Na madrugada de 25 de janeiro de 1835, um domingo, aconteceu em Salvador a revolta
de escravos africanos. O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês,por
serem assim chamados os negros muçulmanos que o organizaram. A expressão male vem
de imalê, que na língua iorubá significa muçulmano. Portanto os malês eram
especificamente os muçulmanos de língua iorubá, conhecidos como nagôs na Bahia.
Outros grupos, até mais islamizados como os haussás, também participaram, porém
contribuindo com muito menor número de rebeldes.
A
revolta envolveu cerca de 600 homens, o que parece pouco, mas esse número
equivale a 24 mil pessoas nos dias de hoje. Os rebeldes tinham planejado o
levante para acontecer nas primeiras horas da manhã do dia 25, mas
foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da
Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a
porta para entrarem, os soldados foram surpreendidos com a repentina saída
de cerca de sessenta guerreiros africanos. Uma pequena batalha aconteceu na
ladeira da Praça, e em seguida os rebeldes se dirigiram à Câmara
Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona ainda hoje.
A
Câmara foi atacada porque em seu subsolo existia uma prisão onde se encontravapreso
um dos líderes malês mais estimados, o idoso Pacifico Licutan, cujo nome
muçulmano era Bilal. Este escravo não estava preso por rebeldia, mas porque seu
senhor tinha dívidas vencidas e seus bens, inclusive Licutan, foram confiscados
para irem a leilão em benefício dos credores.
O
ataque à prisão não foi bem sucedido. O grupo foi surpreendido no fogo cruzado entre
os carcereiros e a guarda do palácio do governo, localizado na mesma praça.Daí
este primeiro grupo de rebeldes saiu pelas ruas da cidade aos gritos, tentando acordar
os escravos da cidade para se unirem a eles. Dirigiram-se à Vitória onde havia
um outro grupo numeroso de malês que eram escravos dos negociantes
estrangeiros ali residentes. Após se unirem nas imediações do Campo Grande, os
rebeldes atravessaram em frente ao Forte de São Pedro sob fogo
cerrado dos soldados, indo dar nas Mercês, de onde retornaram para
o centro da cidade. Aqui atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São
Bento, outro na atual Rua Joana Angélica (imediações do Colégio Central),
lutaram também no Terreiro de Jesus e outras partes da cidade. Em
seguida desceram o Pelourinho, seguiram pela Ladeira do Taboão e
foram dar na Cidade Baixa. Daqui tentaram seguir na direção do
Cabrito, onde tinham marcado encontro com escravos de engenho. Mas foram
barrados no guartel da cavalaria em Água de Meninos. Neste local se deu a última
batalha do levante, sendo os malês massacrados. Alguns que
tentaram fugir a nado terminaram se afogando. A
revolta deixou a cidade em polvorosa durante algumas horas, tendo sido vencida com a
morte de mais de 70 rebeldes e uns dez oponentes. Mas o medo de que um novo levante
pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes
livres. Um
medo que, aliás, se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil. Em
quase todas elas, principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, os
jornais publicaram notícias sobre o acontecido na Bahia e as autoridades
submeteram a população africana a uma vigilância cuidadosa e muitas vezes a uma
repressão abusiva.
Salvador
tinha na época da revolta em torno de 65.500 habitantes, dos quais cerca de 40
por cento eram escravos. Entre a população não-escrava a maioria era também
formada por africanos e seus descentes, chamados na época de
crioulos quando eram negros nascidos no Brasil, além dos mestiços de branco e
negro, chamados de pardos, mulatos e cabras. Juntando os negros e
mestiços escravos e livres, os afro-descendentes representavam 78 por cento da
população. Os brancos não passavam de 22 por cento. Entre os escravos, a grande
maioria (63 por cento) era nascida na África, chegando a 80 por cento
na região dos engenhos de açúcar, o Recôncavo.
Esses
escravos eram trazidos de diversos portos da costa africana. Um grande número
vinha de Luanda, Benguela, Cabinda, mas na época da revolta de 1835 a grande
maioriaera
embarcada nos portos do golfo do Benim (portos de Ajudá, Porto Novo, Badagri,
Lagos).
