quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

GLOBO ENTREVISTA ROCEIRO SOBRE A COPA DO MUNDO

 

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 Vaqueiro de 109 anos é homenageado durante festividades em Várzea Branca |  SaoRaimundo.com

GLOBO ENTREVISTA UM HOMEM SIMPLES DO CAMPO NA CAATINGA PERNAMBUCANA, LÁ NO MEU BODOCÓ, LÁ NA MINHA CHAPADA DO ARARIPE.


Antes da estréia do Brasil na Copa do Mundo de 2022,  a TV GLOBO fez uma matéria inusitada   no Nordeste Brasileiro , lá na minha Serra do Araripe, torrão onde nasci, precisamente no município de Bodocó. 
Um  dos grandes repórteres Pernambucano, um  dos melhores da Globo Nordeste assim se dirigiu para um homem do campo.

Senhor idoso, cabeça e barba branca, chapéu de massa , camisa caqui mangas compridas , calça de brim café com leite, cigarro de palha  e pele ressecada, um autêntico serrano, um autóctone. 
O repórter.

___Seu Severino, será que o  Brasil vai ganhar o jogo  hoje à tarde?         Será que o Brasil vai ser o campeão do Mundo, será que o Hexa vem aí?

Seu Severino conserta o chapéu, cospe no chão e pergunta ao grande profissional global.

___O senhor é da televisão num é? O senhor é da globo?

___Sou sim senhor, sou da globo Nordeste, Globo Pernambuco.

___Entonce  seu moço  inscreva   e firme aí pra televisão passá dinoite:




"Seu môço in fitibó, o Brasí é o mió, quero vê o Brasí ser campeão é na incunumia e na honestidade.  Quero vê ser campeão é na inducação, quero vê o Brasí ser o mió é na saúde seu moço,  na saúde e não  campeão di bola.
 
As crianças do Brasí foram abandonadas e o sinhor vem me proguntar por fitibó, eu acho que isto é  um desleixo , nóis vota nos homens que prometeu salvar o Brasí derne 1996 e as coisa fica pió, pió, pió.
 
Tenho treis fios , quatro netos e  um genro sem imprego, todos vevem dos meus aposentos  e das ajudas do governo, bote isso na televisão. 
 
Nóis qué é trabaio e inducação seu moço, trabaio e respeito , nóis tá farto de  inganação, di imbromação e di roubalheira, nóis só vê corrupção. 
 
Nóis tem  hoje é  um bataião de pedintes , de encostados e muitos acostumados  com a preguiça, muitos num qué nem mais trabaiá e os políticos sabido seu môço por riba, nóis veve cuma se fosse num currá."

 Foi assim a grande entrevista, na Serra do Araripe,  no estado de Pernambuco em 2022 antes do jogo Brasil/Servia.
 Depois dizem que os roceiros não sabem de nada. Devido a pobreza e o abandono da nação eles não têm é escola. De bobos eles não têm  é nada, são uns abandonados e merecem respeito .
 Iderval Reginaldo Tenório.
 
"
Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasí ficá mió, 
Mas o Brasí continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió..."
 
Antonio Gonçalves, o Patativa do Assaré, um dos homens do Século XX do meu Ceará. Este é um fenômeno e todos deveriaam conhecer.
 
CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ     , comprem este livro do mestre da cidade do  Assaré-Ceará.
 

ABC do Sertão - YouTube           

   de Luiz Gonzaga e Zé Dantas (Médico Pernambucano)

www.youtube.com › watch
Música ABC do Sertão com Luiz Gonzaga. ... Luiz Gonzaga - A Raiz Do Nordeste. paisrealproducoes. paisrealproducoes.
YouTube · Pedro · 23 de mar. de 2012

Poema: SEU DOTÔ ME CONHECE?
     
                   Patativa do Assaré

Seu dotô, só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca sôbe quem sou eu
Nunca viu minha paioça,
Minha muié, minha roça,
E os fio que Deus me deu.

Se não sabe, escute agora,
Que eu vô contá minha história,
Tenha a bondade de ouvi:
Eu sou da crasse matuta,
Da crasse que não desfruta
Das riqueza do Brasil.

Sou aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês;
Tenho passado na vida
De cinco mês em seguida
Sem comê carne uma vez.

Sou o que durante a semana,
Cumprindo a sina tirana,
Na grande labutação
Pra sustentá a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é pra o patrão.

Sou o que no tempo da guerra
Contra o gosto se desterra
Pra nunca mais vortá
E vai morrê no estrangêro
Como pobre brasilêro
Longe do torrão natá.

Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasil ficá mió;
Mas o Brasil continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió...

Sou o mendigo sem sossego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a seguí
Sem direção e sem norte,
Envergonhado da sorte,
De porta em porta a pedí.

Sou aquele desgraçado,
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão,
Sujeito a todo o matrato,
Bicho de pé, carrapato,
E os ataques de sezão.

Senhô dotô, não se enfade
Vá guardando essa verdade
Na memória, pode crê
Que sou aquele operário
Que ganha um nobre salário
Que não dá nem pra comê

Sou ele todo, em carne e osso,
Muitas vez, não tenho armoço
Nem também o que jantá;
Eu sou aquele rocêro,
Sem camisa e sem dinhêro,
Cantado por Juvená.

Sim, por Juvená Galeno,
O poeta, aquele geno,
O maió dos trovadô,
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido cantou.

Há mais de cem ano eu vivo
Nesta vida de cativo
E a potreção não chegou;
Sofro munto e corro estreito,
Inda tou do mermo jeito
Que Juvená me deixou.

Sofrendo a mesma sentença
Tou quase perdendo a crença,
E pra ninguém se enganá
Vou deixá o meu nome aqui:
Eu sou fio do Brasil,
E o meu nome é Ceará.

   Patativa do Assaré, poeta do interior cearense que fez do árduo cotidiano do sertanejo e da busca pela reforma agrária temas para o fazer poético.


 

 

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