Heleieth Saffioti
Em outubro de 1999, ano em que comemorávamos, no V
Simpósio Baiano de Pesquisadoras(es) sobre Mulheres e Relações de Gênero do
Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da
Bahia (NEIM/UFBA), os cinquenta anos da publicação d’O segundo sexo de
Simone de Beauvoir
(2009) - publicado originalmente em 1949 -, Heleieth Saffioti brindou-nos
com uma conferência sobre “O segundo sexo à luz das teorias
feministas contemporâneas” (SAFFIOTI,
2000). Falando em pé, perto da plateia, como sempre preferia fazer nessas
ocasiões para melhor dialogar com o público, Heleieth nos ofereceu uma
verdadeira aula, estilo ‘pé de ouvido’, sobre O segundo sexo de
Simone de Beauvoir, se redimindo ali entre nós por não ter se debruçado mais
sobre essa obra no seu livro A mulher na sociedade de classes: mito e
realidade, celebrado nesta seção temática.
Essa não foi a primeira, tampouco a última vez, que
Heleieth Saffioti marcou presença em um dos nossos eventos. Ela foi uma de
nossas madrinhas desde a criação do NEIM, em 1983, tendo participado do Ciclo
de Debates “A questão da mulher hoje”, promovido em julho daquele ano, o
primeiro evento dos muitos que realizamos desde então contando com sua
presença. Dentre tais encontros, destaca-se sua participação em 1992 no
seminário de criação da Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos sobre
Mulheres e Relações de Gênero (REDOR), quando Heleieth ministrou um minicurso
sobre “Gênero”; no lançamento do Projeto “Trilhas do empoderamento de mulheres”
de 2007, desenvolvido pelo NEIM em conjunto com o Institute of
Development Studies (IDS), do Reino Unido, com grande repercussão
internacional; no evento comemorativo dos “20 anos da Constituinte”, de 2008,
que contou com a presença de acadêmicas feministas, ativistas e deputadas
constituintes; além de sua importante presença nas comemorações dos “25 anos do
NEIM”, também em 2008, quando prestamos nossas homenagens a ela.
Bem escreveu Céli Pinto
(2014, p. 321), ao afirmar:
Feministas brasileiras de minha geração têm razões de
sobra para homenagear Heleieth Saffioti. Quer tenhamos privado com ela ou não,
sabemos de sua força, de seu comprometimento com a causa feminista, de sua
infinita capacidade de defender suas ideias. Foi um exemplo para todas nós que
precisávamos de força e perseverança para a luta, que muitas vezes parecia um
suceder de embates perdidos.
Neste momento em que celebramos os cinquenta anos
de A mulher na sociedade de classes: mito e realidade e nos
damos conta de já se terem passado perto de dez anos sem sua presença física
entre nós, cabe-nos, pois, como suas ‘afilhadas acadêmicas’ nos estudos
feministas, render-lhe também nossas homenagens, enquanto
professoras/pesquisadoras do NEIM. Mesmo porque, nesses nossos quase 37 anos de
existência enquanto NEIM, já contamos com pelo menos três diferentes gerações
de pesquisadoras feministas, todas admiradoras de Heleieth Saffioti e para as
quais A mulher na sociedade de classes: mito e realidade ainda
tem muito a dizer e fazer pensar.
Criado em um momento em que os movimentos pela
redemocratização do país se articulavam, dentre os quais, o movimento
feminista, o NEIM congregou, inicialmente, pesquisadoras e professoras com uma
história de militância nesses movimentos, como de resto aconteceu com boa parte
dos núcleos dessa ordem surgidos na época. Já nossa segunda geração de
pesquisadoras vivenciou sua formação feminista na universidade, envolvendo-se
na militância a partir do seu engajamento com o NEIM e tendo acompanhado de
perto as muitas visitas de Heleieth Saffioti a Salvador. Nossa terceira
geração, a mais recente, tem histórico de militância semelhante, mas sua maior
parte não desfrutou da presença física de Heleieth entre nós. No entanto, chega
ao NEIM por meio de concurso público para cadeiras específicas voltadas às
teorias feministas do primeiro curso de Bacharelado em Gênero e Diversidade do
país, no contexto da expansão ocorrida via projeto de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI), entre os anos de 2010 e 2015, e que contou
com o empenho também de nossa estrela maior para que se tornasse realidade.
Neste artigo, representantes de duas dessas gerações de
nossas pesquisadoras - uma das mais antigas (Cecilia Sardenberg) e a outra da
mais nova (Maíra Kubík Mano) - desenvolvem uma conversa a três com Heleieth, em
uma releitura dessa que é a ‘obra-prima’ da referida autora - e prima não
apenas por ser a sua primeira grande publicação, como também por ser a grande
contribuição dos estudos feministas do Brasil para o mundo. Nesse intuito,
valemo-nos tanto de memórias quanto de documentos pessoais, dialogando também
com os aportes teóricos introduzidos por Heleieth Saffioti e mostrando como
eles ainda servem de esteio para o pensamento feminista no Brasil.
Geração mais antiga do NEIM - Cecilia
Em 1980, eu cursava o doutorado em Antropologia na Boston
University, época em que se verificava uma marcante revivescência do
pensamento marxista por lá, com seminários e cursos especiais durante o verão
que trouxeram para Boston pensadores como Nicos Poulantzas, Ernest Mandel,
Robin Blackburn e Goran Therborn. Nesse mesmo período, travava-se em periódicos
feministas e de esquerda um intenso debate que ficou conhecido como “debate
sobre sexo e classe”, envolvendo feministas socialistas, marxistas e radicais (SARDENBERG,
2015).
Ciente de minhas inclinações marxistas e do meu interesse
nas questões em pauta nesse debate, uma de minhas professoras sugeriu-me
procurar na biblioteca Women in class society, livro de uma
socióloga brasileira então recém-publicado. Tratava-se da tradução
para o inglês de A mulher na sociedade de classes de
Heleieth Saffioti
(1978), publicada pela Monthly Review Press com prefácio
de Eleanor Leacock, amiga de minha professora e uma das fundadoras da Women
in Anthropology Newsletter, editada por um grupo de antropólogas feministas
de Boston, do qual eu fazia parte.
Bastante interessada no livro em questão, fui logo
tomá-lo de empréstimo. Mas, na ocasião, sobrecarregada de trabalhos a concluir,
acabei fazendo uma leitura muito corrida do texto. Mesmo assim, causou-me um
forte impacto, de sorte que, alguns anos depois, quando eu já havia voltado ao
Brasil e atuava como professora concursada do Departamento de Antropologia da
UFBA, pressionei minhas companheiras fundadoras do NEIM a convidar Heleieth
Saffioti para participar do Ciclo de Debates comemorativo da criação do nosso
núcleo.
