terça-feira, 22 de maio de 2018

Homofobia custa US$ 405 bilhões ao Brasil Preconceito, despreparo e violência atinge um publico que movimenta mais de US$ 150 bilhões por ano

                                                                    
Devemos respeitar cada cidadão, a sua preferência sexaul só a ele compete, homossexual é um cidadão normal, a homossexualidade é um fenômeno natural, cada cidadão já nasce com a sua preferência sexual,  é só mquestão de tempo para assumir, muitos assumem já na adolescência.
                                               Iderval Reginaldo Tenório





discriminação

Homofobia custa US$ 405 bilhões ao Brasil

Preconceito, despreparo e violência atinge um publico que movimenta mais de US$ 150 bilhões por ano

11:51 | 21/05/2018
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(Foto: arquivo correio)
“Vocês têm certeza que é uma cama de casal? Não seriam duas de solteiro? ”. Estas perguntas, feitas por uma recepcionista de um hotel em Salvador, no último final de semana, ao casal de namorados Ederson Vargas, de 29 anos, e Fábio Gusmão, 32, refletem bem alguns tipos de constrangimentos que lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros costumam enfrentar ao buscar uma hospedagem na Bahia.

“Respondi que era óbvio que eu sabia, levando-se em conta que estava alugando, justamente, um quarto com cama de casal. Mas percebi que ela não falou por maldade. Foi despreparo mesmo”, relata Ederson, gerente de tecnologia da informação e morador de Itapuã. “Infelizmente conheço muitos amigos que passam pelo mesmo tipo de situação”, acrescenta.

Além do constrangimento em si e dos impactos sociais, fatores como o despreparo, a intolerância e a discriminação têm uma perspectiva econômica negativa: a homofobia custa pelo menos US$ 405 bilhões à economia brasileira segundo dados do Relatório Brasil LGBT 2030, da empresa de consultoria OutNow Global. Esta cifra se refere a fatores como perda de produtividade, processos judiciais e turnover (rotatividade) em postos de trabalho.
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Ian Johnson é o diretor-presidente da OutNow, companhia que realizou o estudo (foto: divulgação)
“Os entrevistados [para a pesquisa, todos LGBT] exibem altos níveis de despesas e intenções de compra em uma ampla gama de categorias de produtos e serviços”, destaca o CEO da OutNow, Ian Johnson. Trata-se do conceito “pink money” (dinheiro rosa), ou poder de compra dos LGBTs. Esse público já movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano, de acordo com levantamento da InSearch Tendências e Estudos de Mercado. Casais homoafetivos chegam a possuir renda duas vezes maior do que os casais heterossexuais e consomem, em média, 30% a mais.
Abrangência
O estudo da OutNow sobre o mercado brasileiro LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) é o primeiro de uma série chamada LGBT 2030, considerada a maior pesquisa global do mundo sobre o tema e que abrangerá 20 países. A amostragem foi realizada entre junho e julho de 2017. 

De acordo com o levantamento, um em cada três entrevistados (33%) considera eventos culturais LGBT um fator importante ao escolher um destino para uma viagem de lazer. E é ressaltado que as pessoas ouvidas no estudo exibem níveis de despesas altos e intenções de compra em uma ampla gama de categorias de produtos e serviços. 

As despesas dos 5,7 milhões de adultos LGBT no Brasil, segundo a pesquisa, incluem R$ 9,5 bilhões com vestuário, R$ 5,5 bilhões com calçados e R$ 3,5 bilhões com entradas para concertos, cinema e teatro. O estudo também revela que apenas um pouco mais de um terço dos entrevistados (36%) assumem sua orientação sexual para os todos os colegas no trabalho. Outro dado alarmante é que quase três em cada quatro (73%) entrevistados testemunharam atos de homofobia no ambiente profissional durante o último ano.
Morro gay-friendly
Uma demonstração da força econômica deste público pôde ser sentida nesse último final de semana (18 a 20/5) em Morro de São Paulo, onde foi sediada a segunda edição da festa San Island Weekend, organizada pelo Grupo San Sebastian. O evento, que no sábado (19) contou com apresentação de Ivete Sangalo, contribuiu para que o balneário sulbaiano tivesse 100% de ocupação hoteleira em pleno período de baixa estação.

Devido à festa, os empresários apontaram um aumento em torno de 20% no número de reservas em relação ao mesmo período do ano passado. É o caso de Andréa Drechsler, da pousada Natureza. “Estamos preparando um esquema especial para assegurar a permanência dos hóspedes por mais tempo na ilha”, afirma.

