Conheça o curso que ensina mulheres a arranjarem maridos ricos
Escola de Elite: fizemos o curso que ensina mulheres a entrarem na alta sociedade e arranjarem maridos ricos
Lições dão dicas de estilo, de networking e etiqueta
Eu saboreava uma pizza gordurosa enquanto via, pela tela do celular, um
vídeo com uma loura sueca de lábios cheios de preenchimento falar sobre
comida. A moça discorria sobre fartura, sobre como o alimento vem num
estalar de dedos (eu, inclusive, pedi o meu por um aplicativo) e sobre o
quanto tudo é diferente daquele tempo em que o ser humano saía para
caçar. Ficamos viciados em comer, ela dizia. Até aí, um bom panorama
sobre a classe média ocidental contemporânea. Mas, em seguida, a sueca
começa a falar sobre a necessidade de comermos pequenas porções, contar
calorias e até fazer jejum em períodos pré-determinados porque...
“mulher fora de forma não entra no
high society
nem consegue engatar um relacionamento com um homem rico.”
Estamos falando das lições on-line
da
Escola de Elite
, criada por
Anna Bey
, a loura sueca, e importada para o Brasil por
Jennifer Lobo
. Ambas se definem como
sugar babies
, apelido que se dá a mulheres dispostas a conhecerem homens ricos
capazes de bancar uma vida sofisticada. Eu passei um bom tempo das
últimas semanas (algo em torno de nove horas) vendo Anna dar dicas de
beleza, etiqueta e
networking
com o objetivo de descobrir que tipo de mensagem se passa num curso cujo
objetivo final é transformar mulheres “normais” em “deusas” da alta
sociedade.
“A Escola ensina a ter autoconhecimento para criar metas e a dar os
passos necessários para ser a melhor versão de si mesma”, diz Jennifer,
de 32 anos, que estava de férias na Espanha, no dia em que conversamos
por telefone.
Nascida em Winter Park, na Flórida, alguns anos depois de seus pais
saírem de São Paulo, Jennifer se mudou para Nova York aos 17 anos e lá
começou a trabalhar com publicidade; aos 25, resolveu se mudar de mala e
cuia para o Rio. Na bagagem, trouxe uma ideia: criar um site de
relacionamentos
sugar
, algo bastante comum nos EUA. Nesse tipo de relação, um homem ou mulher mais velha e bem-sucedida (conhecidos como
sugar daddy ou mommy
) se une a uma (ou um) jovem (
sugar baby
), que dividirá com eles as benesses de uma vida endinheirada, mas não a conta do restaurante três estrelas Michelin.
Criado há quatro anos, o site Meu Patrocínio reúne mais de dois milhões
de usuários, que também podem estar dispostos a terem relações
homoafetivas. Com a rede funcionando a todo vapor, Jennifer resolveu
expandir os negócios e colocou no ar a Escola de Elite quando conheceu a
sueca Anna Bey, dona da School of Affluence(o nome original do
workshop
) e expert em
high society
. “Comecei uma amizade com a Anna e vi a oportunidade de trazer a escola para o Brasil.”
Voltando ao curso: acompanhei Anna (é ela que dá todas as aulas,
Jennifer apenas administra o negócio) por sete módulos, divididos numa
média de cinco lições cada. Os vídeos têm legenda em português, e o
material didático (sim, há tarefas a serem feitas e listas com regras a
serem estudadas) também é traduzido. Para contar essa história, pagamos
R$ 499.
De março, quando a Escola de Elite entrou no ar, até agora, já houve 350
inscrições. Uma delas foi a da advogada Fernanda Rizzi, de São Paulo,
já cadastrada no Meu Patrocínio e que sai com um
sugar daddy
há sete meses (detalhe: ele é casado e está ciente de que, se ela
arranjar um solteiro que a mime, estará fora do jogo). “O curso foi uma
boa reciclagem para aperfeiçoar o que já vivo”, diz Fernanda, de 38
anos, mãe de uma menina de 13 anos e outra de 17, frutos de um casamento
anterior.
Entre os pontos preferidos de Fernanda no curso estão as recomendações
sobre estilo. Acredite, há um módulo todo voltado à melhor forma de se
vestir e de se maquiar para que a alta sociedade ache que você tem uma
elegância nata. “Recomendo para garotas mais novas que usam roupas
vulgares. Se você tem o objetivo de conquistar alguém, não dá para ser
assim”, diz a aluna.