Devido a compromissos familiares, porém, estava ausente
de Salvador quando Heleieth Saffioti veio para o tal debate. Só fui conhecê-la
pessoalmente em 1988 em uma reunião do Grupo de Trabalho (GT) “A mulher na
força de trabalho”, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
(ANPOCS), então por ela coordenado juntamente com Lena Lavinas e do qual eu
participava. Fui como debatedora, substituindo outra professora da UFBA que não
pôde comparecer. Mas, confesso que aceitei o convite por pura ousadia, me dando
conta logo depois de que estaria debatendo as apresentações de pesquisadoras de
renome, tais como Helena Hirata, Lena Lavinas e Cristina Bruschini. Sem
esquecer que Heleieth Saffioti, já então conhecida como estrela maior e por não
poupar críticas em suas avaliações, estaria na coordenação. Verdade é que me
apavorei! Eu, uma iniciante (ainda era doutoranda), uma ilustre desconhecida,
participando como debatedora em tal evento. Por isso mesmo, mergulhei de cabeça
em muitas leituras, a começar por A mulher na sociedade de classes, fazendo
copiosas anotações a ponto de gastar um caderno inteiro nessa preparação.
Relendo essas anotações, constato que, inspirada nas
observações de Heleieth Saffioti, minha fala se voltou, sobretudo, para as
questões tratadas no referido debate sobre sexo e classe, concordando inclusive
com alguns dos pontos levantados no livro. Até hoje, porém, tenho profundas
dúvidas sobre se o que falei naquele encontro foi muito ruim ou muito bom.
Apesar de me tratar com muita gentileza e consideração, Heleieth não comentou
nada específico sobre minha apresentação. Creio que deve ter-se compadecido
desta (então) pobre iniciante, a ponto de me convidar para ir visitá-la em São
Paulo, no seu famoso apartamento da Praça da República, convite por mim aceito.
Foi assim que conheci sua imensa biblioteca, ela me disponibilizando seus
livros e me incentivando a terminar minha tese. Anos depois, chegou a escrever
carta de recomendação para o Chefe do Departamento de Antropologia da Boston
University, endossando meu pedido de reintegração ao Programa de Doutorado
para que eu defendesse minha tese, mesmo tendo estourado todos os prazos. Certo
é que, desde aquele encontro da ANPOCS, fomos construindo uma relação de
amizade cultivada até seus últimos dias, razão pela qual tomo a liberdade de
chamá-la aqui, carinhosamente, apenas pelo prenome.
É bom lembrar que, embora fosse bastante rígida em suas
críticas, Heleieth agia com justiça e às vezes até mesmo com certa humildade,
reconhecendo seus erros e se desculpando sempre que possível, a exemplo da sua
autocrítica em relação a Simone de Beauvoir, expressa na sua conferência
proferida no simpósio do NEIM, comemorativo dos cinquenta anos de O
segundo sexo:
Eu não me perdoo (até escrevi isso neste artigo que vai
sair nos Cadernos Pagu), eu não me perdoo por não ter percebido um
plágio feito pela Betty Friedan. Eu li O segundo sexo em 1962,
quando eu comecei minha vida acadêmica, e depois houve um intervalo grande
porque o livro da Betty Friedan, que foi publicado em 1963, eu só li mais
tarde, creio que em 1966. Eu não me lembro quando eu li porque levou um tempo
para chegar ao Brasil, chegou a tradução francesa, nem foi o livro em inglês.
Então, demorou mais e como eu naquela época tinha uma implicância muito grande
com Simone, com as concepções, não todas, mas a concepção metodológica que ela
utilizou em O segundo sexo - naquela época a definição de
cultura não contemplava a práxis e eu havia feito uma opção metodológica em que
a práxis era nuclear - eu recusei aquilo que eu chamava de culturalista. Na
época era, hoje já não é mais porque cultura não é só um conjunto de normas,
valores, crenças, etc., cultura envolve práticas também, então hoje é
diferente. Mas aí eu li, eu tinha lido a Simone e depois li o livro da Betty
Friedan, que se chama A mulher mistificada (foi traduzido pela
Vozes, mas eu li em inglês, então eu li na década de 60, antes de escrever esse
primeiro livro que alguns de vocês conhecem) e eu não percebi que havia plágio
porque eu entrei na onda do método. A Betty Friedan já tinha uma outra maneira
de encarar as coisas, não era via cultura, porque Simone dedica o segundo
volume inteiro, que é muito maior do que o primeiro, ao estudo dos escritores,
dos que escreveram sobre assuntos que interessavam analisar e ela dava uma
importância muito grande à escritura e eu fugi disso. Fugindo disso, havia
muito pouca literatura, eu caí na Betty Friedan, não percebi que ela havia
plagiado O segundo sexo. Eu aprendi isso muito recentemente, só que
eu não tive tempo de voltar a ler Betty Friedan. Eu aprendi lá no colóquio de
janeiro com feministas americanas - não foi uma só, foram várias. Elas sabiam
de memória trechos e mais trechos de O segundo sexo e de A
mulher mistificada, e a única coisa que variava era a língua; um era
escrito em inglês e outro em francês. Então, vejam vocês isso: para mim foi
super importante ter aprendido isso, agora eu preciso voltar a ler A
mulher mistificada. As americanas são suficientemente agressivas para
descobrir uma coisa e falar nas bochechas da cidadã e contar para o mundo,
escrever a respeito disso. (SAFFIOTI,
2000, p. 32-33).
Por certo, algumas vezes, Heleieth também foi
suficientemente ‘agressiva’, tal como as americanas, chegando mesmo a
“descobrir uma coisa e falar nas bochechas da cidadã e contar para o mundo”
(lembro aqui a discussão nada amigável entre ela e Boaventura de Sousa Santos
em um evento em Pernambuco). Mas, no nosso relacionamento de amizade,
predominou o respeito mútuo e, da parte dela, sempre muita generosidade. Quando
da minha volta ao Brasil depois de ter defendido minha tese, época em que me
encontrava um tanto desfalcada, sem verbas para comprar um carro, Heleieth me
telefonou oferecendo o carro de seu marido, que havia falecido pouco antes. O
carro estava em Araraquara e necessitando de consertos bastante custosos, o
que, somando-se ao valor do transporte para Salvador, tornava-o um presente
caro. Ela então se ofereceu para vendê-lo e me enviar o dinheiro para dar
entrada em um novo, mas eu, já envergonhada, lhe agradeci, recusando essa
gentil oferta para não a explorar ainda mais.