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Ivete Sangalo se apresentou na festa Sun Island, voltada para o público LGBT em Morro de São Paulo, nas edições de 2017 e 2018 (foto: Sércio Freitas/ Divulgação/ Arquivo Correio)
Diana Farias, secretária de Turismo de Cairu, cidade à qual Morro de São Paulo está ligado, considera importante capacitar profissionais para atender melhor ao segmento LGBT. “Este tipo de evento é fundamental para a democratização do mercado de viagens, geração de emprego e renda, e benefícios às comunidades receptoras”, observa. No dia 16 deste mês, Morro de São Paulo recebeu um treinamento da Secretaria Estadual de Turismo da Bahia (Setur) com foco na importância do respeito, da valorização da diversidade e cidadania no segmento turístico. 

Diante do custo do desrespeito à diversidade e do potencial de receita do público LGBT, governo e iniciativa privada se movimentam cada vez mais para combater a homofobia e promover destinos e eventos gay-friendly (amigáveis a gays).
Hotelaria 
A rede mundial AccorHotels, que em Salvador administra empreendimentos das marcas Mercure, Novotel e Ibis, desenvolve políticas de diversidade com os objetivos de atrair o público LGBT. “Nós já tínhamos um treinamento bem antigo, chamado Naturalmente Diferentes, que abordava a questão das etnias, e então resolvemos criar uma cartilha específica para o público LGBT”, destaca Antonieta Varlese, vice-presidente de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa do grupo.

Detalhes que vão desde às boas-vindas, como substituir as expressões “senhor” e “senhora” por “prezados” ou somente os nomes dos hóspedes, até como atender devidamente as pessoas do mesmo sexo que solicitam uma cama de casal são colocados em prática. 

A rede, que apresentou recentemente o guia “Como receber bem o hóspede LGBT+”, integra o Fórum de Empresas LGBT e é signatária da Carta de Adesão aos 10 Compromissos da Empresa com os Direitos LGBT. “A diversidade faz parte de nossos negócios. Continuaremos com ações para que todos se sintam bem-vindos”, ressalta Varlese.
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A drag queen Tchaka fez uma palestras para colaboradores do grupo AccorHotels (Foto: divulgação)
A empresária Soraya Torres, diretora institucional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (ABIH – Bahia) e investidora do Quality Hotel & Suites São Salvador, diz que a entidade prega que o atendimento deva ser sempre “cordial, cortês e caloroso” para qualquer tipo de comunidade. A empreendedora entende que o público LGBT representa uma grande demanda de hospedagens. “Há vários pacotes segmentados que demonstram isso”, reforça.
Empreendedorismo  
O empreendedorismo pode ser um importante aliado no sentido de ampliar o leque de  entretenimento, lazer e viagens do público LGBT. Prova disso é a plataforma de turismo Viajay, criada há dois anos pelo estudante baiano Fernando Sandes. Ela chegou a ser selecionada como uma das 300 startups com maior potencial inovador do país. “A ideia surgiu a partir da dificuldade em encontrar essas informações relacionadas ao turismo LGBT no Brasil e no mundo”, conta.

Outra iniciativa de hospedagem gay-friendly de bastante sucesso é o site Ahoy Trip, que realiza a busca e hospedagem em hotéis com histórico de ações na área da diversidade. “Vendo e ouvindo experiências e relatos das pessoas, ao longo dos últimos anos, comecei a colocar em ação a ideia de uma plataforma que reunisse tudo isso”, descreve Luiz de França, fundador do projeto.

Também na internet, o site do Grupo Gay da Bahia (GGB) possui uma seção com roteiros gay-friendly em Salvador que inclui restaurantes, hospedagens e casas noturnas, entre outras sugestões.
Empresas 
Mas não é só no setor de turismo que a diversidade gera lucros, e por essa razão, precise ser respeitada e incentivada. Este tópico, inclusive, é transversal a cinco dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que são metas de sustentabilidade que os países precisam cumprir até 2030: erradicação da pobreza; igualdade de gênero; trabalho decente e crescimento econômico; redução das desigualdades; paz, justiça; e instituições eficazes.

A petroquímica Braskem, por exemplo, é signatária dos compromissos Women Empowerment Principles, da ONU Mulheres, e do Pacto Global, do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça do Governo Federal Brasileiro. Foi, também, a primeira empresa brasileira de grande porte a se tornar membro da iniciativa Empresas e Direitos LGBT.

