.2014 19:22:57
Relatório da PF sugere que Alexandre Padilha indicou executivo para laboratório de doleiro
Suspeita é levantada a partir de conversas de doleiro Alberto Youssef com deputado André Vargas
Fausto Macedo e Andreza Matais
A Operação Lava Jato da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, indicou um executivo para o Labogen – controlado pelo doleiro Alberto Youssef, o Primo – quando o laboratório tentava obter contrato milionário da pasta em 2013. A informação consta de relatório de monitoramento telemático da PF.
O documento mostra, ainda, que Youssef, preso desde 17 de março de 2014, mantinha contatos com outros deputados do PT, além de André Vargas (PT-PR).
A PF suspeita que o doleiro se encontrou com Vargas no apartamento funcional de Cândido Vaccarezza (PT-SP), em Brasília, ex-líder do governo na Câmara. Também teria enviado um emissário para participar de reunião com Vicente Cândido (PT-SP), em São Bernardo do Campo, no ABC.
O relatório de 80 páginas, elaborado pela Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin) da PF no Paraná, indica que no período entre 19 de setembro de 2013 a 12 de março de 2014, Youssef e Vargas trocaram 270 mensagens pelo aplicativo Black Berry Messenger.
Eles se tratam por “irmão” e se despedem com “beijo”. Para a PF, esse tratamento “indica que a relação não era superficial”.
No trecho relativo ao ex-ministro da Saúde, a PF captou diálogos entre Youssef e Vargas – este chama Padilha de “PAD”. No dia 26 de novembro de 2013, Vargas pede ao doleiro que reserve a melhor suíte de um hotel – Blue Tree – que pertence a Youssef. O deputado diz que falou com o “PAD”. “Ele vai marcar uma agenda comigo”, diz Vargas. Seu interlocutor responde: “ótimo”. Elogia a atitude do parlamentar. “Precisamos estar presente”, conclui.
Segundo a PF, a Labogen – com folha de pessoal de apenas R$ 28 mil – planejava arrecadar R$ 150 milhões com o negócio na Saúde – fornecimento de remédio para hipertenso.
O contrato não chegou a ser assinado. Segundo o ministério, nenhum pagamento foi feito para o laboratório. Mas o monitoramento da PF aponta para uma suposta participação de Padilha na contratação do executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura para os quadros da Labogen.
O ex-ministro não caiu na malha de grampos da PF nem é investigado, mas a PF chegou a juntar aos autos da Lava Jato até uma fotografia de Padilha em um evento. “As evidências indicam que Vargas tinha interesse no processo de contratação da Labogen junto ao Ministério da Saúde”, sustenta a PF.
O alvo das interceptações era o doleiro. Todos os que com ele conversaram, por telefone ou por mensagens, acabaram grampeados indiretamente. Em diálogo de 27 de novembro de 2013, Youssef foi avisado por André Vargas que “achou o executivo com experiência que seria colocado à frente da Labogen, um nome que não despertasse suspeitas com relação aos contratos da pasta. No dia seguinte, o deputado petista diz ao doleiro amigo que foi Padilha quem indicou o profissional. Para a PF, “existem indícios que os envolvidos tinham uma grande preocupação em colocar à frente da Labogen alguém que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras”.
Em outro contato, o doleiro e o deputado comemoram a possibilidade de fechamento do negócio da Labogen na Saúde. “Estamos mais fortes agora”, diz Vargas. “Você vai ver o quanto isso vai valer, tua independência financeira. E nossa também, é claro”, responde o doleiro. Vargas ri.
No dia 7 de março, Vargas tenta viabilizar reunião com Youssef, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como “PP” – ex-ministro do governo Fernando Collor (1990-1992) -, e o executivo supostamente recomendado por Padilha. O encontro foi marcado para o dia 10.
Deputados. No dia 25 de setembro de 2013 surge o nome de Vaccarezza. O doleiro avisa Vargas que acabou de chegar em Brasília, acompanhado de “PP”, diretor da GPI Participações e Investimentos, sócia oculta da Labogen, segundo a PF. “Achei que você estivesse aqui na casa do Vaccarezza”, diz o doleiro. “Os indícios apontam que o alvo Alberto Youssef mantinha relações com o deputado federal Candido Vaccarezza”, sustenta o relatório produzido pela PF.
A citação ao deputado Vicente Cândido surgiu em diálogo entre o doleiro e Vargas no dia 20 de setembro de 2013. O ex-vice-primeiro presidente da Câmara cobra de Youssef informações sobre “os demais assuntos”, e, então, menciona “Vicente Cândido”.
O doleiro informa que com relação a “Vicente, nada”. E avisa Vargas que precisa “captar” – para a PF, “possivelmente referindo-se à falta de capital de giro para efetuar suas atividades”.Vargas sugere o nome de João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, da Quality Holding Participações e Investimentos S/A, controlada pelo doleiro. Youssef diz que João Procópio “esteve com Vicente Candido em alguns lugares”, como São Bernardo do Campo, “mas que não andou”. Vargas responde que “vai atuar”.
A ligação entre Youssef e Vargas é ampla e rotineira. Para a PF, Vargas servia ao doleiro com frequência, a ponto certa vez até de fazer conexão de voo em São Paulo para atender a um pedido de Youssef. No dia 12 de março de 2014, o doleiro diz ao deputado que “deixou os óculos de grau” na casa dele. Vargas pergunta onde Youssef está e ele responde “em São Paulo”.