Revirando minhas papeladas, encontro algumas mensagens
que trocamos ao longo dos anos. Dentre as quais, um e-mail enviado em junho de
2006, logo depois de um seminário do NEIM no qual discutíamos as ‘trilhas do
empoderamento de mulheres’. Nessa mensagem, Heleieth se refere a um bate-boca
entre ela e uma das participantes:
16 de jun. de 2006 às 22:28
Heleieth <heleieth@uol.com.br>
escreveu:
Querida Cecília
Não sei onde botei o papel em que anotei o e-mail da
Professora XXXXX, a quem prometi um texto que deverá ser o 4º cap. de meu
último livro, caso haja reedição. Por favor, faça chegar a ela, dizendo-lhe que
não o enviei antes por total impossibilidade (passei malíssimo com dores da
fibromialgia). Meu emocional já estava ferido pela Opus Dei e ficou ainda muito
pior com os risos de XXXXX. Pensei muito sobre o quê vc me disse. Se ela
houvesse rido uma vez, poderia ser coincidência. Ocorre que ela riu durante minha
apresentação de meu pensamento e uma segunda vez, quando eu respondia a sua
pergunta. Perguntou para empentelhar, porque não tinha interesse na resposta.
[…] Eu, felizmente, não sei tudo, uma vez que não sou deusa. Grande abraço a
todas. Beijo especial a vc.
Heleieth
Como de costume, Heleieth faz uso da ironia nessa
mensagem, afirmando, por exemplo: “Eu felizmente, não sei tudo, uma vez que não
sou deusa”. Aliás, como ela própria reconheceu em entrevista concedida a
Natalia Pietra Mendéz (SAFFIOTI,
2010b, p. 291), gostava de ‘brincar’: “Eu brinco com as coisas porque cria
um clima muito mais propício à aprendizagem, faço muita brincadeira, muita
piada. Você leu aquele artigo ‘A violência doméstica ou a lógica do
galinheiro?’ É bem jocoso!”. Na mensagem em questão, contudo, Heleieth escrevia
em um momento difícil por ter sido removida de seu posto como professora da
Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP) pela “Opus Dei” (nas palavras dela), em represália a sua defesa
pública da legalização do aborto. E se via também às voltas com as dores
causadas pela fibromialgia que a acompanhou por muitos anos, até seus últimos
dias. O que não a impedia de, durante suas visitas a Salvador para participar
de nossos eventos, dar umas fugidinhas conosco para tomar suas cervejinhas (não
eram poucas!), derrubando algumas de nós que porventura ousássemos acompanhá-la
na dose. Ela, sem perder a linha, sempre elegante nos seus vestidos e conjuntos
de linho engomado…
Creio que ela gostava mesmo de participar de nossos
eventos, o que se verifica em sua resposta ao nosso convite para participar do
simpósio comemorativo dos 25 anos do NEIM, realizado em 2008, no qual ela seria
homenageada. Isso aconteceu no mesmo ano em que passei por três cirurgias
complicadas, razão pela qual Heleieth expressa sua preocupação quanto a minha
saúde na mensagem em questão, reproduzida aqui na íntegra:
Heleieth heleieth@uol.com.br
22 de out. de 2008 às 12:38
Querida Cecília,
Estou me sentindo bastante lisonjeada com o convite do
NEIM. Fiquei especialmente contente por haver sido você a portadora do convite,
pois isto significa que você está bem de saúde. Foi uma preocupação constante
minha com sua saúde, depois que ouvi o relato de Ana Alice. Que bom saber que
você está firme no combate!
É evidente que jamais deixaria de atender a um convite do
NEIM. Não sei se mereço tanta homenagem, mas, já que vocês assim decidiram, é
melhor fazê-la enquanto estou por aqui, uma vez que o grupinho minúsculo das
três pioneiras está passando para o lado de lá. Carmen da Silva já se foi, Rose
Marie Muraro tem a saúde bastante abalada e eu também estou batendo os pinos.
Obrigada, amigas.
Vi que a homenagem será à noite, na abertura. Gostaria de
saber se será chic. Devo levar roupa condizente com a situação? Devo apresentar
algum trabalho?
Procurarei entender-me com XXXX sobre os vôos. Se puder,
XXXXX, envie-me o programa, a fim de que possa marcar minha viagem de volta.
Um abraço apertado a todas do NEIM e um grande beijo a
você.
Heleieth
Ela também nos ofereceu seu apoio em um momento difícil
para nós, quando, como parte da reestruturação de órgãos da UFBA, em 2009, o
NEIM perdeu sua condição de órgão suplementar e, assim, sua autonomia
administrativa, seu status de unidade orçamentária e outras
prerrogativas que decorriam desse estatuto jurídico. Encaminhamos na época uma
nota pública a companheiras feministas e instituições parceiras, na qual nos
pronunciávamos contra a conversão compulsória do NEIM em órgão complementar,
defendendo a necessidade da criação do Instituto de Estudos Interdisciplinares
sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (INEIM), que já havia sido aprovado pela
Egrégia Congregação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, para abrigar
o Curso de Bacharelado em Gênero e Diversidade e o Programa de Pós-Graduação em
Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo e o também
aprovado Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo. Heleieth foi uma das
primeiras companheiras a trazer-nos seu apoio, remetendo-nos a carinhosa
mensagem abaixo:
De: Heleieth heleieth@uol.com.br
Assunto: Re: Pronunciamento do NEIM
Data: Quarta-feira, 7 de Outubro de 2009, 16:15
Cecília,
Assim que recebi sua msg, enviei carta ao reitor, com
cópia para quem de direito. Estou na maior torcida para que recuperem o perdido
e conquistem mais.
Forte beijo
HIBS
Dentre as mensagens que guardei das muitas trocadas ao
longo dos anos, a última recebida foi em janeiro de 2010. Com sua impagável
ironia, Heleieth me cumprimentava pelo nascimento de minha netinha, Luana,
ocorrido no final de dezembro:
Heleieth Iara Bongiovani Saffioti heleieth@uol.com.br
5 de jan. de 2010 às 16:19
CECÍLIA
Parabéns pela linda e rechonchuda neta. Linda! Filho
casado é isto: a família aumenta sem que tenhamos controle.
Forte abraço e muitos beijos.
Heleieth
Lembro-me, porém, que a última vez que conversamos antes
do seu falecimento foi em junho de 2010, quando liguei para convidá-la a
participar de um seminário do Observatório de Monitoramento da Aplicação da Lei
Maria da Penha (OBSERVE), o consórcio de instituições e organizações feministas
sediado no NEIM/UFBA, que aconteceria no final de outubro daquele ano (SARDENBERG;
Márcia TAVARES, 2016). Ela não pôde aceitar o convite, vez que já tinha se
comprometido com outro evento na mesma época, mas endossou com apreço nossa
iniciativa, solicitando que lhe enviássemos cópias dos trabalhos a serem
apresentados. Lamentavelmente, não tivemos tempo para acatar seu pedido. Ela se
foi pouco mais de um mês depois da realização do referido evento.