Outra petroquímica presente na Bahia, a americana Dow,  desenvolve o projeto “O Futuro Começa em Casa”, mantido em parceria com a organização Habitat, que beneficia prioritariamente famílias com crianças em idade escolar, chefiadas por mulheres ou que possuam uma pessoa portadora de doença agravada pelo ambiente, e que ganhem até três salários mínimos. A empresa também patrocina o projeto Oguntech, capitaneado pela ONG Steve Biko, de Salvador, que luta pela diminuição das diferenças sociais, econômicas e culturais entre estudantes negros e de outras etnias nas carreiras de ciência e tecnologia. 
Preconceito 
Recentemente, a cervejaria Skol encomendou junto ao Ibope Inteligência uma pesquisa que buscou traçar um retrato do comportamento brasileiro em relação a tipos de preconceito. O resultado foi que o machismo é o mais praticado e a homofobia tem o maior índice de discriminação declarada. “Percebemos que poderíamos contribuir de forma mais profunda ao trazer dados recentes sobre o preconceito, colocando luz neste debate e propondo uma reflexão sobre como nossas atitudes podem afastar ou unir as pessoas”, explica Maria Fernanda de Albuquerque, diretora de marketing da marca. 

O consultor em sustentabilidade empresarial Ricardo Voltolini defende que a diversidade seja a ideia de que as diferenças entre as pessoas não devem servir nunca para diminuí-las, e sim promovê-las. “( O Brasil) É um país com maioria negra, mas é racista. É um país com movimento muito forte de LGBT, mas ainda vemos muita homofobia, é um país que continua achando que o idoso não é mais produtivo, então, à medida que conseguimos promover a discussão da diversidade, contribuímos também para desenvolver melhor a sociedade”.
Poder público  
A Prefeitura de Salvador, por meio do Centro Municipal de Referência LGBT, promove atualmente o Mês da Diversidade. As atividades realizadas trazem o debate sobre as relações de gênero e diversidade sexual na cidade. A capital baiana conta com o Observatório da Discriminação e com o Centro LGBT, que já realizou 2.363 atendimentos desde 2016, oferecendo orientação e encaminhamento jurídico em casos que envolvam violência contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.

No final de abril, a Bahiatursa participou da 2ª Conferência Internacional da Diversidade e Turismo LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), realizada em São Paulo. O evento foi destinado às empresas, entidades, poder público e pessoas de todos os continentes interessados em debater a diversidade.

Segundo o superintendente da Bahiatursa, Diogo Medrado, a ideia é que mais localidades estejam preparadas para receber o público LGBT, no sentido de fazer do estado um dos principais destinos gays do mundo. “Nos últimos anos temos desenvolvido ações para o segmento, principalmente no que se refere à qualificação do setor, por meio de capacitações profissionais e apoio à parada LGBT da Bahia”, afirma.
Crime 
Somente no ano passado, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O número representa uma vítima a cada 19 horas. O dado está em levantamento realizado pelo GGB, que registrou o maior número de casos de morte relacionados à homofobia desde que o monitoramento anual começou a ser elaborado pela entidade, há 38 anos.

O estado com maior registro de crimes de ódio contra a população LGBT em 2017 foi São Paulo (59), seguido de Minas Gerais (43), Bahia (35), Ceará (30), Rio de Janeiro (29), Pernambuco e Paraná (27) e Alagoas (23). Entre as regiões, a maior média foi identificada no Norte (3,23 por milhão de habitantes), seguido por Centro-Oeste (2,71) e Nordeste (2,58).

Mas como tornar uma empresa gay-friendly?

O Fórum de Empresas e Direitos LGBT elaborou dez compromissos, destacados abaixo, para orientar as práticas de cada organização no tema:

1.Comprometer-se, presidência e executivos, com o respeito e com a promoção dos direitos LGBT;

2.Promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas LGBT;

3.Promover ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas LGBT;

4.Sensibilizar e educar para o respeito aos direitos LGBT;

5.Estimular e apoiar a criação de grupos de afinidade LGBT;

6.Promover o respeito aos direitos LGBT na comunicação e marketing;

7.Promover o respeito aos direitos LGBT no planejamento de produtos, serviços e atendimento aos clientes;

8.Promover ações de desenvolvimento profissional de pessoas do segmento LGBT;

9.Promover o desenvolvimento econômico e social das pessoas LGBT na cadeia de valor;

10.Promover e apoiar ações em prol dos direitos LGBT na comunidade.

O Ministério do Turismo dispõe de uma cartilha intitulada “Dicas para atender bem turistas LGBT”, que inclui pontos como tratar de acordo com o gênero com o qual a pessoa se apresenta; chamar pelo nome social e demonstrar respeito na mesma medida. A publicação também explica as diferenças conceituais entre heterossexuais, gays, transexuais e outros gêneros, além de abordar o tema LGBTfobia.
  
Murilo Gitel
Via Rede Nordeste

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