quinta-feira, 17 de agosto de 2017

PAI DAMBIRA , O SERTÃO E O DAMBIRINHA

                              
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 PAI DAMBIRA  , O SERTÃO  E O DAMBIRINHA

A vida de um homem nordestino e os seus entraves sociais, é a Chapada do Araripe um reduto inesquecível desta nação.

 I 
  O DIA AMANHECE 


___Acorda  diabo, vai pegar os animá, pois é grande a muntureira de terra prá carregar.

Zé de Nana, o Dambirinha,  continua deitado coberto dos pés à cabeça, Pai Dambira abre a janela , entra um vento frio encanado  e chamuscado por minúsculas gotículas d´agua devido o marejo do tempo e da madrugada, é assim no sertão, durante o  dia o calor é causticante e à noite o frio é de quebrar os dentes , isso devido a baixa umidade do ar e o solo pobre em água para reter o calor emanado do sol durante o dia, à noite a pouca umidade  transforma-se  em água e   precipita-se  sob e sobre as folhas da relva , da babuja  e dos cactus, a gasosa água durante a madrugada num processo de liquefação  é convertida    em  orvalho.

Pai Dambira repica o chamado com mais fervor.

___Acorda preguiçoso, passarim qui num deve a ninguém já tá di pé e tu ainda drome diabo, no meu tempo pai  só falava uma veis. 

 Desta vez , energicamente,  balança o punho da rede do lado que está virado a cabeça de Zé de Nana, com o aumento do tom da voz, o encanado vento frio, a neblina e a claridade,  Zé de Nana não teve outra opção, resmungando como sempre ,  levanta-se esbravejando. 

__Pai,  cuma pode o sinhor ser tão acaba prazer desse jeito, cuma pode , os animá eu arreuno dipressa pai, os home só chega lá prás sete hora e pra qui diabo se alevantar quage dinoite pai, quage dinoite, pra que? só são quato animá. 

Nesta hora  Pai Dambira já de pé , numa bacia esmaltada   e com um pouco d'agua barrenta lava o rosto, toma uma xícara de café preto, coloca a faca e o facão colino  na cintura, bota  o chapéu de palha poído na branca cabeça  e fala num tom suave e paternal  com o filho.

___O café tá pronto, deixei duas tapióca, um taco de queijo e  um restim de leite , bote a butina, um capote grosso e não esqueça do chapéu, ispii pru chão com coidado prumodi as cobra e leve os animá para os barreros, nóis já está lá a lhe esperá, num demore e vorte logo , os animá deve está pu perto. 

No sertão os animais  no fim da lida, após 12 horas de trabalho,   são soltos para pastar e logo ao amanhecer são recolhidos para mais um dia de labuta, eles sendo conhecedores desta rotina, espontanemente  se aproximam da casa do capiau, cada animal  como gente  tem o seu nome, um apelido. 


                                                                         II
                                      NO TRABALHO

Pai Dambira  munido de uma cabaça cheia d'agua, um borná com poucos mantimentos para o bucho,  uma banda de cabaça serrada ao meio para servi de copo e uma espigarda soca-soca   vai até o barreiro , só ele e o descampado,  nenhum funcionário, levanta a cabeça , coloca o chapéu de couro sobre as vistas num ato de proteção contra o sol  e resmungar pra si, ato comum ao povo nordestino .

___Renca de vagabundo, penca de preguiçosos, mangote  de moleques , antro de cabras safados e muntueira de sem vergonhas, pra cumê é um leão, prá trabaiá nos impurrão, o céu é pequeno,  mas o inferno é grande e cabe todos eles, antro de preguiçoso, num vale o que o gato interra.

Com este pensamento queria entregar a Deus este infortúnio  sabendo que  quem engorda o boi  são os olhos do dono,  os outros quer apenas receber o seu  muitas vezes sem merecê, o velho olha para o céu, as nuvens carregadas e acinzentadas prestes a desaparecerem  ,  o sol brilhante com os seus raios a reverberar a descampada caatinga aponta para mais um dia de labuta, as gotas de orvalhos   com o nascer do sol sofrem o processo de  vaporização e ganham vagarosamente o espaço .   

Os anuns a tomar sol nas cabeças das estacas,  os fru-frus das rolinhas a encherem os espaços com os seus bate asas contribuem para mais um espetáculo natural  do sertão, aos poucos os  pequenos pássaros enchem o amanhecer, Pai Dambira, sem paciência e em desespero fica a espera dos ajudantes,   atrasado para a labuta, com vestimenta domingueira e cabresto na mão  chega o primeiro , o Zé Passarim.

___Dia seu Pai Dambira.

__Dia seu Passarim, qui diabo acunteceu qui os home ainda num chegaro? esse antro de nada faiz!?.

__Seu Pai Dambira , hoje é dumingo e vim aqui foi pegá as minhas butinas preu ir  na feira cumprá mantimentos e trocar umas palavra cum o sinhô, incrusive eu inté ia falá cum o sinhô preu ir com um dos animá, o jeguim mais menó, o quim-quim.

