|
Adicionar legenda |
LAMPIÃO , A GRUTA DE ANGICO E O BRASIL ATUAL.
CANGAÇO POR CANGAÇO OU POR UM CANGAÇÃO
28 de julho de 1938
morre Lampião, o cangaceiro mor , cravado por mais de uma centena de balas,
projéteis estes cuspidos de uma metralhadora apelidada de "A COSTUREIRA".
Foi uma verdadeira
carnificina, uma sessão de execução sumária. De supetão e as escondidas, o
pior desjejum que um homem pode receber uma vez que aconteceu no amanhecer do
dia 28 de julho de 1938, uma quinta-feira 4:30 da manhã.
Lampião o
maior cangaceiro do sertão, não porque era o mais perverso e sim porque os
jornais e o rádio lhe deram notoriedade, Lampião era um cangaceiro midiático, era uma celebridade, era um homem vaidoso.
Além de ser devoto do Padre Cícero do Juazeiro do Norte e protegido do
médico baiano Dr Floro Bartolomeu, formado pela UFBA em 1903, Deputado
Estadual e Federal pelo Ceará, foi um dos mentores da fundação e
emancipação de Juazeiro do meu Padim Ciço, foi o Dr Floro o responsável
pela convocação do Capitão Virgulino para se incorporar ao Batalhão
Patriótico para combater o Carlos Prestes , foi devido este episódio
que o cangaceiro recebeu a patente de Capitão , armas modernas e muita
munição . O Batalhão do qual participou o Lampião nunca entrou em
confronto com o Prestes, mesmo assim incorporou uma patente que diziam
ser falsa, não devolveu os fuzis e utilizou todas as munições , tornando
o seu bando o maior desafio para o povo e para o governo .
No mundo político, o Capitão era uma pedra no calcanhar da cúpula
política brasileira e uma peste para os povos do Nordeste. O Brasil
inteiro o enxergou, foi chamado de uma chaga e uma afronta ao governo vigente, foi criado uma frente contra este expediente e a ordem do governo ditatorial do Getúlio Vargas era
acabar com o cangaço no Brasil, o acerto era acabar a qualquer custo os
diversos bandos, pois era o cangaço o modus operandi do jovem analfabeto e de baixa renda ganhar a vida
naquela época, poucas eram as opções,
matar ou morrer, mandar ou obedecer, ser um cabra, um cagão, um bobo, um moleque de recados, um
passa fome, um
cabra, um cangaceiro ou um jagunço com as suas patentes próprias, não existia meio termo.
O coronel era o deus,
o chefe político, o pai, o
criador, o todo poderoso, o dono da terra, o latifundiário, os cargos políticos
dos rincões, o manda chuva, o delegado, o padre e o juiz, o coronel ou o coroné era tudo no Sertão, quem não quisesse permanecer no seu julgo, entraria no cangaço,
na elite da juventude pobre e caipira do nordeste, era o cangaço um meio de
vida, um trabalho como outro, era um oficio
de respeito e que transformava o
adolescente em
uma estrela, num mito ,
num homem de destaque, num homem possuidor de liberdade, num fazedor de
leis,
um jurista, um parlamentar, uma autoridade de quilate invejável e
respeitado
por todos, era o segundo poder para uma região depois do CORONEL . Era o
cangaço uma ponte para depois servir ao Estado como integrante das
grandes volantes a perseguir os pares do passado, muitos cangaceiros
entravam nas volantes como muitos soldados viravam cangaceiros.
O cerco ao fim do
Cangaço foi tão grande que, muitos foram os acertos feitos pelas autoridades, acordos entre os governadores,
prefeitos e a Presidência da República, tudo para aniquilar o mundo dos facínoras .
Foi permitido que a volante poderia
entrar em qualquer Estado do Nordeste, isto é, para pegar cangaceiros as divisas foram
esquecidas, a polícia de Pernambuco poderia entrar no Estado da Bahia e
Vice-versa, a autorização era automática, outra ordem era para que
qualquer fazendeiro, sitiante, agricultor, comerciante ou aqueles que ajudassem o
cangaço perdessem os seus bens e muitos seriam presos ou até mortos, a
pior ordem contra o cangaço foi a que abertamente dizia , "aquele que
matar,
eliminar ou acabar com um cangaceiro ficará com todos os seus pertences,
o
dinheiro, o ouro , os relógios e tudo que encontrar no seu bornal ou
embornal , o
seu alforge", eram nestas capangas de couro que guardavam as suas
riquezas subtraídas da
população e não saiam dos seus domínios, alguns cangaceiros
transportavam até 15 quilogramas de riquezas, muitos desertavam quando
chegavam a este montante temendo a morte pelos próprios comparsas.
