quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O SANGUIM E O PACTO DE PAZ.

                                                                               Entenda como os saguis aprendem a "falar"

                                                                                     Sagui-do-Murukundu, Sagui-de-Rabo-Branco: Características | Mundo Ecologia

Mulher saudação japonesa - Foto de stock de Adulto royalty-free

Macaco  defende a sua prole

A DIPLOMACIA DOS IRRACIONAIS

Zezinho despertou com uma  pancada na cabeça, levou a mão ao rosto , deparou-se um galo na testa e um fruto verde  no chão , olhou para cima  avistou dois Saguins a  observá-lo.   

Da fronde da  mangueira  carregada de brotos frutíferos,   os dois animais queriam uma resposta .  Quem sequestrara o seu filhote e  qual a explicação de se encontrar deitado à  sombra de um dos seus castelos, aquela suntuosa mangueira.

Fim de tarde,  luz  crepuscular   , num lusco-fusco   o sol   iniciava o seu mergulho no horizonte, algumas crianças perambulavam  à sombra da grande árvore.  Num tumultuado burburinho  todas  opinavam o que fazer com  uma pequena e  estranha criatura que encontraram no tronco da mangueira,  um animal     de cabeça grande, olhos arredondados, pele   felpuda , calda  longa , garras afiadas e que mostrava sinal de vida.


Um dos adolescentes, quase adulto,  colocou a pequena vida na palma da mão, era um filhote de Saguim  que caíra    devido as estripulias pertinentes  às crianças de todas as espécies  de animais.

Inseguro e sob a tutela dos humanos  disparou grunhidos   de temor e chiados de medo ,  pedia socorro, um dos Saguins observava atentamente o furdunço.

Balançou a cabeça, abriu os olhos e    sumiu mata adentro após  receber ordens do Saguim mais  velho.   Passado alguns minutos  batalhões  surgiram de todos os lados , o Saguim Alfa estrategicamente orientava os menores. 

Sorrateiramente  foram  se aproximando,  em grupo de quatro  ocuparam   a fronde da imperial  árvore , apesar dos seus portes, as  manobras, as atitudes ,  os olhares e  os gritos dos guerreiros foram suficientes para mandar a primordial mensagem:  

“Estamos aqui para resgatarmos um membro importante da família, estamos declarando um pacto de paz ou um grito de guerra,   de  vida ou morte,  salvo , seja resolvido o impasse: o resgate do sequestrado sem  pagamento , não tem dinheiro que pague uma vida, o preço é   vida por vida, queremos diplomacia”

 

Esta foi a grande mensagem. 

De olhos abertos, narinas acesas , garras afiadas e dentes à mostra  todo o bando ficou à espreita  aguardando um comando.  O chefe tomou a dianteira , serenamente se posicionou, elevou a cabeça, encheu o peito de ar  e estrategicamente    hasteou  a bandeira branca da paz.  Num assobio ensurdecedor deu o comando  para a sua tropa e um recado  para os sequestradores, enviou as suas ordens e se aproximou do burburinho humano. 

 Zezinho chamou as crianças , olhou cara a cara para o Saguim chefe e  também mostrou o lenço branco da paz. Levantou os braços num sinal de trégua e de respeito, em seguida abaixou-os compassadamente. Unindo as palmas das mãos  em frente ao peito, de olhos fechados e  abaixando a cabeça  cumprimentou todo o grupo num gesto universal  de paz e de concordância .

 O comandante parou, balançou a cabeça, mirou o bando e todos   ficaram a lhe observar, houve um silêncio sepulcral; neste momento Zezinho   com a voz aveludada    e gestos lentos  ordenou  que o filhote fosse colocado no tronco da centenária mangueira . Numa atitude de respeito e de privacidade os humanos  se   afastaram do frágil filhote.

Num salto mágico ,  de precisão cirurgica e  veloz como  um relâmpago o velho Saguim foi   ao solo, colocou o filhote no pescoço, cheirou,  fez um afago, olhou para os humanos e  num cumprimento de respeito  soltou um alto assobio e todo o bando, em altos gritos,  sumiu em disparada mata à adentro   em completa algazarra de alegria. 

Foi o berro da vitória, uma  demonstração de diplomacia de causar inveja aos humanos. Sem sangue  e com diálogo foi firmado um pacto de paz e de respeito.

 Salvador, 02 de Março de 2015

Iderval Reginaldo Tenório

 

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