Devemos respeitar cada cidadão, a sua preferência sexaul só a ele compete, homossexual é um cidadão normal, a homossexualidade é um fenômeno natural, cada cidadão já nasce com a sua preferência sexual, é só mquestão de tempo para assumir, muitos assumem já na adolescência.
Iderval Reginaldo Tenório
discriminação
Homofobia custa US$ 405 bilhões ao Brasil
Preconceito, despreparo e violência atinge um publico que movimenta mais de US$ 150 bilhões por ano
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“Vocês têm certeza que é uma cama de casal? Não seriam duas de solteiro? ”. Estas perguntas, feitas por uma recepcionista de um hotel em Salvador, no último final de semana, ao casal de namorados Ederson Vargas, de 29 anos, e Fábio Gusmão, 32, refletem bem alguns tipos de constrangimentos que lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros costumam enfrentar ao buscar uma hospedagem na Bahia.
“Respondi que
era óbvio que eu sabia, levando-se em conta que estava alugando,
justamente, um quarto com cama de casal. Mas percebi que ela não falou
por maldade. Foi despreparo mesmo”, relata Ederson, gerente de
tecnologia da informação e morador de Itapuã. “Infelizmente conheço
muitos amigos que passam pelo mesmo tipo de situação”, acrescenta.
Além
do constrangimento em si e dos impactos sociais, fatores como o
despreparo, a intolerância e a discriminação têm uma perspectiva
econômica negativa: a homofobia custa pelo menos US$ 405 bilhões à
economia brasileira segundo dados do Relatório Brasil LGBT 2030, da
empresa de consultoria OutNow Global. Esta cifra se refere a fatores
como perda de produtividade, processos judiciais e turnover
(rotatividade) em postos de trabalho.
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“Os entrevistados [para a pesquisa, todos LGBT] exibem altos níveis de despesas e intenções de compra em uma ampla gama de categorias de produtos e serviços”, destaca o CEO da OutNow, Ian Johnson. Trata-se do conceito “pink money” (dinheiro rosa), ou poder de compra dos LGBTs. Esse público já movimenta cerca de R$ 150 bilhões por ano, de acordo com levantamento da InSearch Tendências e Estudos de Mercado. Casais homoafetivos chegam a possuir renda duas vezes maior do que os casais heterossexuais e consomem, em média, 30% a mais.
Abrangência
O
estudo da OutNow sobre o mercado brasileiro LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros) é o primeiro de uma série chamada LGBT 2030,
considerada a maior pesquisa global do mundo sobre o tema e que
abrangerá 20 países. A amostragem foi realizada entre junho e julho de
2017.
De acordo com o levantamento, um em cada
três entrevistados (33%) considera eventos culturais LGBT um fator
importante ao escolher um destino para uma viagem de lazer. E é
ressaltado que as pessoas ouvidas no estudo exibem níveis de despesas
altos e intenções de compra em uma ampla gama de categorias de produtos e
serviços.
As despesas dos 5,7 milhões de
adultos LGBT no Brasil, segundo a pesquisa, incluem R$ 9,5 bilhões com
vestuário, R$ 5,5 bilhões com calçados e R$ 3,5 bilhões com entradas
para concertos, cinema e teatro. O estudo também revela que apenas um
pouco mais de um terço dos entrevistados (36%) assumem sua orientação
sexual para os todos os colegas no trabalho. Outro dado alarmante é que
quase três em cada quatro (73%) entrevistados testemunharam atos de
homofobia no ambiente profissional durante o último ano.
Morro gay-friendly
Uma
demonstração da força econômica deste público pôde ser sentida nesse
último final de semana (18 a 20/5) em Morro de São Paulo, onde foi
sediada a segunda edição da festa San Island Weekend, organizada pelo
Grupo San Sebastian. O evento, que no sábado (19) contou com
apresentação de Ivete Sangalo, contribuiu para que o balneário sulbaiano
tivesse 100% de ocupação hoteleira em pleno período de baixa estação.
Devido
à festa, os empresários apontaram um aumento em torno de 20% no número
de reservas em relação ao mesmo período do ano passado. É o caso de
Andréa Drechsler, da pousada Natureza. “Estamos preparando um esquema
especial para assegurar a permanência dos hóspedes por mais tempo na
ilha”, afirma.
