PAI DAMBIRA , O SERTÃO E O DAMBIRINHA
A vida de um homem nordestino e os seus entraves sociais, é a Chapada do Araripe um reduto inesquecível desta nação.
I
O DIA AMANHECE
___Acorda diabo, vai pegar os animá, pois é grande a muntureira de terra prá carregar.
Zé de Nana, o Dambirinha, continua deitado coberto dos pés à cabeça, Pai Dambira abre a janela , entra um vento frio encanado e chamuscado por minúsculas gotículas d´agua devido o marejo do tempo e da madrugada, é assim no sertão, durante o dia o calor é causticante e à noite o frio é de quebrar os dentes , isso devido a baixa umidade do ar e o solo pobre em água para reter o calor emanado do sol durante o dia, à noite a pouca umidade transforma-se em água e precipita-se sob e sobre as folhas da relva , da babuja e dos cactus, a gasosa água durante a madrugada num processo de liquefação é convertida em orvalho.
Pai Dambira repica o chamado com mais fervor.
___Acorda preguiçoso, passarim qui num deve a ninguém já tá di pé e tu ainda drome diabo, no meu tempo pai só falava uma veis.
Desta vez , energicamente, balança o punho da rede do lado que está virado a cabeça de Zé de Nana, com o aumento do tom da voz, o encanado vento frio, a neblina e a claridade, Zé de Nana não teve outra opção, resmungando como sempre , levanta-se esbravejando.
__Pai, cuma pode o sinhor ser tão acaba prazer desse jeito, cuma pode , os animá eu arreuno dipressa pai, os home só chega lá prás sete hora e pra qui diabo se alevantar quage dinoite pai, quage dinoite, pra que? só são quato animá.
Nesta hora Pai Dambira já de pé , numa bacia esmaltada e com um pouco d'agua barrenta lava o rosto, toma uma xícara de café preto, coloca a faca e o facão colino na cintura, bota o chapéu de palha poído na branca cabeça e fala num tom suave e paternal com o filho.
___O café tá pronto, deixei duas tapióca, um taco de queijo e um restim de leite , bote a butina, um capote grosso e não esqueça do chapéu, ispii pru chão com coidado prumodi as cobra e leve os animá para os barreros, nóis já está lá a lhe esperá, num demore e vorte logo , os animá deve está pu perto.
No sertão os animais no fim da lida, após 12 horas de trabalho, são soltos para pastar e logo ao amanhecer são recolhidos para mais um dia de labuta, eles sendo conhecedores desta rotina, espontanemente se aproximam da casa do capiau, cada animal como gente tem o seu nome, um apelido.
II
NO TRABALHO
Pai Dambira munido de uma cabaça cheia d'agua, um borná com poucos mantimentos para o bucho, uma banda de cabaça serrada ao meio para servi de copo e uma espigarda soca-soca vai até o barreiro , só ele e o descampado, nenhum funcionário, levanta a cabeça , coloca o chapéu de couro sobre as vistas num ato de proteção contra o sol e resmungar pra si, ato comum ao povo nordestino .
___Renca de vagabundo, penca de preguiçosos, mangote de moleques , antro de cabras safados e muntueira de sem vergonhas, pra cumê é um leão, prá trabaiá nos impurrão, o céu é pequeno, mas o inferno é grande e cabe todos eles, antro de preguiçoso, num vale o que o gato interra.
Com este pensamento queria entregar a Deus este infortúnio sabendo que quem engorda o boi são os olhos do dono, os outros quer apenas receber o seu muitas vezes sem merecê, o velho olha para o céu, as nuvens carregadas e acinzentadas prestes a desaparecerem , o sol brilhante com os seus raios a reverberar a descampada caatinga aponta para mais um dia de labuta, as gotas de orvalhos com o nascer do sol sofrem o processo de vaporização e ganham vagarosamente o espaço .