Durante as mais de duas décadas em que Heleieth e eu
cultivamos nossa amizade trocando as mensagens aqui publicadas, jamais
discutimos sua obra maior, A mulher na sociedade de classes. Conforme
aludi acima, minha primeira leitura do livro foi bastante corrida. Mas, em
preparação para aquele debate na reunião do GT “A mulher na força de trabalho”
da ANPOCS, debrucei-me mais demoradamente sobre o referido livro, fazendo
anotações, guardadas até hoje, que utilizei no mencionado debate da ANPOCS.
Revendo-as, porém, me dou conta de que minha leitura foi então bastante
induzida pelas observações de Eleanor Leacock na introdução da tradução em
língua inglesa. Ou seja, fiz uma leitura de A mulher na sociedade de
classes a partir de uma perspectiva antropológica, marxista, de
linhagem feminista.
De fato, feminista de formação marxista, Eleanor Leacock
havia prefaciado antes também a tradução em inglês de A origem da
família, da propriedade privada e do Estado, de Frederich Engels, na edição
publicada em 1978, bem como de Ancient society, de Lewis Henry
Morgan, um dos chamados ‘pais da antropologia’, cuja obra inspirou tanto Marx
quanto Engels. Baseando-se nas obras desses autores (e de autoras feministas) e
nas suas próprias pesquisas sobre os Montagnais-Naskapi, grupo de coletores-caçadores
do Canadá (LEACOCK,
1981), Eleanor Leacock sustentou a perspectiva de que apesar da
universalidade da divisão sexual do trabalho, isso não se traduzia na
subordinação universal das mulheres através da história. Segundo a autora, as
mulheres gozavam de muita autonomia nas sociedades ditas igualitárias, a
exemplo dos Montagnais-Naskapi, documentando, a partir de seus estudos, como a
influência dominadora das missões jesuítas e a introdução do comércio de peles
entre esses povos, em consequência da invasão europeia das Américas, ou seja,
do colonialismo, resultou na domesticação e na subordinação das mulheres. Essas
ideias são bem trabalhadas por ela na coletânea Myths of male dominance (LEACOCK,
1981), que reúne vários de seus trabalhos e prenunciam uma crítica feminista à
colonialidade de gênero, avant la lettre.
Causa surpresa, portanto, o fato de Eleanor Leacock não
tecer críticas à visão de Heleieth de uma suposta subordinação universal das
mulheres (uma perspectiva que a própria Heleieth iria mais tarde criticar) em
sua introdução de A mulher na sociedade de classes, na qual incluiu
também a leitura de dois artigos de Heleieth publicados em inglês (SAFFIOTI,
1975, 1977).
Aparentemente, Leacock não tinha interesse em enveredar por essa polêmica,
atendo-se ao que lhe pareceu como principal contribuição de Heleieth aos
estudos feministas: a situação das mulheres nas sociedades capitalistas.
Nesse tocante, Eleanor Leacock exalta a importância das
considerações de Heleieth quanto à marginalização econômica da mulher no
capitalismo, processo este resultante da necessidade da formação de um exército
industrial de reserva a ser convocado - ou descartado - conforme as
necessidades do capital. Leacock bem ressalta que, ao contrário da visão
dominante de que essa situação marginalizada da mulher resulta de sua posição
na família, Heleieth inverte essa lógica, argumentando serem as necessidades do
capital que contribuem para a manutenção de um modelo de família baseado na
divisão sexual do trabalho e na domesticação das mulheres - uma perspectiva que
mais tarde seria também defendida por Michele Barrett
(1980) ao analisar a relevância da “family household” para o
capitalismo em Women’s oppression today. Para Heleieth, porém, no
que concorda em parte Leacock, tal processo se respalda, por um lado, no
“complexo de masculinidade” e, por outro, na “mística feminina”, conceito este
tomado emprestado de Betty Friedan
(1971), cuja publicação original é de 1963.
Acrescente-se que é dentro desse contexto que Heleieth
traz à baila a questão do trabalho doméstico no capitalismo - tópico que também
suscitou longos e calorosos debates nos idos dos anos 1970 e 1980 -,
posicionando-se contra a noção de que esse trabalho, embora fundamental, seja
“produtivo” no sentido do pensamento marxista. Para Heleieth, no que também
concordo, o trabalho doméstico contribui de forma indireta para a mais-valia
capitalista, o capital valendo-se dele para pagar salários menores, já que esse
trabalho reduz o custo da reprodução diária da força de trabalho e, assim, para
o barateamento da reprodução da mercadoria força de trabalho como um todo. Anos
depois, Heleieth publicaria resultados de sua pesquisa sobre o emprego
doméstico no capitalismo (SAFFIOTI,
1979), obra que contribuiu para uma discussão dessa questão ainda hoje
relevante em nossa sociedade.
De fato, em A mulher na sociedade de classes Heleieth
prenuncia questões ainda atuais, a exemplo do que ela posteriormente
identificaria como a simbiose entre patriarcado, racismo e capitalismo (SAFFIOTI,
1976), mostrando como seu entrelaçar se processou historicamente na
sociedade brasileira. Por certo, tal questão foi melhor trabalhada por ela
em O poder do macho (SAFFIOTI, 1987), livro escrito, nas suas
palavras, “para jovens”, sendo também abordada no artigo “Rearticulando gênero
e classe” (SAFFIOTI,
1992), no qual ela retrabalha pontos levantados nesse sentido já em A
mulher na sociedade de classes. Sem dúvida, sua abordagem se aproxima da
perspectiva de Patricia Hill Collins
(1993) sobre matrizes de opressão que se cruzam e imbricam, dando margem a
posições vulneráveis na intersecção de gênero, raça e classe (SARDENBERG,
2015).
Segundo nos aponta Viviane Modda Oliveira
(2019), pode-se dizer que o conceito de patriarcado, como patriarcalismo,
na concepção weberiana, já se faz presente em A mulher na sociedade de
classes. É claro que Heleieth não usa nesse livro o termo “patriarcado”,
mas concordo que esse conceito já começa a se esboçar na sua discussão do
“complexo de masculinidade”, sendo depois melhor trabalhado por ela em Gênero,
patriarcado e violência (SAFFIOTI,
2015), originalmente publicado em 2004. E, mais tarde, no artigo “A
ontogênese do gênero” (SAFFIOTI,
2008), Heleieth desenvolve uma discussão que considero fundamental sobre a
“ordem patriarcal de gênero”, articulando as noções de relações de gênero e de
patriarcado, antes tidas como incompatíveis, trazendo com esse artigo uma de
suas principais contribuições teóricas. Como ela própria explica, em entrevista
concedida a Natalia Mendéz:
Nesse trabalho da ontogênese do gênero, eu mostro que o
conceito de gênero é muito vago, não passa de uma categoria gramatical. Agora,
podemos usá-lo? Podemos, ele é ótimo, economiza papel! Agora ele é válido? Ele
é, mas o conceito, quanto mais extenso, menos profundo ele é, é o caso do
gênero. Gênero serve para a história inteira, mas, quando eu digo gênero, eu
não sei quem manda em quem. Mas se eu disser “ordem patriarcal de gênero” aí eu
sei que se trata de uma fase do gênero patriarcal, e o título já comunica ao
leitor, ao ouvinte, a direção do vetor da dominação. (SAFFIOTI,
2010b, p. 293-294).