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Diana Farias, secretária de Turismo de Cairu, cidade à qual Morro de São Paulo está ligado, considera importante capacitar profissionais para atender melhor ao segmento LGBT. “Este tipo de evento é fundamental para a democratização do mercado de viagens, geração de emprego e renda, e benefícios às comunidades receptoras”, observa. No dia 16 deste mês, Morro de São Paulo recebeu um treinamento da Secretaria Estadual de Turismo da Bahia (Setur) com foco na importância do respeito, da valorização da diversidade e cidadania no segmento turístico.
Diante
do custo do desrespeito à diversidade e do potencial de receita do
público LGBT, governo e iniciativa privada se movimentam cada vez mais
para combater a homofobia e promover destinos e eventos gay-friendly
(amigáveis a gays).
Hotelaria
A
rede mundial AccorHotels, que em Salvador administra empreendimentos
das marcas Mercure, Novotel e Ibis, desenvolve políticas de diversidade
com os objetivos de atrair o público LGBT. “Nós já tínhamos um
treinamento bem antigo, chamado Naturalmente Diferentes, que abordava a
questão das etnias, e então resolvemos criar uma cartilha específica
para o público LGBT”, destaca Antonieta Varlese, vice-presidente de
Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa do grupo.
Detalhes
que vão desde às boas-vindas, como substituir as expressões “senhor” e
“senhora” por “prezados” ou somente os nomes dos hóspedes, até como
atender devidamente as pessoas do mesmo sexo que solicitam uma cama de
casal são colocados em prática.
A rede, que
apresentou recentemente o guia “Como receber bem o hóspede LGBT+”,
integra o Fórum de Empresas LGBT e é signatária da Carta de Adesão aos
10 Compromissos da Empresa com os Direitos LGBT. “A diversidade faz
parte de nossos negócios. Continuaremos com ações para que todos se
sintam bem-vindos”, ressalta Varlese.
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A empresária Soraya Torres, diretora institucional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Bahia (ABIH – Bahia) e investidora do Quality Hotel & Suites São Salvador, diz que a entidade prega que o atendimento deva ser sempre “cordial, cortês e caloroso” para qualquer tipo de comunidade. A empreendedora entende que o público LGBT representa uma grande demanda de hospedagens. “Há vários pacotes segmentados que demonstram isso”, reforça.
Empreendedorismo
O
empreendedorismo pode ser um importante aliado no sentido de ampliar o
leque de entretenimento, lazer e viagens do público LGBT. Prova disso é
a plataforma de turismo Viajay, criada há dois anos pelo estudante
baiano Fernando Sandes. Ela chegou a ser selecionada como uma das 300
startups com maior potencial inovador do país. “A ideia surgiu a partir
da dificuldade em encontrar essas informações relacionadas ao turismo
LGBT no Brasil e no mundo”, conta.
Outra
iniciativa de hospedagem gay-friendly de bastante sucesso é o site Ahoy
Trip, que realiza a busca e hospedagem em hotéis com histórico de ações
na área da diversidade. “Vendo e ouvindo experiências e relatos das
pessoas, ao longo dos últimos anos, comecei a colocar em ação a ideia de
uma plataforma que reunisse tudo isso”, descreve Luiz de França,
fundador do projeto.
Também na internet, o site
do Grupo Gay da Bahia (GGB) possui uma seção com roteiros gay-friendly
em Salvador que inclui restaurantes, hospedagens e casas noturnas, entre
outras sugestões.
Empresas
Mas
não é só no setor de turismo que a diversidade gera lucros, e por essa
razão, precise ser respeitada e incentivada. Este tópico, inclusive, é
transversal a cinco dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da
ONU, que são metas de sustentabilidade que os países precisam cumprir
até 2030: erradicação da pobreza; igualdade de gênero; trabalho decente e
crescimento econômico; redução das desigualdades; paz, justiça; e
instituições eficazes.
A petroquímica Braskem,
por exemplo, é signatária dos compromissos Women Empowerment Principles,
da ONU Mulheres, e do Pacto Global, do Programa Pró-Equidade de Gênero e
Raça do Governo Federal Brasileiro. Foi, também, a primeira empresa
brasileira de grande porte a se tornar membro da iniciativa Empresas e
Direitos LGBT.
Outra petroquímica presente na
Bahia, a americana Dow, desenvolve o projeto “O Futuro Começa em Casa”,
mantido em parceria com a organização Habitat, que beneficia
prioritariamente famílias com crianças em idade escolar, chefiadas por
mulheres ou que possuam uma pessoa portadora de doença agravada pelo
ambiente, e que ganhem até três salários mínimos. A empresa também
patrocina o projeto Oguntech, capitaneado pela ONG Steve Biko, de
Salvador, que luta pela diminuição das diferenças sociais, econômicas e
culturais entre estudantes negros e de outras etnias nas carreiras de
ciência e tecnologia.