Mas não é só de aparências que vive a alpinista social — termo que ouvi
da própria Anna nos vídeos. “As meninas acham que é só arrumar o cabelo,
se maquiar, colocar uma roupa legal”, diz a professora sueca, enquanto
eu penso na enorme transformação no visual que teria de fazer, caso
levasse à risca o que ela prega. “Só que você precisa de mais”, ela
reforça. Esse “mais” tem a ver com estabelecer uma rede de contatos, nem
que, para isso, vá a um restaurante no meio da tarde à espera de que um
executivo, depois de um almoço de negócios, resolva bater papo com
você. Ou, quem sabe, ajudar ONGs, porque “a classe alta doa para
caridade, e você também pode se envolver para colocar os pés nos
círculos mais fechados.”
Ciente de que muitos de seus conselhos vão de encontro às lutas feministas, Anna Bey tenta, em determinados momentos, fazer um
mea culpa
: “É um pouco injusto como a sociedade olha para as mulheres. Sempre
temos que lutar para não sermos vistas como descartáveis ou estúpidas.
Mas infelizmente é assim no momento e temos que trabalhar para validar o
nosso QI”. Mas isso não faz com que muitas pessoas deixem de rotular
Fernanda, Jennifer e demais
sugar babies
espalhadas por diversos sites (o Universo Sugar é outra grande rede, com
700 mil perfis ativos, sendo 36 mil deles no Rio) como garotas de
programa. “O que há de errado em uma mulher querer estar com um homem
com qualidades que fizeram dele bem-sucedido?”, questiona Jennifer. “Não
falamos que a mulher não pode trabalhar, por exemplo.
No Brasil, ninguém gosta de conversar sobre dinheiro. Quem fala é
tachada de interesseira. Você pode ter amor e estabilidade financeira ao
mesmo tempo. Não é preciso ter um ou outro.”
“Como nos relacionamentos
sugar
, o
daddy
ou a
mommy
recebe a atenção e o carinho da
baby,
que
ganha cuidado financeiro, as pessoas tendem a comparar com
prostituição”, diz o psicólogo Claudio Paixão, professor da UFMG. “Mas
qual relacionamento humano que não é baseado em interesses? Tudo é uma
troca. A semelhança entre as duas coisas é que ninguém entra enganado.”
Fica a dica.
Regras do jogo
Que ano é hoje?
Num momento em que o empoderamento feminino é uma luta crescente e
urgente, Anna Bey, criadora da Escola de Elite, fala coisas do tipo:
“Sei que algumas mulheres têm boa aparência, mas não sabem se comportar,
então passam vergonha” e “os homens gostam de mulheres com boas
maneiras porque sabem que elas nunca vão constrangê-los.”
O pecado da gula
Enquanto o movimento
body positive
cresce a passos largos ao falar sobre
a necessidade de amar o corpo como ele é e rechaçar padrões, a sueca dá a
dica, sem pensar no fato de que, segundo pesquisas, mais de 90% dos
casos de anorexia no mundo aparecem em mulheres: “Ser magra, estar com o
corpo em dia é uma necessidade na alta sociedade.”
Quem passa do ponto perde a carona
Bebeu uns vinhos (cerveja nem está no cardápio dos ricos) a mais numa
festa? Você será julgada. “Mulheres elegantes não ficam bêbadas em
eventos sociais. Mulheres elegantes não ficam bêbadas nunca. Conheça
seus limites”, diz Anna.
Elementar, minha cara baby
“Como ele se comporta quando o assunto é dinheiro?”. Anna pede para você
investigar isso, tendo em mente que jamais deve se oferecer para
dividir uma conta. “Sinto que é masculinizar.”
Nem lá, nem cá
Saia curta? Não. Blusa muito fechada? Também não. “Se vestir de forma
sensata é muito importante num primeiro encontro”, diz Anna, que, apesar
do armário abarrotado, sempre usava o mesmo tubinho preto nessas
ocasiões (hoje, ela tem seu daddy e não precisa mais da peça). “Não era
muito provocante, mas era feminino o suficiente. Era minha estratégia
infalível, e ninguém reclamou.”
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