segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Mais Médicos é 'escravidão', diz presidente de entidade portuguesa





Mais Médicos é 'escravidão', diz presidente de entidade portuguesa
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PATRÍCIA CAMPOS MELLO
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA
 
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O programa Mais Médicos, que busca levar profissionais ao interior do país e a periferias das grandes cidades, é "uma espécie de escravidão", critica o presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, José Manuel Silva.
"É uma espécie de escravidão. O médico está preso ao local para onde foi contratado e não pode sair dali, não tem seu título reconhecido, é como alguém que vai para um país e lhe retiram o passaporte e ele não pode sair dali", disse Silva à Folha.

A opinião do presidente do órgão, que disciplina o exercício da medicina no país, contraria a expectativa da gestão Dilma Rousseff. Ao lado dos espanhóis, médicos portugueses eram o principal alvo do governo brasileiro para preencher parte das 15.460 vagas abertas pelos municípios inscritos no programa.
Os estrangeiros têm até o dia 8 para enviar toda a documentação. Mas, de acordo com Silva, não há interesse dos portugueses.
Segundo a Folha apurou nos consulados, só 44 médicos do país se inscreveram.
José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, também acha que o interesse dos portugueses pelo Mais Médicos é baixo.
"Se os médicos portugueses não querem ir para o interior de Portugal, não vejo por que ir para a favela da Rocinha ou São Bernardo do Campo", disse.
Para o presidente da Ordem dos Médicos, as condições do programa "assustaram os candidatos" e "cabem em uma mão" os interessados em ir para o Brasil.
"Se eles podem ganhar 5.000 euros [cerca de R$ 15 mil] na Inglaterra, Alemanha, Noruega ou Dinamarca, com condições muito melhores e reconhecimento de seu diploma, por que iriam ao Brasil ganhar 3.000 euros?"
REVALIDAÇÃO
Silva afirma que os médicos estrangeiros contratados em Portugal, muitos da América Latina, são submetidos a um exame de conhecimentos médicos e, caso aprovados, podem circular em qualquer região do país.
Ele afirma que poderia haver reciprocidade em relação ao Brasil caso o governo decidisse reconhecer os diplomas de médicos portugueses.
"Mas daqueles formados em boas escolas. Sabemos que há mais de 200 faculdades de medicina no Brasil e muitas não têm qualidade."
Silva diz que o Brasil poderia atrair aposentados, que não têm muitas alternativas de emprego. "Mas não sei se haverá médicos com capacidade de se adaptar a condições de trabalho iguais às de Portugal de cem anos atrás."
A jornalista viajou a convite da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Tap e grupo Dom Pedro

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