Preconceito
Recentemente,
a cervejaria Skol encomendou junto ao Ibope Inteligência uma pesquisa
que buscou traçar um retrato do comportamento brasileiro em relação a
tipos de preconceito. O resultado foi que o machismo é o mais praticado e
a homofobia tem o maior índice de discriminação declarada. “Percebemos
que poderíamos contribuir de forma mais profunda ao trazer dados
recentes sobre o preconceito, colocando luz neste debate e propondo uma
reflexão sobre como nossas atitudes podem afastar ou unir as pessoas”,
explica Maria Fernanda de Albuquerque, diretora de marketing da marca.
O
consultor em sustentabilidade empresarial Ricardo Voltolini defende que
a diversidade seja a ideia de que as diferenças entre as pessoas não
devem servir nunca para diminuí-las, e sim promovê-las. “( O Brasil) É
um país com maioria negra, mas é racista. É um país com movimento muito
forte de LGBT, mas ainda vemos muita homofobia, é um país que continua
achando que o idoso não é mais produtivo, então, à medida que
conseguimos promover a discussão da diversidade, contribuímos também
para desenvolver melhor a sociedade”.
Poder público
A
Prefeitura de Salvador, por meio do Centro Municipal de Referência
LGBT, promove atualmente o Mês da Diversidade. As atividades realizadas
trazem o debate sobre as relações de gênero e diversidade sexual na
cidade. A capital baiana conta com o Observatório da Discriminação e com
o Centro LGBT, que já realizou 2.363 atendimentos desde 2016,
oferecendo orientação e encaminhamento jurídico em casos que envolvam
violência contra lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros.
No
final de abril, a Bahiatursa participou da 2ª Conferência Internacional
da Diversidade e Turismo LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros), realizada em São Paulo. O evento foi destinado às
empresas, entidades, poder público e pessoas de todos os continentes
interessados em debater a diversidade.
Segundo o
superintendente da Bahiatursa, Diogo Medrado, a ideia é que mais
localidades estejam preparadas para receber o público LGBT, no sentido
de fazer do estado um dos principais destinos gays do mundo. “Nos
últimos anos temos desenvolvido ações para o segmento, principalmente no
que se refere à qualificação do setor, por meio de capacitações
profissionais e apoio à parada LGBT da Bahia”, afirma.
Crime
Somente
no ano passado, 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
(LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia. O número
representa uma vítima a cada 19 horas. O dado está em levantamento
realizado pelo GGB, que registrou o maior número de casos de morte
relacionados à homofobia desde que o monitoramento anual começou a ser
elaborado pela entidade, há 38 anos.
O estado
com maior registro de crimes de ódio contra a população LGBT em 2017 foi
São Paulo (59), seguido de Minas Gerais (43), Bahia (35), Ceará (30),
Rio de Janeiro (29), Pernambuco e Paraná (27) e Alagoas (23). Entre as
regiões, a maior média foi identificada no Norte (3,23 por milhão de
habitantes), seguido por Centro-Oeste (2,71) e Nordeste (2,58).
Mas como tornar uma empresa gay-friendly?
O
Fórum de Empresas e Direitos LGBT elaborou dez compromissos, destacados
abaixo, para orientar as práticas de cada organização no tema:
1.Comprometer-se, presidência e executivos, com o respeito e com a promoção dos direitos LGBT;
2.Promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas LGBT;
3.Promover ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas LGBT;
4.Sensibilizar e educar para o respeito aos direitos LGBT;
5.Estimular e apoiar a criação de grupos de afinidade LGBT;
6.Promover o respeito aos direitos LGBT na comunicação e marketing;
7.Promover o respeito aos direitos LGBT no planejamento de produtos, serviços e atendimento aos clientes;
8.Promover ações de desenvolvimento profissional de pessoas do segmento LGBT;
9.Promover o desenvolvimento econômico e social das pessoas LGBT na cadeia de valor;
10.Promover e apoiar ações em prol dos direitos LGBT na comunidade.
O
Ministério do Turismo dispõe de uma cartilha intitulada “Dicas para
atender bem turistas LGBT”, que inclui pontos como tratar de acordo com o
gênero com o qual a pessoa se apresenta; chamar pelo nome social e
demonstrar respeito na mesma medida. A publicação também explica as
diferenças conceituais entre heterossexuais, gays, transexuais e outros
gêneros, além de abordar o tema LGBTfobia.
Murilo Gitel
Via Rede Nordeste
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