Para não deixar o amigo na mão, o deputado diz que fará conexão e pode levar os óculos de Youssef.
Fausto Macedo e Andreza Matais
A Operação Lava Jato da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, indicou um executivo para o Labogen – controlado pelo doleiro Alberto Youssef, o Primo – quando o laboratório tentava obter contrato milionário da pasta em 2013. A informação consta de relatório de monitoramento telemático da PF.
O documento mostra, ainda, que Youssef, preso desde 17 de março de 2014, mantinha contatos com outros deputados do PT, além de André Vargas (PT-PR).
A PF suspeita que o doleiro se encontrou com Vargas no apartamento funcional de Cândido Vaccarezza (PT-SP), em Brasília, ex-líder do governo na Câmara. Também teria enviado um emissário para participar de reunião com Vicente Cândido (PT-SP), em São Bernardo do Campo, no ABC.
O relatório de 80 páginas, elaborado pela Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin) da PF no Paraná, indica que no período entre 19 de setembro de 2013 a 12 de março de 2014, Youssef e Vargas trocaram 270 mensagens pelo aplicativo Black Berry Messenger.
Eles se tratam por “irmão” e se despedem com “beijo”. Para a PF, esse tratamento “indica que a relação não era superficial”.
No trecho relativo ao ex-ministro da Saúde, a PF captou diálogos entre Youssef e Vargas – este chama Padilha de “PAD”. No dia 26 de novembro de 2013, Vargas pede ao doleiro que reserve a melhor suíte de um hotel – Blue Tree – que pertence a Youssef. O deputado diz que falou com o “PAD”. “Ele vai marcar uma agenda comigo”, diz Vargas. Seu interlocutor responde: “ótimo”. Elogia a atitude do parlamentar. “Precisamos estar presente”, conclui.
Segundo a PF, a Labogen – com folha de pessoal de apenas R$ 28 mil – planejava arrecadar R$ 150 milhões com o negócio na Saúde – fornecimento de remédio para hipertenso.
O contrato não chegou a ser assinado. Segundo o ministério, nenhum pagamento foi feito para o laboratório. Mas o monitoramento da PF aponta para uma suposta participação de Padilha na contratação do executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura para os quadros da Labogen.
O ex-ministro não caiu na malha de grampos da PF nem é investigado, mas a PF chegou a juntar aos autos da Lava Jato até uma fotografia de Padilha em um evento. “As evidências indicam que Vargas tinha interesse no processo de contratação da Labogen junto ao Ministério da Saúde”, sustenta a PF.
O alvo das interceptações era o doleiro. Todos os que com ele conversaram, por telefone ou por mensagens, acabaram grampeados indiretamente. Em diálogo de 27 de novembro de 2013, Youssef foi avisado por André Vargas que “achou o executivo com experiência que seria colocado à frente da Labogen, um nome que não despertasse suspeitas com relação aos contratos da pasta. No dia seguinte, o deputado petista diz ao doleiro amigo que foi Padilha quem indicou o profissional. Para a PF, “existem indícios que os envolvidos tinham uma grande preocupação em colocar à frente da Labogen alguém que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras”.
Em outro contato, o doleiro e o deputado comemoram a possibilidade de fechamento do negócio da Labogen na Saúde. “Estamos mais fortes agora”, diz Vargas. “Você vai ver o quanto isso vai valer, tua independência financeira. E nossa também, é claro”, responde o doleiro. Vargas ri.
No dia 7 de março, Vargas tenta viabilizar reunião com Youssef, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como “PP” – ex-ministro do governo Fernando Collor (1990-1992) -, e o executivo supostamente recomendado por Padilha. O encontro foi marcado para o dia 10.
Deputados. No dia 25 de setembro de 2013 surge o nome de Vaccarezza. O doleiro avisa Vargas que acabou de chegar em Brasília, acompanhado de “PP”, diretor da GPI Participações e Investimentos, sócia oculta da Labogen, segundo a PF. “Achei que você estivesse aqui na casa do Vaccarezza”, diz o doleiro. “Os indícios apontam que o alvo Alberto Youssef mantinha relações com o deputado federal Candido Vaccarezza”, sustenta o relatório produzido pela PF.
A citação ao deputado Vicente Cândido surgiu em diálogo entre o doleiro e Vargas no dia 20 de setembro de 2013. O ex-vice-primeiro presidente da Câmara cobra de Youssef informações sobre “os demais assuntos”, e, então, menciona “Vicente Cândido”.
O doleiro informa que com relação a “Vicente, nada”. E avisa Vargas que precisa “captar” – para a PF, “possivelmente referindo-se à falta de capital de giro para efetuar suas atividades”.Vargas sugere o nome de João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, da Quality Holding Participações e Investimentos S/A, controlada pelo doleiro. Youssef diz que João Procópio “esteve com Vicente Candido em alguns lugares”, como São Bernardo do Campo, “mas que não andou”. Vargas responde que “vai atuar”.
A ligação entre Youssef e Vargas é ampla e rotineira. Para a PF, Vargas servia ao doleiro com frequência, a ponto certa vez até de fazer conexão de voo em São Paulo para atender a um pedido de Youssef. No dia 12 de março de 2014, o doleiro diz ao deputado que “deixou os óculos de grau” na casa dele. Vargas pergunta onde Youssef está e ele responde “em São Paulo”.
Para não deixar o amigo na mão, o deputado diz que fará conexão e pode levar os óculos de Youssef.
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