‘Não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil’, diz Graça sobre Pasadnae
Danilo Fariello e Ramona Ordoñez ()
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BRASÍLIA E RIO - A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, admitiu nesta terça-feira que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, foi um mau negócio. Em audiência pública no Senado, ela disse que o Conselho de Administração da estatal aprovou a compra de Pasadena sem saber de cláusulas importantes do contrato. Segundo Foster, era fundamental ter conhecimento das cláusulas de Put Option e de Marlin, que não constavam do resumo executivo apresentado pela diretoria Internacional da estatal na reunião do conselho que aprovou a compra de 50% da refinaria no dia 3 de fevereiro de 2006.
- Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil. Mesmo que margens voltem a valores mais altos, a Petrobras hoje tem outras prioridades.
Graça tentou relativizar o prejuízo da Petrobras no investimento da refinaria, ponderando com um “valor real” do ativo pago pela Astra Oil pela aquisição do investimento de sua antiga dona, a empresa Crown, e comparando o valor pago pela Petrobras com outros ativos no exterior à época. Graça ainda defendeu a presidente Dilma Rousseff, que explicou que o conselho de administração da empresa não foi informado pela diretoria executiva da Petrobras sobre duas cláusulas que contribuíram com o aumento do valor pago pela estatal para aquisição de Pasadena.
- Não seguiu para o conselho de administração da Petrobras o resumo executivo completo. Não havia menção das duas cláusulas extremamente importantes para tomada de decisão - disse Graça.
Segundo Graça, a Astra pagou à Crown muito mais do que US$ 42,5 milhões frequentemente apontados. Ela disse que, no mínimo, a refinaria custou à Astra US$ 360 milhões, porque, além do valor investido, teria havido um contrato de US$ 104 milhões entre a Astra e a Crown prevendo a possibilidade de, ao fim do contrato, haver um processo de compra completa pela Astra. Houve, ainda, levantamento feito no livro contábil da companhia de investimentos de US$ 112 milhões feitos na refinaria antes da compra pela Petrobras.
- No mínimo, temos o pagamento de US$ 360 milhões por 100% da refinaria. Então pagamos pela refinaria US$ 885 milhões e a Astra pagou US$ 360 milhões. Fora isso, houve juros, honorários, que pagamos por conta desse processo (arbitral e judicial) que caminhou até 2012.
A presidente da Petrobras reconhece que o valor total investido na refinaria foi de US$ 1,25 bilhão. Para relativizar o preço pago por Pasadena, Graça comparou esse valor total investido com aquisições similares no exterior feitas à época. Ela disse, ainda, que a compra do estoque se refere à sua relação com clientes e fornecedores.
- O maior valor pago foi por estar dentro de uma atividade (nos EUA).
De acordo com Graça, a Petrobras avalia hoje Pasadena como um “empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido”. Entretanto, já foi reconhecida perda de US$ 530 milhões em Pasadena, a partir do que o ativo passa a ser "de qualidade":
- Temos uma refinaria que opera com segurança e que, em janeiro, fevereiro e março, deu resultado positivo.
Ainda durante a audiência, Graça afirmou que houve um “grande constrangimento” na Petrobras com a prisão do ex-diretor Paulo Roberto Costa na operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Segundo ela, todos os contratos que sofreram interferência de Costa estão sendo reavaliados pela empresa neste momento. Ela, porém, deixou claro que não responde pelo ex-colega.
- Tanto diretoria anterior quanto a atual são técnicas. Esta, eu tenho responsabilidade sobre ela. (...) A Petrobras não pode ser medida por uma pessoa e aquelas com que essa pessoa interage dentro da companhia. Nós não vivemos num abismo ético - disse ela, quando questionada pela oposição sobre a existência de um “abismo ético” na estatal.
Oposição faz críticas e rebate Dilma
A oposição aproveitou a audiência para atacar a Petrobras. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), primeiro da oposição a falar, rebateu a declaração da presidente Dilma Rousseff de que existem políticos que querem acabar com a estatal. Segundo ele, é a situação atual de gestão da empresa que trilha esse caminho.
- A história da Petrobras é de loteamento de cargos, propina, superfaturamento e desvio do dinheiro público, que a coloca nessa situação, próxima do abismo - disse Dias, completando: - A audiência pública não elimina a necessidade da CPI. O que justifica a instalação da CPI é a omissão do governo, a leniência.
Governo quer esvaziar pedido de CPI
A manifestação da presidente da Petrobras na audiência pública no Senado é uma tentativa do governo federal de esvaziar o pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar denúncias sobre a aquisição da refinaria, que teria custado R$ 1,2 bilhão à estatal.
Graça Foster começou sua exposição apresentado justificativas para a aquisição de Pasadena, assim como das refinarias de Baía Blanca (Argentina) e de Okinawa (Japão).
- Em 2004, voltamos para falar de Pasadena, não tínhamos o pré-sal, nem a produção atual do pós-sal, nem a orientação de ampliação do parque de refino do Brasil. (…) Seria interessante que a Petrobras refinasse petróleo fora, em sintonia com o crescimento dos mercados locais. Deveríamos agregar valor à produção de óleo pesado da Petrobras.



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Collor recebeu dinheiro de ‘banco clandestino’ operado por ex-diretor da Petrobras
Para os policiais, o senador seria mais um dos beneficiários de uma central de distribuição de propina a políticos de diversos partidos
Protagonista de um dos principais fatos políticos da recente história do Brasil, o senador alagoano Fernando Collor de Mello (PTB-AL), alvo de impeachment no Congresso Nacional, aparece como um dos beneficiários de uma espécie de “banco clandestino” operado pelo ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso na operação Lava Jato, da Polícia Federal. Na agenda de Costa apreendida pelos policiais veio à tona uma contabilidade financeira paralela envolvendo políticos e, para a surpresa dos investigadores, o recibo de um depósito bancário de 8.000 reais em favor de Collor. A revelação está na edição de VEJA desta semana, em reportagem de Rodrigo Rangel e Hugo Marques.
Os valores, ainda que quase simbólicos, intrigam os policiais principalmente após documentos da Lava Jato terem apontado que a Investminas, empresa controlada por Pedro Paulo Leoni Ramos, secretário de Assuntos Estratégicos no próprio governo de Fernando Collor, também já havia feito um pagamento de 4,3 milhões de reais para a consultoria de Paulo Roberto Costa. Para os policiais, Collor seria mais um dos beneficiários de uma central de distribuição de propina a políticos dos mais diversos partidos.
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Na caderneta apreendida pela Polícia Federal junto aos documentos de Paulo Roberto Costa, os investigadores acreditam terem encontrado mais um braço do esquema operado pelo ex-diretor da Petrobras em parceria com o notório doleiro Alberto Youssef. De acordo com os documentos, trata-se de negociatas na venda de facilidades a empreiteiras e na subsequente distribuição de dinheiro, via caixa dois, a políticos.
Na contabilidade paralela do ex-diretor da Petrobras, apontado como homem-bomba na provável CPI a ser instalada no Congresso, está registrado, com referência a 2010, repasse de 28,5 milhões de reais ao Partido Progressista (PP), sendo 7,5 milhões de reais ao que os policiais apontam como o Diretório Nacional da legenda. O PP é o padrinho político de Costa na poderosa diretoria da Petrobras.
Costa construiu a carreira na estatal de petróleo desde os anos 1970. Chegou à diretoria de Abastecimento da companhia em maio de 2004 pelas mãos do ex-presidente Lula e após indicação do PP. Mesmo tendo sido alçado ao cargo com as bênçãos do PP, contava com respaldo de setores do PMDB e do grupo ligado ao deputado petista Cândido Vaccarezza (SP).“Ele era indicado do PP, mas depois virou [apadrinhado de] uma constelação de partidos”, diz um político ligado à estatal. No posto, passou a intermediar clandestinamente negócios entre empreiteiras e empresas e abastecer os cofres não contabilizados dos políticos.
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Na caderneta, em linguagem cifrada, aparecem, além dos nomes de políticos, referências à empreiteira Queiroz Galvão, uma das prestadoras de serviço da Petrobras, à empresa UTC, que também fornece à petroleira, e à Engevix, companhia que gerencia empreendimentos nas áreas de energia, indústria e infraestrutura. Em todos os casos, há indicativos de que as companhias estariam “dispostas a colaborar” com o banco clandestino de financiamento a políticos. Procuradas por VEJA, as três disseram desconhecer a lista. Também contatado, o senador Fernando Collor de Mello não deu informações sobre o caso.
Fonte http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/collor-recebeu-dinheiro-de-banco-clandestino-operado-por-ex-diretor-da-petrobras](https://fbcdn-sphotos-f-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/t1.0-9/s526x395/10154496_679280135464641_5871298475046346084_n.jpg)