Em A mulher na sociedade de classes, Heleieth
segue também os passos de Simone de Beauvoir e Betty Friedan, tecendo críticas
relevantes à Psicanálise Freudiana, além de dedicar um capítulo inteiro à
crítica à Antropologia que, na verdade, resume-se mais a uma crítica a Margaret
Mead. Por certo, Heleieth reconhece a importância das considerações de Mead no
tocante às variações culturais sobre masculino e feminino em Sexo e
temperamento (MEAD,
1979) - publicado originalmente em 1935 -, mas é bastante crítica à
postura, hoje vista como essencialista, de Mead
(1949) em Male and female, livro publicado no mesmo ano
de O segundo sexo. Observe-se que Eleanor Leacock
(1981) - publicação original de 1952 - também teceu críticas contundentes a
Margaret Mead, em uma resenha elaborada alguns anos depois da publicação
de Male and female. Até eu já fiz críticas desse teor à referida
obra, ressaltando, porém, a relevante contribuição de Sexo e
temperamento para a construção do conceito de gênero (SARDENBERG,
2000). Mas, como antropóloga que sou, me incomoda a crítica de Heleieth a
Margaret Mead transformar-se ali em uma crítica à Antropologia como um todo,
ou, como afirmou ela anos depois, ao seu “culturalismo”.
Não resta dúvida, porém, de que a Antropologia - como, de
modo geral, também outras ciências - merece críticas severas pelo viés
androcêntrico que tem marcado todo o seu desenvolvimento (SARDENBERG,
2014). E é bom lembrar que nos idos dos anos 1960, quando Heleieth
elaborava seu tratado sobre as mulheres no capitalismo, havia poucas
publicações antropológicas acessíveis a pesquisadores no Brasil. Ademais, foi
somente a partir de meados dos anos 1970 que a crítica feminista à antropologia
passou a ganhar espaço, inclusive com os trabalhos da própria Eleanor Leacock e
de coletâneas celebradas, como as organizadas por Michele Rosaldo
e Louise Lamphere (1974), Rayna Reiter
(1975) e a de Ruby Rohrlich-Leavitt
(1975), e esta última conta inclusive com um artigo da própria Heleieth
Saffioti. Desde então, avançamos bastante nesse sentido, construindo-se, nesse
processo, uma antropologia feminista, fundamentada nas epistemologias críticas
(SARDENBERG, 2014).
Vale lembrar também que na publicação original de A
mulher na sociedade de classes Heleieth inclui uma nota afirmando não
se tratar de um livro ‘feminista’. Perguntada por Natalia Mendéz por que assim
procedera, eis o que Heleieth responde:
(NPM): Na nota preliminar do livro, há uma frase que diz
não se tratar de um livro feminista. Por que a senhora fez essa afirmação?
(HS): Hoje eu não faria. Porque eu ia muito à televisão,
me convidavam muito e toda a vez que eu ia à televisão, você sabe, o que
interessa para este tipo de sociedade é denegrir o feminismo. Eu escrevi um
artigo fazendo uma classificação dos feminismos, não sei se você conhece, é
velho esse artigo, trata do feminismo liberal, socialista, são cinco tipos de
feminismo. Hoje a minha compreensão do processo é diferente. (SAFFIOTI,
2010b, p. 289).
Mas, adiante, ela acrescenta:
não é que eu não fosse feminista. É que os meios de
comunicação pegavam sempre o que era pior para usar como rótulo de feministas.
Então, houve uma corrente que nunca foi muito expressiva, mas que era a pior,
que era das feministas radicais. Elas nunca foram radicais do ponto de vista
político. Elas eram radicais porque advogavam uma sociedade só de mulher. E eu
sou partidária do radicalismo, mas do radicalismo político, o que este não era.
Toda a vez que eu ia à televisão ou ao rádio, eu tinha que explicar de que
feminismo eu era, por isso que saiu assim. (SAFFIOTI,
2010b, p. 290).
No livro, porém, Heleieth tece sua crítica ao feminismo
sufragista, liberal, uma crítica por certo pertinente. Mas não se deve esquecer
que o feminismo, enquanto pensamento ou movimento, também se transformou
consideravelmente nesses cinquenta anos desde a publicação de A mulher
na sociedade de classes. Ademais, tal como Simone de Beauvoir, que também
criticou o feminismo dito ‘burguês’, Heleieth veio juntar-se às nossas lutas,
definindo-se por um feminismo antirracista e anticapitalista, cujos princípios
já se faziam vislumbrar em A mulher na sociedade de classes.
Resta ainda observar que o entusiasmo de Heleieth com as
organizações de mulheres de esquerda e das classes trabalhadoras, se bem que
não muito realista para a época da escritura de A mulher na sociedade
de classes - essas organizações de mulheres eram então frágeis, sem
autonomia, tuteladas diretamente pelos partidos comunistas (Ana Alice COSTA
PINHEIRO, 1981) -, vem finalmente se confirmando. Tais organizações e as
ditas ‘feministas de partido’ também vêm marcando seu espaço nas lutas
feministas contemporâneas, constituindo-se como uma das importantes linhagens
do feminismo atual na sociedade brasileira.
Para finalizar esta seção, devo ressaltar que, apesar das
limitações impostas a um trabalho pioneiro, A mulher na sociedade de
classes se mantém como obra emblemática dos estudos feministas no
Brasil. Confesso, porém, que me vejo muito mais alinhada com os trabalhos mais
recentes de Heleieth (principalmente “A ontogênese do gênero”, 2008),
incluindo-os sempre em minhas bibliografias de disciplinas que tratam das
teorias feministas. Por certo, a parte histórica de A mulher na
sociedade de classes, referente ao Brasil, permanece atual, mas há que
reconhecer que essa obra pioneira exige um bom embasamento da teoria marxista
para ser bem absorvida, razão pela qual tenho optado por incluir outros
trabalhos de Heleieth para leitura de nossas alunas e alunos.
Para cursos de graduação que ofereci por muitos anos ao
alunato do Curso de Ciências Sociais, a sugestão era O poder do macho (SAFFIOTI,
1987), livro que Heleieth escreveu precisamente para jovens, e que introduz
uma importante discussão sobre a simbiose entre machismo, racismo e capitalismo
na sociedade brasileira. Nos cursos de pós-graduação, tenho trabalhado os
artigos “Rearticulando gênero e classe” (SAFFIOTI, 1992), no qual ela retoma
alguns pontos levantados em A mulher na sociedade de classes, e,
meu preferido, “A ontogênese do gênero” (SAFFIOTI, 2008), textos que também têm
constado das bibliografias recomendadas no processo de seleção para os cursos
de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM), fazendo,
portanto, parte do processo de formação de diferentes gerações de feministas
acadêmicas no NEIM.
Geração mais nova do NEIM: Maíra
Nas próximas páginas, tentarei, a partir de um percurso
cronológico individual, refletir sobre as diferentes gerações dos feminismos
brasileiros tendo como referência central a vida e a obra de Heleieth Saffioti,
com o objetivo de acrescentar elementos para pensarmos sobre como se dá a
transmissão intergeracional da práxis feminista, ou seja, da transmissão do
ideário feminista, com seus princípios, valores, metodologias, saberes e formas
de ação através do tempo. Conhecer as autoras e sua forma de pensamento por
meio de seus textos é uma maneira fundamental de se aproximar delas. Contudo,
falar sobre transmissão intergeracional do feminismo é não apenas tratar das
teorias, mas também das práticas. O feminismo se apoia eminentemente sobre a
práxis. As histórias de vida, dificuldades em atuar na academia com essa
temática, posturas tomadas e mesmo as divergências políticas importam. Assim, a
memória que eu tenho de Saffioti não é apenas minha, mas é aquela construída
coletivamente, pelas impressões e narrativas transmitidas das mais velhas para
as mais jovens.
A primeira vez que ouvi falar em Heleieth Saffioti foi
durante a graduação em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Eu
começava a militar no movimento estudantil e me aproximei de um agrupamento
político que tinha como uma de suas principais referências Florestan Fernandes.
Aos poucos, fui descobrindo o grupo de intelectuais ‘ao redor’ de Florestan,
como Octavio Ianni, Antonio Candido e, obviamente, Saffioti. Foi, portanto, a
partir do marxismo, e não do feminismo, que eu cheguei à sua obra. E, apesar de
ter sido na faculdade, não foi dentro das salas de aula que tomei conhecimento
daquela que, como afirma Céli Regina Pinto
(2003), tem o texto fundador da produção acadêmica sobre as mulheres
brasileiras.
Naquele momento, início dos anos 2000, A mulher
na sociedade de classes: mito e realidade já estava esgotado havia
muitos anos. Encontrei o meu exemplar em um sebo que ficava na Av. Paulista.
Trata-se da segunda edição, de 1976. A primeira é de 1969. A seguinte só sairia
em 2013, pela Editora Expressão Popular, ligada a movimentos sociais como o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Temos aí um longo hiato -
não da autora, que seguiu publicando, mas de seu principal livro.
Saffioti escreveu A mulher na sociedade de
classes em plena ditadura civil-militar, entre 1966 e 1967. Foi
apressada por Florestan, seu orientador, para que ela pudesse obter o título
que lhe garantiria estabilidade como docente na Universidade do Estado de São
Paulo (Unesp). Naquela época de perseguições, prisões e desaparecimentos de
intelectuais, era uma tentativa de se salvaguardar. Enquanto a chamada segunda
onda feminista eclodia no norte global, o Brasil vivia um momento sombrio.
Disse Saffioti, em entrevista a Renata Gonçalves e Carolina Branco: “Imagina
publicar um assunto daqueles que não pertencia à academia, não era considerado
legítimo, não tinha nenhuma legitimidade, feito por uma mulher e ainda
comunista que metia a lenha na Igreja católica.” (SAFFIOTI,
2011, p. 80). Eu não conseguia nem imaginar. Relatos como o de Rose Marie
Muraro dão conta do clima de pavor vivido nesse período, em especial após o Ato
Institucional nº 5, no final de 1968: “Em junho de 1971 eu conheci Heleieth
Saffioti, fui a Araraquara conversar com ela, eu apavorada de ser fichada pelo
SNI [Serviço Nacional de Informação], mas começamos a discutir a mulher na
sociedade de classes.” (MURARO, 1987 apudPINTO,
2003, p. 47). Sobre esse encontro, Saffioti relembra:
A Rose tem uma origem muito religiosa, muito católica,
tanto que a Ação Popular (AP) surgiu na casa dela - agora há pouco ela me
ligou, ela me liga a todo minuto. Então, as idéias não batiam. Eu só fui
conhecer a Rose depois que meu livro fez sucesso, não apenas aqui, mas na
França. O pessoal que estava na França lia, fazia seminários, e depois foi
publicado nos Estados Unidos. E quando a Rose Marie Muraro trouxe a Betty
Friedan - porque lançou o livro dela e trouxe-a - é que ela foi me conhecer,
ela é que se deslocou, foi a Araraquara para me conhecer. Embora não soubesse
nada de Marx, estudava feito louca porque eu queria ser marxista. (SAFFIOTI,
2011, p. 73).
Apesar da modéstia de Saffioti ao dizer que não sabia
nada de Marx, A mulher na sociedade de classes é um livro que
utiliza amplamente o materialismo histórico-dialético como método. Aliás, no
momento da escrita dessa obra, Saffioti não se identificava inicialmente,
naquele período, como feminista por considerar-se marxista (PINTO,
2014), colocando, portanto, a centralidade de sua análise na classe, e não
no gênero - é interessante pensar como, até hoje, essa tensão está presente. No
livro, Saffioti reflete inicialmente sobre como a instauração do modo de
produção capitalista impactou as mulheres, para, em seguida, apresentar as
proposições - ou a ausência delas - socialistas para as mudanças estruturais e,
finalmente, tratar do feminismo e de suas limitações. Acredito, contudo, que a
contribuição de A mulher na sociedade de classes que mais me
impactou esteja em sua segunda parte, quando a autora se debruça sobre o Brasil
e percebe, no modo de produção escravista, a origem da imbricação entre sexo,1 raça e classe que marca as
desigualdades em nossa sociedade. Assunto contemporâneo, trazido em especial
pelo conceito de interseccionalidade, vemos ali em Saffioti já algumas chaves
para a análise da realidade brasileira com lentes de gênero. Por fim, ao tratar
da psicanálise, ela vai ao encontro de Betty Friedan e Simone de Beauvoir no
que Céli Pinto chamou de “o inimigo comum”: “Com argumentos muito diversos e
partindo de posturas também muito distintas, as três autoras em tela atribuem a
Freud uma espécie de condenação da mulher à inferioridade, por sua essência.”
(PINTO, 2014, p. 328).
Na edição de 1976, esta que encontrei no sebo, há uma
nota, escrita por Saffioti
em 1975, explicando o quanto os movimentos feministas haviam crescido entre
uma e outra publicação, espaçadas por uma década:
Este livro foi escrito entre dezembro de 1966 e fevereiro
de 1967. Desde então, a literatura científica sobre o assunto cresceu
enormemente. Substancialmente também cresceram os movimentos feministas. Nos
Estados Unidos, na França, na Itália e em outros países, as mulheres
movimentam-se visando a obter leis que lhes assegurem o controle de seu corpo e
justiça na situação de trabalho e na sociedade em geral. (SAFFIOTI,
1979, p. 7).
Cabe notar que 1975 foi o ano internacional da mulher
celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e um marco na reconstrução
dos movimentos feministas no Brasil. Como relembram Ana Alice Costa e Cecilia
Sardenberg:
Pode-se dizer que os estudos sobre a mulher no Brasil,
com uma perspectiva de transformação da condição feminina, têm início nos anos
60 com o trabalho pioneiro de Heleieth Saffioti, A mulher na sociedade
de classes. Entretanto, devido às nossas condições históricas específicas,
só nos anos 70, notadamente a partir das comemorações do Ano Internacional da
Mulher, é que estes trabalhos começarão a ganhar maior impulso. (COSTA,
SARDENBERG, 2014, p. 32).
Nascida no início dos anos 1980, quando o regime ensaiava
a abertura, tal realidade ecoava distante para mim. Muraro e Saffioti, como
muitas outras citadas neste artigo, entraram na classificação que minha geração
faz como “feministas históricas”. Nem sempre simpática, essa referência guarda
o reconhecimento do trabalho intelectual militante de todas aquelas oriundas
dos feminismos que atravessaram a ditadura - muitas delas no exílio -, passaram
pela anistia e participaram da redemocratização.
Miriam Grossi define, em um texto de 1998, as “feministas
históricas” como:
aquelas que participaram das mobilizações do período
conhecido como a “primeira década da mulher”, entre 1975 e 1985, engajadas no
movimento feminista “autônomo” há mais de 15 anos e que estão hoje na
meia-idade. Estas mulheres, que no período da sua adesão ao feminismo, no final
dos anos 70, militavam nas suas horas vagas em diferentes grupos feministas sem
receber nenhuma remuneração, se tornaram progressivamente assalariadas da causa
das mulheres. Este assalariamento deu-se de diferentes formas: tanto pela
profissionalização de alguns antigos grupos autônomos que se transformaram em
reconhecidas organizações não governamentais, quanto pela criação de espaços
feministas em diferentes instituições, como no serviço público e na
universidade. (GROSSI,
1998, p. 5).
Céli Pinto
(2003) faz uma classificação semelhante ao apontar algumas áreas de atuação
das feministas na redemocratização. Saffioti trilhou o caminho acadêmico. Da
Unesp, foi para a PUC/SP, universidade onde cursei a graduação em Comunicação
Social com habilitação em Jornalismo. Nesse período, no entanto, não sabia que
ela era docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Só descobri
isso quando, já formada, vi que seu nome constava na lista de 447 docentes
demitidos em 2006.
O passaralho foi justificado pela Fundação São Paulo,
mantenedora da PUC-SP, como necessário para sanar o déficit da instituição. Um
abaixo-assinado mobilizado por intelectuais e políticos circulou em defesa de
Saffioti. De acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo na
ocasião, havia a suspeita de que Saffioti tinha ingressado na lista após
escrever um artigo pró-descriminalização do aborto para o site da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). Em resposta, o padre Juarez de Castro, porta-voz da
instituição, negou a perseguição ideológica, mas reafirmou o preconceito
etário: “Os critérios para a lista já foram divulgados [idade avançada e
avaliação de desempenho, entre outros]. Ela sempre defendeu coisas como essa e
nunca houve problema.” (Fabio TAKAHASHI,
2006). Saffioti tinha então 72 anos.
Mais do que uma questão etária, estamos aqui diante de um
problema de substituição geracional. Como afirma Alda Britto da Motta
(2010), a definição de velhice é tão arbitrária quanto a de qualquer outra
idade, porém, citando Remi Lenoir, “no caso tem o agravante de que se tornar
‘velho’ significa, em verdade, tornar-se ‘velho demais para exercer determinada
atividade ou ter acesso, de forma legítima, a certas categorias de bens ou
posições sociais’.” (LENOIR, 1998, p. 68 apudMOTTA,
2010, p. 240).
Portanto, se para a minha geração de feministas aquelas
designadas como “históricas” eram objeto de reverência, admiração e até temor,
para as instituições não necessariamente há uma valorização de sua trajetória e
de seu conhecimento. A demissão é, pelo contrário, uma interrupção abrupta do
processo de transmissão intergeracional do feminismo que encontra na
universidade um espaço privilegiado. Transmissão esta que, obviamente, não é
realizada em uma única direção, como se um dos lados fosse emissor e o outro
mero receptor da mensagem, tampouco de maneira suave.
Ruídos e até rompimentos na transmissão intergeracional
podem também ser causados pelas relações de poder entre as próprias feministas.
Como aponta Julia Paiva Zanetti em seu estudo sobre jovens feministas no Rio de
Janeiro:
Ainda que vistas como uma possibilidade de continuidade
do legado do movimento, são frequentemente colocadas na condição de herdeiras,
condição que se alteraria somente pela ausência das “feministas históricas”. Em
uma relação permeada pela desconfiança da inexperiência, as jovens militantes
não possuem uma longa vivência ou um profundo conhecimento do movimento, nem
representam instituições ou têm títulos que as legitimem. E, mesmo que
possuíssem, dificilmente seriam suficientes para disputar com aquelas que têm
décadas de militância. Assim, as relações de poder nesse campo são bastante
desiguais, o que torna a inserção dessas jovens no movimento um desafio ainda
maior. (ZANETTI,
2010, p. 2).
Na academia, há uma problemática adicional que é a da
própria hierarquia institucional. Assim, nos degraus para acessar o
conhecimento e obter as titulações, as “feministas históricas” estão na posição
de orientadoras, líderes de grupos de pesquisa, palestrantes e referências
bibliográficas, o que denota uma posição de poder.
Uma anedota bastante comum, aliás, é, ao ter contato com
uma delas, dizer que ouviu e viu sua bibliografia falar. E Saffioti é, nesse
sentido, também uma grande referência. Em uma pesquisa que fizemos por ocasião
dos dez anos do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre
Mulheres, Gênero e Feminismo (PPGNEIM), analisamos as teses produzidas pelas
discentes e percebemos que Saffioti era a principal referência de autora
brasileira (Ivia ALVES;
Silvia Lúcia FERREIRA; Maíra MANO, 2016, p. 113). Saffioti divide a posição
com Cecilia Sardenberg, coautora deste artigo e fundadora do PPGNEIM, ambas com
36 citações. Entre as/os estrangeiras/os, Joan Scott encabeça a lista (com 48
citações), seguida por Pierre Bourdieu (38 citações), Sandra Harding (35
citações) e Michel Foucault (33 citações). Embora A mulher na sociedade
de classes seja sua obra mais celebrada, o livro mais citado de
Saffioti é o último que ela publicou em vida, de 2004, Gênero,
patriarcado e violência (Ed. Fundação Perseu Abramo).
Foi justamente essa a temática do único momento em que
tive um diálogo mais longo com Saffioti. Ainda atuante no jornalismo,
entrevistei-a para uma matéria sobre violência doméstica quando era editora da
versão brasileira do Le Monde Diplomatique, em 2010 (SAFFIOTI,
2010a). Saffioti recebeu a mim e a repórter Mariana Fonseca em seu
apartamento na Praça da República, muito próximo de nossa redação. Simpática e
atenciosa, Saffioti nos contou um pouco como andava sua vida, cuja principal
tarefa no momento era cuidar da mãe idosa - Alda Motta
(2010) nos lembra que, entre 60 e 110 anos de vida, coexistem gerações de
velhos em um espaço cronológico e social de 50 anos.
Ao responder às perguntas da reportagem, Saffioti trouxe
posicionamentos contundentes, como lhe era característico. Ela nos disse que
achava que a Lei Maria da Penha não iria “pegar”: “É preciso reeducar homens e
mulheres. Esta Lei criminalizou o fenômeno, por meio de seu enquadramento
judicial” (SAFFIOTI,
2010a). Então contou-nos uma história de que, logo no início da
implementação da Lei, ela participou de um debate em Mato Grosso do Sul, onde
apresentou sua posição contrária ao texto. Ao final, uma delegada da região
veio conversar com ela dizendo que discordava, mas que tinha se retirado da
palestra para resolver exatamente uma situação que Saffioti havia previsto: uma
mulher, que havia denunciado o marido horas antes, voltara à delegacia e tinha
conseguido entrar na cela dele, onde o casal fez as pazes.
Em dezembro de 2010, cinco meses depois da entrevista
ao Le Monde Diplomatique, Heleieth Saffioti faleceu. Agora, escrevo
este artigo como docente do Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da
UFBA. No NEIM, pude conhecê-la mais, embora ela já não estivesse entre nós. Foi
ouvindo histórias sobre como ela foi madrinha do núcleo, suas idas e vindas a
Salvador e participações em eventos, que formei, em minha cabeça, uma imagem
mais apurada sobre ela. Assim como Cecilia Sardenberg, Saffioti - a quem
Cecilia chama de Heleieth, demarcando bem a proximidade da relação - também é bibliografia
frequente nas disciplinas que leciono, tanto de teorias feministas quanto de
marxismo e política. Permanece viva, nos causos e nos textos, cumprindo uma
etapa do ciclo de transmissão intergeracional dos feminismos.
Considerações finais
Heleieth Saffioti representa, certamente, nossa primeira
geração de acadêmicas feministas, ainda que no início de sua carreira não tenha
se identificado com o feminismo. Ao contrário, conforme observamos, em A
mulher na sociedade de classes ela afirma não se tratar de uma obra
feminista, reconhecendo-se, porém, posteriormente como tal com a emergência dos
feminismos contemporâneos, tendo inclusive destacado a relevância do movimento
em questão por tornar visível e confrontar a violência de gênero contra
mulheres, objeto maior de seus estudos na maturidade.
Uma homenagem póstuma, um tanto controversa, a Heleieth
Saffioti foi oferecida por meio de uma resenha de Women in class
society, publicada no American Journal of Sociology em
2014, de autoria de Barbara Celarent - mais tarde identificada como sendo a
alcunha de um dos editores desse conceituado periódico. Essa resenha, apesar de
pontuar as diferentes contradições teórico-metodológicas dos argumentos de
Heleieth Saffioti e suas limitações, ressalta a relevância da sua discussão
sobre as mulheres na sociedade brasileira, terminando por fazer um elogio,
também um tanto contraditório, ao referido livro, assim afirmando:
The achievement of this book is at once simple and grand.
It imagines a group of people - women - and by that imagining itself helps
create the group. That the book studies women systematically is essentially its
way of making its claim that women exist as a bona fide social
group, not simply an sich, but für sich as
well. In a social science that consists often of debunking, such work is
profoundly creative. All social groups must be so made, whether by charismatic
leaders, social movements, or even social scientists. Human life does indeed
seem to consist of such daring imaginations, whose implications and results are
then lived out by others. Yet we seldom see social scientists so clearly in the
act of making such a daring leap. That it was political - even that it was
rooted in Saffioti’s own personal experience - means little beside the work of
imagination that brought together so diverse a body of sources in the service
of social creation. (CELARENT,
2014, p. 1.827).
No mesmo ano, 2014, a Revista Estudos Feministas publicou
um dossiê com trabalhos de várias feministas de renome, homenageando Heleieth
Saffioti e seu legado. A mídia jornalística, contudo, não concedeu a ela o
mérito esperado. Em 2013, quando a feminista radical Sulamith Firestone morreu,
a revista New Yorker publicou um obituário belíssimo, longo,
escrito pela jornalista Susan Faludi
(2013) e intitulado “Death of a revolutionary” [“A morte de uma
revolucionária”]. O texto atravessava a vida e a obra da autora e fazia com que
a/o leitor/a sentisse uma proximidade - e até certa intimidade - com Firestone.
Quando Saffioti faleceu, recebeu notas de lamento, dois ou três parágrafos.
Esta seção temática, assim como as outras publicações organizadas em função dos
cinquenta anos do lançamento de A mulher na sociedade de classes,
deve contribuir com essa lacuna e, quiçá, nos estimular a preservar mais nossa
memória feminista.
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Preservo o vocabulário utilizado pela autora.
MANO, Maíra Kubík Taveira; SARDENBERG, Cecilia Maria
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Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 1, e72559, 2021.
Não se aplica
Não se aplica
Não se aplica
Datas de Publicação
- Data
do Fascículo
Jan-Apr 2021
Histórico
- Revisado
29 Out 2020
- Aceito
10 Nov 2020
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