Os anuns a tomar sol nas cabeças das estacas, os fru-frus das rolinhas a encherem os espaços com os seus bate asas contribuem para mais um espetáculo natural do sertão, aos poucos os pequenos pássaros enchem o amanhecer, Pai Dambira, sem paciência e em desespero fica a espera dos ajudantes, atrasado para a labuta, com vestimenta domingueira e cabresto na mão chega o primeiro , o Zé Passarim.
___Dia seu Pai Dambira.
__Dia seu Passarim, qui diabo acunteceu qui os home ainda num chegaro? esse antro de nada faiz!?.
__Seu Pai Dambira , hoje é dumingo e vim aqui foi pegá as minhas butinas preu ir na feira cumprá mantimentos e trocar umas palavra cum o sinhô, incrusive eu inté ia falá cum o sinhô preu ir com um dos animá, o jeguim mais menó, o quim-quim.
Pai Dambira na bucha , enérgico e surpreso responde.
__Homi seja mais cunsciente com os bichim, cumo é qui eles trabaia de segunda a sabo carregando terra nas costas e no seu dia de furga tu qué qui eles carregue um condenado preguiçoso como tu até a vila? deixe de tanta safadeza e vá a pé pra vê o qui é bom pra tosse, preguiçoso.
__Entonce o sinhô vai brigá cum o Pé de Bomba, pois o burro Estrelado já passou pru eu cum ele escanchado no mei e a muié na garupa, a esta artura já está inriba da Serra bem perto da vila.
Neste momento chega o Dambirinha, assustado, gaguejando fala para o pai em desespero.
__Pai arguém robou o meu burro Estrelado, o mió dos quato animá, ou a cobra matou o bichim ou o danado fugiu de tanto trabaiá.
Zé Passarim olha para o velho e para o Dambirinha , diz em tom de respeito e medo.
__Dambirinha, hoje é dumingo , é dia de descanso dado por Deus, ninhum home pode tirá esse dia do trabaiadô, só si dé dois im troca, o burrim Estrelado tá cum Pé de Bomba, drumiu no seu terreiro pra cedim arribá pra vila, ocê sabe que ele só é manso cum ocê, cum os outo ele é um animá veaco, o burrim cunhece o dono e sabe conde é dumingo, o bicho é sabido qui nem minino.
Pai Dambira cuidadoso e com a pecha que só sabe trabalhar e cuidar dos outros explana sacerdotalmente para os dois, porém olhando para o seu filho como a lhe mandar um importante recado.
__Dambirinha prum home cunsciente não inziste dia pru trabaio, todo dia é dia de trabaio meu fie, todo dia o home come, todo dia ele brinca, corre, discome e pru que num trabaia ? tem qui trabaiá, agora os animá qui é insplorado pur nóis e só ganha o enche bucho, só o dicumê, esses sim tem dereito a um dia de discanso, pois pega munto peso nas costas, ispii o qui fez o Pé de Bomba meu fie, um sujeito desse num tem coração, é um disumano, é um home marvado, feiz duas coisas qui home num faiz, pegar o dos ôtos sem pedir e botar um animá pra trabaiá em dia de descanso .
Meu fie o céu é pequeno e a porta é estreita, porém o inferno é grande e a porta é laiga, cabe todos os priguiçoso e todos os marvados aqui da terra, tem mais, o espeto do home de lá , o espeto do quem-quem é de três pontas, a do mei tem um anzó na ponta cuma se fosse uma cruz, um bracim arriado pra trás, é faci di entrar, mais pra saí é um arranca taco, um arranca tampo de gente.
III
É DOMINGO
Pai Dambira não libera o jeguinho Quim-Quim para o Zé Passarim, junta as ferramentas , os demais utensílios e joga debaixo de uma lona grossa, coloca as mãos na cabeça da criança e diz:
___ É meu fie Dambirinha, vamos apruveitar que é dumingo e vamos cortar lenha até mei dia , dispois nóis vai pra casa di mãe alenvantar a meia parede qui caiu nas chuvas e nos ventos da sumana passada.
