OS VELHOS ABANDONADOS DO FUTURO: OS JOVENS DE HOJE, A AUSENCIA DA CIDADANIA.
Este
Texto foi produzido em 1989.
À proporção que ocupações importantes fossem embutidas nas vidas dos filhos mais capacitados, filhos mais estudados, filhos educados às custas de muitos sacrifícios , resignação e humildade dos seus genitores, educação simples com ênfase no SER, NO HOMEM, e nos princípios humanos, mesmo assim o SER sairá perdedor, a pressão criada pela cabeça do homem global, moderno e consumista é gigantesca, vale o montante dos cifrões.
Foi imaginado um mundo repleto de casas de idosos e os filhos, quando bons , custeando até mesmo com às custas do idoso, mesmo assim muitos seriam abandonados , como medida de segurança , o matutador enviou aos poderes públicos uma carta, perguntando quais seriam as providencias a serem tomadas para o futuro, seria criado um manual, um regimento, um estatuto para proteger os desprotegidos do futuro? ou os idosos do amanhã, os jovens de hoje , ficariam no limbo da sociedade como sonambulos nas avenidas, zumbis nas encruzilhadas ou inclausurados em pequenos quartos , pequenas pocilgas, regado a pão e água?
O matutador ainda fala para todos que lhe escutam , que no futuro, além dos menores abandonados , serão milhares de idosos no abandono, brevemente o Brasil será habitado por cidadãos acima dos 60 anos .
Neste
interim foi informado que, tramitava no
Congresso o estatuto do idoso e o estatuto do adolescente, o matutador ficou mais
tranquilo, apenas mais tranquilo, matutou outra vez , tem alguém pensado
nos futuros abandonados, será que será coisa séria ou mais um fenômemo
eleitoreiro?, mais um enganoso pulo do mau gato.
Iderval Reginaldo Tenório
o blog é cultural
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O FILHO QUE NÃO PROSPEROU
Numa roda de amigos foi abordado o quanto era
importante o olhar, o cheiro , os conselhos e a presença dos pais.
Num caloroso e contagiante momento,
contou um dos amigos a seguinte história.
Relatou que na sua cidade havia um bom senhor
oriundo de classe social baixa , que apesar do seu analfabetismo,
porém rico de uam vasta cultura existencial e do abençoado
suor do seu próprio rosto, conseguiu educar os seus 14 filhos.
O tempo passou, os filhos cresceram, alguns
galgaram postos importantes na sua nação e o bom senhor à proporção que ganhava
conhecimentos, foi envelhecendo, minguando na vida , perdendo as forças.
Envelhecendo com saúde, com dignidade, com
cidadania e com o respeito de todos os que lhe rodeavam.
Como é peculiar à família e aquela não fugira
a regra, anos após anos, procuravam os filhos através de encontros
familiares lembrar ao velho carvalho o seu incalculável valor , a sua
importância e o quanto era cabal a sua existência para a sua prole.
De todos os seus filhos um havia voado
mais alto e galgado postos estratégicos na sua República, o tempo passava
, de todos os filhos , aquele nunca estava presente devido a sua
importância perante a nação , muitas vezes nomeava prepostos, as vezes
irmãos e até mesmo amigos para lhe substituir nos encontros familiares,
jamais negara ajuda financeira quando solicitado , era sempre influente
nas questões decisórias da família, a sua presença era pecuniária.
O tempo passou, o ancião foi perdendo as
forças, os músculos foram minguando, os cabelos ficaram ralos , a mente foi
ficando curta, murchando e o bom homem foi paulatinamente perdendo a memória, perguntava
onde estava, muitas vezes perguntava até mesmo quem ele era.
A grande e tradicional família
continuava as suas comemorações, anos após anos, e anos após anos o
filho que prosperou era substituído por outro irmão, um secretário ou
por um dos seus amigos, até o dia em que foi convocado, até o dia em que foi
intimado a comparecer ao 99o- aniversário do patriarca por todos os componentes
daquela feliz e honesta família.
