'Cura gay': três psicólogos foram denunciados nos últimos 5 anos por oferecer tratamento, diz conselhoNa última sexta, uma liminar de um juiz federal do DF passou a permitir a realização de terapias de reversão sexual alegando garantia da 'plena liberdade científica'. |
Para a ciência, terapias que prometem mudar a orientação sexual dos
pacientes, chamadas de "cura gay", têm um nome: charlatanismo. Não há
como se tratar a homossexualidade simplesmente porque ela não é uma
doença nem um transtorno.
Mas uma liminar de um juiz do Distrito Federal provocou espanto e foi
muito criticada nesta semana. A decisão autoriza os psicólogos a
oferecerem tratamentos de "reversão sexual".
Há quase 30 anos a Organização Mundial de Saúde reconheceu que
homossexualidade não é doença. No Brasil, desde 1999, o Conselho Federal
de Psicologia diz que psicólogos não podem tratar a cura da
homossexualidade.
Porém uma liminar do juiz federal Waldemar Claudio de Carvalho
determinou que o Conselho Federal não pode impedir psicólogos de
promoverem estudos ou atendimento profissional sobre a reorientação
sexual. A decisão causou choque e mobilização também nas redes sociais.
Veja na reportagem do Fantástico.
O juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, que proibiu em liminar que o Conselho Federal de Psicologia puna profissionais que ofertarem “cura gay”,
afirmou nesta quinta-feira (21) que a interpretação da decisão foi
"equivocada" e que não considera homossexualidade como doença. A nota
foi divulgada no site da Justiça Federal.
"Em nenhum momento este magistrado considerou ser a homossexualidade uma doença ou qualquer tipo de transtorno psíquico passível de tratamento."
A decisão é da última sexta (15) e está relacionada a uma resolução de
1999 – que impede a oferta do tratamento e diz que homossexualidade não
pode ser vista como doença. Na ocasião, o magistrado argumentou
"liberdade científica" para tomar a decisão (tire dúvidas sobre cada ponto do texto).
A medida acata uma ação popular movida por profissionais que dizem
acreditar em tratamentos de reversão sexual. Entre eles está a assessora
parlamentar Rozângela Alves Justino, que sofreu censura pública e teve o
registro cassado por causa da prática. O Conselho Federal de Psicologia
informou que vai recorrer da decisão.
Para o Conselho Federal de Psicologia, terapias de reversão sexual
representam “uma violação dos direitos humanos e não têm qualquer
embasamento científico”. Ainda de acordo com o conselho, a resolução não
cerceia a liberdade dos profissionais nem de pesquisas na área de
sexualidade. Desde 1990, a homossexualidade deixou de ser considerada
doença pela Organização Mundial da Saúde.
“A gente sente muito que ainda hoje a gente tenha que estar discutindo e
gastando muita energia com uma coisa que a gente já entende que não tem
que estar discutindo isso, a gente tem é que reforçar o respeito ao
direito humano, respeitar as diversas formas de as pessoas serem e
estarem no mundo", diz o psicólogo e representante do conselho Paulo
Aguiar.
Ele também contesta o trecho da decisão que cita uma suposta "proibição
dos estudos" sobre a sexualidade humana. "Nós não temos inferências
sobre isso. Quem regula são os comitês de éticas das universidades, o
Ministério da Saúde e órgãos como a Capes que regulam isso."
O presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, Jayme Oliveira,
diz haver “uma campanha extremamente difamatória” contra o magistrado.
“A gente pode concordar ou discordar, e isso é absolutamente normal. É
bom que aconteça o debate porque a sociedade pode avançar, mas conduzir
como se ele fosse preconceituos ou uma pessoa má é muito ruim, porque o
inferno pessoal que ele sofre como pessoa é irreparável. E ainda que a
decisão estivesse toda errada – seja nesse caso ou qualquer outro – o
sistema de justiça tem seus meios de reparar.”
A Constituição Federal não cita a homofobia diretamente como um crime.
Ela define, porém, como “objetivo fundamental da República” o de
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade, ou quaisquer outras formas de discriminação”. A homofobia costuma
ser enquadrada como crime de ódio, passível de punição.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu “auxiliar” a defesa do
Conselho Federal de Psicologia e ingressou como amicus curiae ("amigo da
corte"). De acordo com o presidente nacional, Claudio Lamachia, uma
eventual decisão neste sentido pode representar “retrocesso social”.
Presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB, Maria Berenice
Dias, a postura do magistrado ao aceitar a ação não foi adequada. "Mas
ele não pode ser punido por isso. Ele não infringiu nenhuma regra
administrativa. Ele julgou em um determinado sentido. Há um número de
decisões que são alteradas pelo tribunal. O que cabe é revisão."
"A pessoa não tem como, quando procura o profissional, dizer que quer
se curar da doença da homossexualidade. Fora que quem dá diagnóstico é
médico, não paciente. Se um psicólogo é procurado, ele pode dizer
‘doente tu não está’. O papel dele é fazer a pessoa deixar de se sentir
desconfortável. A sociedade que está doente em ainda não aceitar a
homossexualidade", disse.
Luta contra homofobia
A decisão liminar, assinada pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, causou estranhamento em redes sociais. Famosos se posicionaram sobre o assunto. A cantora Pabllo Vittar resumiu com: "Não somos doentes".
Ivete Sangalo também escreveu críticas à decisão no Instagram. “É
Brasilzão, a gente tentando ser forte, ser otimista, com inúmeras
pendências que caberiam a uma administração decente resolver, e aí me
resolvem dizer que homossexualidade é doença. Doentes são aqueles que
acreditam nesse grande absurdo. Pessoas, pensem sobre o que é esse
equívoco, absorvam a coragem e a luta dos homossexuais e apliquem às
suas mofadas e inertes vidas. Tentem que vocês talvez possam ser felizes
também.”
Gretchen postou uma foto do filho, Thammy Miranda para fazer seu
protesto. "Eu não tenho um filho doente. Meu filho é perfeito, saudável e
cheio de amor".
Anitta também se manifestou sobre o assunto. "O Brasil se devastando e
as autoridades preocupadas com quem queremos nos relacionar. Isso
precisa acabar. Deus, cure a doença da cabeça do ser humano que não
enxerga os verdadeiros problemas de uma nação. Pais, não obriguem seus
filhos a procurarem cura pra uma doença que não existe, baseados neste
fato político. Essa busca interminável sim pode deixá-los realmente
doentes". Em vídeo, a cantora ainda se disse devastada com a decisão.
A cantora Marília Mendonça também protestou contra a decisão. "O que
esperar de um Brasil que trata as maiores atrocidades como se fosse
normal, e que trata o amor das pessoas como se fosse doença? Eu jamais
vou entender, pessoas que querem decidir sobre a vida das outras, seja
em qualquer aspecto. Passo por isso diariamente, com coisas banais e já
sofro, imaginem quando isso acontece com quem só quer AMAR! Não existe
mensagem que diga mais do que: Cuidem cada um da sua vida. Deixem as
pessoas em paz, para serem exatamente como querem ser. Respeito".
Liminar
A audiência ocorreu na última sexta-feira e durou mais de quatro horas.
Na ocasião, o juiz disse que mantinha a integralidade da resolução, mas
determinava que o Conselho Federal de Psicologia mudasse a forma como a
interpreta – deixando de "censurar" quem oferece tratamentos do tipo.
“A gente vai entrar com recurso, mas essa data especificamente a gente
não tem. A gente vai tentar o mais rapidamente possível. É certo que a
gente vai tentar caçar essa liminar”, disse o conselheiro Paulo Aguiar.
Ação popular
Uma das autoras da ação popular que questionava a resolução é a
psicóloga Rozângela Alves Justino, que oferecia terapia para que gays e
lésbicas deixassem de ser homossexuais. Ela foi punida em 2009 pela
prática.
Na época, Rozângela disse ao G1 que considera a homossexualidade um distúrbio,
provocado principalmente por abusos e traumas sofridos durante a
infância. Ela afirmou ter "aliviado o sofrimento" de vários
homossexuais.
“Estou me sentindo amordaçada e impedida de ajudar as pessoas que,
voluntariamente, desejam largar a atração por pessoas do mesmo sexo",
disse Rozângela na ocasião.
Casos recentes
Nos últimos cinco anos, o Conselho Federal de Psicologia recebeu queixas contra três profissionais que ofertavam tratamento para homossexualidade.
De acordo com o presidente do órgão, Rogério Giannini, uma psicóloga –
que está entre os autores da ação – teve o registro cassado por causa da
prática.
De acordo com o conselho, a resolução trouxe impactos positivos no
enfrentamento a preconceitos e proteção de direitos da população
homossexual no país, “que apresenta altos índices de violência e mortes
por LGBTfobia”. A oferta de tratamentos de “cura gay” eram passíveis de
punição.
