Macaco defende a sua prole
A DIPLOMACIA DOS IRRACIONAIS
Zezinho despertou com uma pancada na cabeça, levou a mão ao rosto , deparou-se um galo na testa e um fruto verde no chão , olhou para cima avistou dois Saguins a observá-lo.
Da fronde da mangueira carregada de brotos frutíferos, os dois animais queriam uma resposta . Quem sequestrara o seu filhote e qual a explicação de se encontrar deitado à sombra de um dos seus castelos, aquela suntuosa mangueira.
Fim de tarde, luz crepuscular , num lusco-fusco o sol iniciava o seu mergulho no horizonte, algumas crianças perambulavam à sombra da grande árvore. Num tumultuado burburinho todas opinavam o que fazer com uma pequena e estranha criatura que encontraram no tronco da mangueira, um animal de cabeça grande, olhos arredondados, pele felpuda , calda longa , garras afiadas e que mostrava sinal de vida.
Um dos adolescentes, quase adulto, colocou a pequena vida na palma da mão, era um filhote de Saguim que caíra devido as estripulias pertinentes às crianças de todas as espécies de animais.
Inseguro e sob a tutela dos humanos disparou grunhidos de temor e chiados de medo , pedia socorro, um dos Saguins observava atentamente o furdunço.
Balançou a cabeça, abriu os olhos e sumiu mata adentro após receber ordens do Saguim mais velho. Passado alguns minutos batalhões surgiram de todos os lados , o Saguim Alfa estrategicamente orientava os menores.
Sorrateiramente foram se aproximando, em grupo de quatro ocuparam a fronde da imperial árvore , apesar dos seus portes, as manobras, as atitudes , os olhares e os gritos dos guerreiros foram suficientes para mandar a primordial mensagem:
“Estamos aqui para resgatarmos um membro importante da família, estamos declarando um pacto de paz ou um grito de guerra, de vida ou morte, salvo , seja resolvido o impasse: o resgate do sequestrado sem pagamento , não tem dinheiro que pague uma vida, o preço é vida por vida, queremos diplomacia”
Esta foi a grande mensagem.
De olhos abertos, narinas acesas , garras afiadas e dentes à mostra todo o bando ficou à espreita aguardando um comando. O chefe tomou a dianteira , serenamente se posicionou, elevou a cabeça, encheu o peito de ar e estrategicamente hasteou a bandeira branca da paz. Num assobio ensurdecedor deu o comando para a sua tropa e um recado para os sequestradores, enviou as suas ordens e se aproximou do burburinho humano.
Zezinho chamou as crianças , olhou cara a cara para o Saguim chefe e também mostrou o lenço branco da paz. Levantou os braços num sinal de trégua e de respeito, em seguida abaixou-os compassadamente. Unindo as palmas das mãos em frente ao peito, de olhos fechados e abaixando a cabeça cumprimentou todo o grupo num gesto universal de paz e de concordância .
O comandante parou, balançou a cabeça, mirou o bando e todos ficaram a lhe observar, houve um silêncio sepulcral; neste momento Zezinho com a voz aveludada e gestos lentos ordenou que o filhote fosse colocado no tronco da centenária mangueira . Numa atitude de respeito e de privacidade os humanos se afastaram do frágil filhote.
Num salto mágico , de precisão cirurgica e veloz como um relâmpago o velho Saguim foi ao solo, colocou o filhote no pescoço, cheirou, fez um afago, olhou para os humanos e num cumprimento de respeito soltou um alto assobio e todo o bando, em altos gritos, sumiu em disparada mata à adentro em completa algazarra de alegria.
Foi o berro da
vitória, uma demonstração de diplomacia de causar inveja aos humanos. Sem sangue e com diálogo foi firmado um pacto de paz e de respeito.
Salvador, 02 de Março de 2015
Iderval Reginaldo Tenório
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