quarta-feira, 4 de setembro de 2024

NECROPOLITICA- ACHILE MBEMBE



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               PREFÁCIO 

NECROPOLITICA-   ACHILE MBEMBE

Nascido no dia 27 de julho  1957, em Otélé, Camarões, Mbembe é historiador e filósofo político. Obteve o seu doutorado em história na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne) e foi professor em diversas universidades ao redor do mundo, incluindo a Universidade de Columbia, a Universidade de Harvard e a Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. É um dos mais  influentes intelectuais contemporâneos no campo dos estudos pós-coloniais e da teoria crítica.

Na sua obra Necropolítica (2003), explora como o poder moderno se manifesta na capacidade de decidir quem pode viver e quem deve morrer, oferecendo uma extensão crítica da teoria de biopolítica de Michel Foucault. Além de Necropolítica,  escreveu Crítica da Razão Negra (2013) e Políticas da Inimizade (2016), que influenciam debates acadêmicos e políticos sobre racismo, colonialismo e a condição humana no mundo globalizado.

Nasceu em Camarões, África, quando ainda era colônia francesa e teve todas as dificuldades de um povo dominado pelos colonizadores, só em 1960 Camarões conseguiu se emancipar da França.

Na sua trajetória mostrou o quanto é importante a educação. Conseguiu  viajar para Paris para continuar os estudos, colou  grau,  construiu o seu alicerce para a  vida acadêmica, depois foi para os Estados Unidos, onde sedimentou e fortificou as suas bases filosóficas. Hoje é um dos principais pensadores e um estudioso das consequências coloniais e do racismo ao redor do mundo.

No Brasil, a convite de muitas academias e institutos, tem dado palestras e participado de congressos nas pautas que domina.

Achile Mbembe, 67 anos de idade,  um pensador contemporâneo que trará reflexões  e criará novos horizontes para a humanidade.


O maior episódio que mostra a necropolítica na atualidade, é a  chacina de Israel sobre Gaza e a Cisjordânia. 

Iderval Reginaldo Tenório

       

NECROPOLITICA-   ACHILE MBEMBE

Nascido em 1957 no dia 27 de julho, em Otélé, Camarões, Mbembe é historiador e filósofo político. 

Na sua obra Necropolítica (2003), explora como o poder moderno se manifesta na capacidade de decidir quem pode viver e quem deve morrer, oferecendo uma extensão crítica da teoria de biopolítica de Michel Foucault. Além de Necropolítica,  escreveu Crítica da Razão Negra (2013) e Políticas da Inimizade (2016), que influenciam debates acadêmicos e políticos sobre racismo, colonialismo e a condição humana no mundo globalizado.

Para chegar à   necropolítica, mergulhou na história da humanidade, fundamentou-se  nas obras de grandes pensadores  do século XVII até a atualidade. A leitura de  Hobbes, Agamben e o Foucault foi condições sine qua non para se chegar  à  bandeira  NECROPOLÍTICA.

Estudou o contratualista inglês,  Thomas Hobbes, por intermédio  do Livro  LEVIATÃ, publicado no ano de 1651. O  Hobbes, nesta magnífica obra, informa que   os homens viviam em eternos conflitos  e guerras, não havia segurança, os mais fortes aniquilavam os mais fracos. Viviam em autodestruição, em estado de natureza  como animais selvagens  a defender a vida sem diálogo, com  derramamento de sangue, sem leis e sem ordens.  Propôs na sua obra, LEVIATÃ,  que abdicassem da liberdade individual e  daquele modelo  de vida, uma vez que não havia condições de prosperarem, urgia  a criação de um estado.

Argumentou que fosse    nomeado um gestor para governá-los, isto é,  outorgar a um soberano o poder absoluto em nome da paz e do diálogo. Este exerceria o poder por intermédio de um contrato social, no qual o povo autorizava e apoiava todas as sua atitudes com foco na proteção plena  da vida. Caberia a este soberano a deliberação de atos em busca da paz, da defesa  interna e contra os seus invasores, a finalidade era acabar com as guerras internas  e trazer a PAZ.  

" O “contrato social” em Hobbes é filosoficamente tratado como o ato simbólico dessa cessão de prerrogativas e poderes basicamente absolutos ao soberano, mediante o qual, as decisões e atitudes do soberano  passem a equivaler às decisões e atitudes de todos que supostamente lhe cederam a autoridade. O homem sairia do estado de natureza e passaria a conviver obedecendo critérios sob o comando de um homem ou de uma assembleia. 

