sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PROPAGANDA ENGANOSA-Cogumelo “milagroso” gera indenização de R$ 30 mil a consumidor


Cogumelo “milagroso” gera indenização de R$ 30 mil a consumidor

MARCO ANTÔNIO CARVALHO
12 Dezembro 2014 | 12:55
Pai havia comprado “cogumelos” para tratar câncer do filho; STJ entendeu que propaganda foi enganosa e passível de indenização por danos morais e materiais
SÃO PAULO – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pelo direito a indenização por danos morais a um consumidor que comprou um produto com expectativa de curar o câncer no seu filho. O entendimento é da Terceira Turma do STJ, que estimou em R$ 30 mil o valor devido pela empresa responsável pelo produto “Cogumelo do Sol”.
Em nota, a Corte informou que “a compra do produto foi motivada pela falsa expectativa quanto à cura da doença e que houve exploração da situação de vulnerabilidade de um pai cujo filho lutava contra um câncer no fígado.”
O produto é feito à base de uma substância chamada royal agaricus e possuía a promessa de ser eficaz na cura contra doenças graves. Em 1999, o pai pagou R$ 540 pelo “cogumelo” com expectativa na sua eficácia medicinal. O filho faleceu três anos depois e não havia abandonado os tratamentos convencionais contra o câncer, como quimioterapia e radioterapia.
De acordo com o STJ, a Terceira Turma não avaliou questões relativas à eficácia do produto, “por serem circunstâncias alheias ao processo”. O que se analisou foi o direito do consumidor de obter informações claras, coerentes e precisas sobre o produto comercializado no mercado.
Antes de chegar à corte superior, o processo tramitou no Tribunal de Justiça de São Paulo, que havia reconhecido a publicidade enganosa e o direito a danos materiais, mas havia negado o direito à indenização por danos morais sob o entendimento de que “houve mero aborrecimento da vítima”.
O ministro Villas Bôas Cueva, relator do processo do STJ, apontou que “o ordenamento jurídico não tolera a conduta de empresas que induzem o consumidor à compra de mercadorias milagrosas, justamente em momento de desespero, tal como vivenciado pela vítima no caso em análise.”
O relator observou que a Política Nacional das Relações de Consumo busca assegurar a todos o direito de informação adequada sobre produtos postos no mercado. Ele disse que o respeito à dignidade, à saúde e à segurança na relação de consumo deve ser preservado, em especial quanto aos “riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos”.
A jurisprudência do STJ considera que é objetiva a responsabilidade do fornecedor pelos danos causados aos consumidores em razão de defeitos do produto, o que se aplica, inclusive, aos anúncios. O ônus de provar que a publicidade não é enganosa nem abusiva é, portanto, do fornecedor.

Jovem se revolta ao descobrir que será ‘vendida’ ao marido

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BARINGO, QUÊNIA - Cenas como estas, retratadas pelo fotógrafo Siegfried Modola, da agência de notícias Reuters, são comuns no Quênia, onde as meninas, ainda adolescentes, são forçadas a se acasarem com homens escolhidos por suas famílias. Na verdade, o matrimônio é uma espécie de negócio em algumas tribos onde a mutilação genital das meninas também é praticada como um rito de passagem para a vida adulta. Em uma aldeia a cerca de 80 quilômetros da cidade de Marigat, no condado de Baringo, a jovem retratada nas imagens acabara de ser vendida a seu futuro marido por 20 cabras, dez vacas e alguns camelos, pagos a sua família ao longo de várias semanas. E a reação dela foi de partir o coração.

A família da jovem explicou que ela não sabia sobre a negociação que seu pai havia feito com seu futuro marido. Eles temiam que a menina escapasse se soubesse que seria obrigada a se casar. Então um grupo de homens da tribo foi até a casa da família para buscá-la e levou-a diretamente para a cerimônia.Vestida com roupas de cores exuberantes e pérolas, especiais para a cerimônia, ela tentou escapar, dando socos e chutes com os pés descalços, mas um homem agarrou-a por trás e puxou-a para longe de sua casa. As cenas aconteceram no último fim de semana na tribo Pokot e retratam uma tradição antiga: os pais estão acostumados a entregarem suas filhas, geralmente no início da adolescência, para seus futuros maridos. As meninas são sempre vendidas por um dote e casadas com homens da tribo.
Homem segura menina que tenta escapar ao descobrir
que  terá que se casar com homem escolhido por seus pais -
SIEGFRIED MODOLA / REUTERS
Na tribo Pokot, a circuncisão feminina é vista como uma transição da adolescência para a vida adulta. Embora agora o procedimento seja ilegal no Quênia, essa tribo ainda obriga todas as meninas a passarem pelo ritual antes do casamento. A prática também é conhecida como mutilação genital feminina e, em muitos países, é considerada uma violação dos direitos humanos. Ela pode levar a hemorragias graves, infecções, infertilidade e morte. Cerca de 125 milhões de meninas e mulheres em 29 países da África e do Oriente Médio já passaram por isso, de acordo com as Nações Unidas.
Durante o fim de semana, a tribo Pokot realizou a cerimônia de iniciação com as meninas em transição para a vida de “mulher adulta”. Mais de 100 adolescentes participaram da cerimônia, que incluiu um ritual em que elas perfuram um novilho. Os homens da comunidade, em seguida, mataram o animal com um golpe na cabeça e uma lança atravessada no coração. As meninas na comunidade cantaram e dançaram toda a noite e durante o dia seguinte na cerimônia de iniciação. No final, elas foram autorizados a dançar com os meninos, sob supervisão dos anciãos



                                                       Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo

UMA PROSA COM A SOCIEDADE BRASILEIRA, EDUCAÇÃO UMA CONDUTA INFALÍVEL. A ESTRADA PARA A CIDADANIA

UMA PROSA COM A SOCIEDADE BRASILEIRA, EDUCAÇÃO UMA CONDUTA INFALÍVEL.
 A ESTRADA PARA A CIDADANIA
A Educação de um povo é o principal pilar para o exercício da cidadania e o maior impulso para a sua   independência  .

O Nível de educação de uma população se espraia  nos seus elementos , cria no seu âmago uma estratificação de conhecimentos crescentes que são os maiores impulsos para a sua emancipação.
 De acordo com a evolução e oferecimento do ensino,  os  elementos crescem na escala social elevando o seu grau de entendimento e de liberdade até atingirem a maioridade educacional, com estas armas o analfabetismo politico funcional vagarosamente se esvai e os cidadãos aos poucos deixarão de ser massas de manobra .
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A contemplação de um ser humano à   cidadão independe do seu grau de instrução, seja ele letrado, estudado, culto ou analfabeto goza dos mesmos princípios da Constituição Federal, não cabendo desconhecer os seus direitos e deveres, agora é claro e notório que enquanto maior o índice de escolaridade, enquanto maior o grau de conhecimentos, tem este cidadão maior poder de discernir e optar por determinadas diretrizes.

Como alicerce e  sapata,    o ensino primário é acoplado ao ensinamento  familiar, sendo este,   a   bandeira principal e a raiz da árvore educacional  de um cidadão.

Baseado nestes princípios, abordarei alguns fatos que poderão despertar o  debate entre os responsáveis pela área educacional.

É sabido que no Brasil  a Escola Primária é de responsabilidade do  Município  por entender que é neste território que o  cidadão mora. Acontece que  este limitado e autônomo sítio  é dirigido por um  cidadão chamado Prefeito, dirigente este  oriundo  de qualquer camada social , viciadamente eleito por interesses de alguns segmentos  da população, depois de eleito  tem plenos poderes e dará o destino que lhe convier a este nível educacional. 

Fato relevante também é a localização , a região , a área , a densidade demográfica, a renda  e o peso político de cada município sem esquecer as prioridades , as vontades , o  moderno coronelismo e outros fatos intestinais pertinentes a cada povo.

O que proponho ao debate e à discussão é criar uma pauta para Federalizar este segmento Educacional, uma vez que todo cidadão é antes de tudo um Cidadão  Brasileiro e tem direito constitucional basilar. 

Antes de ser Paulistano, Soteropolitano , Juazeirense, Canudense, Piripiriense, Caxiense ou Santista  o Cidadão é BRASILEIRO . Este brasileiro não deve sofrer qualquer tipo de retaliação , seja regional, financeira, religiosa, de raça, gênero sexual ou preferência política, ele tem direito  por lei a um ensino básico de qualidade  em qualquer recanto que viva, isto é , um ensino homogêneo em todo o território nacional, entendo que  nesta fase da vida, a Escolaridade Primária é  considerada uma atitude de Estado , uma atitude pétrea e não de Governo.



Com esta modalidade, todos os  cidadãos brasileiros de Norte a Sul , de leste a Oeste teriam assegurado até os 17 anos de idade uma educação igualitária em todo o território nacional, educação esta regida pelas mesmas leis, com o mesmo conteúdo de informação, comandado por um único dirigente nacional e supervisionado por um  consórcio autoridades municipais e comunidades,  desta maneira, teria o Brasil  uma população adolescente com as mesmas chances de enfrentar a diversidade  da vida na fase mais difícil da sua existência  que é a segunda etapa da adolescência, dos 17 aos 20 anos de vida.

Nesta segunda etapa, o Município e o Estado teriam a obrigação de prosseguir o ensino .

O Municipal oferecendo cursos técnicos  profissionalizantes de curta  e média duração, enquanto o Estado  cursos científicos preparatórios para os cursos superiores e  cursos técnicos profissionalizantes de alta complexidade, ESTES  para azeitar a economia , ficando os cursos superiores em segundo plano  e sob a tutela da Rede Privada, Rede Estadual e Rede Federal COM QUALIDADE.

Acredito que com esta configuração, o pais em breve sairia deste pesadelo educacional e deste boom de marginalidade, fruto da pouca escolaridade e da pouca ocupação dos adolescentes em todos os níveis sociais.

Teria o pais uma conduta equânime , cada cidadão teria direito à mesma carga de ensino, a verba seria pulverizada nacionalmente independente da arrecadação do município.  A Escolarização Primária seria responsabilidade  do Governo Federal, só assim seria assegurado a cada cidadão  as mesmas ferramentas para se enfrentar a tão concorrida  vida  , dando cabo a este famigerado fosso social, podendo inclusive ser criado um ministério próprio, Ministério da Educação e do Adolescente, virado para esta fase da vida.
 A Educação básica e  irrestrita é de responsabilidade da União, está aí um bom álibi  para uma justa  distribuição dos royalties do Petróleo.

Iderval Reginaldo Tenório
Salvador Janeiro de  2014


  • Fotografia 3x4 - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=AM9AadRhGbw
    4 de dez de 2012 - Vídeo enviado por Nilo castro
    blues Belchior ...cd muito bom... http://www.belchiorblues.com.br Eu me lembro muito bem do dia em ...
  • FOTOGRAFIA 3X4 - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=2en-LjTuj6U
    8 de mai de 2012 - Vídeo enviado por Well Medeiros
    FOTOGRAFIA 3X4 ... Belchior - Um Concerto A Palo Seco (Álbum Completo 1974) - Duration: 44:51. by Som do Marx 16,158 views · 57:32.
  • terça-feira, 9 de dezembro de 2014

    O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu um duro recado aos envolvidos no escândalo da Petrobras.


    BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu um duro recado na manhã desta quarta-feira aos envolvidos no escândalo da Petrobras. Ao participar da abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Janot defendeu a prisão de corruptos e corruptores, o confisco de valores e bens desviados e disse que a culpa pela corrupção que envergonha o país não é do Ministério Público, mas de maus dirigentes. O procurador classificou as denúncias de corrupção na Petrobras como um incêndio de grandes proporções. Ele aproveitou para defender a substituição da diretoria da estatal.
    — É necessário maior rigor e transparência na sua forma de atuar. Espera-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa, a substituição de sua diretoria.
    O procurador observou que durante anos o país viveu o que ele classificou de "fetiche do sigilo e cultura da autoridade" o que, em sua visão, contribuíram para dar o tom das relações entre agentes públicos e a sociedade civil. Ele lembrou que o Brasil ainda é um país extremamente corrupto, ocupando uma posição no ranking internacional que envergonha a população. Mas disse que o Ministério Público tem agido para tentar reverter essa situação.
    — Corruptos e corruptores precisam conhecer o cárcere e devolver ganhos espúrios que engordaram suas contas às custas da esqualidez do Tesouro Nacional e do bem-estar do povo — discursou.
    'CULPA É DE MAUS DIRIGENTES'
    Ele recusou uma delação premiada de representantes de construtoras acusadas de irregularidades com a Petrobras porque, conforme declarou recentemente em entrevista, não aceitaram admitir a culpa nas transações.

    Janot afirmou que a culpa pela corrupção é de maus dirigentes e empresários.
    — Isso não é culpa do Ministério Público, mas de maus dirigentes que se associam a maus empresários em odiosas atuações montadas para pilhar continuamente as riquezas nacionais.
    De acordo com Janot, o Ministério Público está atuando para não deixar ninguém impune.
    — Ninguém se beneficiará de ajustes espúrios. Isso todos temos de ter certeza. A resposta para aqueles que assaltaram a Petrobras será firme. A decisão é ir fundo nas responsabilizações civil e criminal.
    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estava na mesma mesa que Janot, em discurso antes do procurador-geral avaliou que a percepção maior da população sobre a corrupção se deve, contraditoriamente, às ações para combatê-la.
    — A corrupção é um crime que ocorre nos subterrâneos. Ela é um crime oculto. Para conhecê-la é necessário evidenciá-la e colocá-la sob a luz do sol. quando as medidas que são tomadas para combater a corrupção surtem seus efeitos, a luz do sol é colocada sobre a realidade que estava antes na sombra e a percepção social da corrupção aumenta. Isso traz uma saudável contradição — declarou.
    Cardozo admitiu que há fortes indícios de corrupção na Petrobras e que isso atinge a empresa. Mas, segundo ele, a tarefa do governo é afastar, punir e afastar quem estiver praticando irregularidades. Ele não quis comentar, no entanto, a revelação de que o ex-ministro José Dirceu manteve contrato com a Camargo Correa.
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    — Não vou prejulgar absolutamente nada. Tudo deve ser apurado nos termos da lei.
    O ministro também disse que, ao se referir a maus governos, o procurador-geral da República não estava, necessariamente, falando da presidente Dilma Rousseff.
    — O procurador falou dos governos e acho que quando fala dos governos todos aqueles que não tiveram, historicamente, uma postura de apurar o que tinha que ser apurado, obviamente podem ficar incomodados. Um governo como de Dilma Rousseff, que tem postura firme de apuração, que não se intimida com quaisquer fatos que possam ensejar as investigações, não se sente incomodado, mas, ao contrário, apoia as investigações.




    segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

    RATAN TATA-Bilionário indiano diz que planeja montar veículos no Brasil

    

    Bilionário indiano diz que planeja montar veículos no Brasil

    Ratan Tata, que desenvolveu carros de US$ 2.500 na Índia, diz que poderia fazer uma parceria com a Fiat no país
    Por Gustavo Poloni, de Mumbai
    Dono de um dos maiores conglomerados industriais do planeta, o indiano Ratan Tata, 69, é um símbolo dos empresários de países emergentes que estão conquistando o mundo (leia também reportagem de EXAME sobre os negócios de Tata). O grupo Tata possui hoje 96 empresas em 120 países e emprega 246 000 pessoas. Atua principalmente nos setores automotivo, siderúrgico e de softwares. Dezesseis anos após Ratan Tata assumir o comando do conglomerado, o faturamento de suas empresas cresceu de 3 bilhões de dólares para 48 bilhões de dólares. Em entrevista exclusiva concedida em Mumbai (Índia), Tata disse a EXAME que planeja montar carros no Brasil, provavelmente em parceria com a Fiat. Também afirmou que poderia investir em siderurgia no país e que a presença do grupo Tata no Brasil só não é maior devido à distância da Índia. Veja a íntegra da entrevista:
     
    EXAME – O senhor tinha apenas nove anos quando a Índia tornou-se independente dos ingleses. O que se lembra daquele dia?
    Ratan Tata – Não me lembro de muitas coisas. Mas tenho muitas memórias das inúmeras manifestações que levaram à independência. A casa da minha família tinha vista para um lugar chamado Campo da Liberdade, onde foram realizados muitos dos discursos de Gandhi e Neru e onde a polícia inglesa atacou a multidão com cacetetes. Lembro-me muito bem dessas coisas. Tinha uma visão privilegiada de um movimento civil contra o governo e vi a polícia espancar sem piedade a multidão. Mas não tenho nenhuma memória daquele dia em particular.
     
    EXAME – O que mudou na Índia desde a independência e como isso influenciou o grupo Tata?
    Tata – Quando a Índia ainda vivia sob o controle dos ingleses, o grupo Tata já tinha um papel importante na criação da indústria na Índia. Naquela época, a empresa produzia aço, tecidos, energia. Essas empresas foram estabelecidas com o desejo de que o país se tornasse auto-suficiente nas áreas básicas da economia. Depois da independência, dos anos 50 até os anos 80, a Índia optou por um modelo econômico mais próximo àquele adotado pela União Soviética, com uma dominância muito grande do setor público. O problema é que muitas das nossas empresas atuavam em setores que, de acordo com o novo modelo de negócios em vigor, deveriam ser controlados pelo governo. Algumas dessas empresas foram eventualmente estatizadas — é o caso de uma seguradora e de um companhia aérea. Durante os anos 70 e 80, o grupo Tata parou de crescer. O grupo voltou a crescer no final dos anos 80, quando o governo começou a abrir a economia. Esse crescimento ficou mais intenso a partir dos anos 90, quando o regime de controle estatal foi abolido e a liberalização da economia ganhou força.
     
    EXAME – O senhor nasceu em Mumbai e cresceu num bairro chique da cidade. Como foi a sua infância?
    Tata – Foi muito proveitosa e divertida. Fui uma das poucas crianças afortunadas da Índia que nunca viu nada faltar em casa. Quando nasci, minha família já era muito bem de vida e eu morava numa linda casa na frente da nova sede da TCS em Mumbai (onde hoje funciona a sede do Deutsche Bank). Foi nessa casa em que eu cresci. Talvez a única coisa ruim da minha infância tenha sido a separação dos meus pais, quando eu tinha sete anos. Por causa disso acabei crescendo em duas casas — como fazem todas as crianças cujos pais são separados.
    EXAME – Do que o senhor costumava brincar?
    Tata – Eu fazia coisas que as crianças normalmente fazem, como jogar críquete. Não era um jogador muito bom, mas jogava muito. A casa tinha um grande jardim, onde meu irmão e eu disputávamos partidas. Mas tenho que dizer: meu irmão era muito melhor em esportes do que eu. Desde muito novo sou fascinado por aviação, como você pode ser (a sala de reunião tem uma prateleira com vários modelos). Eu era tão apaixonado que comecei a pilotar quando tinha apenas 14 anos. Como não poderia voar sozinho, parei. Só voltei três anos depois, quando poderia estar sozinho no avião. Tenho pilotado desde então.
     
    EXAME – Qual era a profissão do seu pai?
    Tata – Ele trabalhava no grupo Tata, passou por várias empresas e chegou a ser vice-presidente do grupo, mas infelizmente nunca chegou ao cargo que tenho hoje. Essa foi uma das suas maiores tristezas. Ele ainda era vivo quando cheguei ao topo do grupo e tenho certeza de que ele sempre achou que era ele que deveria estar lá.
     
    EXAME – Como o senhor se sentiu com essa situação?
    Tata – Eu teria deixado que ele assumisse a empresa no meu lugar. Ele e o então chairman, JRD Tata, tinham quase a mesma idade, com a diferença de apenas um mês. A princípio, o JRD Tata concordou que eu deixasse o cargo para o meu pai. Mas repensou e chegou à conclusão de que seria um erro sair um chairman com 82 anos para dar lugar a outro com a mesma idade. Foi aí que assumi o cargo.
     
    EXAME – E a sua mãe, no que ela trabalhava?
    Tata – Ela não trabalhava, mas estava sempre envolvida nas atividades sociais desenvolvidas pelo grupo Tata.
    EXAME – Quando os seus pais se separaram o senhor foi morar com a sua avó?
    Tata – Não. Meus pais sempre moraram com a minha avó. Quando eles se separaram, minha mãe saiu de casa e continuei a morar com meu pai e minha avó.
     
    EXAME – O senhor estudou nos Estados Unidos, e não na Inglaterra como mandava a tradição da família. Por que o senhor resolveu estudar numa universidade americana?
    Tata – Decidi ir para os Estados Unidos porque era fascinado pelo país. Não sei exatamente a origem desse interesse, mas desde pequeno gostava dos americanos.
     
    EXAME – E como foi realizar esse sonho?
    Tata – Foi como se eu sempre tivesse morado nos Estados Unidos. Desde o começo me sentia muito confortável e provavelmente não teria voltado para a Índia. Só voltei quando a minha avó ficou muito doente e pediu que eu estivesse ao lado dela. Não tive escolha. Quando voltei, ela não melhorou e nem faleceu, então resolvi ficar na Índia até que essa situação se resolvesse. Com o passar do tempo, voltar para os Estados Unidos tornou-se a opção mais difícil.
     
    EXAME – Nos Estados Unidos o senhor formou-se em arquitetura. Por que arquitetura?
    Tata – Nunca sonhei em ser presidente do grupo Tata. Assim como aviação e os Estados Unidos, a arquitetura sempre foi uma coisa que despertou a minha atenção. Eu gostava de desenhar quando era pequeno. Minha mãe sempre me disse que ela não sabe onde colocou um álbum que ela fez com os desenhos de casas que fiz quando era pequeno. Uma pena, adoraria ver que tipo de coisa eu desenhava naquela época.
     
    EXAME – Como a arquitetura ajudou o senhor a conduzir o grupo Tata?
    Tata – Apesar das pessoas não acreditarem que a arquitetura pode te ajudar numa carreira de negócios, ela foi muito importante. O processo criativo de um arquiteto envolve resolver uma série de problemas. Os desenhos são feitos de maneira que tenham elegância e que tenha proporção para integrar e que seja prazeroso aos olhos. Esse projeto é apresentado a um júri, que funciona como a área de marketing de uma empresa. Além disso, esse projeto tem ser executado dentro de um orçamento. Talvez eu nunca tenha aprendido o necessário em telecomunicações, carros ou outras coisas. Mas isso pode ser adquirido de outra forma.
     
    EXAME – Do que o senhor mais gostava nos Estados Unidos?
    Tata – Da sensação de ser anônimo. Os americanos sabiam muito pouco sobre a Índia e não tinham a menor idéia de quem eu era. Adorava ser mais um na multidão.
    EXAME – De volta a Mumbai e à Índia, o senhor trabalhou em algum outro lugar antes de entrar no grupo Tata?
    Tata – Por alguns dias, trabalhei para a IBM. Batia cartão no escritório da empresa em Mumbai dois ou três dias.
     
    EXAME – O que fez o senhor largar a IBM?
    Tata – O JRD Tata ficou sem graça de me ver trabalhando numa empresa que não pertencia ao grupo e me chamou para uma conversa. Ele disse que eu não poderia fazer aquilo e pediu uma cópia do meu currículo. Ainda me lembro que a IBM era uma das únicas do país que tinham máquinas de escrever elétricas. Um dia, depois do expediente, bati o meu currículo para entregar ao JRD Tata. Foi quando recebi uma proposta para trabalhar na Tata, que prontamente aceitei.
     
    EXAME – Qual foi o seu primeiro emprego no grupo Tata?
    Tata – Fui mandado para a empresa que hoje é chamada de Tata Motors em Jamshedpur, no nordeste do país. Passei os seis primeiros meses no chão da fábrica. Depois disso fui transferido para a Tata Steel, onde também passei três meses no chão de fábrica.
     
    EXAME – Como foi essa experiência?
    Tata – Foram tempos difíceis. Foi quando eu pensei em voltar para os Estados Unidos. Estava num programa de treinamento e passava de um departamento para outro. Não havia um trabalho definido. Às vezes, eles te pediam para alimentar as fornalhas. Hoje sei que a experiência foi muito boa porque eu consegui conhecer todos os níveis das nossas empresas. Ao ficar lado-a-lado com os funcionários, sabia quais eram as necessidades deles e de seus supervisores. Mas o tempo que fiquei nessa vida foi horrível.
     
    EXAME – O que segurou o senhor na empresa?
    Tata – Foi mais preguiça do que qualquer outra coisa. Você monta uma casa, faz amigos na cidade, tem uma vida. Depois de Jamshedpur fui transferido de volta a Mumbai. Se fosse para ir para qualquer outra cidade eu teria deixado a empresa. Mas voltar para Mumbai era voltar para casa. Ainda fui mandado para a Austrália por um ano para montar uma joint venture da empresa. Lá, eu senti vontade novamente de deixar tudo e ir para os Estados Unidos. Mas voltei novamente para Mumbai e aí a vida começou a ganhar mais sentido.
     
    EXAME – Qual foi o maior desafio que o senhor enfrentou nas empresas que passou?
    Tata – O maior desafio foi assumir a presidência de uma pequena companhia de eletroeletrônicos chamada Nelco, que produzia rádios. A equipe era muito jovem, mas fez com que a empresa deixasse de dar prejuízo para lucrar. Diversificamos a produção, investimos mais na fábrica e cortamos pessoal. No final das contas, acabamos com todas as dívidas e multiplicamos por dez a participação da empresa no mercado, que passou a ser de 20%. De uma hora para outra, fizemos com que a empresa fosse importante no mercado.
     
    EXAME – Quando foi isso?
    Tata – De 1971 a 1982. Os primeiros anos foram muito desafiadores, não sabíamos se a gente conseguiria salvar a empresa. Nessa época eu aprendi muita coisa.
    EXAME – Ao passar por tantas empresas e por tantas funções, o senhor achou que estava sendo preparado para assumir a presidência do grupo?
    Tata – Não.
     
    EXAME – Quando o senhor percebeu isso?
    Tata – Para ser sincero, nunca percebi. Havia dois ou três candidatos à sucessão do JRD Tata. Eles eram nomes conhecidos e comentados nos corredores da empresa. Eram mais velhos do que eu e acho que o cargo havia sido prometido para cada um dos três. Até eu acreditava que um deles seria o novo responsável pelo grupo. Quando soube que seria eu o chairman fiquei surpreso.
     
    EXAME – Como o senhor se sentiu?
    Tata – Surpreso. Não sou daqueles que perde o controle das coisas. Ao longo dos anos fiquei muito próximo ao JRD Tata e a gente dividia muitas coisas. Apesar de não esperar ser o novo chairman do grupo, estávamos muito próximos quando ele decidiu deixar o cargo.
     
    EXAME – Por que o senhor acha que ele escolheu o senhor ao invés dos outros?
    Tata – Por vários motivos. Em alguns casos, JRD Tata ficara decepcionado com uma das pessoas que concorriam ao cargo. Outro concorrente fez algo que ele achava errado. Acho que a escolha foi por eliminação. Não acredito que eu tinha feito uma coisa tão extraordinária que tenha me credenciado para receber a indicação.
     
    EXAME – Que medidas o senhor adotou para fazer com que a empresa voltasse a ser competitiva e lucrativa?
    Tata – A minha maior preocupação era fazer com que todas as empresas do grupo caminhassem na mesma direção. Naquela época, elas estavam muito largadas, éramos uma confederação de companhias. Também comecei a estudar um processo de reestruturação do grupo. Avaliei quais eram os negócios mais importantes e até que ponto a gente poderia crescer nesses mercados. Defini quais eram os mercados onde atuaríamos, o crescimento que teríamos e coloquei alguns objetivos para a empresa.
     
    EXAME – E o senhor enfrentou resistência?
    Tata – Nem todas as empresas aceitaram que elas deveriam ser submetidas a uma pessoa de fora que estipularia novas regras e objetivos a serem alcançados. Nos primeiros três anos, enfrentei muita resistência. Mas, a partir daí, começamos a operar efetivamente como um grupo.
     
    EXAME – Até que ponto as mudanças econômicas introduzidas pelo primeiro ministro no começo da década de 90 foram importantes para a recuperação do Tata Group?
    Tata – Elas foram importantes. Muita gente acreditava que a abertura da economia ia remover a proteção e prejudicar a indústria indiana. Na verdade, as medidas acabaram com os obstáculos que impediam o grupo de crescer. Acho que para a gente a liberalização da economia fez com que a empresa tivesse a chance de voltar a crescer.
     
    EXAME – O senhor acha que, sem essa abertura da economia, o grupo estaria em dificuldades agora?
    Tata – Não estaríamos quebrados, mas seríamos cada vez menos importante para a economia indiana. Seria uma continuação do processo de decadência que começou nos anos 50 e durou até o final dos anos 80.
     
    EXAME – Cerca de 60% dos lucros do Tata Group são transferidos para ONGs e fundações que ajudam a população carente. Em que tipo de projeto a empresa investe?
    Tata - São dois grandes projetos sociais, que se dividem em outras quatro. Hoje elas têm muito dinheiro porque têm ações da TCS. Com a valorização das ações da empresa nos últimos anos os projetos sociais têm muito dinheiro para gastar. É difícil dizer quantas pessoas são ajudadas pelos projetos. Eles ajudam comunidades, indivíduos, montam institutos de educação que ensinam milhares de pessoas, constróem hospitais, ajudam vilas a produzir.
     
    EXAME – Qual foi a sua maior decepção à frente do grupo Tata?
    Tata – Foi não ter tirado do papel a nossa nova companhia aérea. Isso aconteceu no começo dos anos 90. Um jogo de interesses de pessoas impediu a empresa de voltar a operar no mercado. O governo nunca nos deu permissão para recomeçar a nossa companhia aérea.
    EXAME – O senhor ainda pretende montá-la?
    Tata – Agora, não. Não desisti do meu sonho, mas tem muita empresa no mercado. Seria um mau negócio.
     
    EXAME – Se o senhor pudesse voltar no tempo, o que o senhor não teria feito à frente do cargo?
    Tata – Acho que não faria muita coisa diferente. Eu teria reestruturado a empresa mais rapidamente do que fizemos. Fora isso, acho que teria tomado as mesmas decisões. Não existe uma coisa que eu me arrependo de não ter feito.
     
    EXAME – Qual é o seu maior desafio à frente do grupo Tata?
    Tata – À medida que crescemos, o nosso maior desafio é encontrar gente qualificada para sustentar o crescimento do grupo. A TCS é um bom exemplo. A empresa vai precisar de 30 000 novos associados até o final deste ano. Isso vai fazer com que o número de funcionários da empresa chegue a 120 000 e acaba se transformando num grande desafio para a área de gerenciamento.
     
    EXAME – Da onde surgiu a idéia de produzir um carro de 2 500 dólares?
    Tata – Ao voltar para casa, costumava ver família inteiras andando numa scooter. O pai dirigia e o filho maior ia sentado na frente, a mulher na garupa segurava um bebê. Resolvi criar um projeto que pudesse oferecer a eles um meio de transporte mais seguro.
     
    EXAME – Como pode um carro custar tão pouco?
    Tata - A gente diminuiu todos os custos na produção de um carro. Mas não vamos tirar nada do que um carro tenha hoje. O segredo está na economia de aço, na forma de desenhar um carro mais compacto.
     
    EXAME – E a idéia de usar plástico para fazer o carro, o que aconteceu?
    Tata – O plástico mostrou-se muito mais caro do que o aço.
     
    EXAME – Quando ele será lançado?
    Tata – Aqui na Índia no ano que vem.
     
    EXAME – Mas ele será levado para outros países, como o Brasil?
    Tata – Eventualmente.
     
    EXAME – Que outros projetos o senhor tem para atender à população mais carente da Índia e do mundo?
    Tata – Estamos pesquisando uma forma de incluir mais nutrientes na alimentação das pessoas. Queremos empacotar a maior quantidade possível de nutrientes para poder distribuir para um grande número de pessoas. Pode ser no chá, no sal ou outros produtos que são consumidos pelas pessoas. Mas isso também está num estágio bastante inicial.
     
    EXAME – Por que a Índia ficou para trás na briga pelo país que mais cresce no mundo?
    Tata – Principalmente por causa dos sistemas políticos diferentes. A China pode criar facilmente um ambiente propício para o crescimento enquanto a Índia, como a maior democracia do mundo, precisa de aprovação do Parlamento para isso. A China tem a capacidade de crescer rapidamente e mais diretamente do que a Índia.
     
    EXAME – E o que a Índia precisaria fazer para crescer mais do que a China?
    Tata – Precisaria de uma coalizão mais alinhada do que hoje. Se isso acontecesse, a gente veria um crescimento mais espetacular do país. Hoje, os diferentes partidos estão mais preocupados com alianças políticas do que com o crescimento do país. Muitas vezes eles estão empurrando o país para lados opostos.
     
    EXAME – Como o senhor vê a Índia em 20 anos e qual o senhor acha que será o papel do grupo Tata no futuro?
    Tata - A Índia está num caminho de crescimento sustentável e espero que o grupo Tata tenha um papel importante no desenvolvimento do país. Provavelmente a gente não vai se comprometer com a Índia do jeito que gostaríamos porque agora somos um grupo internacional e estamos presentes em vários países. Mas a gente gostaria de ter um papel importante no desenvolvimento da Índia.
     
    EXAME – Muitos analistas dizem que a Índia será um dos países mais importantes do mundo no século 21. O que pode impedir o país de chegar lá?
    Tata – Várias coisas. Poderia ser uma mudança no panorama político. Poderia ser um conflito, como no caso do Paquistão em relação à região da Cashemira, que poderia sugar a energia do país numa guerra. Poderia ser também o colapso de uma grande economia, como a dos Estados Unidos, que afetaria países do mundo todo inclusive a Índia. Esses são os maiores impeditivos para o crescimento da Índia. Não acredito que outros fatores possam atrapalhar o crescimento da Índia.
     
    EXAME – E quais são as maiores armas da Índia para chegar lá?
    Tata – A grande população. Isso significa que o mercado ainda tem um grande potencial a ser explorado. Se a gente conseguir melhorar a educação da população, teremos uma das maiores bases de trabalhadores qualificados do mundo e teremos a maior população economicamente ativa do mundo no ano 2030. A gente tem todos os fatores que poderiam fazer da Índia uma potência econômica. E isso poderia ser destruído se tivermos um confronto político, se estivermos em meio a uma guerra, se não tivermos uma liderança importante.
     
    EXAME – Até que ponto os problemas de infra-estrutura na Índia atrapalham no crescimento do grupo Tata?
    Tata – Os problemas de infra-estrutura, como problemas no fornecimento de energia ou portos antiquados, afetam todas as empresas que estão na Índia. Algumas das nossas empresas, como a que produz energia, quer ter um papel cada vez maior no desenvolvimento do setor elétrico do país. E nos causa frustração o fato de não termos o ambiente certo para podermos fazer investimentos e crescer. Mas não acredito que os problema da infra-estrutura nos afete mais do que qualquer outra empresa na Índia.
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    DAMARIO DACRUZ- MAIS UM BRASILEIRO QUE CAIRÁ NO ESQUECIMENTO, FALECEU AOS 57 ANOS DE IDADE EM SALVADOR EM 2010.




     
    Para o povo da Bahia e do Brasil.
     
    Hoje assistindo um programa jornalístico numa Rede de Televisão Canal Fechado, Programa  apresentado por 04 jornalistas e comandado  por Lucas Mendes , fiquei surpreso quando na coluna cultural o apresentador mostrou uma Artista  Plástica  Russa como se fosse coisa do outro mundo, como se a sua arte fosse o que existe de mais novo no assunto, a mesma  faz exposição em todo o mundo, o interessante é que a sua arte é proporcionar vida à sua exposição, manda o publico catar feijão, dormir no salão, andar sobre fios e outras manobras, acontece que o precussor e divulgador desta arte é um baiano soteropolitano ,  depois cidadão Cachoeirense , onde passou grande parte de sua vida cultural, o meu amigo Damário Dacruz, que nos anos de 80 até o de 2010 encenava os grandes poemas de Castro Alves e os seus numa verdadeira reencarnação e regressão aos fatos da época.
     
    Quando se visitava a sua casa cultural, uma antiga casa na cidade de  Cachoeira , casa do tempo colonial e do período escravagista brasileiro, o Damário Dacruz embarcava a plateia no navio negreiro, empilhava 50 pessoas num cubículo 3 por 3  , um calor infernal, portas fechadas, sem luz ou na penumbra, os casais separados, os amigos um distante do outro,  ligava um ventilador potente, uma trilha sonora de sofrimento , de gritos e de medo, a voz estridente do comandante dando ordem, o som do chicote cortando o vento e o dorso de cada participante, o balançar do barco, a falta da água, o som de tosses e de gemidos , a plateia ia ao delírio, era uma verdadeira viagem mal assombrada da África ao Brasil, muitos pediam para sair do barco, isto é, da macabra sala, o poeta não hesitava, permitia.
     
    No fim , eram feitos comentários, aqueles que pediam para sair antes não eram convidados a tomar um belo copo d'água, para o poeta eram os escravos que pulavam no mar ou morriam pelos mal  tratos.
     
    Visitar o mestre Damário Dacruz era degustar arte, era viver cada momento da vida e conhecer um pouco do sofrimento do povo brasileiro até os dias de hoje.
     
     O Damário era uma artista fora do comum, pena que foi muito cedo, partiu com 57 anos de idade.
     
    Fiz esta matéria para mostrar que a nossa cultura precisa de uma maior divulgação, o brasileiro precisa ser mais brasileiro, o povo tem que conhecer e valorizar o povo, só o povo faz algo pelo povo, para o povo e para o bem do povo.
     
    O DAMÁRIO DACRUZ COMO NÓS,  ERA POVO.
     
    Iderval Reginaldo Tenório
     
     
    DAMÁRIO DACRUZ

    O Poeta

    “Sou um homem. Portanto, uma surpresa.”

    Damário Dacruz nasceu em 1953, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador. Começou a escrever ainda na adolescência e, mesmo com o desejo do pai de que se tornasse engenheiro, decidiu construir suas obras com palavras, imagens e sonhos. Os seus primeiros poemas surgiram nas salas do Colégio Central, mesma instituição onde se revelaram grandes ícones da arte baiana como Glauber Rocha, Calazans Neto e outros.
     
    Membro da geração de artistas surgida nos anos 70, viveu intensamente a efervescência cultural e política da época e produziu movido pela crença na possibilidade de mudar a realidade ao seu redor. Dedicado ao ofício da poesia desde o início da sua vida, Damário Dacruz publicou seu primeiro livro aos vinte anos, mas já havia recebido o primeiro prêmio ainda adolescente.
     
    Mesmo acumulando prêmios importantes ao longo da sua trajetória, Damário se esforçou para que suas obras não se limitassem aos círculos de literatos e acadêmicos, buscando levar os seus textos ao maior número possível de pessoas possível. Assim, formou grupos literários, foi líder estudantil e, mais tarde, tornou-se uma importante referência sindical. Também percorreu o Brasil em busca de novos poetas e diferentes formas de divulgar suas obras, exercitando uma das suas crenças mais profundas: a arte deve surgir do povo, para o povo.
     
    Como estudante de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), fundou o jornal UNE-VERSOS. Dedicada à arte, a publicação foi um verdadeiro marco para a época. Também na UFBA, desenvolveu uma segunda paixão: a fotografia. Demonstrava, com as lentes, a mesma sensibilidade que exibia com as palavras. E conseguiu registrar, em imagens, muitos dos temas presentes na sua obra poética. Ao longo da carreira, exibiu fotos em galerias do Brasil e do mundo.
     
    Mesmo sendo poeta de ofício, com quatro livros publicados, foi quando aliou a poesia com a fotografia que Damário Dacruz encontrou o suporte ideal para manifestar sua visão de mundo. Seus fotos-poemas, junções sensíveis entre as imagens que produzia e os versos que escrevia, atingiram grande popularidade.
    O mais conhecido deles, “Todo Risco”, lançado em 1985, vendeu mais de 100 mil exemplares. Formada por uma imagem em preto e branco dos trilhos da cidade de Cachoeira, acompanhada por versos que falam da coragem frente aos desafios da vida, a publicação esgotou por seguidas edições.
     
    Com o sucesso das vendas, o poeta conseguiu realizar um dos seus maiores sonhos: criar, no Recôncavo Baiano, coração cultural e histórico do estado, um pólo aglutinador de iniciativas culturais.
    Contrariando as tendências da época, que apontavam o crescimento da Bahia na direção do Litoral Norte, comprou um sobrado do século XVIII, na Praça da Aclamação, na cidade de Cachoeira. Depois de quase uma década em longa reforma, feita com recursos próprios e sem ajuda de órgãos governamentais, foi inaugurado o Pouso da Palavra.
     
    Logo o espaço tornou-se um centro cultural regional, e o tempo mostrou que Damário Dacruz acertou ao insistir no sonho. Exposições de artes plásticas, apresentações musicais, debates literários, tudo se encaixa e se frutifica no Pouso da Palavra. Em reconhecimento ao trabalho realizado, recebeu, em 2005, o título de cidadão de Cachoeira.
     
    Longe do mundo da arte, desenvolveu uma longa carreira como profissional de comunicação. Foi revisor do jornal A Tarde e assessor de imprensa de diversos órgãos do Governo do Estado da Bahia. Durante 25 anos, trabalhou na Telebahia, deixando a instituição como gerente da Divisão de Publicidade e Propaganda. Foi ainda diretor da Fundação Cultural do Estado da Bahia e secretário-geral do Instituto Baiano do Livro.
     
    Em maio de 2010, aos 53 anos e quase 40 dedicados à poesia, faleceu em Salvador, vítima de câncer. Foi enterrado em Cachoeira, onde deixou uma obra que vai além das suas publicações e que, hoje, permanece viva através do Instituto que leva o seu nome. Antes de falecer, porém, deixou sua despedida em forma de versos; o adeus de um poeta.