'Não subestimem Crivella, quem fez isso com Edir Macedo se deu mal', diz Garotinho
Em entrevista à BBC Brasil, ex-governador alertou para refinamento da Igreja Universal
RIO — O ex-governador e ex-deputado federal Anthony Garotinho
(PR) disse que o prefeito eleito Marcelo Crivella (PRB) é um gestor de
grandes obras e deve fazer um bom trabalho à frente da Prefeitura do
Rio, a partir de janeiro do ano que vem. Apesar de Crivella negar,
durante toda a campanha, uma possível participação do ex-governador em
seu mandato, Garotinho afirma que foi conselheiro do futuro prefeito
durante o período eleitoral, e ironiza o uso de seu nome, pelo candidato
derrotado Marcelo Freixo (PSOL), nos debates: “saí do governo há 14
anos e fui o nome mais citado das eleições 2016."
"Eu não subestimaria o governo do Crivella. Quem subestimou as
atitudes do bispo Macedo se deu mal", alertou Garotinho na entrevista
que concedeu à BBC Brasil.
O ex-deputado federal ressaltou o profissionalismo de Crivella e
associou o trabalho do prefeito eleito ao de seu tio e líder da Igreja
Universal Edir Macedo.
“O bispo (Macedo) botou sua igreja em mais de 100 países. Tem mais
seguidores fora do Brasil do que dentro. Vendia bilhetes (de loteria) e
hoje tem a segunda maior rede de televisão do país. Tem 100 emissoras de
rádio. Disse que ia construir uma réplica do Templo de Salomão e agora
vai fazer mais três. Na prefeitura, não deve ser diferente.”
Garotinho disse que deu uma “aula de PMDB” à Crivella antes do início
da campanha. E lembrou a conclusão uma conversa tida com Leonel
Brizola, há alguns anos, em Petrópolis: "O PMDB é como uma prostituta.
Dorme com tudo mundo, faz amor com todo mundo, mas não se apaixona por
ninguém".
O ex-governador acredita que a Universal passou por um processo de
refinamento, e que hoje chega à classe média, empresariado e formadores
de opinião. Para ele, houve um investimento no liberalismo econômico e
no pragmatismo por parte da Igreja para atingir esses novos públicos.
"A Universal de hoje não é mais aquela que chuta santa na TV", disse.
Garotinho é membro da Igreja Presbiteriana, e disse que “não faz
sentido” que Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro façam parte da bancada
evangélica da Câmara. “Quem torturou Cristo foi o poder da época. Então
ele não poderia jamais aceitar o apoio de Bolsonaro”.
O ex-deputado criticou a postura do atual prefieto, Eduardo Paes, ao
escolher Pedro Paulo para tentar a sucessão nas eleições deste ano.
"Paes perdeu pela soberba. Tem um versículo bíblico que diz que a
soberba precede a queda. Tanto é assim que ele escolheu um candidato
inviável. O povo perdoa um mau gestor, mas não perdoa quem bate em
mulher", disse, se referindo à denúncia de agressão feita pela ex-mulher
de Pedro Paulo, que foi arquivada no Supremo Tribunal Federal (STF).
Garotinho acredita que a acusação que pesou contra ele por formação
de quadrilha, em 2010, foi resultado do combate de seu governo ao
tráfico de drogas, que teria acarretado a prisão de líderes do Comando
Vermelho (CV), como Fernandinho Beira-Mar.
“Chegou um momento em que o CV estava acabado no Rio. E quem ocupa o
lugar de benfeitor do mal? Isso foi o surgimento da milícia. Por isso
insinuaram que eu tinha envolvimento com milícia: nunca tive, muito pelo
contrário."
Ao final da entrevista, o ex-governador insinuou fraude nas eleições
em Campos dos Goytacazes, onde o candidato de seu partido, Dr. Chicão,
perdeu o pleito à prefeitura.
“Ali tem fraude e a coisa não é pequena”, disse.