sexta-feira, 13 de outubro de 2017

OS VELHOS ABANDONADOS DO FUTURO: OS JOVENS DE HOJE, A AUSENCIA DA CIDADANIA.

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OS VELHOS ABANDONADOS DO FUTURO: OS JOVENS DE HOJE,  A AUSENCIA DA CIDADANIA.


Este Texto foi produzido em 1989.  

Preocupado com o destino dos  idosos , foi matutado numa   cabeça interiorana, que  ainda no final do século XX,   o ser , O HOMEM  NA ESSÊNCIA DA PALAVRA,  perderia a contenda  para o ter, O POSSUIR NA LINGUAGEM MÍNÚSCULA DA VIDA.

 À proporção que ocupações importantes fossem embutidas nas vidas dos  filhos mais capacitados, filhos mais estudados,  filhos   educados às custas de muitos sacrifícios , resignação e  humildade  dos seus genitores, educação simples  com ênfase no SER, NO HOMEM,  e nos princípios humanos, mesmo assim o SER  sairá perdedor, a pressão criada pela cabeça do homem global, moderno e consumista é gigantesca, vale  o montante  dos cifrões.
 
Foi imaginado  um mundo repleto de casas de idosos e os filhos,  quando bons , custeando até mesmo com às custas  do idoso,  mesmo assim   muitos  seriam abandonados , como medida de segurança , o matutador enviou aos poderes públicos uma carta,  perguntando quais seriam as providencias a serem tomadas para o futuro,   seria criado um manual, um regimento, um estatuto para proteger os desprotegidos do futuro? ou os idosos do amanhã,  os jovens de hoje , ficariam no limbo da sociedade como sonambulos nas avenidas, zumbis nas encruzilhadas  ou inclausurados em pequenos quartos , pequenas pocilgas, regado a pão e água?  

O matutador   ainda fala  para todos que lhe escutam , que no futuro,  além dos menores abandonados , serão milhares de idosos no abandono, brevemente o Brasil será habitado por cidadãos  acima dos 60 anos .

Neste interim foi  informado que,  tramitava no  Congresso o estatuto do idoso e o estatuto do adolescente, o matutador ficou  mais tranquilo, apenas mais tranquilo, matutou outra vez , tem alguém pensado nos futuros abandonados, será que será coisa séria ou mais um fenômemo eleitoreiro?, mais um enganoso pulo do mau  gato.

               Iderval Reginaldo Tenório
            o blog é cultural



O FILHO QUE NÃO PROSPEROU

Numa roda de amigos foi abordado o quanto era importante o olhar, o cheiro , os conselhos e a presença dos pais.

Num caloroso e contagiante momento,  contou um dos amigos a seguinte história.

Relatou que na sua cidade havia um bom senhor oriundo de classe social baixa ,  que  apesar do seu analfabetismo, porém  rico de uam  vasta cultura existencial e do abençoado  suor do seu próprio rosto,  conseguiu educar os seus 14 filhos.

O tempo passou, os filhos cresceram, alguns galgaram postos importantes na sua nação e o bom senhor à proporção que ganhava conhecimentos, foi envelhecendo, minguando na vida , perdendo as forças.

Envelhecendo com saúde, com dignidade, com cidadania e com o respeito de todos os que lhe rodeavam.

Como é peculiar à família e aquela não fugira a regra,  anos após anos, procuravam os filhos através de encontros familiares lembrar ao velho carvalho o seu incalculável valor , a sua importância e o quanto era cabal a sua existência para a sua prole.

De todos os seus filhos  um havia voado mais alto e galgado postos estratégicos na sua República, o tempo passava ,  de todos os filhos , aquele nunca estava presente devido a sua importância perante a nação , muitas  vezes nomeava prepostos, as vezes  irmãos e até mesmo amigos para lhe substituir nos encontros familiares, jamais negara ajuda financeira quando solicitado , era  sempre influente nas questões decisórias da família, a sua presença era pecuniária.

O tempo passou, o ancião foi perdendo as forças, os músculos foram minguando, os cabelos ficaram ralos , a mente foi ficando curta, murchando e o bom homem foi paulatinamente perdendo a memória, perguntava onde estava, muitas vezes perguntava até mesmo quem ele era.

