Por que o Brasil é assim?
Aos estouros dos possantes bacamartes, canhões, mosquetões e carabinas, os guerreiros partiam à luta a defender a sua prole com tacapes, arcos e flechas. Sob a mistura de chumbos , pólvoras , flechas e muito sangue , a morte era iminente . As mulheres sequestradas nos desproporcionais embates passavam a ser as matrizes dos futuros caboclos brasileiros .
Expulsos do litoral, das terras férteis e dos pomares refugiavam-se nas brenhas , nos sertões, nas matas fechadas e nos cerrados para escaparem da morte originando uma raça em eterna posição de defesa, povos tribais, arredios à subserviência e a comandos externos .
Autóctones antes livres , nômades , donos de suas vidas, dos seus territórios , de convivência pacata e que tiravam os seus sustentos dos frutos da terra, dos rios e dos mares passavam a ser tachados de selvagens, canibais , brutos, sanguinários, traiçoeiros , loucos e perigosos .
Para os invasores do velho mundo, os selvícolas eram considerados irracionais, preguiçosos, sujos, ignorantes, mutáveis e indomáveis . Homens , mulheres e crianças andavam nus, como vieram ao mundo, dormiam em esteiras esparramadas ao chão ou em redes sob grandes Ocas sem divisórias . Não cobriam nem as suas vergonhas e viviam como animais irracionais .
Frutos da
raiva, dos desentendimentos , dos massacres , das carnificinas e das
emboscadas refazem-se um povo valente e arredio, um povo em eterna fase defensiva .
Sob chicotes, ferros, troncos , senzalas e trabalhos árduos por mais de 18 horas ininterruptas, a consumir a vida, os ancestrais africanos foram chegando e como máquinas, de eito, foram triturando matas, desbravando rios, produzindo riquezas e semeando robustos genes no novo mundo, frutos dos resistentes bagos e ovários da mama África.
Embalados no rufares dos tambores madrugadas adentro, danças , crendices, brigas , mortes e a mistura de povos de várias nações germinavam diferentes Brasis.
As torneadas negras levantavam as lindas saias rodadas, de cambraia de linho ou do grosso algodão, enquanto de soslaio os brancos fantasiosamente as admiravam . Enchiam os olhos com as suas ancas, peitos e a perfeição da cintura , acionavam as narinas e sentiam o cheiro do pecado nas profundezas cerebrais a ativar os hormônios da reprodução. Nariz antenado no odor vindo da região pudenda e dos feromônios, não resistiam , ali dava-se início a mais um brasileiro mestiço, parte Alentejo e parte Benin.
Brotava nas Américas a mais miscigenada nação do mundo, uma nação sem rumo e sem prumo. Nascia um povo com diversas raizes, muitas línguas e diferentes costumes . Foi assim que se forjou o Brasil, uma nação heterogenia.
Um povo com ancestralidade africana sofrida, indígenas maltratados e mesclado com exilados e degradados europeus. Povos em constantes conflitos, onde as principais finalidades era usufruir das suas riquezas e enviá-las ao além-mar , eliminar ou escravizar os donos da terra invadida, os ameríndios e explorar a força motora que construia a nação, os africanos, geralmente traficados de Moçambique, Congo , Angola, Nigéria, Guiné e Costa do Ouro que só viviam para trabalhar ou só tinham direito à vida se trabalhasse até a morte.
Assim nasceu o Brasil , uma nação plural , um povo de três cabeças: os deserdados , vilipendiados e tristonhos ameríndios, os chicoteados , explorados e revoltados africanos , os europeus de diversas vertentes comportamentais, nodatamente os exilados , os degradados e os malvados mercenários caçadores de autóctones, os bandeirantes.
Assim nasceu o Brasil, esta frondosa e enxertada árvore quinhetista que produz diversos tipos de frutos e alberga diferentes tipos de vidas.
É uma nação que, apesar da miscigenação formando um só povo, continua sendo heterogenia, assim nasceu o Brasil.
Iderval Reginaldo Tenório
2 comentários:
E viva o povo brasileiro. Ah se esse povo soubesse um pouquinho desses sua origem,talvez seria um Brasil,melhor?
Muito excelente Doutor Iderval Tenório e uma enciclopédia de conhecimento
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