Pai Dambira na bucha , enérgico e  surpreso responde.

__Homi seja mais cunsciente com os bichim, cumo é qui eles trabaia de segunda a sabo carregando  terra nas costas e no seu dia de furga tu qué qui eles carregue um condenado preguiçoso como tu até a vila? deixe de tanta safadeza e vá a pé pra vê o qui é bom pra tosse, preguiçoso.

__Entonce o sinhô vai brigá cum o Pé de Bomba, pois o burro Estrelado  já passou pru eu cum ele escanchado no mei  e a muié na garupa, a esta artura já está inriba da Serra bem perto da vila.

Neste momento chega  o Dambirinha, assustado, gaguejando  fala para o pai em desespero.

__Pai arguém robou o meu burro Estrelado, o mió dos quato animá, ou a cobra matou o bichim ou o danado fugiu de tanto trabaiá.

Zé Passarim olha para o velho e para o Dambirinha , diz em tom de respeito e medo.

__Dambirinha, hoje é dumingo , é dia de descanso dado por Deus, ninhum home pode tirá esse dia do trabaiadô, só si dé dois im troca, o burrim Estrelado tá cum Pé de Bomba, drumiu no seu terreiro pra cedim arribá pra vila, ocê sabe que ele só é manso cum ocê, cum os outo ele é um animá veaco, o burrim cunhece o dono e sabe conde é dumingo, o bicho é sabido qui nem minino.

Pai Dambira cuidadoso e com a pecha que só sabe trabalhar e cuidar dos outros explana sacerdotalmente para os dois, porém olhando para o seu filho como a lhe mandar um importante recado. 

__Dambirinha prum home cunsciente não inziste dia pru trabaio, todo dia é dia de trabaio meu fie, todo dia o home come, todo dia ele brinca, corre,   discome e pru que num trabaia ? tem qui trabaiá, agora os animá qui é insplorado pur nóis e só ganha o enche bucho, só o dicumê, esses sim  tem dereito a um dia de discanso, pois pega munto peso nas costas, ispii o qui fez o Pé de Bomba meu fie, um sujeito desse num tem coração, é um disumano, é um home marvado, feiz duas coisas qui home num faiz, pegar o dos ôtos sem pedir e botar um animá pra trabaiá em dia de descanso . 

Meu fie o céu é pequeno e a porta é estreita, porém o inferno é  grande e a porta é laiga, cabe todos os priguiçoso e todos os marvados aqui da terra, tem mais, o espeto do home de lá , o espeto do quem-quem é de três pontas, a do mei tem um anzó na ponta cuma se fosse uma cruz, um bracim arriado pra trás, é faci di entrar,  mais pra saí é um arranca taco, um arranca tampo de gente.

                                                III
                                       É DOMINGO

Pai Dambira não libera o jeguinho Quim-Quim para o Zé Passarim, junta  as ferramentas , os demais utensílios e joga debaixo de uma lona grossa, coloca as mãos na cabeça  da criança e diz:

___ É meu fie Dambirinha, vamos apruveitar que é dumingo e vamos cortar lenha até  mei dia , dispois nóis vai pra casa di mãe alenvantar a meia parede  qui caiu nas chuvas e nos ventos da sumana passada.

Zé de nana , o Dambirinha, esboça um sorriso , olha para o velho pai e fala baixinho, embutido como um ventríloco, só para si cheio de orgulho.

__Conde  eu crescer quero ser iguá a pai, home bom, trabaiadô, gosta de vó, de mãe, de todo mundo  e sustenta toda a sua famia com o suó do seu propri rosto e ainda  potrege as prantas e os animá, pai num tem instudo , é sabido de todo, aprendeu com os mais véi , cum os aniumá, cum as prantas  e  cum o mundo, pai é um home bom, é um home  respeitado.

Os dois saíram de vereda acima, cortam um galho aqui, outro ali, um tronco acolá  e vão fazendo feixes, um grande e um pequeno, o menor com galhos finos para não forçar a coluna do menino Dambirinha.

__Este tronco é pru meu feixe, este galhinho aí é pru  seu, basta apenas mais cinco tronco prumode terminá, outra coisa,  já é quage deis hora, pegue no meu borná um taco de carne e coma com farinha, dispois adoçe a boca com rapadura que truche procê, sente no aceiro da instrada e coma inquanto eu arremedo este arame. Meu fie as coisas boas não param de trabaiá, as coisas  ispiciá num para, as coisa celestiá num se cansa,  nem o só, nem o má, nem  o vento e  nem o nosso coração para, só os priguiçoso recrama  qui tá cansado, só os priguiçoso,  se avexe qui mãe  tá perparando o armoço.

Era assim a vida daquele homem simples que só pensava no bem e para o bem, orgulho maior de sua cria. Pai Dambira , aquele homem simples,   era o maior orgulho dos Dambiras, pricipalmente do Dambirinha.

                                                Iderval Reginaldo Tenório

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