Ao chegar, entrou no quarto do seu genitor,
se aproximou e disse :
__A bênção pai.
O velho imobilizado nada respondeu, Repetiu
mais alto:
__ A bênção pai , a
bênção pai.
O velho abriu os olhos, mexeu com o
pescoço de um lado para o outro, fez esforço para levantar a cabeça , mirou o
rosto do seu filho e com a voz trêmula balbuciou:
__Quem é você? DE ONDE
VOCÊ VEIO ? ONDE VOCÊ MORA? QUEM É O SEU PAI? .
O filho parou, pensou, baixou a cabeça e
disse :
__ A BENÇA PAI, EU SOU O
SEU FILHO, o seu filho do meio, é que faz mais de 20 anos que não vejo o
senhor, faz mais de 20 anos que não venho na nossa terra, eu trabalho no
Ministério, trabalho no governo.
O pai mais uma vez falou:
__Quem é você, de onde
você veio, onde você mora, você é filho de quem, quem é o seu pai? Eu te
abençôo mas não sei quem é você, se você diz que é meu filho é porque é o meu
filho, porém eu não me lembro de você.
Desencantado pelo vasto tempo que havia visto
o seu pai , com a amnésia paterna e decepcionado com o que presenciara não
conseguira entender o que se passava, quando mais tarde , soube por
intermédio dos outros irmãos, que o seu pai num processo fisiológico fora
perdendo paulatinamente a capacidade de memorizar, de verbalizar e de
locomoção, passando a lembrar apenas dos fatos repetitivos, dos rostos do seu
cotidiano das pessoas que de mais perto convivera nos últimos dias, do
seu cachorro e dos utensílios de primeira necessidade, o banheiro, os penicos ,
a televisão sempre ligada e as sandálias.
Numa onda de culpa e de
irresponsabilidade entendeu , que o pai devido a sua ausência , havia apagado
da mente quaisquer resquícios ou lembranças de sua existência, havia
apagado de sua mente até mesmo a legitimidade paterna, entendeu também que foi
a sua ausência , a sua distância e o seu descaso para com o velho e bondoso pai
que apagara toda a sua existência como filho.
Desconfiado, deprimido e solitário partiu
para a conquista, para luta, para a briga, se esforçou, porém o velho e bondoso
senhor aos poucos foi apagando da mente os dados e imagens cerebrais , aos
poucos foi esquecendo , esquecendo, esquecendo... até o dia em que não mais
lembrava nem de si, até o dia em que entrou em vegetação.
Com os fatos presenciados, o filho
passou a entender que o seu pai precisava era de abraços, de carinho, de
respeito e de sua presença e não de ajuda financeira, de gestos
pecuniários, estes jamais substituirão um simples abraço e o calor que emana de
cada corpo.
Foi-se o velho, com ele foi sepultado todas
as suas memórias e conhecimentos, restando as boas lembranças e os seus
ensinamentos.
Para o filho ficou a certeza que foi 20 anos
atrás o ultimo dia em que o seu pai lhe viu, ficou gravado na sua memória que
os seus filhos não eram netos do seu pai e mais claro ainda, que o homem
é a mente, o homem é a comunicação , o homem é fruto de sua raiz, o homem é o
cérebro.
Ficou claro e evidente
que o núcleo familiar jamais esqueça a importância dos seus genitores, estes
jamais deverão perder a sua importância, jamais deverão ser substituídos e por
mais longe que o homem vá, as suas raízes serão fortes e
continuarão firme, continuarão encastoadas em toda a sua existência, um
dia o cidadão sentirá o sabor da sua exigência e lhe abalará, como disse seu
Quincó. "UM DIA A FICHA CAI".
Seja pai dos seus pais.
24 de Janeiro de 1989
Iderval Reginaldo Tenório