terça-feira, 9 de junho de 2020

Assintomáticos podem transmitir coronavírus ao falar, respirar ou pigarrear, diz virologista da USP

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RI Rio de Janeiro (RJ) 05/06/2020 - Coronavírus. Pessoas com mascara passeiam com crianca sem mascara na praia nde Copacabana. Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Foto: Leo Martins / Agência O Globo
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RI Rio de Janeiro (RJ) 05/06/2020 - Coronavírus. Pessoas com mascara passeiam com crianca sem mascara na praia nde Copacabana. Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Assintomáticos podem transmitir coronavírus ao falar, respirar ou pigarrear, diz virologista da USP

Especialista no Sars-CoV-2, professor Eurico Arruda diz que fala da OMS estava errada. Estudo lista medidas de isolamento social como únicas possíveis enquanto dimensão do contágio assintomático não é determinada

RIO - Pessoas infectadas pelo coronavírus são capazes de transmiti-lo para outras mesmo que não apresentem sintomas. Isso é fato. O que não se sabe é em o quão contagiosas elas são. Mas nenhum estudo científico indica que sejam raras, como disse ontem uma diretora da OMS, ao contrário.
Como se estima que haja milhões de assintomáticos, ou quase a metade das infecções, eles representam um perigo silencioso, que a polêmica provocada por declarações confusas da chefe do Programa de Emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Maria van Kerkhove, acabou por evidenciar.
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 Após a confusão e uma saraivada de críticas de cientistas, a OMS esclareceu que a “transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”. E isso não se sabe. E, portanto, especialistas brasileiros e estrangeiros explicam que, devido à falta de testes para todos, particularmente crítica no Brasil, o melhor é rastrear a transmissão dos casos sintomáticos. E foi basicamente isso que a OMS quis dizer.
A definição de assintomático é confusa porque a pessoa infectada pode apenas não reconhecer e relatar os sintomas por eles serem leves demais, explica o epidemiologista e professor titular da UFRJ Roberto Medronho. Esses casos se chamam oligossintomáticos e são extremamente difíceis de detectar. Principalmente em crianças, cujos casos são reportados pelas mães.
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- Um dos perigos de reabrir as escolas (o presidente Jair Bolsonaro levantou essa possibilidade ao citar a fala da OMS) é justamente a dificuldade de reconhecer sintomas nas crianças. A OMS está sob enorme pressão de governos e acaba por fazer declarações desastrosas como essa, que são distorcidas por quem quer acabar com o distanciamento social a qualquer custo - destaca Medronho.
Há ainda as pessoas pré-sintomáticas, que podem ser confundidas com as assintomáticas. Isto é, elas não apresentavam sintomas no momento em que foram testadas. Porém, eles acabaram por se manifestar ao cabo de alguns dias.
Um dos raros especialistas do Brasil em coronavírus, Eurico Arruda, professor titular de virologia da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, é categórico em assegurar que os assintomáticos transmitem o Sars-CoV-2. Ele explica que é claro que as pessoas com sintomas, que tossem e espirram, transmitem mais.
- Porém, o assintomático fala, ofega, pigarreia, e isso também transmite o vírus. A epidemiologista da OMS fez uma declaração errada. Assintomáticos transmitem, sim, o coronavírus - frisa Arruda.
Ele acrescenta que vírus respiratórios são transmitidos por assintomáticos de forma geral.
- Outros vírus respiratórios que detectamos em crianças assintomáticas, nas tonsilas, como o da gripe H1N1, são transmitidos por elas porque estão presentes nas secreções. Claro que não é com a mesma eficácia de uma pessoa com sintomas porque o assintomático não está tossindo ou espirrando. Mas se ele falar perto de outra pessoa sem máscara, por exemplo, pode transmitir o vírus - alerta.

Assintomáticos representam até 45% das transmissões, diz pesquisa

Uma pesquisa americana publicada esta semana faz uma revisão do conhecimento sobre a transmissão assintomática. Não se trata de qualquer estudo. Seus autores são Daniel Oran e Eric Topol, dois respeitados cientistas americanos, desde o início à frente de estudos sobre a pandemia, ambos do Scripps Research Translational Institute.
Publicada na prestigiosa revista na Annals of Internal Medicine, a pesquisa “Prevalência da Infecção Assintomática pelo Sars-CoV-2, uma Revisão Narrativa”, se baseou em 16 grandes análises de focos da pandemia feitas por meio de testes de PCR, o mais confiável para detectar a presença do vírus.
Estão lá os casos da cidade de Vo, da Itália, a primeira a se livrar da pandemia no país; do navio Diamond Princess; do porta-aviões americano U.S.S. Theodore Roosevelt; da cidade de São Francisco; de toda a Islândia e de abrigos e hospitais em Boston e Nova York.
O estudo conclui que portadores assintomáticos representam entre 40% a 45% das infecções por Sars-CoV-2. Mostra que eles podem transmitir o vírus da Covid-19 para outras pessoas por um período superior a 14 dias. E ainda destaca que a infecção assintomática pode estar relacionada a anormalidades no pulmão sem manifestação clínica conhecida, mas detectáveis por tomografia computadorizada.

Distanciamento social é a única medida possível

A pesquisa diz ainda que a prevalência da transmissão por assintomáticos permanece incerta. No entanto, segundo Topol e Oran, em alguns casos, a concentração de vírus (carga viral) de pessoas assintomáticas tem sido semelhante à daquelas com sintomas, sugerindo potencial similar de transmissão.
Eles acrescentam que, devido ao alto risco da transmissão silenciosa por pessoas assintomáticas, é necessário que os programas de testagem incluam indivíduos sem sintomas.
“Nos primeiros meses da pandemia, a imagem de um paciente pronado (colocado de barriga para baixo) numa UTI, buscando desesperadamente ar, na iminência da intubação, se tornou icônica da Covid-19. E de fato essa é a face da forma grave. Mas não é a única porque o Sars-CoV-2 mostrou ter dupla natureza: tragicamente letal para alguns e surpreendentemente benigno para outros”, dizem Topol e Oran ao enfatizar a importância da transmissão assintomática.
Uma pesquisa divulgada na segunda-feira pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) chega à conclusão semelhante e salienta, que enquanto a dimensão da transmissão assintomática não é determinada, as únicas medidas possíveis são as de distanciamento social.

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