A carnificina
foi de ensopar a caatinga de sangue, os cangaceiros passaram a não dormir com
medo dos seus próprios comparsas que dormiam ao seu lado no mesmo esconderijo, os urubus fizeram a festa.
O governo patrocinou a
abertura de estradas, financiou a compra de caminhões e utilitários, patrocinou
o
aumento do contingente nas volantes, ofereceu patentes aos mais
corajosos , incentivou e premiou os delatores, comprou fuzis,
metralhadoras e
outras armas de repetição, foi dado a
liberdade aos fotógrafos , aos jornalistas e
aos cordelistas para difundirem as notícias, para denunciar em verso o
paradeiros dos diversos bandos cangaceiros, precisamente o BANDO DO
VIRGULINO FERREIRA, O LAMPIÃO. O mundo nordestino virou de
pernas para cima, o cangaço foi asfixiado, foi declarado pelo governo
Federal guerra ao cangaço e a todos os seus alimentadores.
Enfim
chegou o dia, chegou o dia em que o
Lampião, o chefe da mais importante facção caiu por terra, pois no
Norte e Nordeste existiam centenas e centenas de bandos. Naquela
cinzenta e fria madrugada de uma quinta-feira, 28 de julho de 1938, foi
por terra o Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião (Serra Talhada, 4 de junho de 1898 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938), Maria Gomes de Oliveira, vulgo Maria Bonita (Paulo Afonso, 8 de março de 1911 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938)
e 99% dos seus cabras , naquela madrugada , às quatro e trinta da
manhã, foi retirada do alicerce do cangaço cruel do
nordeste , uma profissão oficial e oficiosa, a sua última pedra deste governo paralelo.
Com este episódio e com esta mesma pedra foi reforçado o alicerce de
outro tipo de cangaço, foi reiniciado o mais cruel dos cangaços, o
do coronelismo moderno, o cangaço do Paletó , agora nacional , o
cangaço da caneta, do
poder econômico , do poder político, do nepotismo e dos conchavos, o
cangaço da corrupção .
Mudou o cangaço, mudaram
as praças e
os personagens, o cangaço
passou a ser urbano, a ocupar as metrópoles, as melhores casas e
as
influentes famílias, o cangaço recebeu anel e diploma, passou a ser
poliglota ,
viajado, até se transformar neste cangaço dos dias atuais, eletrônico,
intercontinental,
quântico , cibernético e online, um cangaço civilizado. Morreram as
alpercatas ou currulepes, nasceram os sapatos de couro fino, sapatos em Cromo Alemão, Givenchy oxford de couro envernizado e as sandálias francesas, suecas e italianas , sucumbiram as
capoeiras e brotaram os polidos granitos, aposentaram-se as vestes de
couro e os lenços de seda , entraram em cena os paletós , as
gravatas, as estilosas roupas sociais femininas dos mais puros e importados tecidos.
Hoje
está o Brasil com os seus milhares de coronéis nos palácios, nos poderes
executivo, legislativo, judiciário, empresarial
e eclesiástico .
O cangaço de outrora era manso , juvenil, analfabeto, oficioso,
artesanal e regional, era um dos meios
de sobrevivência e para matar a fome , o
de hoje é um cangaço letrado, experiente, judicante, adulto, culto,
nacional e oficial , é um dos meios de
enriquecimento ilícito , um dos geradores da fome e da miséria entre as classes sociais em todo o país,
e haja cangaceiros , e haja coronéis, e
como tem capangas , e como tem jagunços.
Viva a liberdade, a cidadania e a propriedade do raciocínio,
viva a humanidade.
salvador, 28 de julho de 2018
Iderval Reginaldo Tenório
https://www.youtube.com/watch?v=h9pWE7xi4a4
10 de dez de 2010 - Vídeo enviado por Alfredo Pessoa
Luiz Gonzaga - Olha a Pisada ... do massacre de Angico, quando Lampião morreu e também as canções ...
odução automática
https://www.youtube.com/watch?v=sUIEXWq3OJo
7 de mai de 2011 - Vídeo enviado por Aderbal Nogueira
Valdemar Caracas, ex-funcionário da RVC (Rede Viação Cearense), foi testemunha ocular da entrada