OLHEM OS GRÁFICOS MAIS NOVOS.
O título atribuído ao Brasil de “maior consumidor de agrotóxicos do
mundo” é motivo de discordância entre grupos favoráveis e contrários à
flexibilização da legislação sobre os químicos. A reportagem reuniu e
analisou os principais levantamentos sobre o assunto para entender se há
como bater martelo sobre a posição brasileira no uso de agrotóxicos
mundial.
O principal dado sobre uso de agrotóxicos é o da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na
sigla em inglês) feito pela consultoria de mercado Phillips McDougall. O
trabalho é utilizado como referência tanto pelas indústrias do setor
agroquímico, quanto por especialistas da área e ambientalistas.
O
relatório compara o valor investido em pesticidas nos 20 maiores
mercados globais em 2013 e atribui três rankings sob diferentes
perspectivas: em números absolutos, número por área cultivada e por
volume de produção agrícola.
O segundo ranking divide os gastos totais pela área cultivada,
ou seja, o quanto é investido em agrotóxico por hectare plantado. Na
lista o Brasil fica em sétimo lugar, com US$ 137 por hectare. Atrás de
Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
Para
isso, são divididos os gastos absolutos pelas toneladas de alimento
produzidos. O Brasil é o 13º da lista (US$ 9 por tonelada), que mais uma
vez é liderada por Japão e Coreia do Sul.
O informe anual sobre a
produção de commodities da FAO, divulgado em setembro do ano passado,
mostrou que o Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo.
Segundo o levantamento, no ano de 2016, o país era responsável por 5,7%
da produção agrícola do planeta, abaixo apenas dos Estados Unidos, com
11%, e da União Europeia, com 41%.
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Os dados brutos do levantamento podem ser conferidos em inglês no site da Consultoria Phillips Mcdougall.O
professor de Agroecologia do Instituto de Estudos Socioambientais da
Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) Adriano Rodrigues chama de
“disputa de narrativa” a discussão em relação aos dados divulgados pela
FAO.
“É justamente sobre a correlação da área produtiva coberta e
do volume de agrotóxicos. Somos o país que mais utiliza veneno no mundo.
Porém, efetivamente, quando você considera a quantidade de hectares de
área plantada no Brasil, que é muito grande, essa correlação nos faz
cair no ranking”, pontua.
Já a pesquisadora Larissa Mies Bombardi,
professora da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo,
questiona o cálculo feito no Ranking da FAO sobre uso de pesticida por
hectare. Para ela, o dado que coloca o Brasil na sétima posição não
reflete a realidade. “Quando se divide o consumo de agrotóxico
brasileiro pela área plantada você dilui esse volume gigantesco.
São
considerados área cultivada regiões como de pasto, que são terras
improdutivas. Essa conta faz com que o Brasil fique lá embaixo no
ranking”, explica.
Larissa é autora de um dos principais trabalhos
brasileiros recentes sobre o nosso consumo de pesticidas é o Atlas
Geográfico do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União
Europeia. O livro, publicado em 2017, traz levantamento de dados inédito
sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil (todos com fontes oficiais) e
faz um paralelo com o que acontece na União Europeia.
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