“Mamãe aqui tem um ladrão”
Dezembro de 1966, silêncio sepulcral, noite sem lua, a escuridão predominava no céu a destacar cada estrela e constelações vivíveis a olhos nus.
Em pleno coração do nordeste a cidade dormia. Acordados apenas os meliantes, os boêmios e as duplas de praças a vigiar três ou quatro logradouros centrais . De prontidão no quartel central, uma viatura de polícia com os seus quatro soldados .
Numa determinada rua , casa 55, nos braços de Morfeu dormia uma família. No corpo da longa e estreita casa, nos cômodos da frente, a matriarca e as crias femininas. Nos fundos, antigamente chamados de quintal , num quarto geminado, porém sem ligação por portas, dormiam a prole masculina e dois sobrinhos, todos abaixo dos 15 anos de idade. Cada um acomodado na sua rede branca e coberto com um lençol feito de saco de açúcar alvejado com anil, contudo sem apagar a insígnia Açúcar do Brasil e despreocupadamente dormia sem pensar nas agruras da vida.
O silêncio foi rompido por gritos vindo do quintal: “ mamãe , mamãe aqui tem um ladrão, aqui tem um ladrão”.
Apesar dos muros que existiam e a casa ficar no miolo do quarteirão, o amigo do alheio, provavelmente conhecedor dos costumes da família e por este aposento servir como deposito de mantimentos entendeu de abastecer a sua dispensa.
A cena foi inusitada, enquanto o meliante empurrava a grossa porta e tentava abrir os ferrolhos , as cinco crianças a seguravam e fechavam os ferrolhos quando abertos, em uníssono gritavam : “Mamãe, mamãe aqui tem um ladrão, aqui tem um ladrão” e um deles, o Zezinho, gritava: “venha logo mamãe, eu não quero morrer , eu quero ser um doutor, corre mamãe”.
De repente, como um relâmpago, a mãe pela fresta da porta da cozinha detona as seis balas do seu Revolver Tauros 22 e ainda hoje o ladrão corre sem rumo.
De lembrança ficou as marcas dos pés no muro branco de três metros de altura, só apagadas 20 dias após o ocorrido.
Todos os vizinhos testemunharam o episódio e com várias camadas de cal o muro foi novamente pintado.
"Mamãe, corre que aqui tem um ladrão"
Nas horas de aperto todos recorrem para a sua mãe.
A mãe é a mais abençoada e protetora fortaleza para um filho .
Salvador, Ba , 18 de março de 1982
Iderval Reginaldo Tenório
LUAR DO SERTÃO E CIO DA TERRA
Luar do sertão catulo da paixão - YouTube
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