O Brasil é auto-suficiente em petróleo?
O ponto é que existem basicamente dois tipos de petróleo: os chamados leves, dos quais é mais fácil extrair gasolina e outros derivados nobres, e os pesados, mais densos, bons para fazer asfalto e combustível de máquinas.
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31 out 2016, 18h53 - Publicado em 30 jun 2006, 22h00
Guilherme Castellar e Bruno Vieira Feijó
Como diria Albert Einstein, depende do ponto de vista do observador.
“Se olharmos pela quantidade, o Brasil é auto-suficiente. Agora, pela
qualidade, ainda somos dependentes de petróleo importado”, diz o
engenheiro Wilson Iramina, do Departamento de Minas e Petróleo da USP.
Quer dizer: produzimos cerca de 1,8 milhão de barris por dia, e isso é
exatamente o consumo diário do país. Ok. Só que mesmo assim precisamos
importar um quinto do óleo que vai para as nossas refinarias. O ponto é
que existem basicamente dois tipos de petróleo: os chamados leves, dos
quais é mais fácil extrair gasolina e outros derivados nobres, e os
pesados, mais densos, bons para fazer asfalto e combustível de máquinas.
E apenas 6% da nossa producão se encaixa no grupo dos leves. Isso não
significa que o Brasil só é auto-suficiente em asfalto, claro. Dá, sim,
para extrair bastante gasolina a partir de óleo pesado. A diferença é
que sai mais caro. E tem outra: a maior parte das nossas refinarias é
configurada para processar óleo leve. O governo as construiu antes que
nossas grandes reservas de óleo pesado começassem a ser exploradas, nos
anos 90. A Petrobras, então, tem de misturar o óleo daqui com o
importado para ter como refiná-lo. Mas isso não vai durar para sempre,
diz a empresa. Ela promete que, com a modernização das refinarias e a
descoberta de novos campos de óleo leve, não precisará importar mais
nada até 2010.
Compra caro e vende barato
O que sobra do nosso óleo pesado vai para exportação. Mas o dinheiro
que entra ainda não é suficiente para cobrir o que gastamos importando
petróleo. Isso porque o óleo leve é mais caro, por render mais derivados
nobres e ser mais fácil de refinar. Entre janeiro e abril deste ano,
por exemplo, compramos petróleo por um preço médio de 64 dólares por
barril (160 litros), e vendemos o nosso por 46 dólares o barril. Isso
gerou um prejuízo de quase 1 bilhão de dólares na balança comercial. Mas
a Petrobras calcula que uma reviravolta garantirá um lucro de pelo
menos 2 bilhões de dólares. Isso graças à sua plataforma de óleo pesado
mais recente, a P-50, e a entrada em produção de novos campos de
petróleo leve.
Quer pagar quanto?
“O barril de petróleo fechou a 66 dólares.” Esse tipo de frase dá a
impressão de que só existe um tipo de óleo cru no mundo. Mas não. Ela se
refere ao preço de algum tipo especifico, normalmente o West Texas
Intermediate (WTI), negociado na Bolsa de Nova York. Outra referência do
mercado é o Brent Blend, uma mistura de óleos de 15 campos do Atlântico
Norte comercializada na Bolsa de Londres. Os dois são petróleos leves,
mais nobres, e custam 40% a mais que o nosso óleo pesado. Mas não são o
que há de mais valioso no mundo do ouro negro. Óleos superleves,
produzidos em geral na África e no Oriente Médio (mas também em campas
nacionais, como o de Urucu, na Amazônia), custam uns 10% mais que o
Brent.
Tamanho não é documento
A diferença entre um petróleo leve e um pesado está no tamanho das
moléculas de cada um. Os mais finos são feitos de cadeias de carbono
pequenas, com cerca de 10 átomos. Por isso eles são bons para extrair
gasolina, já que a dita é formada por cadeias de 7 a 9 átomos de
carbono. Já os pesados têm moléculas enormes, com mais de 70 átomos. E
dá muito mais trabalho reduzir essas cadeias para fazer gasolina. A
escala que usam para indicar a densidade do óleo chama-se grau API
(sigla em inglês para Instituto Americano do Petróleo). Quanto mais leve
for o ouro negro, mais graus API ele tem. Os pesados, ficam entre 10º
API e 22º API. Os que têm até 30 API são os intermediárias. E os mais
nobres chegam a 50 API.
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