Foram
alguns desses últimos grupos os mais diretamente ligados à revolta. Eles podiam
ser de diversas origens, segundo a língua que falavam: iorubá,
haussá, fon, mahi, nupes, bornus etc. Na Bahia a maioria desses
escravos era conhecida por nomes diferentes daqueles que tinham na
África: os de língua iorubá chamavam-se nagôs, os fon e mahi eram conhecidos
como jejes, os nupes como tapas. Em
1835 a grande maioria dos escravos da Bahia nascidos na África era realmente de língua
iorubá, cerca de 30 por cento. Eram como nagôs. Muitos deles professavam a
religião muçulmana, embora a maioria dos nagôs fosse de fato adepta do
candomblé dos orixás. A
cidade de Salvador tinha uma economia baseada na escravidão, que girava em torno
da cana-de-açúcar produzida na região denominada de Recôncavo, terras que
circundam a Baía de Todos os Santos. Ali também se plantava o fumo, que era
exportado para a Europa e para a África. Na África o fumo era utilizado na
compra de escravos.
No
Recôncavo, os escravos eram empregados em todo tipo de atividade rural, não apenas
no setor açucareiro e fumageiro. Eles também labutavam na criação de gado e nocultivo
da mandioca. A farinha de mandioca já era naquela época um item fundamental da dieta
de ricos e pobres, senhores e escravos. Como o fumo, a farinha estava também
ligada ao tráfico, pois constituía um dos principais alimentos a
bordo dos navios negreiros.Da mesma
forma, os escravos eram utilizados nas vilas e cidades, sobretudo na capital,
onde se ocupavam no trabalho doméstico, nos diversos ofícios (pedreiro,
sapateiro,ferreiro),
nas atividades do mar (marinheiro, remador, canoeiro, pescador). Eles lavravam a
terra em pequenas plantações existentes na periferia da cidade, trabalhavam em
variados tipos de construção pública e privada, vendiam uma grande
variedade de pequenas mercadorias, principalmente comida pronta, verduras,
peixe, carne. E eram empregados no transporte de volumes grandes e pequenos,
como caixas de açúcar, barris de cachaça, mercadorias importadas, água de gasto
e potável, dejetos humanos, balaios de compras e até cartas eram levadas ao
correio por escravos. Eles também transportavam pessoas nas cadeiras
de arruar, talvez a mais típica atividade dos escravos nas ruas de Salvador.
As
ocupações dos presos por suspeita de participação na revolta de 1835 refletem a
variedade
de atividades desempenhadas pelos escravos urbanos. Havia entre eles
lavradores, remadores, domésticos, pedreiros, sapateiros, alfaiates, ferreiros,
armeiros, barbeiros, vendedores ambulantes, carregadores de cadeira, entre
outras atividades. A grande maioria dos rebeldes se empregava em ocupações
tipicamente urbanas. Foram pouquíssimos os ocupados na lavoura, por exemplo. Um
ou outro tinha vindo do Recôncavo para participar do levante em Salvador.
Na
escravidão urbana os cativos gozavam de maior independência do que na
escravidão rural, e isso facilitou muito a organização do movimento de 1835. Em
geral, os escravos percorriam
por toda a cidade trabalhando para seus próprios senhores ou, principalmente,contratados
por terceiros para serviços eventuais. Muitos escravos sequer moravam na casa
senhorial. Chamados negros ou negras de ganho, e também de
ganhadores ou ganhadeiras,
esses homens e mulheres escravizados contratavam com seus senhores entregar
certa quantia diária ou semanal de dinheiro, e tudo que ultrapassasse esta
quantia podiam embolsar. O escravo que trabalhasse muito e
poupasse muito podia após cerca de nove longos anos comprar sua
liberdade, e muitos assim o fizeram. Alguns chegavam se tornar
prósperos homens de negócio, que era a ocupação mais comum dos que prosperavam.
Muitos africanos, depois de libertos da escravidão, tornavam-se eles próprios
senhores de escravos. Calcula-se em cerca de 7 por cento a proporção dos
africanos libertos na população de Salvador na época da revolta dos malês. Eles
representariam em torno de 25por cento da população africana na cidade.
Africanos
escravos e libertos com freqüência trabalhavam e viviam juntos, desempenhando
as mesmas tarefas, morando nas mesmas casas. No trabalho de rua organizavam-se
em associações chamadas cantos de trabalho, nos quais se reuniam principalmente
os da mesma etnia chefiados por um “capitão” encarregado de
acertar os serviços desempenhados pelo grupo. Assim associados enfrentavam o
trabalho diário e desenvolviam laços de amizade e solidariedade que
constantemente se desdobravam em ações políticas. Esses grupos de trabalho
foram essenciais na mobilização dos africanos para a revolta em 1835 e em
outras ocasiões. Enquanto esperavam por serviço nas esquinas onde se reuniam,
os africanos iam formulando e aperfeiçoando suas idéias de liberdade e de
ataque à escravidão na Bahia. Infelizmente
não sabemos detalhes do que planejavam fazer os rebeldes depois de
vitoriosos.
Há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil,
fossem estas brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras
escravizadas pelos vitoriosos malês. Isso refletia as tensões existentes no
seio da população escrava entre aqueles nascidos na África e aqueles nascidos
no Brasil. Que fique bem claro: os negros nascidos no Brasil, e
por isso chamados crioulos, não participaram da revolta, que foi
feita exclusivamente por africanos. Por
isso, se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação
controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Talvez a Bahia se
transformasse num país
islâmico ortodoxo, talvez num país onde as outras religiões predominantes entre
os africanos
e crioulos (o candomblé e o catolicismo) fossem toleradas. De toda maneira a revolta
não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um
movimento político, no sentido de que tomar o governo constituía um dos
principais objetivos dos rebeldes.
Apesar
de apoiados por africanos não-muçulmanos, que também entraram na luta, os
malês
foram os responsáveis por planejar e mobilizar os rebeldes. Suas reuniões —
feitas
nas
casas de libertos, nas senzalas urbanas, nos cantos de trabalho — misturavam
conspiração, rezas e aulas em que se exercitavam a recitação, a memorização e a
escrita de passagens do Corão, o livro sagrado do islamismo. O
próprio levante foi marcado para
acontecer
no final do mês sagrado do Ramadã, o mês do jejum dos muçulmanos. Os malês
foram para as ruas guerrear usando um abadá branco, espécie de camisolão
tipicamente muçulmano, além de também carregar em volta do pescoço
e nos bolsos amuletos protetores, que eram cópias em papel de rezas e passagens
do Corão dobradas e enfiadas em bolsinhas de couro ou pano. Esses amuletos eram
confeccionados por mestres muçulmanos, muitos deles líderes da revolta, que
teriam dado a seus seguidores suas bênçãos e a certeza da vitória.
Cientes
de que constituíam minoria na comunidade africana da Bahia, composta de escravos
e libertos de diferentes grupos étnicos e religiosos, os malês não hesitaram emconvidar
escravos não-muçulmanos para o levante. Neste sentido, a identidade e a
solidariedade étnicas constituíram um outro fator de mobilização a entrar em
jogo.
De
fato identidade étnica e religiosa foi muito importante para deslanchar o
movimento.
A
maioria dos muçulmanos que viviam na Bahia em 1835 era nagô. Apesar de na
África,e
mesmo no Brasil, outros grupos, como os haussás, serem mais islamizados do que
os nagôs,
coube a estes o predomínio no movimento de 1835. Os nagôs islamizados não só constituíram
a maioria dos combatentes, como a maioria dos líderes. Mais de 80 por cento
dos réus escravos em 1835 eram nagôs, sendo eles apenas 30 por cento dos
africanos de Salvador;
dos sete líderes identificados, pelo menos cinco eram nagôs. Eram nagôs os seguintes
líderes: os escravos Ahuna, Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu
e Gustard. Também nagô era o liberto Manoel Calafate. Os outros eram o escravo
tapa Luís Sanim e o liberto haussá Elesbão do Carmo ou Dandará,
que negociava com fumo. Vistos
enquanto grupo étnico os nagôs eram na sua maioria não-muçulmanos, e sim devotos
dos orixás, embora fizessem incursões no campo muçulmano. Por exemplo usavam
os famosos amuletos malês, considerados de grande poder protetor, e
provavelmente recorriam a adivinhos malês, entre outras práticas. Ou
seja, naquela fronteira em que as duas religiões se encontrava, os nagôs como um
todo, malês e filhos de orixá, também se encontravam. E se encontravam como
entidade étnica, como pessoas que falavam a mesma língua, tinham histórias
comuns, em muitos casos haviam obedecido aos mesmos reis africanos. Essas
convergências facilitaram a mobilização em 1835 para além das colunas muçulmanas.
Africano Nagô, que pode ser identificado pelas marcas étnicas no rosto.
Os
nagôs vinham de uma parte específica da África, qual seja a região sudeste da
atual
Nigéria e a parte leste da atual República do Benin. Eram de diversos reinos
espalhados por esse território, como Oió, Queto, Egba, Yagba, Ijexá, Ijebu, Ifé
entre outros. Esses reinos durante muito tempo viveram sob a égide do reino de
Oió, embora numa espécie de federação imperial. Na época do levante de 1835
essa federação dominada por Oió estava em franca desintegração em função de
lutas intestinas generalizadas. Os malês especificamente tiveram sua origem
principalmente em Ilorin, que era uma dependência do reino de Oió que se
rebelou sob a liderança de Afonjá. Este homem se aliou aos muçulmanos haussás,
fulanis e iorubás contra o alafin, que era o título do rei de Oió. Essas
guerras foram responsáveis pela transformação de milhares dos habitantes locais
em prisioneiros, que eram vendidos como escravos aos traficantes do litoral, e
daí exportados para a Bahia.
Embora
a grande maioria dos interrogados em 1835 respondesse que era apenas
“nagô”,
alguns fizeram questão de ser mais precisos, indicando também o local específico
de
onde vinham. O carregador de cadeira Joaquim de Mattos, por exemplo, respondeu
ser de “nação Nagô Gexá”, quer dizer de origem Ijexá, um grupo
étnico do leste do território iorubá. Joaquim havia se alforriado
há pelo menos sete anos e portanto deveria estar na Bahia há cerca
de nove anos no mínimo. A liberta Edum disse ser de “nação nagô-bá” e um
outro africano interrogado disse ser ela apenas “Bá”, significando ser oriunda
de Egba ou Yagba. O liberto Lobão Machado foi bem claro: era de
nação “Nagô-Ebá”, ou seja de Egba. Francisco, cerca de 25 anos de
idade, escravo doméstico e comprador, que vivia em Salvador há cerca de 6 anos,
era Yaba, ou, segundo suas próprias palavras, “Nagô-Abá”. E o escravo José se
disse “nagô jabu”, provavelmente natural de Ijebu. A expressão nagô remetia à
África descoberta no Brasil, pois só aqui eles se tornariam conhecidos por
aquela expressão, enquanto Ijebu, Egba, Yagba, Oyo, Ijexá
(ou Ilesha) representavam a África deixada do lado de lá do
Atlântico. O escravo nagô Antônio, doméstico e carregador de cadeira,
resumiu bem a questão quando afirmou: “ainda que todos são Nagôs, cada um tem
sua terra”.
Ao
deporem sobre o grau de envolvimento com o islamismo, muitos interrogados se
reportaram
a suas experiências africanas. Alguns disseram abertamente que haviam recebido
instrução islâmica na África, possivelmente em escolas corânicas ou madrasas. O
nagô Pedro, ao ser perguntado sobre um livro e vários manuscritos em árabe
encontrados em seu poder, respondeu: “o livro continha rezas de
sua terra e os papéis várias doutrinas cuja linguagem e sua
ciência ele sabia antes de vir de sua terra”. Pompeo da Silva, nagô
forro, com cerca de 30 anos de idade, “perguntado se ele sabia ou entendia das
letras arábicas que usavam os Nagôs, disse, que tendo aprendido em
sua terra pequenino que agora quase nada se lembrava”. Antônio,
escravo Haussá, pescador, disse que sabia escrever em árabe, mas só escrevia
“orações segundo o cisma de sua terra”. Ou seja, não escrevia
coisas subversivas, políticas, só orações. Acrescentou que “quando pequeno em
sua terra andava na escola”.Amuleto male O escravo nagô Gaspar, preso com
grande quantidade de escritos árabes, amuletos,um tessubá (o rosário malê) etc,
disse ter sido ele autor dos escritos, e que aprendera o árabe em sua terra.
Ele leu trechos do que havia escrito, embora alegasse não saber traduzir para o
português.
Observamos
em todas essas declarações as lembranças de uma educação muçulmana
na
África, às vezes lembranças de quando estes escravos eram ainda crianças. Isso
acontecia mesmo no caso dos nagôs, que vinham de um lugar onde o islamismo era
adotado por uma minoria, ao contrário do país haussá, onde a
religião estava arraigada há tempos. Outras tradições islâmicas
também atravessaram o Atlântico, como o já mencionado uso do
amuleto. O liberto Lobão Machado acima mencionado, quando preso, levava
diversos amuletos protetores em volta do pescoço. Perguntado para que usava
aquilo, disse ser para proteger contra o vento. Provavelmente
referia-se ao jinn ou anjonu, espécie de espíritos malês. Outros interrogados
responderam como ele que os amuletos eram para proteger do vento. Pela
quantidade de amuletos apreendidos pela polícia em 1835, muita gente se
protegia desta forma contra espíritos malignos. O escravo haussá Antônio acima
mencionado usava a educação muçulmana recebida em sua terra para escrever
amuletos, que vendia por bom preço — equivalente ao jornal de um escravo de
aluguel — a africanos que também desejavam se proteger dessas forças
espirituais que haviam acompanhado os africanos ao Novo Mundo.
Tais
informações têm o valor de explicitar, através da fala dos interrogados,
tradições
aprendidas
na África e mantidas na Bahia. Estes depoimentos mostram com muita nitidez
uma
projeção da história africana na história brasileira.
É
preciso esclarecer que nem todos os africanos muçulmanos existentes na Bahia em 1835
participaram da revolta. As autoridades, porém, usaram a posse de papéis malês como
prova de rebeldia e por isso muitos inocentes foram presos e condenados. Os malês
receberam diversos tipos de sentença. Foram elas: prisão simples, prisão com
trabalho, açoite, morte e deportação para a África. Esta última pena foi
atribuída a muitos
libertos presos como suspeitos mas contra os quais nenhuma prova definitiva foi encontrada.
Mesmo assim, apesar de absolvidos, foram expulsos do país. A pena de açoites
variava de 300 até 1.200 chicotadas, que foram distribuídas ao longo de vários
dias.
O
idoso Pacifico Licutan foi sentenciado a 1.200 chibatadas. Sabe-se de pelo
menos um condenado que morreu em decorrência desta pena de tortura, o escravo
nagô Narciso.
A
pena de morte, foi imposta, inicialmente a 16 acusados, mas posteriormente 12 deles
conseguiram sua comutação. Quatro foram no final executados. Eram eles o liberto Jorge
da Cruz Barbosa, cujo nome iorubá era Ajahi, carregador de cal; Pedro, nagô,
carregador de cadeira, escravo de um negociante inglês; Gonçalo e Joaquim,
ambos escravos nagôs. Todos quatro foram executados por um pelotão de
fuzilamento no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835. E assim se findava
um dos episódios mais empolgantes da resistência escrava no Brasil.
BIBLIOGRAFIA
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Sobre
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Décio
Freitas, Insurreições escravas, Porto Alegre, Movimento, 1976; e o livro de
Pierre
Verger,
Fluxo e refluxo, capítulo IX.
Os
depoimentos dos malês presos em 1835 se encontram nos inquéritos policiais e
processos
judiciais depositados no Arquivo Público do Estado da Bahia. Esses documentos
já
foram publicados em diversos números dos Anais do Arquivo do Estado da Bahia.
Também estão sob a guarda do Arquivo