A  grande e tradicional família continuava as suas comemorações, anos após anos, e anos após anos o filho que prosperou era substituído por outro irmão, um secretário ou por um dos seus amigos, até o dia em que foi convocado, até o dia em que foi intimado a comparecer ao 99o- aniversário do patriarca por todos os componentes daquela feliz e honesta família.

Ao chegar, entrou no quarto do seu genitor, se aproximou e disse :

__A bênção pai.

O velho imobilizado nada respondeu, Repetiu mais alto:
__ A bênção pai , a  bênção pai.

O  velho abriu os olhos, mexeu com o pescoço de um lado para o outro, fez esforço para levantar a cabeça , mirou o rosto do seu filho e com a voz trêmula balbuciou:

__Quem é você? DE ONDE VOCÊ VEIO ? ONDE VOCÊ MORA? QUEM É O SEU PAI? .

O filho parou, pensou, baixou a cabeça e disse :

__ A BENÇA PAI, EU SOU O SEU FILHO, o seu filho do meio, é que faz mais de 20 anos que não vejo o senhor, faz mais de 20 anos que não venho na nossa terra, eu trabalho no Ministério, trabalho no governo.

O pai mais uma vez falou:

__Quem é você, de onde você veio, onde você mora, você é filho de quem, quem é o seu pai? Eu te abençôo mas não sei quem é você, se você diz que é meu filho é porque é o meu filho,  porém eu não me lembro de você.

Desencantado pelo vasto tempo que havia visto o seu pai , com a amnésia paterna e decepcionado com o que presenciara não conseguira entender o que se passava, quando mais tarde  , soube por intermédio dos outros irmãos, que o seu pai num processo fisiológico fora perdendo paulatinamente a capacidade de memorizar, de verbalizar e de locomoção, passando a lembrar apenas dos fatos repetitivos, dos rostos do seu cotidiano das pessoas que de mais perto convivera nos últimos dias,  do seu cachorro e dos utensílios de primeira necessidade, o banheiro, os penicos , a televisão sempre ligada e as sandálias.


Numa onda de culpa e de irresponsabilidade entendeu , que o pai devido a sua ausência , havia apagado da mente quaisquer resquícios ou lembranças de sua existência, havia apagado de sua mente até mesmo a legitimidade paterna, entendeu também que foi a sua ausência , a sua distância e o seu descaso para com o velho e bondoso pai que apagara toda a sua existência como filho.

Desconfiado, deprimido e solitário partiu para a conquista, para luta, para a briga, se esforçou, porém o velho e bondoso senhor aos poucos foi apagando da mente os dados e imagens cerebrais , aos poucos foi esquecendo , esquecendo, esquecendo... até o dia em que não mais lembrava nem de si, até o dia em que entrou em vegetação.

Com os fatos presenciados,  o filho passou a entender que o seu pai precisava era de abraços, de carinho, de respeito e de sua presença  e não de ajuda financeira, de gestos pecuniários, estes jamais substituirão um simples abraço e o calor que emana de cada corpo.

Foi-se o velho, com ele foi sepultado todas as suas memórias e conhecimentos, restando as boas lembranças e os seus ensinamentos.

Para o filho ficou a certeza que foi 20 anos atrás o ultimo dia em que o seu pai lhe viu, ficou gravado na sua memória que os seus filhos não eram netos do seu pai e mais claro ainda,  que o homem é a mente, o homem é a comunicação , o homem é fruto de sua raiz, o homem é o cérebro.

Ficou claro e evidente   que o núcleo familiar jamais esqueça a importância dos seus genitores, estes jamais deverão perder a sua importância, jamais deverão ser substituídos e por mais longe que o homem vá,  as suas raízes serão  fortes e  continuarão firme, continuarão  encastoadas em toda a sua existência, um dia o cidadão sentirá o sabor da sua exigência e lhe abalará, como disse seu Quincó.               "UM DIA A FICHA CAI".

Seja pai dos seus pais.




24 de Janeiro de 1989




Iderval Reginaldo Tenório


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