Adicionar legenda |
Bento XVI quebra silêncio e critica proposta de flexibilização do celibato na Amazônia em livro
Documento, de outubro, sugeriu ordenação de homens casados para fortalecer a presença da Igreja em áreas remotas da floresta
CIDADE DO VATICANO — O jornal francês Le Figaro publicou neste domingo uma série de trechos do novo livro do Papa eméritoBento XVI, incluindo uma forte defesa do papel do celibato na Igreja Católica. Em outubro, o Sínodo para a Amazônia, convocado pelo Papa Francisco, discutiu a ordenação de homens casados para ampliar a presença da instituição religiosa na floresta, hoje dominada por denominações evangélicas.
O livro, "From the Dephts of Our Hearts" (Das Profundezas dos Nossos
Corações, em tradução livre), foi escrito em parceria com o cardeal Robert Sarah, da Guiné, líder da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, e será lançado amanhã. As críticas foram vistas como um apelo para que Francisco não autorize a revisão do celibato.
Desde
sua renúncia, em 2013, Bento XVI optou pela discrição e raramente se
posiciona sobre decisões do sucessor, embora dê entrevistas e escreva
artigos com frequência. Para Massimo Faggioli, teólogo da Universidade
Villanova (EUA), a manifestação de Bento XVI representa uma "violação séria" para alguém que jurou "reverência e obediência incondicional" ao sucessor.
Se aprovada, a resolução do Sínodo poderia levar a uma revisão geral do celibato. A decisão de Francisco
sobre as sugestões do encontro deve ser oficializada nos próximos
meses. Em trechos do livro, Bento XVI afirma que a regra "carrega grande
significado" por permitir que padres se concentrem na sua vocação. "Não
parece ser possível seguir ambas as vocações simultaneamente", escreveu
o Papa emérito.
Na introdução do livro, o ex-líder da Igreja Católica e Sarah
justificaram as críticas. Ambos afirmam que não podiam permanecer em
silêncio sobre o Sínodo, que levantou discussões entre as alas
conservadoras e progressistas da Igreja e ampliou a polarização dentro
do catolicismo, que soma 1,3 bilhão de fiéis no mundo. O cardeal
guineense foi além nas críticas e afirmou que a exceção ao celibato na
Amazônia abriria um precedente perigoso dentro da religião.
Apesar
da ideia provocar ira nos setores conservadores, o celibato clerical só
foi introduzido na Igreja há mil anos — alguns Papas foram casados
enquanto estavam no cargo.
A proposta é apoiada por muitos bispos
sul-americanos porque, se aprovada, ampliaria o número de pessoas
habilitadas a dirigir missas em áreas remotas da Amazônia. Seriam
elegíveis religiosos que já atuam como diáconos na Igreja, tenham
famílias estáveis e sejam reconhecidos como membros de suas comunidades.
Também seria necessário passar por uma capacitação.
Bento XVI
vive no Vaticano desde sua renúncia. Aos 92 anos, o Papa emérito
apresenta saúde frágil, mas ainda conta com o prestígio das alas
ultraconservadores da Igreja — muitos dos quais não reconhecem a
legitimidade de Francisco frente ao cargo. O Vaticano não se pronunciou
sobre o livro do ex-Pontífice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário