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Hidroxicloroquina e azitromicina contra a Covid-19: o que já sabemos?
Médico que participa de pesquisa brasileira para achar um tratamento contra o coronavírus faz um balanço sobre um controverso remédio
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No entanto, nenhum medicamento se mostrou eficaz no combate ao coronavírus.
A doença atual apresenta características desafiadoras: a alta capacidade de disseminação faz com que, aparentemente, uma pessoa infectada transmita o vírus para outras duas ou três. Dentro de um intervalo de seis a sete dias os casos tendem a dobrar.
Estima-se que 80% dos quadros variem entre assintomáticos e leves, 15% sejam severos, com necessidade de internação hospitalar, e que os 5% restantes sejam críticos, dependendo de uma unidade de terapia intensiva (UTI).
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Outro ponto que sabemos é que a taxa de mortalidade global pela
infecção atualmente gira em torno de 6% e é mais elevada em adultos
acima de 60 anos e pessoas com histórico de doenças prévias, as
comorbidades.Até o momento não existem terapias farmacológicas com evidências cientificas que demonstrem redução de complicações ou mortalidade.
A cloroquina e a hidroxicloroquina são drogas antigas utilizadas no tratamento da malária e em pacientes com doenças autoimunes, como o lúpus, e têm apresentado resultados promissores em experimentos de laboratório in vitro, com redução da atividade do coronavírus.
Um estudo realizado na França com apenas 36 pacientes e sem seguir os critérios clássicos de pesquisa científica sugeriu que o uso da hidroxicloroquina associado à azitromicina (um tipo de antibiótico) poderia zerar a carga viral em seis dias. No entanto, não existem estudos clínicos robustos e bem feitos que demonstrem benefícios da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19.
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Devemos ressaltar que tal medicação não é isenta de risco. Pelo
contrário: arritmias cardíacas (potencialmente fatais), pancreatite,
hepatite e problemas na retina são alguns dos efeitos colaterais.Nesse contexto, é fundamental que ocorram estudos clínicos com grupo controle, definido como um grupo de tratamento padrão. Sem a presença de um grupo controle é impossível determinar, de forma acurada, os possíveis benefícios e danos de qualquer nova terapia.
Atualmente, existem cerca de 400 estudos sobre a Covid-19 registrados no Clinical Trials, departamento americano que agrupa estudos internacionais, e diversos desses trabalhos avaliam a eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina.
No Brasil, um grupo de pesquisadores de grandes hospitais, incluindo a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, desenvolve duas pesquisas para avaliar terapias contra a infecção pelo coronavírus. Esses estudos avaliarão a eficácia dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina em diferentes grupos de pacientes, incluindo doentes com apresentação de leve a moderada e outros com manifestação mais grave.
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Calcula-se que mais de 60 centros no Brasil recrutem pacientes para
essa iniciativa e que em até três meses sejam apresentados os resultados
iniciais.Além da hidroxicloroquina, diversas drogas apresentaram atividade in vitro contra o coronavírus, mas sem resultados robustos que justifiquem o uso em hospitais. Diante de uma pandemia, o uso de um remédio sem evidência cientifica deve ser feito no contexto de que o benefício seja maior do que o dano, e sempre como última alternativa.
E precisamos ter em vista que, nestas circunstâncias, não é possível afirmar que uma eventual sobrevivência do paciente se deveu à administração daquela droga especificamente, uma vez que faltam justamente as provas a respeito.
A verdade é que só com pesquisa clínica poderemos determinar os melhores caminhos para salvar os pacientes e superar a Covid-19.
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* Dr. Fernando Ramos é médico intensivista e coordenador de UTI
da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, além de pesquisador da
Coalizão Covid Brasil
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