Zé de nana , o Dambirinha, esboça um sorriso , olha para o velho pai e fala baixinho, embutido como um ventríloco, só para si cheio de orgulho.
__Conde eu crescer quero ser iguá a pai, home bom, trabaiadô, gosta de vó, de mãe, de todo mundo e sustenta toda a sua famia com o suó do seu propri rosto e ainda potrege as prantas e os animá, pai num tem instudo , é sabido de todo, aprendeu com os mais véi , cum os aniumá, cum as prantas e cum o mundo, pai é um home bom, é um home respeitado.
Os dois saíram de vereda acima, cortam um galho aqui, outro ali, um tronco acolá e vão fazendo feixes, um grande e um pequeno, o menor com galhos finos para não forçar a coluna do menino Dambirinha.
__Este tronco é pru meu feixe, este galhinho aí é pru seu, basta apenas mais cinco tronco prumode terminá, outra coisa, já é quage deis hora, pegue no meu borná um taco de carne e coma com farinha, dispois adoçe a boca com rapadura que truche procê, sente no aceiro da instrada e coma inquanto eu arremedo este arame. Meu fie as coisas boas não param de trabaiá, as coisas ispiciá num para, as coisa celestiá num se cansa, nem o só, nem o má, nem o vento e nem o nosso coração para, só os priguiçoso recrama qui tá cansado, só os priguiçoso, se avexe qui mãe tá perparando o armoço.
Era assim a vida daquele homem simples que só pensava no bem e para o bem, orgulho maior de sua cria. Pai Dambira , aquele homem simples, era o maior orgulho dos Dambiras, pricipalmente do Dambirinha.
Iderval Reginaldo Tenório
ESCUTEM O MAIOR PARCEIRO DE LUIZ GONZAGA JOÃO SILVA EM VIVA O PEU PADIM E NEM SE DESPEDIU DE MIM
Luiz Gonzaga e Benito di Paula - Viva meu padim (João Silva, Luiz ...
https://www.youtube.com/watch?v=nBgyB6Jb2_Y
20 de mai de 2011 - Vídeo enviado por vitrolanoberro
Luiz Gonzaga - Disco "Forró de cabo a rabo" (1986) "Viva meu padim". Participação: Benito di Paula.Viva Meu Padim - Luiz Gonzaga, Part. Benito di Paula (LP RCA 1986 ...
https://www.youtube.com/watch?v=coOAj1u8hLY
1 de dez de 2016 - Vídeo enviado por Ezequias Júnior
Composição: Luiz Gonzaga e João Silva Lp Gonzagão Forró de cabo a ... do horto Ele está vivo O padre não ...Nem se despediu de mim - Luiz Gonzaga - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=Vv7CeUGj0Nk
2 de set de 2009 - Vídeo enviado por Musicas200
Nem Se Despediu de Mim Luíz Gonzaga Composição: Luiz Gonzaga - João Silva Nem se despediu de ...Nem Se Despediu de Mim - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=WcayIhytcaE
18 de mar de 2012 - Vídeo enviado por apfrezende G
Música Nem Se Despediu de Mim com Luiz Gonzaga."Nem se despediu de mim" - Luiz Gonzaga - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=1km8hkOHKI4
29 de out de 2011 - Vídeo enviado por Fernanda Brito
VII Semana Literária - Colégio Oásis de Jacobina. Homenagem à Luiz Gonzaga - Rei do Baião. Fernanda ...Nem se despediu de mim - Luiz Gonzaga - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=9Puv3Q3ozXA
15 de out de 2010 - Vídeo enviado por Carlos Dantheias
nem se despediu de min...A VOLTA DA ASA BRANCA - LUIZ GONZAGA - YouTube
https://www.youtube.com/watch?v=zxakklYlbI8
23 de jan de 2013 - Vídeo enviado por M@rcelo Bissi 84
A volta do asa branca Luiz Gonzaga Já faz três noites Que pro norte relampeia A asa branca Ouvindo o ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário