segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Críticas do Zezinho ao curso fundamental

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                          Reflexões (necessárias) sobre o sistema educacional brasileiro - Práxis O que aconteceu com o Zezinho - O Legislativo para crianças - Câmara dos  Deputados

A escola era excludente e agora precisa dar conta de todos", diz educadora  - 15/01/2016 - UOL Educação               

      Críticas do meneino  Zezinho, ao curso fundamental.

Queridos professores, venho da roça e tenho 14 anos. A minha primeira escola foi no campo.  Os meus pais e os fenômenos da natureza foram os meus professores. As formigas, as abelhas,  os repteis e todos os animais foram  meus   colegas e   também professores. 

Brinquei com todos eles.   Levei muitas carreiras de galinhas chocas,  cadelas e vacas  paridas. Corri de abelhas, carneiros e de bodes pais de chiqueiro.

Nenhum deles sabia ler, escrever ou contar. Até os humanos  não tinham boa leitura. Graças a eles percebi a grandeza da vida, natureza e  cidadania.

Os fenômenos  da natureza  me ensinaram a importância  de cada um. Os demais animais passaram a ideia  de  que  cada ser merece respeito. Ficou claro que todos contribuem para a formação do cidadão.

Os animais classificados como irracionais, brutos e simples me ensinaram a importância da vida, do bem estar, como me comportar diante da natureza, viver em sociedade harmoniosamente  com as diferenças e as diversidades, tanto dos seres animados e  inanimados, precisamente  os morros, as águas,  as florestas  e tudo quanto emana da terra,  inclusive ela própria.

Ao entrar nesta escola, imaginava encontrar um ambiente livre  que deixasse o meu cérebro voar como um pássaro, brotar miríades de perguntas sobre a complexidade da vida e do universo, como também perseguir as  respostas. 

Imaginava que a escola dos humanos  me orientasse a concatenar as minhas ideias, mostrasse novos caminhos e como desenvolver  novos pensamentos.

Imaginava que nesta escola  iria encontrar  muitos orientadores,  tais quais os meus amigos de infância,    que  sem  saberem falar, contar ou escrever,  me orientaram  para a vida. 

Imaginava que cada colega  passasse  os seus conhecimentos e  experiências. Que  num contínuo compartilhamento fôssemos somando  e  no  coletivo  aperfeiçoando a capacidade de viver em comunidades.

Ao saber que existia  o estudo de diversas disciplinas fundamentais, como a língua pátria, a aritmética, a história, a ciência   e  outras,    iria  compreender  as suas importâncias, a necessidade de me aprofundar e entender a participação de cada uma na vida.

Acreditava que além deste esqueleto quase pétreo, mergulharia  sozinho ou em equipe nos mistérios sociais e culturais da humanidade e, de  posse dos conhecimentos geográficos, filosóficos e antropológicos,  iria procurar maneiras de explorá-las e aplicá-las na vida real como um todo.

Voaria como um alado livre  por todos os recantos, procurando respostas  para os mistérios  da vida e para a conquista da liberdade. O que encontrei foi uma prisão, uma gaiola, um engessamento e tendo que seguir literal e obrigatoriamente  as demandas do imaginário humano.

A proibição excessiva da  formalidade natural, freios excludentes das criatividades individuais que contribuiriam  para o bem da coletividade, se não inibidos, seriam  libertadores e democráticos.  Clausura que levará ao desaprendizado  dos atos de voar, cantar, pensar,  de liberdade e  discernir  o que é bom ou ruim para a vida. Confesso que este sistema de ensino fez em minha pessoa  nascer a vontade de transgredi-lo, abrir as porteiras da liberdade e colocar o cérebro livre a serviço da humanidade.   

 Os engaiolados e prisioneiros, em todos os vieses, não são donos de si e nem dos seus pensamentos. Possuem donos e estes tutores  os levarão para onde quiser, principalmente os presos pela consciência. 

Aqui, com todas as artificialidades e  o intuito de colocar o cidadão no topo ou pelos menos encontrar um lugar ao sol neste mundo desigual,   fazem   refletir  sobre o futuro da humanidade, afastando ainda mais os homens e selecionado-os  em castas. 

A impressão é que o modelo desta escola fundamental contribuirá para a exclusão  e criará mais degraus na estratificação social, distanciando mais ainda  a base do cume, pois existem diferenças nos conteúdos escolares nas classes sociais.

Enquanto maior o poder aquisitivo, mais ênfase no ensino das disciplinas basilares, menos nas disciplinas sociais, distanciando-os das coisas básicas da natureza.  

Este  tipo de escola  faz com que cada  um aprenda  a ser um desagregador, um concorrente ou um eterno adversário.  Irá despertar  no Eu  de cada um  a propriedade de ser o melhor, o mais competente, um eterno ganhador  e o primeiro  em tudo, mesmo que tenha  que puxar o tapete do próximo. 

Não tenho cerimônia  de falar para os senhores que o mundo com este modelo, a cada dia, ficará mais desigual. É assim que se constroem as pirâmides  sociais  em todas as demandas da vida.

Professores,  peço  que apenas  mostrem o melhor caminho para a vida, que apontem a melhor maneira de utilizar o cérebro, pois a de raciocinar, todos são capazes.  Com   estas ferramentas  cada um saberá encontrar a verdadeira importância da vida. Tenham certeza que cada um continuará o aprendizado sem se afastar dos princípios morais, naturais, sociais, filosóficos, éticos e  de como participar de um mundo mais justo, gozando   de  plena cidadania. 

Deixem as crianças  raciocinarem, se desenvolverem e se posicionarem. A mente de uma criança é como um vulcão em ebulição. As coisas brotam do âmago e das profundezas. Cada criança é um   fenômenos da natureza.

Cada  uma tem e vem de um mundo diferente. Todas as crianças estão cheias de conhecimentos pertinentes ao nível social e da convivência com os que lhes  rodeiam.  Está no compartilhamento de suas vivências e ideias  a chave  para um mundo mais equânime. Sempre escutei dos meus antepassados e ainda escuto que cada cabeça é um mundo.

Deixem as crianças criarem, pensarem, se comunicarem e contribuírem para encontrar  muitas respostas para o bem desta civilização.

Sei que este modelo não é da lavra  dos professores. Faz parte da conjuntura, da vontade política, da educação formal, homogênia e hegemônica.  Aos  senhores  cabe apenas executarem  a engessada grade curricular num pequeno espaço de tempo, num ambiente muitas vezes inadequado, sem segurança, sem remuneração condizente e a valorização pertinente à  função.

Mestres, não falei mais porque ainda sou rude, capiau e quase um animal do campo. Quase um analfabeto nas coisas da vida. Enfim, um ignorante. 

Trago impregnado e sedimentado  na mente os ensinamentos da natureza.  Acredito que ao entrar no curso do ensino médio darei continuidade  a esta simples missiva.  

                                             Zezinho

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                            Iderval Reginaldo Tenório

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto maravilhoso meu amigo, parabéns! Beth

mazesales36@gmail.com disse...

Maravilhosa está reflexão. Parabéns pelo conteúdo salutar.