Temer: nos últimos 15 dias,
conversas com presidentes de partidos e ajuda de ex-ministros e deputados para
cooptar aliados - Agência O Globo / Pedro Kirilos
BRASÍLIA — Mais do que cargos, deputados e
presidentes de partidos da base aliada têm recebido acenos de que passarão a
ter poder político real para influenciar diretamente decisões em um eventual
governo do vice-presidente Michel Temer. Em conversas que se intensificaram nas
últimas semanas, parlamentares de partidos que compõem o “centrão” da base
aliada, como PR, PP e PSD — aqueles que tradicionalmente apoiam todos os
governos, à exceção de PT e PCdoB — se tornaram alvo de investidas do grupo do
vice, que busca votos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na linha
de frente da execução dessa estratégia estão os ex-ministros Eliseu Padilha e
Moreira Franco e os ex-deputados peemedebistas Rodrigo Rocha Loures, Geddel
Vieira Lima e Sandro Mabel, este último o mais ativo da equipe nas conversas
dentro da Câmara.
Os principais argumentos usados são os estilos
diferentes de Dilma e Temer na convivência política; a ampliação de espaços no
governo, e a garantia de que os compromissos assumidos serão cumpridos. Sempre
“muito discreto”, contam os políticos que tiveram encontros recentes com o
vice, Temer fala em respeito ao Parlamento e cita que irá incorporar aos
programas dos ministérios as emendas dos deputados, garantindo sua execução, e
fazendo sair do papel a obrigação de o governo cumprir o orçamento que for
aprovado pelo Congresso — levando ao que ele próprio chamou na sexta-feira de
“semiparlamentarismo”.
— Não se fala em distribuição fria de cargos, “você
vai ser ministro disso ou daquilo”. As conversas giram em torno da ideia do
governo de coalizão e que espaço não é problema, haverá para os que chegarem e
será ampliado aos que já estão — disse ao GLOBO um dos deputados participantes
das reuniões.
Nos últimos 15 dias, o vice conversou com presidentes
de partidos da base aliada, como Marcos Pereira, do PRB; dirigentes do PSB e
até o presidente do oposicionista Solidariedade, Paulo Pereira da Silva. Além
das sinalizações de compartilhamento do poder, integrantes da base relatam que
interlocutores de Michel Temer já começaram a fazer acenos com cargos em um
eventual governo do peemedebista.
MINISTÉRIOS NAS ESPECULAÇÕES
Ministérios hoje ocupados por defensores de Dilma
Rousseff estão no centro dessas especulações, especialmente aqueles que alojam
representantes de parcelas de bancadas que já não são maioria, como Saúde e
Ciência e Tecnologia. Os respectivos ministros dessas duas pastas, os
peemedebistas Marcelo Castro e Celso Pansera — ambos contrários ao impeachment
—, foram indicados ao cargo por Leonardo Picciani (PMDB-RJ), destituído da
liderança do partido na semana passada.
Governistas que tentam recompor o apoio no
Congresso para barrar o processo de impeachment dizem que enfrentam hoje uma
dupla dificuldade na disputa pelos votos dos deputados. Primeiro, a falta de
credibilidade do Planalto pelo descumprimento de acordos firmados anteriormente
com a base aliada. E, para completar, o ex-ministro Eliseu Padilha carrega
consigo uma planilha do tempo em que ocupou a articulação política de Dilma com
um amplo mapeamento sobre os pedidos dos parlamentares em diversas esferas, com
respostas sobre o que foi ou não contemplado.
— O governo não tem dinheiro para liberar emendas,
e muitas nomeações estão travadas. Em vez de jogar com transparência e dizer
que alguns casos não podem ser resolvidos e oferecer uma alternativa, o governo
quer continuar fazendo reuniões para marcar novas reuniões — resume um líder
governista.
O que mais tem atraído a atenção dos parlamentares
é a possibilidade de ter um presidente de postura menos hostil do que Dilma.
Deputados relembram nas conversas a relação que tinham com Temer nas três vezes
em que ele presidiu a Câmara e acreditam que seu estilo “educado”, “gentil” e
“agradável” integrará os aliados.
— Ninguém aguenta mais ser escrachado em reunião
com a presidente. Temer é um lorde, e este é o maior ponto fraco de Dilma
dentro da Câmara — disse um líder aliado pedindo reserva ao GLOBO.
Por trás de tantas conversas e promessas de um
governo de real coalizão está a busca por votos para derrubar Dilma. Na semana
passada, a votação secreta para a escolha da chapa que iria compor a comissão
do impeachment serviu como um termômetro: a oposição teve 272 e o governo, 199.
Os líderes dos partidos da base identificaram imediatamente defecções nas
bancadas, situação que irá se repetir em todas as votações sobre o tema.
Faltam à oposição 70 votos para atingir os 342
necessários (dois terços) para aprovar a admissibilidade da ação contra Dilma.
Representantes partidários que estiveram em conversas com Temer nos últimos
dias dizem que o mais importante agora é ficar claro que será um governo de
“união nacional”, e não apenas do PMDB.
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