Em 1910 o senador RUY BARBOSA , grande baiano,
lançou a sua candidatura à Presidência
da Republica e foi derrotado pelo seu opositor , o gaúcho de SÃO GABRIEL , marechal
HERMES RODRIGUES DA FONSECA,
filho de um alagoano , o marechal HERMES
ERNESTO DA FONSECA.
Em plena campanha,
em 1909, no púlpito do senado, num discurso inflamado sobre o voto do
analfabeto, o RUY falou que o roceiro, o homem do campo vivia no ócio, com a mão debaixo do
queixo e o seu voto não tinha o mesmo peso do homem alfabetizado, era um
voto de cabresto .
O voto do
capiau era o voto do -patrão, do coronel do café com leite e da cana de açúcar, era o voto do medo
e da subserviência .
CATULO DA
PAIXÃO CEARENSE,seu amigo do peito , vendo
o seu candidato numa atitude politicamente incorreta, enviou uma carta ao grande senador,
intitulada :
"A RESPOSTA DO JECA" .
Não deu
outra , na abertura das urnas, o RUY perdeu a eleição para o HERMES DA FONSECA.
A RESPOSTA DO JECA.
Seu dotô,
venho dos brêdo,
Só pra mode
arrespondê
Toda aquela
fardunçage
Qui vancê foi
inscrevê!
Num teje vancê
jurgano
Qui eu SEJE
argum cangussú!
Num sô não,
Seu Conseiêro.
Sô norte, sô
violêro
e vivo
naquelas mata,
como veve um
sanhaçu!
Vassucê já mi
cunhece:
Eu sô o Jeca
Tatu!
Cum tôda essa
má piáge,
Vassucê, Seu
Senadô,
Nunca, um dia,
se alembrô,
Qui, lá
naquelas parage,
A gente morre
de fome
E de sêde, sin
sinhô!
Vassuncê só
abre o bico,
Pra cantá,
como um cancão,
Quano qué fazê
seu ninho,
Nos gáio duma
inleição!
.
.
Priguiçôso?
Madracêro?
Não sinhô, Seu
Conseiêro!
É pruquê vancê
nun sabe
O qui seja um
boiadêro
Criá cum tanto
cuidado,
Cum amô e
aligria,
Umas cabeça de
gado...
E, dipôis, a
impidimia
In mêno de
quato dia!...
Levá tudo, como diabo,
Levá tudo, como diabo,
É pruquê vancê
nun sabe
O trabáio
disgraçado
Qui um home
tem, Seu Dotô,
Pra incoivará
um roçado...
E quano o ôro
do mío
Vai ficano
inbunecado,
Pra intoce,
nois coiê,
O mío morre de
sêde,
Pulo só
isturricado,
E FICA ASSIM
SEQUINHO,
Sequinho, QUINEM
vancê!
É pruquê vancê
nun sabe
O quanto é
duro, um pai sofrê,
Veno seu fio
crescendo,
Dizeno sempre:
Papai, vem mi
insiná o ABC!
Si eu subesse,
meu sinhô,
Inscrevê, lê e
contá,
Intonce, sim,
eu havéra
Di sabê como
assuntá!
Tarvêis vancê
nun dexasse
O sertanejo
morrendo,
Mais pió qui
um animá!
Eu trabáio o
ano intero,
Somente quando
Deus qué!
Eu vivo, no
meu roçado,
Mi isfarfando,
como um burro,
Pra sustentá
oito fio,
Minha mãe,
minha muié!
Minha muié tá
morrendo,
Só pru farta
de mezinha!
E pru farta de
um dotô!
Minha fia, qui
é bunita,
Bunita, como
uma frô,
Seu Dotô, nun
sabe lê!
E o Juquinha,
qui inda tá
Cherano mêmo a
cuêro,
E já puntêia
uma viola...
Si entrasse pruma iscola,
Sabia mais que
vancê!
!
Vassuncê é um
Senadô,
É um
Conseiêro, é um Dotô,
É mais do qui
um Imperadô,
É o mais
grande cirdadão,
Mais, porém,
eu lhi agaranto,
Qui nada disso
siría,
Naquelas terras
bravia,
DO MEU QUERIDO
Sertão.
Eu sei que sô
um animá,
Eu nem sei
mêmo o que eu sô.
Mais, porém,
eu lhe agaranto
Qui o qui
vancê já falô,
E o qui ainda
tem de falá,
O qui ainda
tem de inscrevê,
Todo, todo o
seu sabê,
E toda a sua
saranha...
Não vale uma
palavrinha,
Daquelas coisa
bunita,
Qui Jesuis,
numa tardinha,
Disse, inriba
da montanha!...
Catulo da Paixão Cearense
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