“Um Estado é considerado instituído quando uma multidão de homens concorda e pactua que a um homem ou a  uma assembleia de homens seja atribuído, pela maioria, o direito de representá-los sem exceção, tanto os que votaram a favor, como os que votaram contra, devendo autorizar todos os atos e decisões como se fossem seus, a fim de uma convivência pacifica e com proteção”.

O  regime caminhou até a Revolução Francesa 1789 a 1799, quando a sociedade francesa passou por uma transformação épica, a  evaporaram dos privilégios  feudais, dos religiosos e da aristocracia. O povo vivia num caldeirão  efervescente e lutava por liberdade, fraternidade e igualdade.  Foi às ruas  e derrubou a monarquia absolutista que reinava há anos, inclusive executando o Soberano LUIS XVI em 1792.    

A Execução do Luís XVI, na guilhotina, é um dos acontecimentos mais importantes da Revolução Francesa e foi realizada em praça pública em janeiro de  1793, em Paris.

Após a revolução, o  mundo passou aos poucos de rural para urbano e as nações ocidentais ( europeias) passaram a invadir outros povos:  Américas, África e Ásia em busca de aumentar o seu poderio, para isto invadiam, escravizavam e matavam os povos nativos, que para eles eram atitudes normais, tratava-se de raças inferiores. Achavam que humanos  eram apenas os ocidentais, os demais povos  eram gados ou  animais  selvagens. Não cometiam crimes em eliminá-los  para o  bem dos colonizadores.

Neste contexto  o Mbembe, ja no século XX,  cita o Giorgio Agamben(Filósofo italiano, nascido em Roma no  22 de abril de 1942,  hoje com 82 anos . O Agamben faz um relato do que aconteceu após a primeira guerra mundial,  conflito bélico global centrado na Europa, que começou em 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de 1918. Diz o Agamben  que,  com  a industrialização do ocidente,  o mundo virou uma engrenagem industrial e o homem uma máquina de trabalho, um mero   operário que deveria funcionar ininterruptamente por períodos de 12 a 15 horas por dia.

Refere que  após a guerra,  surgiram dois movimentos no continente europeu: O Fascismo, ideologia política ultranacionalista e autoritária, de  poder ditatorial, repressor da oposição por via da força, de  forte arregimentação da sociedade e da economia;  e o Nazismo, marcado por defender um nacionalismo extremado, com posturas abertamente antissemitas e contra a democracia, movimentos de segregação racial.

Aduziu AGAMBEN  que existiam  dois tipos de  homens: os cidadãos e os não cidadãos; e vários tipos de raças, uma raça superior, A BRANCA,  e outras   inferiores. Negros, Índios, Judeus e Aborígenes eram  vidas sem atributos políticos e que poderiam sofrer quaisquer tipos de opressão e  de não proteção a vida.  Lembra do holocausto, da escravidão, da invasão dos povos indígenas  e dos povos africanos, que  segundo o Mbembe foram são demandas sociais da mesma estipe, o que aconteceu na Alemanha, o holocausto, teve grande repercussão por se tratar de um  episódio acontecido dentro do território europeu.

Ao conhecer os lógicos   relatos do Giorgio Agamben,  a respeito do  domínio dos opressores  sobre os oprimidos na Alemanha, as chacinas  no continente africano e no americano, quando cita o Apartheid na Africa do Sul,o genocídio de Ruanda,  massacre que  extermínou 70%  da minoria de pessoas dos grupos étnicos tútsis, tuás e até os moderados dos  hútus, massacre realizado pelos Hutus patrocinado pelo governo oficial em 1994.  Alerta sobre a escravidão no Brasil e em Cuba,  a matança de milhões de indigenas  nos Estados Unidos e no Brasil, fundamentados   com a  outorga soberana de uma  raça branca, superior, o Mbembe  absorveu e entendeu  aquelas medidas como  NECROPOLÍTICA.  

Para esta classificação, utilizou os postulados  do Michel Foucault, que abordava  estas demandas como biopolítica, propriedades   nas quais os brancos, os ricos, as empresas, os políticos  e as elites,  que  para manterem os  lucros nas suas fabricas e  fazendas implantaram cuidados seletivos  para com  os operários.