Repercussão
O deputado federal Orlando
Silva (PCdoB-SP) acionou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nesta
terça, para que o órgão "tome providências" em relação ao juiz federal. Segundo o parlamentar, a decisão atenta contra a cidadania.
"[...] A decisão do magistrado, além de afrontar os princípios
constitucionais aludidos, vai contra a promoção da cidadania, o
desenvolvimento e a inclusão social, objetivos perseguidos por este
Conselho Nacional de Justiça", diz a representação.
No texto, Orlando Silva diz ainda que a decisão judicial "enfraquece
toda e qualquer ação que contribua para o fortalecimento da educação e
da consciência dos direitos, deveres e valores do cidadão".
Nesta quarta (20), o deputado federal Jean Wyllys anunciou que também
vai acionar o CNJ. Para o deputado, o argumento de que o juiz está
permitindo a liberdade científica é "falacioso e enviesado", já que a
homossexualidade não é um transtorno psíquico – por isso, nenhuma
terapia de reversão pode ser aplicada
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Luta contra homofobia
A decisão liminar, assinada pelo juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, causou estranhamento em redes sociais. Famosos se posicionaram sobre o assunto. A cantora Pabllo Vittar resumiu com: "Não somos doentes".
Ivete Sangalo também escreveu críticas à decisão no Instagram. “É Brasilzão, a gente tentando ser forte, ser otimista, com inúmeras pendências que caberiam a uma administração decente resolver, e aí me resolvem dizer que homossexualidade é doença. Doentes são aqueles que acreditam nesse grande absurdo. Pessoas, pensem sobre o que é esse equívoco, absorvam a coragem e a luta dos homossexuais e apliquem às suas mofadas e inertes vidas. Tentem que vocês talvez possam ser felizes também.”
Gretchen postou uma foto do filho, Thammy Miranda para fazer seu protesto. "Eu não tenho um filho doente. Meu filho é perfeito, saudável e cheio de amor".
Anitta também se manifestou sobre o assunto. "O Brasil se devastando e as autoridades preocupadas com quem queremos nos relacionar. Isso precisa acabar. Deus, cure a doença da cabeça do ser humano que não enxerga os verdadeiros problemas de uma nação. Pais, não obriguem seus filhos a procurarem cura pra uma doença que não existe, baseados neste fato político. Essa busca interminável sim pode deixá-los realmente doentes". Em vídeo, a cantora ainda se disse devastada com a decisão.
A cantora Marília Mendonça também protestou contra a decisão. "O que esperar de um Brasil que trata as maiores atrocidades como se fosse normal, e que trata o amor das pessoas como se fosse doença? Eu jamais vou entender, pessoas que querem decidir sobre a vida das outras, seja em qualquer aspecto. Passo por isso diariamente, com coisas banais e já sofro, imaginem quando isso acontece com quem só quer AMAR! Não existe mensagem que diga mais do que: Cuidem cada um da sua vida. Deixem as pessoas em paz, para serem exatamente como querem ser. Respeito".
Liminar
A audiência ocorreu na última sexta-feira e durou mais de quatro horas. Na ocasião, o juiz disse que mantinha a integralidade da resolução, mas determinava que o Conselho Federal de Psicologia mudasse a forma como a interpreta – deixando de "censurar" quem oferece tratamentos do tipo.“A gente vai entrar com recurso, mas essa data especificamente a gente não tem. A gente vai tentar o mais rapidamente possível. É certo que a gente vai tentar caçar essa liminar”, disse o conselheiro Paulo Aguiar.
- O Conselho Federal de Psicologia informou que não foi a primeira vez que a resolução foi questionada – nas outras ocasiões, a Justiça negou os pedidos. “Essa resolução está aí há 18 anos. Na verdade, ela serve de base para decisões judiciais.”“A gente sente muito que ainda hoje a gente tenha que estar discutindo e gastando muita energia com uma coisa que a gente já entende que não tem que estar discutindo isso, a gente tem é que reforçar o respeito ao direito humano, respeitar as diversas formas de as pessoas serem e estarem no mundo.”
Na decisão, o juiz também fala que o conselho não pode impedir os profissionais de promoverem estudos. Aguiar critica o argumento. "Nós não temos inferências sobre isso. Quem regula são os comitês de éticas das universidades, o Ministério da Saúde e órgãos como a Capes que regulam isso."Quer saber mais notícias do Distrito Federal? Acesse o G1 DF.
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