Como os operários eram a força motriz, implantaram a   propriedade de  seleção dos trabalhadores, escolhendo   os melhores, os produtivos e os que contribuíam para a alta produção. Os fracos, os que adoeciam, os acidentados  no labor e ficavam improdutivos eram  escanteados,  abandonados à própria sorte e esquecidos  nas periferias das cidades e nos campos,  engrossando o universo dos desassistidos. Na Europa, Ásia e nas Américas  as crianças entravam no mercado de trabvalho aos 09 anos de idade ou menos.

O conceito de biopolítica foi introduzido pelo filósofo francês Michel Foucault em (1975-1976). Segundo Foucault o termo surgiu nos séculos XVIII e XIX, focada na administração e regulação da vida das populações.

A biopolítica contrasta com a soberania tradicional, que era principalmente o direito de "deixar viver e fazer morrer". Foucault argumenta que a biopolítica é uma característica essencial das sociedades modernas, onde o controle sobre a vida é um componente central do poder político. Ela se manifesta em políticas públicas que buscam otimizar a saúde e o bem-estar da população, como também expressar formas opressivas, como em regimes que monitoram e controlam cada aspecto da vida dos cidadãos. 

Para as elites caucasianas, numa camuflada, separatista  e  velada convivência social  existia uma raça superior, a branca, e outras inferiores, as demais raças, estas eram  propícias ao crime e  à preguiça, e   mesmo sem  comprovação cientifica, ao  não aprendizado por deficiência cerebral,  eram seres  que poderiam ser descartados. Este pensamento  perdurou até os anos 60 e 70  notadamente  nos Estados Unidos das Américas,  vide os movimentos desencadeados por Rosa Parks e Martin Luther King Jr., no   Brasil Abdias do Nascimento e o  Ailton Krenak,  líder indígena de etnia krenaque, ambientalista, filósofo, poeta e escritor, hoje  um imortal da Academia Brasileira de Letras. O Mbembe classificou estes atos cruéis  de  NECROPOLÍTICA, que dava  ao Estado e ao Soberano até  as prerrogativas da morte.

Aqui no Brasil, o país facilitava a entrada de brancos europeus para embranquecer  a raça, uma vez que índios e negros eram raças inferiores.  O Clareamento racial  ou branqueamento  é uma ideologia que era amplamente aceita no Brasil,  entre o final do século XIX e início do século XX,  como a solução para o excesso de indígenas, mestiços e negros. Os simpatizantes[acreditavam  que a raça negra iria avançar cultural e geneticamente na nação com a  miscigenação entre brancos e  negros. Esta ideologia ganhou o apoio  do racismo e do Darwinismo Social, imbricada  com o conservadorismo da  elite branca da época, que  acreditava que o sangue ''branco" era superior,  e inevitavelmente iria clarear as demais raças. 

Hoje, no Brasil, o preconceito racial, notadamente aos negros é sutil e camuflado para os que se classificam como brancos, classes média e alta. É agressivo, cruel, ameaçador, claro e  sedimentado na cabeça dos jovens negros, pobres e que moram nos bairros periféricos. Estes seres humanos enxergam os policiais, que deveriam ser proterores,  como  ameaças ao seu ir e vir,  principalmente em épocas     de policiamento ostensivo. Esta população sente-se ameaçada no período noturno ao retornar para casa após a jornada de trabalho, as aulas noturnas, as festas e até mesmo nos encontros com amigos nos seus logradouros, muitos sucumbem ao constestar as abordagens policiais. 

A  propriedade da necropolítica se destaca por proporcionar um novo quadro teórico para analisar as questões de soberania, guerra, racismo e exclusão social. Isto fez com que Mbembe desvendasse  as agruras da  escravidão, do colonialismo e das invasões europeias em nome do progresso perpetrado  por colonizadores durante séculos.  Mbembe atiçou fogo na fogueira da liberdade,  da verdadeira colonização e o poder inumano  dos ocidentais em busca da hegemonia no planeta.  O sociólogo clareou fatos históricos, racistas,  sociais  e antropológicos, e   alavancou o verdadeiro estudo do racismo em todas as Universidades  pelo mundo.

                                               Iderval Reginaldo Tenório

 

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